quarta-feira, 24 de abril de 2019

António Correia: o cidadão, o professor, o amigo



Conheci o António Correia como professor na Escola Secundária de Palmela, quando lá fui colocado, em 1989. Foi meu colega, foi director da Escola (Conselho Directivo), foi meu orientador durante a profissionalização em serviço, foi (é) meu amigo.
O António Correia é sempre um mestre. Sem favor! Tive o privilégio de trabalhar com ele. Tenho o privilégio de o ter como amigo. Tenho tido o privilégio de aprender com ele. O discurso que ouvi neste filme é o mesmo que me contou noutras alturas. Sem ser pretensioso, sem ultrapassar o que lhe é devido. Excelente testemunho, António Correia! Obrigado por tudo.

quarta-feira, 10 de abril de 2019

Sebastião da Gama: No final de uma manhã de Abril... há 95 anos



Segundo o registo oficial, eram 12h30 de 10 de Abril de 1924 quando, numa casa térrea situada no número 88 da Rua José Augusto Coelho, em Azeitão, nasceu Sebastião da Gama. Era o terceiro filho de Sebastião Leal da Gama Júnior (1893-1965) e de Ana Cardoso Leal da Gama (1901-1981), tendo como avós, pelo lado paterno, Sebastião Leal da Gama (de Castanheira de Pera) e Vitória Quaresma (do Montijo), e, por via materna, Artur Cardoso e Leonor Maria Marcelino (ambos de S. Simão).
Os pais do jovem Sebastião já levavam quase quatro anos de família, desde que, em 6 de Maio de 1920, se tinham casado. Ao primeiro filho dessa união foi dado o nome de Artur (nascido em 20 de Fevereiro de 1921, viria a falecer um ano depois, em 25 de Fevereiro); o segundo filho receberia o nome de Sérgio (nasceu duas semanas antes de o irmão falecer, em 10 de Fevereiro de 1922, e seria o de maior longevidade, tendo vivido até 18 de Janeiro de 2005).
Sebastião da Gama pouco tempo viveria na casa onde nasceu, pois, em Outubro de 1924, a família mudou de residência para o prédio com o número 140 na mesma rua José Augusto Coelho, em Vila Nogueira de Azeitão.
No mês seguinte, Novembro, no dia 27, a criança era baptizada na Igreja Paroquial de São Lourenço de Azeitão, em cerimónia que ficou registada pelo padre Manuel Fernandes Barros, sendo padrinhos Gabriel Domingos do Carmo e Josefina Pascoal Cardoso.
Quase nada se sabe da infância de Sebastião da Gama, que decorreu em Azeitão. Relatava a mãe que, muito novo, quando as palavras ainda não eram bem pronunciadas, foi um dia em passeio à Arrábida e, ao chegar a casa, declamou a sua primeira quadra: “Fui passear / à Serra da Arrábia / e encontrei / uma mulher grávia.” Certo é que estavam ali lançadas as primeiras ideias que associariam o seu livro inaugural, Serra-Mãe, publicado em 1945, à Arrábida e à maternidade.
As primeiras letras foram aprendidas na Escola Primária de Aldeia Rica (em Azeitão), concluindo as provas do exame do 2º Grau do Ensino Primário Elementar em Setúbal em Julho de 1934. Foi ainda neste ano que Sebastião escreveu aquele que hoje se conhece como o seu mais antigo poema, um conjunto de quadras sobre os reis que governaram Portugal.
O dia do nascimento, deixou-o Sebastião da Gama registado em verso, no texto intitulado “Pequeno Poema” (escrito em 7 de Maio de 1945, um dia depois de os pais terem passado o 25º aniversário de casamento): “Quando eu nasci, / ficou tudo como estava. // Nem homens cortaram veias, / nem o Sol escureceu, / nem houve Estrelas a mais... / Somente, / esquecida das dores, / a minha Mãe sorriu e agradeceu. // Quando eu nasci, não houve nada de novo / senão eu. // As nuvens não se espantaram, / não enlouqueceu ninguém... // Pra que o dia fosse enorme, / bastava / toda a ternura que olhava / nos olhos de minha Mãe...”
Ainda em 1945, este poema teve duas publicações: no livro Serra-Mãe e na revista Aqui e Além. Depois, integrou várias antologias que tomaram a figura da mãe como tema (de que são exemplo as organizadas por Albano Martins, por Paula Mateus ou por José da Cruz Santos); foi ainda interpretado musicalmente pelo grupo marinhense “Os Duques de Quibir” (1989), com arranjos de Quim Cruz e Vadinho; finalmente, foi inserido em variados manuais da disciplina de Português nos diversos níveis de ensino, percurso que foi inaugurado por Virgílio Couto, professor metodólogo que orientou o estágio de Sebastião da Gama na Escola Veiga Beirão, em Lisboa - em 1948, com o título “Quando eu nasci”, o poema foi inserido no manual Leituras II, destinado ao ensino de Português nos cursos técnicos.
Este poema de Sebastião da Gama sobre o dia do nascimento não poderá ser lido sem lembrarmos o soneto camoniano “O dia em que eu nasci”. Contudo, no caso de Sebastião, a evocação traz marcas de felicidade, tónica que acabaria por dominar toda a sua poesia.
A memória de 10 de Abril, o tal dia em que “não houve nada de novo / senão eu” (segundo o poeta), foi dilatada no tempo e associada a valores que Sebastião radicou, tendo também para isso contribuído a decisão tomada pela Câmara Municipal de Setúbal, em 28 de Fevereiro de 2007, de instituir esse dia como Dia Municipal da Arrábida.
Na foto: registo de baptismo de Sebastião da Gama