quarta-feira, 21 de março de 2018

Dia Mundial da Poesia - A poesia em sete reflexões


“Todo o poema - por mais dramático, áspero, dissonante... - infiltra-nos pelos poros a música, e o silêncio, do rumor de fonte da Harmonia.” (José Fernandes Fafe. Curriculum Vitae. S/L: Editorial Fragmentos, 1993)

“O poema / (…) / são palavras que caem, abatidas pela vida, / e que esperam por nós para se erguerem, / como se a música assim pudesse permanecer.” (Luís Filipe Castro Mendes. “Rater. Rater encore. Rater mieux”. Outro Ulisses regressa a casa. Col. “Poesia Inédita Portuguesa”, 149. Lisboa: Assírio & Alvim, 2016)

“A grande poesia é aquela que, de repente nos oferece um mundo, no qual a vivência deste se altera em cores e dimensões não sonhadas. É a criação de um outro mundo que se acrescenta realmente ao nosso mundo visível. É isso e não os versos que são muito bonitos.” (Eduardo Lourenço, entrevista a Carlos Vaz Marques. Ler. Lisboa: Fundação Círculo de Leitores, nº 72, Setembro.2008)

“A poesia é a linguagem segundo a qual deus escreveu o mundo.” (Valter Hugo Mãe. A Desumanização. 7ª ed. Porto: Porto Editora, 2016)

“A poesia nasce como os rios / e as pessoas / as avenidas / e o mar // Porque a poesia vive em tudo / e em tudo se confunde / com o sonho.” (Costa Andrade. “A voz da terra”. Terra de acácias rubras. Lisboa: União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa - UCCLA, 2014)

“As pessoas lêem poesia porque fazem parte da raça humana e a raça humana arde de paixão! Medicina, direito, a banca… Estas coisas são necessárias à vida. Mas poesia, romance, amor, beleza? São estas coisas que nos mantêm vivos! (...) Se toda a gente fosse poeta, o planeta morreria à fome! Mas a poesia tem de existir, e nós temos de reparar nela, reconhecê-la na mais ínfima, na mais insignificante das coisas, ou teremos perdido e deixado passar muito do que a vida tem para nos oferecer.” (N. H. Kleinbaum. O Clube dos Poetas Mortos. Col. “Os Livros do Cinema”, 4. Lisboa: “Diário de Notícias”, 2004)

“Toda a verdadeira poesia é um frémito diante do mistério ou da injustiça; um pressentimento do que está ou devia estar para além da apreensão imediata, da complexidade vibrante das coisas e do tempo, de tudo o que a ciência e a filosofia procuram depois de desvendar e resolver.” (José Rodrigues Miguéis. É Proibido Apontar. 2ª ed. Lisboa: Estampa, 1984)

Águas de Moura: Sobreiro "Assobiador" é "árvore do ano"



O sobreiro conhecido como “Assobiador”, em Águas de Moura, no concelho de Palmela, mereceu hoje o título de “Tree of the Year”, depois de uma votação do público que o tornou vencedor com 26606 votos, seguido dos ulmeiros ancestrais de Cabeza Buey (Badajoz, Espanha), com 22323 escolhas, e do carvalho ancião da floresta de Belgorod (Dubovskoye, na Federação Russa), com 21884 indicações.
Na página da organização, que pode ser lida aqui, a história do “Assobiador” é assim contada: “O Assobiador deve o nome ao som originado pelas inúmeras aves que pousam nos seus ramos. Plantado em 1783 em Águas de Moura, este sobreiro já foi descortiçado mais de vinte vezes. Além do contributo para a indústria, é impossível quantificar o seu impacto na manutenção do ecossistema e no combate ao aquecimento global. Com 234 anos, o Assobiador está classificado como ‘Árvore de Interesse Público’ desde 1988 e inscrito no Livro de Recordes do Guinness como ‘o maior sobreiro do mundo’!”

segunda-feira, 19 de março de 2018

Para a agenda: Dia Nacional dos Centros Históricos mostra patrimónios desaparecidos em Setúbal


O Dia Nacional dos Centros Históricos é pretexto para, em Setúbal, serem descobertos os "patrimónios desaparecidos" através de um percurso pedestre a partir da Fonte do Sapal, na Praça Teófilo Braga, curiosamente uma fonte que não nasceu ali, mas para ali foi deslocada desde a actual Praça de Bocage.
Vai ser no dia 28 de Março e exige inscrição prévia (no Museu de Setúbal), pois há limitação no número de participantes. Para a agenda!

Para a agenda: Dia Mundial da Poesia em Setúbal com maratona poética e mais...



Entre as 09h30 e as 23h00 de 21 de Março, Setúbal vai celebrar o Dia Mundial da Poesia num programa bem preenchido, o da "VIII Maratona da Poesia de Setúbal". Apresentação de livros (de Alexandrina Pereira e de Dina Barco), sessões de leitura de poemas, evocação de Bocage (com José Nobre), música (com Manuel Guerra) e uma conferência sobre Miguel Torga (com José Cymbron e Eugénio Lisboa), eis um programa a convidar.


A celebração do Dia Mundial da Poesia vai também ser acontecimento no Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal (MAEDS), em sessão prevista para as 21h30, com a presença de Sara Loureiro e António Marrachinho, que dirão poemas, e com uma mini-Feira do livro de poesia.
Para a agenda, inevitavelmente!

sexta-feira, 16 de março de 2018

Para a agenda: Jiru Taniguchi a ver em Setúbal



Desenhos de Jiru Taniguchi para O Homem que Passa podem ser vistos em Setúbal a partir de 17 de Março, pelas 16h30, no espaço A Mar Setúbal (Av. Luísa Todi, 73)., numa parceria com Edições Devir. Para a agenda!

Para a agenda: Paul Auster apresentado em Setúbal



Paul Auster chega a Setúbal através da edição bilingue de Espaços em Branco / White Spaces (tradução de Maria da Conceição Sendas), com moderação de leitura de José Teófilo Duarte. Na Casa d'Avenida, em 17 de Março, pelas 17h30. Para a agenda!

domingo, 11 de março de 2018

Bocage: A primeira edição em livro em italiano




Intitula-se Importuna Ragione e é uma antologia de 40 poemas bocagianos (Bergamo: Edizioni Lemma Press, 2017). O título é tomado do primeiro verso do soneto “Importuna Razão, não me persigas” e o conjunto de poemas resulta de escolha de Daniel Pires na obra editada em e-book Da Inquietude à Transgressão: Eis Bocage (Biblioteca Nacional de Portugal, 2016).
Daniel Pires, estudioso e divulgador da obra de Bocage e diretor do Centro de Estudos Bocageanos, é também autor do prefácio, em que considera ser a poesia o “elemento vital do quotidiano de Bocage”, poeta que cultivou uma pluralidade de géneros e se assumiu como revolucionário, sendo “autenticidade e originalidade dois atributos” do poeta setubalense.
A antologia está dividida em dez partes: “Poemas autobiográficos” (cinco textos, em que não falta o “Magro, occhi azzurri, faccia scura”), “Poemas líricos” (quatro, aí constando o soneto que dá título ao livro), “Poemas de intervenção política” (seis, incluindo o soneto “Libertà, dove sei? Chi ti trattiene?”), “Poemas de intervenção social” (quatro), “Poemas do cárcere” (quatro), “Poemas eróticos” (quatro), “Poemas satíricos” (três), “As sete partidas do mundo” (quatro, com o inesquecível “Io mi assento da te, mio patrio Sado”), “A religião” (três) e “Doença e morte” (três).
Ada Milani teve a seu cargo uma nota biográfica sobre o poeta, bem como a tradução, que pretendeu ser coerente não só nas linhas de sentido, mas também no plano da sonoridade, do ritmo, da rima e do espírito. A obra contém ainda um texto posfacial devido a Vincenzo Russo, que considera Bocage “um poeta de transição, um poeta em trânsito”, afirmando, a propósito da designação de “pré-romântico” normalmente associada ao poeta sadino, tratar-se de uma “etiqueta” que permite “encontrar na obra de Bocage mais elementos do ‘novo’ que do ‘velho’”, assim salientando o carácter inovador da poesia bocagiana.

Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama: Xavier Zarco em primeiro lugar



Xavier Zarco foi o vencedor da 15ª edição do Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama (promovido pela Junta de Freguesia de Azeitão e pela Associação Cultural Sebastião da Gama), alusiva ao ano de 2017, com o trabalho Breve Espólio da Pilhagem (apresentado sob o pseudónimo de Edward Teach), conjunto de poemas em que a palavra se alia à pintura e a outros poetas.
Xavier Zarco, pseudónimo de Pedro Manuel Martins Baptista, é detentor de vários prémios literários, entre os quais consta o da 7ª edição do Concurso Literário Manuel Maria Barbosa du Bocage, promovido pela LASA, em 2005, com o trabalho O Fogo a Cinza.
A cerimónia de entrega do prémio está prevista para Abril.

domingo, 4 de março de 2018

Mário Moura - Contar Setúbal através das histórias médicas



No prefácio à edição espanhola de Retalhos da Vida de um Médico, de Fernando Namora, o crítico madrileno Gregório Marañon (também ele escritor e médico) escreveu algo como: “O essencial da profissão médica não é a dor, não é a doença, mas as circunstâncias que a rodeiam. O acto de curar, teoricamente, as maleitas que se podem curar é um problema de dois e dois serem quatro que qualquer um poderia aprender em poucos meses. Mas o importante na Medicina é o halo misterioso de circunstâncias imprevistas que rodeia a doença, que dependem, umas, da personalidade do doente, e outras, as mais importantes e numerosas, do seu ambiente”.
Recorro a esta citação para a associar ao mais recente livro do médico e também escritor Mário da Silva Moura (n. 1927), Os “Acasos” na Construção da Vida (Book Link, 2017), que, como subtítulo, na capa, apresenta a explicação seguinte: “contos médicos que dão sentido à Utopia, à Fé e ao Amor, como exemplos de Liberdade e Humanidade”. Só esta nota de apresentação envolve um programa ou uma forma de estar na vida e na medicina, de tal maneira são referências os valores que a integram, ficando o leitor a pensar que, pelo caminho das narrativas, eles vão ser o norte e a âncora de personagens e de práticas.
Os treze contos são antecedidos de um texto preambular em que o autor descobre a origem dos escritos, maioritariamente publicados no âmbito de colectâneas de contos médicos sujeitos ao mote “o lado humano da medicina”, incentivadas pela Associação Portuguesa dos Médicos de Clínica Geral, pela indústria farmacêutica e pela editora Padrões Culturais. Mas a vantagem de este texto introdutório é mais vasta, pois faz considerações sobre o percurso da prática médica do próprio autor, evolução que, já no final, sintetiza desta maneira: “Em toda esta minha caminhada na compreensão do adoecer humano, fui avançando da medicina exclusivamente biológica dos meus tempos de faculdade para os conceitos mais globais da medicina psicossomática, entrando rapidamente na consideração das influências do meio no desenvolvimento do ser humano e depois, como é evidente, no seu adoecer; o que nos levou à medicina biopsicossocial, e daí à consideração dos processos definidores dos nossos ambientes, bem como da acção da nossa capacidade criativa.”
Assim mostrado o percurso, Mário Moura abre depois o pano para que vários dos seus pacientes desfilem no seu consultório e nas suas vidas, sempre tendo como fundo o cenário de Setúbal, que conseguimos reconhecer pela paisagem histórica, geográfica e social que nos vai sendo apresentada, sempre com pinceladas de autenticidade, caucionadas por referências ao contexto.
Muito embora as personagens povoem histórias que podem sugerir o domínio do ficcional, a verdade é que todas elas foram construídas a partir do cruzamento de pessoas com o autor, assim se estando perante narrativas autobiográficas, algumas bem coladas à história real de vida, como acontece logo com a primeira, em que perpassa a história de amor entre o médico e a paciente. Personagem central e permanente em todos os contos é o médico, sempre o mesmo, como é referido no relato “História dum crime... já prescrito”, invocando acontecimento de 1954, ao mencionar “o protagonista destas histórias”. E o médico, muito embora mereça do narrador o tratamento preferencial na terceira pessoa, assim sugerindo alguma ficcionalidade, passa também por relatos na primeira pessoa, sendo dado ao leitor observar a sobreposição dos momentos da vida do autor e dos passos da narrativa (estudo em Coimbra, chegada a Setúbal, hospitais e serviços em que trabalhou, prática jornalística, por exemplo - esta junção de percursos poderá ser mais evidente se o leitor acompanhar a leitura desta obra com outra que Mário da Silva Moura publicou em 2013, À Conquista da Liberdade, esta assumidamente autobiográfica).
O último conto, “A história de um ombro”, resolve definitivamente a questão da autobiografia, recorrendo mesmo ao autorretrato: invocando a história passada em 1954 relatada no primeiro conto, é dado o salto para seis décadas depois, em 2014, quando, “ali ao lado, estava sentado num cadeirão o nosso clínico, agora marido da doente, de cabelo e barba branca, (...) ainda com algum vigor intelectual, mas algo alquebrado pelos seus 86 anos de idade”. O tal “velho clínico” aproveitava para rememorar a sua vida enquanto acompanhava a hospitalização da esposa, momento em que “seis décadas de vida passaram em revista” com sinal positivo - “Era o saldo duma vida de paixão e amor. Era o saldo duma vida de trabalho, vivida a dois, era a visão daquele braço que nascia daquele ombro, segurando ao colo os nossos cinco filhos”. É um texto em que o narrador se junta com a personagem central, momento que legitima a autobiografia. E a terminar o conto e o livro, novamente essa sobreposição, agora justificada pela oferta a “esta mulher a quem dedico este escrito, vivenciado no quarto dum hospital comigo ao seu lado.”
Ao longo dos contos, Mário Moura assume muitas vezes também o seu papel de comentador, fazendo considerações sobre a medicina, sobre as condições de trabalho, sobre a prática médica, defendendo sempre o interesse pela Medicina Geral e Familiar, revelando uma preocupação com a evolução na sua área de trabalho e uma atenção permanente à nobreza do acto médico.

Este livro conjuga, assim, as histórias dos pacientes e a história do próprio médico, parecendo um hino de amor à profissão e também uma ode ao amor vivido pelo próprio narrador-autor, deste modo se justificando a chamada inicial da referência de Marañon e a afirmação dos valores expressos na brevíssima apresentação do subtítulo da obra. Por outro lado, mesmo tratando-se de um conjunto de experiências pessoais (e também por isso), este livro afirma-se como um contributo importante para a história da medicina e da assistência em Setúbal, quer pelas descrições que faz da vida no Hospital do Espírito Santo, quer pela formação que reclama para a evolução da medicina local, quer pelos retratos sociais que dão corpo às suas narrativas.