quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Bombeiros Voluntários da Moita: quase 90 anos de história



“Fazer bem sem olhar a quem” é ditado popular que se impõe como recomendação. Mas também pode ser lema, tal como acontece nos Bombeiros Voluntários da Moita, que escolheram esta frase para ser gravada no monumento que ali os enaltece desde 1991. Instituição fundada em 1933, teve agora apresentada a sua monografia, Por ti, ponho as mãos no fogo - História dos Bombeiros Voluntários da Moita, assinada por Helena Barros (n. 1962), título que joga com uma expressão bem conhecida que apela à confiança ilimitada.

A obra, apoiada na documentação da corporação (livros de actas e correspondência) e em fontes orais a partir dos bombeiros mais velhos, começa por sensibilizar o leitor para elementos que configuram a pré-história dos bombeiros - o papel das populações antigas perante o deflagrar de um incêndio, a função dos aguadeiros, as primeiras medidas tomadas na prevenção e combate a incêndios (de 1395, com D. João I), o primeiro corpo de homens para os combater (em Lisboa, em 1646), os acontecimentos de 1755, a primeira notícia de morte de combatentes ao fogo (em Lisboa, em 1830), a criação do slogan “Vida por vida” pelo tomarense-montijense Álvaro Valente (1886-1965) no início do século XX.

A organização do livro e da história é depois ligada aos vários quartéis por onde passou a Associação e pela acção desenvolvida em prol de cada uma dessas construções, não esquecendo nomes e figuras locais que foram determinantes para a estabilidade da corporação, muitos deles num tempo longo de dedicação à causa, como foram os casos dos dois mais longevos presidentes da Direcção, Adriano Augusto Flores (1950-1977) e Manuel Oliveira Filipe (2001-2015), ou dos dois mais duradouros comandantes do corpo activo, Joaquim Pelica (1959-1974) e Carlos Picado (1993-2016).

A narrativa vai sendo condimentada com curiosidades (primeira bomba adquirida, primeiro auto pronto-socorro ou primeira mulher a integrar os corpos gerentes, por exemplo) e com histórias por vezes épicas, como a que relata a forma de levar um doente desde a Moita até ao Hospital de S. José no início da corporação: “o paciente era acomodado na maca rodada e transportado por dois ou mais bombeiros até à estação da CP (da Moita) e aí aguardavam o comboio. Maca, doente e bombeiros embarcavam no vagão Jota com destino ao Barreiro. Aí chegado, o doente era levado (ainda na maca de rodas) até ao barco que o transportaria a Lisboa. Saídos do barco, os bombeiros retomavam o transporte braçal da maca e do doente até ao Hospital de S. José.” Intervenções importantes que ficaram na memória foram o salvamento de um homem soterrado num poço de 15 metros (1953), o apoio no desastre ferroviário na estação da Moita (1955) ou o serviço prestado aquando do desabamento de uma bancada com 200 pessoas nas Festas da Boa Viagem (1969).

Parte significativa desta monografia é alimentada com as dificuldades da vida da Associação - de ordem económica, administrativa e logística, sobretudo, ou na angariação e fidelização de associados, verificando-se, frequentemente, que uma novidade introduzida na organização pode ser momento catalisador de adesões, como se passou com a criação do Grupo de Dadores Benévolos de Sangue, da secção desportiva, da fanfarra ou do museu com o nome do quarteleiro Alfredo Picado.

Nos quase 90 anos, “o nome da Associação sempre foi uma referência e um cartão de visita para o município. A sua presença na vida das populações é impagável, prestando os seus valiosos serviços a instituições, agentes económicos e todo o município.” Esta é a imagem que perpassa, justificando o título atribuído à monografia.

*J.R.R. "500 Palavras". O Setubalense: nº 736, 2021-11-17, p. 5


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