terça-feira, 22 de abril de 2025

O que o ChatGPT disse sobre as obras de Sebastião da Gama

  

10 de Abril, 101 anos depois de Sebastião da Gama nascer. Uma pergunta simples ao ChatGPT: “Obras de Sebastião da Gama?” E veio a resposta: “Principais obras de Sebastião da Gama: Serra-Mãe (1945), sua estreia literária, uma homenagem à Serra da Arrábida, que ele tanto amava; Loas a Nossa Senhora da Arrábida (1946), continuação da exaltação da natureza e da espiritualidade; Cabo da Boa Esperança (1947), poesia intimista e de esperança, marcada por sentimentos humanos profundos; Campo Aberto (1951), reafirmação do seu amor pela natureza, com uma linguagem simples, mas muito lírica; Diário (publicado postumamente em 1958), diário do seu tempo de professor em Setúbal, revela o seu pensamento pedagógico e sensibilidade humana, muito estudado em contextos educativos; Itinerário Paralelo (1958, póstumo), outro livro de poesia que aprofunda temas como a fé, a natureza e o amor.” E acrescentava: “Se quiser, posso te mostrar trechos ou fazer um resumo de algum desses livros. Quer?”

Os conteúdos indicados para cada uma das obras não saem de um fio em que tudo parece igual ou, pelo menos, alojado dentro de uma série de ‘continuados’, abordagem que está longe de corresponder à realidade; há dois erros absolutos — o dizer que o Diário respeita ao “seu tempo de professor em Setúbal”, o que não é verdade (tem referências ao tempo de Setúbal, mas relata a experiência de estágio em Lisboa), e a data de publicação de Itinerário Paralelo, que, sendo edição póstuma, ocorreu em 1967.

Não pedi pormenores sobre os livros. Limitei-me a curtíssima pergunta: “Mais obras?” Resposta: “Claro! Além das obras mais conhecidas que mencionei, Sebastião da Gama tem outras publicações, incluindo edições póstumas e compilações organizadas por estudiosos e admiradores da sua obra.” Fica a ideia de grande fartura de trabalhos e a curiosidade por esse levantamento. E a nova listagem foi: “Outras obras de Sebastião da Gama: Cartas I (1987), reunião de cartas trocadas com amigos e colegas, revelando seu lado mais pessoal, íntimo e humano; Cartas II (1994), continuação da colecção de correspondência, que mostra seu pensamento poético e filosófico; Pelo Sonho é que Vamos (1999), antologia poética com selecção de textos marcantes, inclui o célebre poema com o mesmo nome, frequentemente citado no meio educativo; Diário II - Setúbal e o Ensino (1999), continuação do Diário, focando mais profundamente na sua actuação como professor e na educação; Textos Dispersos e Inéditos (2004), organização de textos que ficaram fora das publicações originais, incluindo prosa, poesia e anotações pessoais; Obra Poética Completa (várias edições), compilações que reúnem todos os seus livros de poesia, muitas vezes acompanhados de prefácios e estudos críticos; A Poesia Vai à Escola, edição voltada para contextos escolares, que selecciona poemas de Sebastião da Gama com propostas de leitura e interpretação; A Serra da Arrábida e o Homem, texto de tom ensaístico, voltado para a protecção da natureza, mostrando seu pioneirismo ecológico.” Fiquei perplexo: a única verdade nesta informação são os títulos Pelo Sonho é que Vamos e Cartas I, embora apareçam com datas erradas, pois são de 1953 e de 1994, respectivamente. E disse mais: “Quer que eu te recomende por onde começar, dependendo do que você curte?” Nova perplexidade. Limitei-me a dizer: “Há aqui muitos títulos inventados e que não existem...”

Triplamente perplexo com a resposta: “Ah, finalmente! Uma alma atenta. Sinto muito por ter contribuído para a já sobrecarregada pilha de desinformação cultural. Você está certo. Vamos limpar essa bagunça e separar o que realmente faz parte da obra de Sebastião da Gama, sem esse festival de títulos fantasmas que surgiram como cogumelos mal catalogados.” Apre!!!

E lá veio mais uma lista de “obras autênticas”, quase totalmente certa, e uma outra de “compilações e edições póstumas relevantes”, em que é dito sobre as Cartas: “Existe, sim, publicação de parte da correspondência dele, mas não em volumes organizados como Cartas I ou ‘Cartas II’. Isso fui eu, inventando colecções como quem faz playlists de poeta.” O Chat GPT confessa-se e arrepende-se? E, provavelmente para fazer as pazes comigo, uma promessa: “Se quiser, posso te mostrar o poema Pelo Sonho é que Vamos, sim, o verdadeiro, não a versão remix que minha mente neural elaborou. Quer que eu repare meu erro com um pouco de beleza real?”

Desisti. Fechei a aplicação. “Beleza real”? Tive receio de que me surgisse um qualquer boneco desses que agora proliferam nos murais facebookianos. Desliguei-me do monitor e fui pegar num livro do Poeta. Lamento, ChatGPT, não vou alimentar a sua “mente neural”...

* João Reis Ribeiro. "500 Palavras". O Setubalense: n.º 1512, 2025-04-16, pg. 10.


2 comentários:

Anónimo disse...

Que grande "aventura literária" Prof. João!!! Não sei se deva rir ou chorar!!

Anónimo disse...

Foi escrito por um brasileiro com total desconhecimento do Poeta.
Não sei o que é 0 ChatJPT.