quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Buehler-Brockhaus e a arte pública de Setúbal



Na edição do Público de 17 de Outubro, o jornalista Abel Coentrão gasta duas páginas para falar da Fundação Buehler-Brockhaus a propósito das suas acções de mecenato, que têm ocorrido em Portugal e no estrangeiro, assim concluindo o escrito: “Com toda a propriedade, Pierre-Rosenberg, director honorário do Museu do Louvre, chamou-lhes, por alturas da doação de arte impressionista de 2004, ‘generosos doadores, com que todos os museus sonham’. Alguns têm é a sorte de acordar com os Buehler-Brockhaus a seu lado.”

Os dois rostos conhecidos da Fundação (criada em 2008) são os de Hans-Peter Buehler e de Marion Buehler-Brockhaus, casal que, na primeira década deste século, escolheu Setúbal para viver, ambos originários de Leipzig. Ao longo de mais de uma década, Setúbal tem beneficiado do contributo dos Buehler-Brockhaus no apoio e investimento feito em arte pública, partilhada com toda a comunidade.

Florindo Cardoso, na obra Por amor a Setúbal - Esculturas oferecidas à cidade pela Fundação Buehler-Brockhaus, recentemente publicada, dá boa nota do enriquecimento artístico e patrimonial de que Setúbal beneficiou através desta ligação. O livro abre com a gratidão de Maria das Dores Meira, ex-presidente da Câmara de Setúbal, confessando que “a nossa cidade será sempre incapaz de agradecer a paixão que os Buehler-Brockhaus lhe dedicaram.” Depois, é o casal quem justifica a obra: “Este livro é dedicado à escultura portuguesa contemporânea instalada nos principais espaços públicos de Setúbal. Em 2006 mudamos a nossa residência para esta bela cidade, com características tradicionais e modernas, banhada pelo estuário do rio Sado e com o seu convento manuelino e as suas belezas naturais e culturais. Neste ambiente maravilhoso queríamos trabalhar e contribuir com a nossa Fundação.” No resto dessa nota assinada pelos Buehler-Brockhaus poderia haver o tom elogioso sobre o que fizeram, mas a opção foi noutro sentido - agradecimento aos poderes públicos, aos artistas com quem trabalharam, às empresas que contribuíram para a concretização das obras. 

Depois de, no primeiro capítulo, lembrar várias acções levadas a cabo pela Fundação, Florindo Cardoso percorre o itinerário dos artistas e das esculturas públicas que se cruzaram com a identidade da cidade - as quatro peças em barro, de Augusto Cid (“Carregador de peixe”, “Mulher das flores e das frutas”, “Homem do talho” e “Mulher dos ovos e galinhas”), presentes na ala central do Mercado do Livramento desde 2011; a escultura “Sardinhas”, em mármore, da setubalense Luísa Perienes, que anima a Rotunda das Fontainhas desde 2014; as esculturas em aço “Zéfiro”, que se impõe na rotunda do Monte Belo desde 2014, e “Luísa Todi”, que está junto da entrada do Forum Municipal Luísa Todi desde 2012, ambas de Sérgio Vicente; a escultura “Golfinhos”, em mármore, de Carlos Andrade, que finaliza a auto-estrada, à entrada de Setúbal, desde 2017. Há ainda o registo de uma obra a ser mostrada brevemente, “Os amantes”, também de Carlos Andrade, que integrará uma das rotundas da Avenida da Europa.

Na abordagem de cada uma das peças, Florindo Cardoso faz breves alusões histórico-culturais sobre o significado e a importância do que representam, importantes para o enquadramento e justificação dos temas, surgindo todas as obras intensamente fotografadas em diversos momentos - na execução, na implantação e no contexto em que se apresentam.

Não pode o leitor, depois desta obra, deixar de compreender a nota de Abel Coentrão no Público: “Alguns têm é a sorte de acordar com os Buehler-Brockhaus a seu lado.” Setúbal teve-a: as obras aí estão para o provar, o livro aí está para lembrar os patronos. A cidade tem de agradecer essa “sorte”.

* J.R.R. "500 Palavras". O Setubalense: nº 717, 2021-10-20, p. 9.


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