Uma centena de subscritores
(artistas, professores, jornalistas, políticos, escritores, desportistas, etc.)
pôs a sua concordância numa carta aberta dirigida a todas as instituições de
ensino superior a propósito das praxes que inundam o início do ano lectivo em
todo o país.
Depois de analisarem a forma
como a actividade praxística se tem “institucionalizado”, duas coisas são
pedidas às instituições de ensino superior:
PRIMEIRA: «Instamos todas as
equipas dirigentes das Universidades, Politécnicos, faculdades e escolas
superiores a criar, com caráter duradouro, atividades de receção e de
integração dos novos estudantes e das novas estudantes, ao longo do ano letivo,
que configurem uma alternativa lúdica e formativa às iniciativas promovidas
pelos grupos e organizações de praxe.»
SEGUNDA: «Apelamos também a
que as mesmas instituições informem atempada e eficazmente todos os novos
alunos e todas as novas alunas, por exemplo através do envio de um e-mail ou
entregando, no ato da matrícula, um esclarecimento nesse sentido, de que as
atividades de praxe não constituem qualquer espécie de obrigação e que não
podem ser prejudicadas de nenhuma forma ou ameaçados de qualquer maneira por
recusarem participar, devendo ser fornecido um contacto para o qual possam ser
endereçadas queixas.»
Dois pedidos que deviam ser
norma e que podem fazer a diferença, mais do que justos e que deveriam ser mais
do que evidentes e, sobretudo, praticados.
Nas praxes a que o cidadão
comum tem de assistir na rua, seja em Lisboa, em Setúbal ou noutro canto, não
se vê, habitualmente, a marca de integração, antes se observa a boçalidade, a
idiotice, a humilhação, a fanfarronice de uns poucos “mestres de praxe” perante
os que serão os seus colegas ao longo do ano lectivo e do curso. Indigna
atitude de indignos princípios!
Há dias, quando estava num
encontro com alunos que acabaram o 12º ano e com outros que já estão no ensino
superior, dizia uma das que está no final do 1º ano de uma instituição de
ensino universitário para outra: “Se quiseres vir para a minha Escola, esse
curso funciona bem, mas vais ter uma praxe pesada!” Fiquei espantado e ainda
mais admirado quando ela, com um ano de universidade, me disse que ia
participar nessa praxe porque era “giro”!...
Faz sentido haver
alternativas, que podem passar pelo dizer “não” ou mesmo pela criação de outras
vias de integração (se é de integração que se quer falar). Daí que tenha
apreciado práticas de integração no ensino superior que passam por campanhas de
solidariedade e de trabalho de voluntariado entre os alunos que chegam e os
alunos que já lá estão, visando o conhecimento em equipa e a melhoria de
condições sociais para desfavorecidos. Daí que o apelo surgido nesta carta faça
todo o sentido, mesmo por ser um sinal de humanidade, uma defesa de direitos
cívicos e uma questão de educação que não acarreta custos.
Compete agora às escolas de
ensino superior o resto, assumindo a demarcação e a alternativa a práticas que
em nada dignificam as pessoas, os estudantes ou as instituições. E compete aos
jovens que iniciam os estudos universitários optar por serem tratados como
pessoas.
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