sábado, 11 de fevereiro de 2012

As paixões de Fernando Assis Pacheco contadas por Nuno Costa Santos

São duas centenas de páginas, recheadas com algumas fotografias, que constituem Trabalhos e paixões de Fernando Assis Pacheco (Lisboa: Tinta da China, 2012), de Nuno Costa Santos.
O título parte de uma obra do biografado – Trabalhos e paixões de Benito Prada (1993) –, romance sobre um antepassado galego. E esta obra é, de alguma maneira, o romance de Fernando Assis Pacheco (1937-1995), o contar da sua vida, do seu quotidiano, quase o trazendo à convivência, seguindo-lhe os passos.
É biografia na medida em que alguém conta uma vida de alguém. Mas foge do estilo canónico da biografia, demarcando-se mesmo do carácter de estudo e de ensaio que a biografia também é, optando o autor por uma escrita mais próxima do género da reportagem jornalística, em que são recolhidos testemunhos, muitos testemunhos, de quem conviveu e conheceu o biografado, pessoas que falam mais do que as obras do próprio, citadas, é certo, mas sem serem a tónica desta obra.
Muito mais do que a obra de Assis Pacheco passa por aqui o seu trajecto – o canto familiar, os locais de trabalho, os refúgios para a escrita, os prazeres da gastronomia, os amigos, as disposições, as geografias e os fragmentos da vida, os hábitos, as teimosias. E as memórias de quem com ele conviveu.
Leitura fácil e próxima, este livro é ponto de encontro de todas as vozes que privaram com Fernando Assis Pacheco e que, quase dúzia e meia de anos volvidos sobre a sua despedida, o tornam presente, ficando ao leitor a sensação de que, num destes dias, se cruzará algures com esta personagem que caprichava no convívio, nas histórias, no humor e no prazer de viver.
Recorrentemente, é o discurso do biografado que nos visita, saltando das entrevistas dadas, em excertos que dialogam com os testemunhos recolhidos, sem se lhes sobreporem, ficando mesmo a ilusão de que estes encontros são recentes e são reais.
Para alguém que foi jornalista e contador de histórias, uma biografia só se poderia entender desta forma, isto é, uma longa peça jornalística, que não um estudo, que não uma moldura, que não um retrato distante. E se tivesse o seu quê de poético, mesmo que apenas com os versos do herói, tanto melhor. São estes atributos que permitem ao leitor esse encontro com Fernando Assis Pacheco. Só falta mesmo a fotografia que memorize essa conversa entre os dois… e, já agora, aprofundar algumas questões que vão ficando em aberto ao longo do livro ou, pelo menos, tratadas de passagem…

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