sábado, 10 de outubro de 2009

A República na minha Escola

Alunos da turma D de 12º ano da minha escola, orientados pela professora de História, apresentaram ontem à comunidade uma sessão sobre os 99 anos da República. Foram cerca de 60 minutos de evocação, de saber, de divulgação, de criatividade, de trabalho, de arte. Por ali passou o esforço de investigação sobre personagens ligadas à implantação da República; por ali passou a evocação do primeiro Presidente da República; por ali passou a poesia vinda das palavras de Antero de Quental, de Miguel Torga e de Manuel Alegre; por ali passou a música que interpretou e recriou "A Portuguesa" (que emocionou muitos dos presentes); por ali passou a generosidade de um grupo de alunos que fez encher um auditório para mostrar resultados do seu trabalho. Foi simpático, instrutivo, bonito e útil.
Não podia deixar de registar esta forma de, através do trabalho dos / com os alunos, a nossa contemporaneidade e o nosso passado serem vividos na Escola. Momento alto no (quase) início do ano lectivo, pois!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Política caseira (97): Migalhas de ética

Qual a finalidade de uma “Comissão de Honra” na candidatura a uma autarquia? Provavelmente, mostrar que cidadãos se disponibilizaram a dar a cara por essa candidatura, ainda que não a integrando.
Até aqui, tudo bem. As “Comissões de Honra” numa candidatura deste tipo valem pelos cidadãos que as constituem, com as suas identidades próprias.
Mas não faz parte dessa identidade o cargo que desempenham numa qualquer associação para que tenham sido eleitos ou nomeados, porque não podem comprometer a instituição que representam no apoio à candidatura “a” ou “b”, mesmo porque o lugar em que estão não é definitivo.
É por estas razões que antipatizo com as “Comissões de Honra” em que ao nome dos cidadãos e à respectiva profissão é acrescentado o cargo que desempenham no movimento associativo ou em organismos públicos.
Houvesse um pouco de ética e nem os cidadãos consentiam que esses dados figurassem nem os movimentos político-partidários usavam essa forma baixa de comprometer instituições. Pode ser uma questão de somenos, mas é um sinal da forma como os pactos funcionam e de como os pactos não deviam ser. No mínimo, é enganador. E é também um abuso.Não sei quantas candidaturas adoptaram em Setúbal esta prática, mas sei que houve quem a fizesse. Lamentável!

Política caseira (96): A cada um a sua campanha, mirando Setúbal

O Setubalense: 09.Outubro.2009

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Dia Mundial dos Professores, hoje

«Para construir o futuro: Invistamos nos professores agora!» Tal é a máxima escolhida pela UNESCO para o Dia Mundial dos Professores deste ano, data que é apresentada como «a ocasião de prestar homenagem aos professores e ao papel essencial que eles desempenham para uma educação de qualidade a todos os níveis.»
A mensagem da Unesco chama também a atenção para o que deve ser a função do professor hoje: «Num mundo interdependente e em evolução constante, os docentes devem não só assegurar-se de que alunos adquirem sólidas competências nas disciplinas de base, mas também de que eles se tornam cidadãos responsáveis a nível local e mundial e que usam as novas tecnologias e são capazes de tomar decisões claras nas áreas da saúde, do meio ambiente».

domingo, 4 de outubro de 2009

Sobre "Que cena, professor!", de Thalita Rebouças

Pelas páginas de Que cena, professor!, de Thalita Rebouças (Lisboa: Editorial Presença, 2009), passam as memórias da personagem Maria de Lurdes, aliás, Malu, jovem com 22 anos que está a partilhar um apartamento com mais duas amigas e que, um dia, depois da visita da mãe, que não aprovou a (des)ordem vivida no apartamento, entabulou conversa com as amigas sobre uma possível arrumação da casa. Que não, que ela lhes fazia lembrar um professor do passado, sempre muito apostado nas arrumações. E estava lançado o desafio para a memória: lembrando um, outro e outro professor nos seus percursos, será Malu a confessar: “Eu tive tantos professores à maneira… Giros, queridos, apaixonados. Inesquecíveis. Lembro-me do Afonso, do Gordo, da Graciete, do Joaquim, da Angélica, da Valéria, da Fátima… Histórias com professores… Tenho a memória cheia delas.”
Intitula-se este capítulo “22 anos”, dando indicação sobre a idade da personagem, mas também sobre as experiências que por esta personagem já passaram e sobre o efeito que a memória nela tem. O capítulo seguinte intitula-se “3 anos”, indicando recuo longo no tempo, até à infância a partir da qual se reconhecem lembranças, tempo de “primeiro dia de aulas”, o primeiro dos primeiros, num mês de Setembro em que Malu ingressava no colégio infantil. Depois, os capítulos garantem a sequência das idades, um para cada ano de vida, com o que de mais marcante aconteceu nesse ano no percurso escolar da protagonista, até chegar, de novo, aos “22 anos”, outra vez título no derradeiro capítulo do livro.
Assim, a história é um longo “flashback” pelo itinerário em que Malu se encontrou com professores – no infantário, na escola de ballet, nos vários níveis de ensino frequentados, na escola de condução. De cada ano ficou pelo menos uma marca para a vida, em episódios lembrados pelo que significaram na relação com professores, com colegas, no crescimento e nas aprendizagens havidas, passando por coisas tão simples quanto a existência do Pai Natal, o (não) gostar do nome, as crises de identidade, as brigas com amigos, os sentimentos em torno das fotografias do conjunto turma, as visitas de estudo, os namoros, a estética e o cuidado com o corpo.
Por esta história vão passando situações particularizadas na vida de Malu, que bem podem ser as sentidas e vividas por todos os jovens. Contando a vida segundo um ponto de vista feminino, o de Malu, esta história bem pode ser uma leitura de género em que a rapariga se dá também a conhecer. Cada momento retratado através da memória tem relato curto, conciso, com economia descritiva, fortemente povoado de diálogo e de acção.
No final, o subtítulo “a vida continua” estabelece a ponte entre o narrado (e lembrado) e o aprendido que ficou para o futuro – “É muito bom olhar para trás e recordar todas estas histórias. Que saudade dos meus professores… São pessoas que marcam a nossa vida, os nossos conceitos, os nossos medos, as nossas inseguranças, as nossas emoções. E incentivam-nos a formar opiniões, testam-nos e deixam-nos ansiosos, curiosos; muitas vezes revoltados, outras empolgados, interessados.” O capítulo terminal é um canto de entusiasmo em honra dos professores tidos, que retrospectiva, lembra e lança a corrente dos afectos, numa junção dos momentos felizes evocados e do papel que os outros desempenha(ra)m na construção desse trajecto, final feliz, portanto – “A vida continua. E o importante é saber que a convivência com cada um dos meus professores foi óptima enquanto durou. Mas que queria muito dar um beijo repenicado na bochecha de muitos, ah, queria mesmo! E depois do beijo eu abriria o meu melhor sorriso e diria, sinceramente, do fundo do coração, aquilo de que me arrependo amargamente de nunca ter dito: Muito obrigada. Por tudo.”
As questões de crescimento e de formação de homens e de mulheres sobrepõem-se às latitudes e a vida também se faz com memórias. Este livro contém uma história com histórias para ler. Com um sorriso, pelo que retrata e pelo que sugere e pela graça com que os retratos nos chegam.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Rostos (131)

Monumento ao Ovelheiro, de Camarro, em Quinta do Anjo, inaugurado hoje

Há pouco mais de 20 anos, o historiador palmelense, natural de Quinta do Anjo, António Matos Fortuna, escreveu um pequeno livro deveras significativo para a identidade da sua aldeia - Quinta do Anjo - Capital da ovelharia entre Tejo e Sado (Palmela: Câmara Municipal de Palmela, 1988). O título é curioso, pois terá sido a primeira homenagem aos pastores, aos tosquiadores, aos queijeiros, aos ovelheiros (a quem, de resto, chamou "semeadores de rebanhos em terras à volta"). Quase no final desse livro, lembrava António Matos Fortuna: "Mais ou menos, em todas as zonas do país existem pastores. Há, porém, algumas tipicamente consagradas nesse aspecto etnográfico. Em tal número ninguém pensará inscrever a freguesia de Quinta do Anjo, que sempre foi terra de ovelheiros." Duas décadas depois deste escrito, publicado em mês outonal, eis que o ovelheiro quintajense, de novo em mês de Outono, fica inscrito na memória e na identidade da aldeia.