sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Para uma antologia da região de Setúbal (4)

Colmenar nas margens do Sado
Este texto foi-me sugerido por uma reprodução cartográfica de Setúbal que o João Aldeia apresentou no seu blog, datada do início do século XVIII. É, portanto, a ele que, em primeiro lugar, dedico este texto, uma vez que tal mapa foi publicado nas obras de um tal Colmenar, no início e na década de 40 de Setecentos.
Quem foi Juan Alvarez de Colmenar é retrato de dificuldade. Para uns, foi escritor espanhol do século XVIII; para outros, terá sido um escritor francês da mesma época; há ainda quem admita que o nome corresponda a um pseudónimo com autoria desconhecida. Certo é que, em 1707, em Leyde, apareceu uma obra em cinco volumes, com a sua assinatura, em francês, intitulada Les délices de l’Espagne et du Portugal, e que, em 1741, em Amesterdão, também sob sua assinatura e em francês, foi publicada, em quatro volumes, a obra Annales d’Espagne et de Portugal, cujo primeiro volume relatava a história dos dois reinos, ficando para os outros três volumes o subtítulo da obra de 1707. Sabemos, pois, que foi viajante que legou relato da sua experiência, não esquecendo observações destinadas aos visitantes da península no último volume, sobretudo por aquilo que estes dois reinos continham de especificidade ou de diferença em relação aos outros, aí relatando costumes particulares.
No terceiro tomo da obra de 1741, com o longo título de Annales d’Espagne et de Portugal contenant tout ce qui s’est passé de plus important dans ces deux Royaumes et dans les autres parties de l’Europe, de même que dans les Indes Orientales et Occidentales depuis l’établissement de ces deux Monarchies jusqu’à présent, avec la Description de tout ce qu’il y a de plus remarquable en Espagne et en Portugal, leur état présent, leurs intérêts, la forme du Gouvernement, l’étendue de leur commerce, etc. (Amsterdam: François L’Honoré & Fils, 1741), a descrição de Portugal inicia-se na página 223. Depois de localizar o país, o autor apresenta as duas possíveis etimologias de “Portugal” – a partir de “Portus Gallorum”, designação de região do Porto onde terá atracado uma frota gálica, ou por “Portus Cale”, cidade antiga na foz do Douro, inclinando-se Colmenar para a maior verosimilhança da segunda hipótese.
Referida a organização eclesiástica, Portugal é apresentado como “um belo país, rico, fértil e com abundância de tudo o que se pode desejar para as necessidades e para os prazeres da vida”. Quanto a produções conhecidas no estrangeiro, são apontadas “o sal, que sai em grande quantidade de Setúbal, ou S. Ubes, para os países do norte da Europa, o azeite e alguns vinhos”. Depois de uma curta descrição sobre as relações de Portugal com as regiões que faziam parte do seu domínio (na América, na África e na Ásia), há uma apresentação dos principais rios, não esquecendo o Sado, “a que os antigos chamavam Callipus, nascido no sul do Reino, fecundo em vários géneros de peixes que não se encontram facilmente noutros sítios, como a tainha, o salmonete, a enguia e outros”, chamando ainda a atenção para a presença, junto à foz, de caranguejos e de bivalves.

A descrição do país segue, depois, as várias províncias, viajando de norte para sul. Quando, três dezenas de páginas à frente, escreve sobre a Estremadura a sul do Tejo (e insere a referida carta de Setúbal), volta a referir o Sado e a sua característica de correr de sul para norte. As localidades mencionadas são Almada (com um castelo “face a face” com Lisboa), Coina, Montijo (com o nome de Aldeia Galega, onde passa “a estrada daqueles que vão de Sevilha para Lisboa” e em cuja região há um sal que se prepara da mesma forma que o francês de La Rochelle), Sesimbra, Palmela e Setúbal, “uma vila nova, construída sobre as ruínas de uma mais antiga denominada Cetóbriga, que cresceu graças à comodidade do seu porto, à fertilidade do seu território, à riqueza da sua pesca e à fecundidade das suas salinas”. Colmenar repara ainda na boa muralha sadina e na Arrábida, onde se colhe a grã e onde existe um muito belo “jaspe, branco, verde, encarnado e de diversas outras cores, de que se fazem colunas que, depois de um polimento, reflectem as imagens como espelhos”.
O capítulo sobre a Estremadura não termina sem uma declaração de favor e de agrado relativamente à paisagem e à vida: “os frutos e os vinhos de toda a província são admiráveis; é ali que existem as laranjas doces que vão em grande quantidade para os países estrangeiros, com os vinhos e outras frutas. A terra está sempre coberta de flores, as abelhas produzem uma maravilhosa quantidade de mel, as oliveiras dão azeitona de que se faz um azeite excelente, os rios fornecem bom peixe, as montanhas têm várias pedras preciosas, enfim o ar é ali tão doce e bom que parece existir uma perpétua Primavera. Não se podem desejar mais encantos num País”.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Memória: Luciano Pavarotti (1935-2007)

Na cantina, a funcionária dividia a tarefa de me servir com o trautear do "O sole mio", parando, de repente. "Tenho tanta pena dele! Gostava muito de o ouvir...", explicou, em jeito de desculpa por estar a acumular as duas tarefas ou em esboço de desabafo.
É. Vamos poder ouvir Pavarotti nas gravações, claro. Mas o tom único de cada uma das suas improvisações acabou-se. Nunca assisti ao Pavarotti ao vivo, mas as suas interpretações têm-me acompanhado muito, desde há muito tempo, sejam as feitas a solo ou as acompanhadas. Além de uma voz poderosa e de muitos outros predicados que os conhecedores lhe poderão pôr, Pavarotti teve o mérito de trazer a chamada música e o canto eruditos para os ouvidos, e até para a voz, de muita gente, de a divulgar, de a tornar mais presente. E o mundo tem que lhe agradecer. [Foto de Encyclopaedia Britannica online]

Bocage à vista (2)

" Museu do Trajo", Portugal dos Pequenitos (Coimbra)

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Bocage à vista (1)

Barreiro, na avenida com o nome do poeta (Junho de 2007)

Pagelas Setubalenses - 5

A Freguesia de Sado
Data de 1985 a criação da freguesia de Sado, por Lei da Assembleia da República. O seu território, abrangendo zonas populacionais importantes como Praias-Sado, Santo Ovídio e Faralhão, deixava de ser tutelado por São Sebastião por necessidade de haver maior proximidade no atendimento aos fregueses. Prospecções arqueológicas efectuadas na zona de Faralhão pouco antes da criação da freguesia permitiram concluir que a região era já povoada por alturas do neolítico.
A freguesia do Sado, que tem uma parte incluída na Reserva Natural do Estuário do Sado, cresceu devido, sobretudo, à industrialização, haja em vista o início de laboração da Sapec em 1928 ou da Socel em 1964. No entanto, a vida rural, a economia resultante das marinhas, a ostricultura e a pesca foram, ao longo dos tempos, factores de fixação de populações vindas da Beira ou do Alentejo, sobretudo.
O movimento associativo é forte na freguesia do Sado, seja por manifestações como o folclore (ranchos de Praias-Sado, desde 1968, e do Faralhão, desde 1983, e “Unidos do Alentejo”, desde 1983), seja por actividades desportivas (União Praiense, desde 1979, Curvas, desde 1948, Estrelas do Faralhão, desde 1967).
Com 21 km² e cerca de 5 mil e 500 habitantes (4 mil e 800 eleitores), é nesta freguesia, criada por desanexação da de São Sebastião, que estão localizados pontos como o Moinho da Mourisca ou a zona industrial da Mitrena. A Junta de Freguesia, presidida por António da Silva Augusto, tem a sua sede na rua Cooperativa Habitação da Sapec.
DOUTROS TEMPOS: “Lei nº 113/85 – A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea j) do artigo 167º e do nº 2 do artigo 169º da Constituição, o seguinte: Artigo 1º) É criada no concelho de Setúbal a freguesia do Sado. Artigo 2º) Os limites da nova freguesia, conforme representação cartográfica (…), são definidos por uma linha que parte a nascente do limite do concelho e segue pelo canal de Águas de Moura, canal da Vala e estrada municipal nº 356-1ª, seguindo depois para sul até à linha do caminho de ferro, acompanhando esta linha até ao apeadeiro de passageiros do mesmo caminho de ferro, em Praias do Sado, retomando para sul a estrada municipal nº 356-1ª até ao cruzamento da Graça e estuário do Sado. Artigo 3º) 1. A comissão instaladora da nova freguesia será constituída nos termos e no prazo previstos no artigo 10º da Lei nº 11/82, de 2 de Junho. 2. Para os efeitos da disposição referida no número anterior, a Assembleia Municipal de Setúbal nomeará uma comissão instaladora constituída por: a) 1 representante da Câmara Municipal de Setúbal; b) 1 representante da Assembleia Municipal de Setúbal; c) 1 representante da Assembleia de Freguesia de São Sebastião; d) 1 representante da Junta de Freguesia de São Sebastião; e) 5 cidadãos eleitores designados de acordo com o nº 3 do artigo 10º da Lei nº 11/82. Artigo 4º) 1. A comissão instaladora exercerá funções até à tomada de posse dos órgãos autárquicos da nova freguesia. (…) Artigo 5º) As eleições para a assembleia da nova freguesia realizar-se-ão na data das primeiras eleições autárquicas gerais posteriores à entrada em vigor da presente lei. Artigo 6º) A presente lei entra em vigor 5 dias após a sua publicação. Aprovada em 11 de Julho de 1985. O Presidente da Assembleia da República, Fernando Monteiro do Amaral. Promulgada em 2 de Setembro de 1985. Publique-se. O Presidente da República, António Ramalho Eanes. Referendada em 4 de Setembro de 1985. O Primeiro-Ministro, Mário Soares.” - Lei de Criação da Freguesia de Sado (Diário da República, 4-10-1985)

terça-feira, 4 de setembro de 2007

No "Correio de Setúbal" de hoje

DIÁRIO DA AUTO-ESTIMA – 65
Miguel Torga – As datas que assinalam centenários, pelo menos essas, servem para que seja feita (ou mantida) a inscrição da identidade de um povo, de um país, de uma cultura. No domingo, 12 de Agosto, passou o primeiro centenário do nascimento de Miguel Torga, assinalado em Coimbra (terra onde viveu) com a inauguração de um memorial junto ao Mondego e com a abertura ao público da sua casa-museu. O Governo português não esteve presente no evento, gesto que nem o facto de se saber que este é um período de férias para imensa gente desculpa, mesmo porque, é sabido, o centenário do nascimento de Miguel Torga estava anunciado desde 12 de Agosto de 1907, há cem anos, portanto. O que esta ausência significa de um ponto de vista cultural e identitário é evidente… e é triste. O que esta ausência mostra quanto ao valor dado às referências socialistas por um governo que pertence a essa área política também é evidente. Olhamos e não acreditamos, pois: é que mais valeu ganhar a Câmara de Lisboa (em cuja tomada de posse o Governo esteve presente em peso) do que patrocinar o respeito pela identidade que faz Portugal, como foi o caso do centenário torguiano (em cuja celebração o governo esteve ausente em peso)!
Rotundas – A gente percorre o país e verifica que um dos supostos sinais de modernização é a febre das rotundas, quase não havendo espaço em que se cruzem dois caminhos que não mereça a rotundinha à maneira… Nalguns casos, as rotundas são enriquecidas com um monumento, o que só fica bem. No entanto, parece que essa decoração não chega e são inúmeros os lugares em que, a acompanhar a rotunda e em volta do monumento, se encontram cartazes publicitários ou anúncios de realizações locais, poluindo a visibilidade, destruindo o que poderia ser um espaço interessante e simpático. Muitas vezes, parece estarmos perante um vandalismo organizado da paisagem, em que os cartazes (em diversos tamanhos e com relativa falta de interesse) surgem sem regras e sem lógica. Há uns anos, os únicos autores que assim se comportavam eram os partidos políticos, que se criam com o direito de poder colar papéis e sarapintar em tudo o que fosse sítio; agora, são também os promotores de eventos, as autarquias, os agentes publicitários. Um pouco mais de bom gosto e de respeito pela paisagem, pelo ambiente e pelos cidadãos não ficaria mal, de facto.
Crédito – Andam os teóricos da economia preocupados com as dívidas das famílias portuguesas, mas a máquina em prol do aumento das dívidas não pára. Desde as mensagens por telemóvel até à inundação televisiva, desde as cartas endereçadas até à publicidade exterior ou nos periódicos, as sugestões para o aumento da conta bancária (com pagamento para dali a uns tempos) são intensas. E com que argumentos? O primeiro: todos somos “clientes especiais”. Depois: a aprovação do crédito é rápida. Depois: além do crédito pré-aprovado, ainda podemos ter uma oferta. Depois: o crédito pode ser para gastar nas férias, para engrossar a conta bancária, para obras a efectuar, para a substituição do automóvel, para o “regresso às aulas” e até, imagine-se, para o “regresso a casa”. O convite ao gasto, sempre ao gasto, fácil e desordenado, não tem limites. O pior é que, cada vez mais, este vai sendo o sinal de subdesenvolvimento, aliado à ilusão de que temos o mundo ao alcance da nossa mão. Pobre mundo, ingrata ilusão!

Um jardim à beira-mar plantado

A expressão que titula este postal é sobejamente conhecida. Mais: é vastamente utilizada, sobretudo quando alguém se quer referir a Portugal com uma certa ponta de desagrado, de ironia ou de maledicência. Uma amiga, num mail de hoje, quis saber desde quando existe a frase. Seja-me então permitido dedicar esta informação à Mg. Partilho a busca feita, porque a história pode apresentar interesse para mais leitores.
“Jardim da Europa à beira-mar plantado” é verso da autoria de Tomás Ribeiro (1831-1901), incluído no poema “A Portugal”, que abre o seu livro D. Jaime (1862, com 2ª edição no ano seguinte). Este poema, constituído por 15 oitavas, dá, de resto, o mote do livro no seu acentuado pendor nacionalista. Dele se transcrevem as três primeiras e a última estrofes, respeitando a pontuação da 2ª edição (a partir da qual foi publicada edição facsimilada, com prefácio de Vítor Wladimiro Ferreira, em 1989 – Lisboa: Europress):

A PORTUGAL
Meu Portugal, meu berço de inocente,
lisa estrada que andei débil infante,
variado jardim do adolescente,
meu laranjal em flor sempre odorante,
minha tarde de amor, meu dia ardente,
minha noite de estrelas rutilante,
meu vergado pomar d’um rico outono,
sê meu berço final no último sono!

Costumei-me a saber os teus segredos
desde que soube amar; e amei-os tanto!...
Sonhava as noites de teus dias ledos
afogado de enlevo, em riso e em pranto.
Quis dar-te hinos d’amor, débeis os dedos
não sabiam soltar da lira o canto,
mas amar-te o esplendor de imenso brilho…
eu tinha um coração, e era teu filho!

Jardim da Europa à beira-mar plantado
de loiros e de acácias olorosas;

de fontes e de arroios serpeado,
rasgado por torrentes alterosas,
onde num cerro erguido e requeimado
se casam em festões jasmins e rosas;
balsa virente de eternal magia
onde as aves gorgeiam noite e dia.

(…)

Por ti canto, meu berço de inocente,
lisa estrada que andei débil infante;

meu viçoso jardim de adolescente,
meu laranjal em flor sempre odorante,
minha tarde de amor, meu dia ardente,
minha noite de estrelas rutilante.
Tu… dá-me ao cerrar noite o meu inverno,
um leito funeral ao sono eterno.

Tomás Ribeiro nasceu em Parada de Gonta (Tondela), obteve a formação em Direito em Coimbra e fez carreira na política (foi Presidente de Câmara, Deputado e Ministro, tendo ocupado as pastas da Marinha, do Ultramar, da Justiça, do Reino, da Indústria e das Obras Públicas, em diversos governos, entre 1878 e 1891). Foi ainda autor de A mãe do enjeitado (1864), A Delfina do mal e Sons que passam (1868), Jornadas (1873), Vésperas (1880), História da legislação liberal portuguesa (1891-1892) e O mensageiro de Fez (1900).

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Coimbra: o memorial para Torga

Coimbra ficará para sempre associada a Miguel Torga, depois que Adolfo Rocha, o autor do pseudónimo, ali decidiu fixar residência e exercer a medicina e, também a partir dali, emitir para o mundo a sua obra literária vasta, intensa e de reconhecido valor. Quando passou o centenário do seu nascimento, em 12 de Agosto, Coimbra homenageou-o com um memorial da autoria dos artistas José António Bandeirinha e António Olaio, uma obra escultórica que liga o Largo da Portagem (onde o médico teve consultório) ao Mondego por um passadiço em xisto que termina sobre o rio. Os dizeres destacados do monumento são poucos: Torga, de tal forma o nome se impôs na literatura e na cultura portuguesa. No entanto, no gradeamento, surgem os versos que Torga escreveu em 1 de Novembro de 1983, no poema “Memória” (cf. Diário – XIV. Coimbra: 1987): “De todos os cilícios, um, apenas, / Me foi grato sofrer: / Cinquenta anos de desassossego / A ver correr, / Serenas, / As águas do Mondego.
O percurso de Torga prolonga-se pela memória e pela leitura da sua obra. Em jeito de corolário deste poema, Torga escreveria, dez anos volvidos, em 10 de Dezembro de 1993, o “Requiem por mim”, poema com que finaliza o derradeiro volume do seu registo dos dias (cf. Diário – XVI. Coimbra: 1993), em que diz: “Rio feliz a ir de encontro ao mar / Desaguar, / E, em largo oceano, eternizar / O seu esplendor torrencial de rio.

domingo, 2 de setembro de 2007

Casa ao contrário: curiosidade mas não só

Muitas vezes somos levados a pensar como seria a viabilidade do mundo se a ordem fosse outra, ou seja, se o caos fosse outra coisa. A imaginação pode deixar que construamos modelos que achamos divertidos, apesar de os sabermos de aplicação improvável. Mas é interessante tentar ver o mundo sob outras perspectivas, meio caminho andado para a maré da tolerância.
No entanto, há também quem tente pôr em prática essa sensação de experimentar o universo a partir de um diverso ponto de vista. Daniel Czapiewski é um polaco que decidiu construir uma casa invertida, isto é, apoiada sobre o tecto e com o rés-do-chão apontado para o céu, uma obra que demorou 114 dias. Aparentemente, tudo pareceria uma excentricidade. Mas Czapiewski explicou que, por trás do seu feito, há uma intenção pacificadora e, quiçá, revolucionária, sem ter nenhuma relação com a arquitectura: é que este mundo ao contrário que é a sua casa pretende ser “um símbolo de todas as injustiças contra a Humanidade”, como refere a notícia no Portugal Diário. Entretanto, muitos visitantes têm acorrido a esta construção ao contrário, onde podem ver pinturas que denunciam algumas das causas do mal-estar do mundo. O que a notícia não diz é se os turistas vêm também com as ideias afectadas, no sentido de se converterem a essa convicção de que o mundo tem que ser melhor porque o temos que fazer diferente… Provavelmente, a ordenação do caos carecerá de outras leis que não as que têm contribuído para uma imagem má do mundo, para uma distorção da humanidade… A casa de Czapiewski poderá ser uma utopia, mas chama a atenção. E talvez valha a pena pensarmos nas utopias que podem modificar o que está menos certo… [Foto Lusa/EPA, em Portugal Diário, onde podem ser vistas outras fotografias]

sábado, 1 de setembro de 2007

"Sinais de Vida", por Jorge Freixial (e amigos)

Começou hoje, no Museu Sebastião da Gama, em Vila Nogueira de Azeitão. É uma exposição de fotografia de Jorge Freixial (e amigos), que se vai mostrar até 30 de Novembro. Jorge Freixial (n. 1961) é professor de Educação Visual e, desde 1989, tem participado em vários concursos e exposições. Os amigos são doze (Alexandra Freixial, Ana Galrinho, António Freixial, Carmo Franco, Cristina Ribeiro, Hugo Silva, José Custódio, José Vilhena, Luísa Albino, Luís Gonzaga, Regina Diniz e Teresa Marques) e as fotografias são bastantes para merecer a ida.
O subtítulo “ocultas evidências” diz muito do que ali se pode ver: a complexidade do que, no dia-a-dia, vemos como simples – plantas, animais, momentos, captações de movimentos, de pormenor e de atenção, instantes de um bulício que nos escapa e, sobretudo, de vida. É, aliás, por esta última marca que a exposição tem uma dedicatória: “às maiores artífices da vida: as mães”.
Em palavras do autor, na sessão de apresentação, houve também a intenção de associar estas imagens ao patrono do Museu, tarefa fácil, de resto, uma vez que Sebastião da Gama era um cantor das coisas simples como o barulho do vento, o marulhar das folhas, os ruídos dos animais minúsculos, as conversas das plantas, as vozes do mar, o sorriso das estrelas, a força da Arrábida. [Fotografia a partir do catálogo da exposição]