É com um cunho pessoal que a apresentação da obra Setúbal - Uma visão contemporânea se inicia, assinada por Maria das Dores Meira: “Todas as manhãs, quando começo mais um dia de trabalho, invade-me uma alegria incontida por ver como esta cidade, este concelho, mudou.” E, a finalizar essa nota: “Quando, todas as noites, saio do meu gabinete para voltar a casa, vou cansada mas com um sentimento de dever cumprido. Amanhã estarei de volta para mais uma jornada por Setúbal.” Assim, o livro, editado pela Câmara Municipal de Setúbal (2021), tem a marca do sentir da pessoa que tem presidido à autarquia sadina desde Julho de 2006, num registo que traz a partilha do sentimento entre o começo e o fim de um dia de trabalho, sugerindo que o prazer advindo deste olhar sobre a cidade e o concelho passa também pelo compromisso.
As dez partes em que a obra se organiza - Modernidade, Inovação, Tradição, Harmonia, Natural, Lazer, Sabores, Património, Cidadania e Pessoas - evidenciam um misto de características autóctones da região e uma apreciação do trabalho desenvolvido, tudo se conjugando num despertar para o bem-estar e o equilíbrio num “sítio onde é bom viver, onde vale a pena marcar presença”, ainda nas palavras de Dores Meira, sensação apoiada pela intensa presença da fotografia, que regista mais de quatrocentos instantes do concelho, a partir de ângulos conhecidos ou captando novos olhares sobre objectos e paisagens que nos são próximos e comuns (devidas à lente de David Pereira, José Luís Costa e Mário Peneque).
A ligação das imagens a cada capítulo é cimentada por um texto que funciona como roteiro interpretativo, por lá passando os bairros, o urbano, o rio, a história, o trabalho, a empresa, o turismo, a pesca, o património, os sabores, a cultura, a Natureza, as ideias, a gente. Subscritos por Hugo Martins, Marco Silva e Susana Manteigas, numa abordagem muito acessível, os textos preocupam-se com a vastidão das ofertas e das coisas a ver e a sentir no território de Setúbal, por vezes com um apontamento que sugere fruições conjugadas com gostos pessoais - “há quem descubra no rio a tranquilidade para ler um livro e quem encontre a paciência para tentar a sorte com a cana de pesca” - ou o prazer das pequenas curiosidades a descobrir - da Gráfica de Santa Maria conta-se que “uma Heidelberg original continua a ter destaque na empresa, que, apesar de fiel à tradição, soube acompanhar a evolução dos tempos”, assim como, a propósito de livrarias, se fala da Culsete, mostrando-se o seu rosto actual e lembrando-se Manuel Medeiros na criação e promoção deste espaço, ou se passa pelo alfarrabismo da UniVerso, “caos harmonioso” de livros.
Os dois capítulos finais incentivam à prática da cidadania (um “olhar de dentro para fora”) e à chamada de atenção para personalidades que, pelos mais diversos motivos, são referências para Setúbal - se um passa por valores como a protecção do ambiente, a plena integração, a solidariedade, a defesa da valorização pessoal ou o incentivo para a igualdade de género, o outro refere nomes que “ampliam o território”, num percurso que reúne mais de três dezenas de personalidades naturais de Setúbal ou ligadas à região.
Setúbal - Uma visão contemporânea é um interessante livro-documentário, capaz de apresentar o que somos a quem nos desconhece e de nos levar a descobrir formas plurais que fazem a nossa identidade.
* J. R. R. "500 Palavras". O Setubalense: nº 630, 2021-05-26, p 7.
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