terça-feira, 5 de julho de 2016

Praxes para a integração? Não, obrigado!


Uma centena de subscritores (artistas, professores, jornalistas, políticos, escritores, desportistas, etc.) pôs a sua concordância numa carta aberta dirigida a todas as instituições de ensino superior a propósito das praxes que inundam o início do ano lectivo em todo o país.

Depois de analisarem a forma como a actividade praxística se tem “institucionalizado”, duas coisas são pedidas às instituições de ensino superior:

PRIMEIRA: «Instamos todas as equipas dirigentes das Universidades, Politécnicos, faculdades e escolas superiores a criar, com caráter duradouro, atividades de receção e de integração dos novos estudantes e das novas estudantes, ao longo do ano letivo, que configurem uma alternativa lúdica e formativa às iniciativas promovidas pelos grupos e organizações de praxe.»

SEGUNDA: «Apelamos também a que as mesmas instituições informem atempada e eficazmente todos os novos alunos e todas as novas alunas, por exemplo através do envio de um e-mail ou entregando, no ato da matrícula, um esclarecimento nesse sentido, de que as atividades de praxe não constituem qualquer espécie de obrigação e que não podem ser prejudicadas de nenhuma forma ou ameaçados de qualquer maneira por recusarem participar, devendo ser fornecido um contacto para o qual possam ser endereçadas queixas.»

Dois pedidos que deviam ser norma e que podem fazer a diferença, mais do que justos e que deveriam ser mais do que evidentes e, sobretudo, praticados.

Nas praxes a que o cidadão comum tem de assistir na rua, seja em Lisboa, em Setúbal ou noutro canto, não se vê, habitualmente, a marca de integração, antes se observa a boçalidade, a idiotice, a humilhação, a fanfarronice de uns poucos “mestres de praxe” perante os que serão os seus colegas ao longo do ano lectivo e do curso. Indigna atitude de indignos princípios!

Há dias, quando estava num encontro com alunos que acabaram o 12º ano e com outros que já estão no ensino superior, dizia uma das que está no final do 1º ano de uma instituição de ensino universitário para outra: “Se quiseres vir para a minha Escola, esse curso funciona bem, mas vais ter uma praxe pesada!” Fiquei espantado e ainda mais admirado quando ela, com um ano de universidade, me disse que ia participar nessa praxe porque era “giro”!...

Faz sentido haver alternativas, que podem passar pelo dizer “não” ou mesmo pela criação de outras vias de integração (se é de integração que se quer falar). Daí que tenha apreciado práticas de integração no ensino superior que passam por campanhas de solidariedade e de trabalho de voluntariado entre os alunos que chegam e os alunos que já lá estão, visando o conhecimento em equipa e a melhoria de condições sociais para desfavorecidos. Daí que o apelo surgido nesta carta faça todo o sentido, mesmo por ser um sinal de humanidade, uma defesa de direitos cívicos e uma questão de educação que não acarreta custos.

Compete agora às escolas de ensino superior o resto, assumindo a demarcação e a alternativa a práticas que em nada dignificam as pessoas, os estudantes ou as instituições. E compete aos jovens que iniciam os estudos universitários optar por serem tratados como pessoas.

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