Cena infantil - jardim do Palácio de Queluz (Queluz)
quinta-feira, 26 de julho de 2012
terça-feira, 24 de julho de 2012
Máximas em mínimas (89)
“Ser imortal
é insignificante; com excepção do homem, todas as criaturas o são, pois ignoram
a morte; o divino, o terrível, o incompreensível é saber-se imortal.”
Jorge Luís Borges, “O Imortal”, in O
Aleph
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domingo, 22 de julho de 2012
sexta-feira, 20 de julho de 2012
Memória: José Hermano Saraiva (1919-2012)
Cresci
a ver José Hermano Saraiva na televisão, com o seu poder de comunicação
invejável e a sua abordagem da(s) história(s) de Portugal de maneira inconfundível,
mesmo sabendo que, por vezes, alguma dose de ficção a integrava. Cresci a
admirá-lo, mesmo porque, entre outras capacidades, teve a de tornar a história
e a nossa identidade muito mais próximas de nós.
Tivemos
três encontros. Um, numa Feira do Livro, em Lisboa, quando me autografava um
livro, que, ao abri-lo por acaso, foi parar a uma fotografia de uma torre de
antiga casa senhorial, ali para os lados de Arcos de Valdevez. Disse-lhe que
conhecia, que tinha lá estado havia pouco tempo e logo ele lamentou algo do
género, por causa de algumas das pedras das ameias que lhe faltavam: “Está a
ver esta torre? O que lhe parece?” Hesitei, mas ele atalhou: “Não a acha uma
boca desdentada?” E logo ali entabulámos curta conversa sobre o património que
se degradava.
O
segundo ocorreu uns anos depois, quando o convidei para vir à minha Escola
falar sobre Camões e o sobre o Renascimento. Foi uma tarde intensa de cultura,
com os alunos presos ao discurso e às histórias, ressaltando um Camões de carne
e osso, num trajecto que foi mais o passeio de um humanista sobre as pedras da
história e sobre os recantos da arte. Muito tempo passado, os alunos ainda
recordavam o fulgor daquela lição de saber…
O
terceiro aconteceu há cinco anos, quando foi inaugurado o monumento a Sebastião
da Gama, em Azeitão. Hermano Saraiva cruzara-se com o poeta nos corredores da
Faculdade e conheciam-se. Integrou a Comissão de Honra desse monumento, mas,
por razões de saúde, não pôde estar presente no evento, que ocorreu em 9 de
Junho de 2007. Visitei-o posteriormente na sua casa de Palmela, onde tivemos
uma conversa longa sobre Sebastião da Gama e sobre história. O encontro
terminou com uma narrativa sobre a forma como uma imagem de S. Tiago em pedra
ali fora parar à sua casa, onde cada recanto tinha uma história…
Foram
três bons momentos de aprendizagem, além daqueles que, na televisão,
proporcionou. São boas memórias. Ficam-me ainda os livros – incluindo a sua
autobiografia que o semanário Sol
publicou há uns anos – e as imagens. Fica a memória.
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quinta-feira, 19 de julho de 2012
Maria Barroso: "Cartas a Mário Soares" e uma biografia
Aos 87 anos, Maria Barroso resolveu partilhar a
narrativa da sua vida com os leitores através da publicação das suas memórias e
da correspondência mantida com o marido, Mário Soares, entre 1961 e 1974, num
projecto co-editado pelo semanário Sol
e pela Fundação Pro-Dignitate. É um conjunto de 18 volumes, publicados a ritmo
semanal, em que a epistolografia ocupará 8 deles (Cartas a Mário Soares 1961-1974) e a biografia os restantes (Álbum de memórias). O trabalho foi
coordenado pelo jornalista Vladimiro Nunes, que anotou as cartas e redigiu os
volumes de cunho biográfico. Até ao momento, foram publicados cinco volumes
deste projecto [o próximo sai amanhã, com o jornal Sol], sendo quatro deles da correspondência.
O primeiro volume da biografia ocupa-se sobretudo da
história da ascendência de Maria Barroso, incidindo bastante sobre a actividade
do pai, militar e republicano, alvo de perseguições e de prisões graças aos
compromissos assumidos. O final do volume encontra Maria Barroso na sua
infância em Setúbal, aos dezasseis meses (em Setembro de 1927).
Preocupação de Vladimiro Nunes é de contextualizar a
narrativa no Portugal da época, com referências adequadas à vida política,
cultural e social do país, com indicações cronológicas sobre acontecimentos e
sobre outras personalidades que viriam a ser referências para o século XX
português e que viriam a cruzar-se também com o percurso de Maria Barroso e de
Mário Soares em muitos casos. Para a elaboração deste trajecto biográfico,
Vladimiro Nunes teve como fontes a própria Maria Barroso, um vasto leque de
amigos e de familiares da biografada e o arquivo de família, assim se
justificando o título, que alia a capacidade da memória e a característica
antológica dos eventos, das histórias e das personagens que fazem uma vida.
Quanto aos quatro volumes de correspondência já
publicados, o leitor entra nos tempos de ausência de Mário Soares relativamente
à família, fosse por estadias longas no estrangeiro, fosse pelos tempos de
cárcere ou de desterro. As cartas de Maria Barroso para o marido são um ritual
diário nesses tempos de ausência, muito próximas da escrita diarística,
relatando o acontecido naquele dia, com considerações a propósito, por onde
passam os registos da vida do Colégio Moderno (sobre os professores, sobre a
gestão e organização, sobre as inscrições, sobre as obras, sobre as colónias de
férias), o acompanhamento dos filhos João e Isabel (nos estudos, nas relações
sociais, na educação), o cuidado prestado a familiares (sobretudo ao sogro,
João Soares, na vigilância da sua saúde, no acompanhamento, na gestão das
relações familiares), a gestão do património familiar (acompanhamento das obras
na casa de Nafarros, da actividade no escritório de advocacia de Mário Soares e
manutenção da casa de Cortes), as relações sociais (manutenção das amizades e
presenças em eventos, muitas vezes em representação do casal ou do marido), a
preocupação em minimizar os efeitos do afastamento (fazendo chegar à prisão
livros, refeições por si confeccionadas, marcando presença nos escassos tempos
de visita), as emoções (provas de afecto, considerações sobre a vida do casal,
incentivo contra a solidão e a humilhação do estatuto de preso), a vida cultural
em que estava envolvida (leituras, filmagens, sessões de poesia e de teatro).
Percebe o leitor que a intenção de Maria Barroso era a
de tornar o mundo familiar presente a Mário Soares, assim impedindo que as
interrupções da vida em comum equivalessem a descontinuidades e possibilitando
que os projectos em que estavam envolvidos pudessem continuar a ser gizados a
dois.
As cartas de Maria Barroso assumem também essa
perspectiva de luta contra a solidão, passeando pelos relatos do quotidiano,
mas demonstrando ainda as angústias e as dúvidas de quem não quer vacilar, de
quem quer ser presente e vencer a distância, muitas vezes confessando o
exercício de aprendizagem que aqueles afastamentos lhe proporcionam à medida
que cresce a admiração pela forma como o marido enfrenta a adversidade da
perseguição política.
No fundo, estas cartas são o retrato, a fixação do
tempo comum possível naquelas circunstâncias, uma prova de cumplicidade
efectiva na forma de fazer a vida com sentido, sempre com horizontes de
esperança, muitas vezes matizados com as cores das plantas do jardim ou com os
tons do dia, a evocarem momentos passados ou recortados por alusões a versos e
à memória. São cartas que apaziguam quem as escreve e que pretendem idêntico
efeito no destinatário, que se alicerçam na partilha e na comunhão para que o
sofrimento das lonjuras seja, pelo menos, esbatido. Um belo documento humano e
cultural, um bom testemunho de sinceridade e do que pode ser a vida de pessoas
que caminham na mesma direcção!
Marcadores
Homem (e
mulher) – “Chego a pensar se de facto
os homens merecem tanta ternura, tanta dedicação como aquela que algumas
mulheres sabem dar. Afinal de nada serve a amizade, a dedicação, a profunda
ternura de anos e anos lado a lado. A mulher chega a certa altura e está velha,
gasta e já não serve – há que substituí-la por outra mais jovem, mais válida.
Esta confusão, esta inversão de valores ou nos conduzem a uma atitude cínica e
egoísta ou nos levam ao desespero. Sinto-me verdadeiramente atordoada com tudo
isto!” [Cartas a Mário Soares 1961-1974
(vol. 2) – a propósito do divórcio previsto de um casal amigo, em carta de
19-08-1966]
Esperança – “A esperança é a mais linda flor que eu conheço mas
a terra dela é o coração dos homens.” [Cartas
a Mário Soares 1961-1974 (vol. 3) – em carta de 29-02-1968]
Olhar em
frente – “O voltarmo-nos excessivamente
para dentro de nós próprios é que nos conduz muitas vezes a situações de
angústia e de nervosismo. Se olharmos para a frente, para o que é jovem e
espontâneo, por muito duro que seja o que nos rodeia, por muito violenta e
injusta que seja a realidade que tenta esmagar-nos, há sempre maneira de
encontrarmos dentro de nós a força e a coragem de seguirmos o nosso caminho,
que é o caminho da dignidade e da compreensão humana.” [Cartas a Mário Soares 1961-1974 (vol. 4) – em carta de 11-06-1968]
Palavra – “Duas pequenas palavras, repassadas de ternura e
saudade, bastam, por vezes, para animar um coração desolado, para reanimar uma
pessoa fatigada.” [Cartas a Mário Soares
1961-1974 (vol. 4) – em carta de 08-07-1968]
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Vladimiro Nunes
quarta-feira, 18 de julho de 2012
"Por este rio acima...", no Lima
Os rios são um factor de aproximação e de união entre
populações por onde transitam contactos e identidades. Provam-no os alunos e
professores do Agrupamento Vertical de Escolas de Darque (Viana do Castelo),
que, contemplando as calmas águas do Lima, nele descobriram a motivação para
projectos multidisciplinares de descoberta das identidades das populações
ribeirinhas que constituem a comunidade do Agrupamento.
O resultado desta atenção sobre o rio levou à edição
da obra Por este rio acima… (Darque:
Agrupamento Vertical de Escolas de Darque, 2012), reunindo os trabalhos
produzidos nas várias escolas do Agrupamento (EB 2,3 Carteado Mena e as EB 1 /
JI Senhora da Oliveira, Cabedelo, Subportela, Vila Franca e da Areia), por onde
passam descobertas e memórias, num encontro inter-geracional, em que os jovens
se documentaram em suportes bibliográficos, é certo, mas sobretudo nos
testemunhos dos mais idosos e também na observação e vivência de algumas
experiências, com o acompanhamento dos respectivos docentes.
Os relatos recolhidos, documentados fotograficamente,
constroem a ponte entre o presente e tempos de que já poucos se recordam ou
mesmo com épocas de que já ninguém se lembra porque também há, entre os
entrevistados, quem reproduza exemplos e histórias que já lhes foram contados.
Assim, viaja o leitor no rio e nos tempos e costumes,
saltando chispas que vão realçando laços comunitários como se luz fossem sobre
as malhas que tecem a rede de uma sociedade. É o encontro com profissões (não
só ligadas ao rio, mas também ao mar – a seca do bacalhau é um exemplo – e ao
campo), com as tradições (festas do calendário e tempos de encontro das
famílias, lendas), com a natureza (as marcas do rio, mas também as do monte Galeão,
a ombrear com o de Santa Luzia sobre a outra margem), com a história (as
memórias da escola de outros tempos), com a arte (como são os casos de poetas
ou de artistas locais, que revelam aos jovens a sua forma de trabalhar e de ver
o mundo), com a partilha das experiências (cozer a broa, ofícios ligados ao
rio), das formas de vida (da comunidade cigana, por exemplo) e dos saberes. É
ainda o encontro com uma outra memória: a da educadora Zaida Garcez, darquense,
ligada à gestão do Agrupamento e uma das responsáveis pelo projecto que deu
corpo a este livro que já não foi visto por ela.
O rio Lima tem sido um bom pretexto para estudos
monográficos e para artistas (da escrita ou da cor). Por este rio acima… é também uma boa motivação para o encontro com
a memória, com usos, costumes e características que têm cimentado uma
identidade. Permitir o contacto dos alunos jovens com essas marcas é um acto
educativo e de cidadania. Por este rio
acima… vale bem essa atenção do leitor, não só pelas chamadas de atenção que
pode conter, mas também pelo que permitiu à comunidade que o fez de
introspecção e de conhecimento. E, para os alunos que neste projecto
participaram, haverá, um dia, boas memórias para contar…
domingo, 15 de julho de 2012
Alice Brito, "As mulheres da Fonte Nova"
O bairro de Tróino, especialmente a zona da Fonte
Nova, em Setúbal, tornou-se espaço privilegiado de uma narrativa ficcional, na
medida em que constitui o cadinho onde se desenvolvem as histórias das
personagens que povoam As mulheres da
Fonte Nova, de Alice Brito (Lisboa: Planeta, 2012).
Sendo o primeiro romance da autora, é já uma obra
intensa, construída com retratos bem conseguidos e uma trama muito bem urdida,
que abrange cerca de quatro décadas na vida das personagens e do espaço em que
elas se movem (entre os anos 30 e os anos 70 do século passado).
A história toma como lugar a cidade de Setúbal, mas
poderia ser noutra qualquer, aliás, no livro não surge uma única vez o nome de
Setúbal, embora todas as indicações toponímicas e geográficas sejam desta
cidade. Assim se localiza a história, ao mesmo tempo que é dado a entender que
as intenções vão muito para lá do que seja uma colagem a este espaço, que
funciona apenas como pretexto para um retrato social muito forte onde se cruzam
aquelas que têm sido as marcas do “desenvolvimento” de uma cidade e de um
espaço cheio de contrastes de toda a ordem, a que nem a linguagem da narradora
escapa logo desde início, ainda que fazendo-o de forma subreptícia, como
podemos ver em expressões “as desfeitas que lhe eram feitas” ou “nutrir
desprezo” ou na antítese que opõe as conserveiras à figura do patrão – “elas,
já de si pequenas, apoucavam-se e encolhiam à passagem daquela torre de
pesporrência” –, exemplos retirados das quatro primeiras páginas do livro.
Narrativa rica no tratamento das figuras femininas,
que dominam, As mulheres da Fonte Nova
faz ressaltar essa importância através do controlo que lhes é dado a gerirem
situações, a conduzirem a sedução, a estabelecerem as pontes entre os vizinhos
que constituem a cidade, numa luta e afirmação contra a miséria e contra um
quadro de uma comunidade que vive no ramerrão das “infâncias desaparecidas e
vidas enlatadas nas fábricas do peixe” ou “aperreada” na carência e no
analfabetismo ou vigiada pelos costumes e pela polícia política. A importância do olhar feminino é tão intensa que, ao longo do
romance, o discurso da narradora é frequentemente interrompido por uma
personagem que se vai esboçando, processo interessante de intervenção e de
simulação do que pode o leitor estar a sentir no momento: são observações sobre
a linguagem utilizada, sobre a ideologia vincada, sobre a condução da
narrativa, sobre as relações entre as personagens, tudo num diálogo que surge
de repente, como se uma conversa (às vezes de forma abrupta) fosse entre a
narradora e essa Laura, logo apresentada no primeiro capítulo – a personagem
critica o “demasiado fascismo e palavrões” na prosa e a narradora estabelece o
seu estatuto ao responder-lhe: “Ainda só agora comecei e escrevo o que me dá na
realíssima gana. Não serás tu, uma personagem secundaríssima, que aparecerá já
quase no fim, que me vais impedir. Laura. Chamar-te-ás Laura.”
Narradora omnisciente, que traça a seu bel-prazer o
mapa da narrativa, que afirma conhecer a Fonte Nova, que mexe na narrativa
antecipando momentos e estabelecendo paralelismos entre o passado (vivido na
história) e o presente (que constitui a cidade e é o tempo do leitor), acentua
o seu ponto de vista crítico perante a sociedade e perante as atitudes das
personagens: ora é o paralelismo quanto às vivências (“Os bancos, já nessa
altura muito crápulas, negavam quaisquer facilidades, agiotas até à quinta
casa, exigindo pagamentos e juros nas horas certas, marimbando-se para a
incerteza da vida de cada um. Como hoje.”); ora é o sarcasmo perante as
atitudes videirinhas (“Quando o casamento foi anunciado, alguns doutorados em
insinuação e vida alheia asseguraram tratar-se de puro interesse.”); ora é a
crítica a uma certa preguiça social (“O Convento de Jesus, por exemplo, pesado,
belíssimo e manuelino, era para ser venerado, reverenciado e defendido como
quem defende o último pão em período de grande fome anunciada.”); ora é o ponto
de vista sobre as ideologias e o poder (“O tempo passa tão depressa quando se
está bem e dura uma verdadeira eternidade quando se vive nesta pasmaceira de
viver mau e igual, tempo baixo e lorpa este do fascismo português.”).
Por este livro de Alice Brito passa um grande afecto
pela cidade e por quem a povoa, um conhecimento entranhado, um retrato
completo, que lateja nas suas veias, que redescobre a sua luz, que lhe toca a
alma. E não se pode ficar indiferente a uma narrativa que em tudo preenche os
princípios do romance histórico, retratando uma época de sofrimento social e
político, sempre eivado de esperança, com personagens que se cruzam com figuras
como Ana de Castro Osório ou com episódios como as Grandes Guerras ou a
pneumónica, da história nacional, ou com nomes como Américo Ribeiro ou
acontecimentos como o quadro da indústria conserveira, da história local. E,
nesta classificação de romance histórico, cabe, obviamente, a perspectiva
crítica da narradora, intensa, pedagógica, num apelo à memória, num fazer a
memória.
As mulheres
da Fonte Nova é leitura que se impõe,
quer por todo o quadro que oferece (social e político, sobretudo), quer pelo
gesto de intervenção cívica e cultural que o sedimenta. E também porque se
trata de uma narrativa bem escrita, bem conseguida, com personagens ricamente
trabalhadas, em torno da epopeia de muitas mulheres da Fonte Nova de quem a história
parece não rezar mas que nela actuaram.
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História – “A História é como o fogo. Quando se está em cima
dela arde e dói. Só quando o vendaval amaina se consegue tocar-lhe. A distância
é-lhe necessária, quando a chama da paixão se transmutou já em qualquer outra
coisa que não sei bem o que é. Talvez memória.”
Humilhação – “Não há maior crueldade, nem humilhação mais
dolorosa, do que aquela que é exercitada com explícita amabilidade.”
Livro – “Pode-se frequentar um livro, um verso, uma página.
Há livros que têm melhor vida que outros. Em carícias, sublinhados,
empréstimos, conversas e paráfrases. Há livros que têm mesmo uma vidinha de
lordes. Emprestam imaginários, personagens e vistas largas. São referidos,
referenciados, estudados com deleite. São lidos por muitos olhos. À noite, de
dia, às escâncaras ou clandestinamente. É a vida. Também há alguns que não
valem nem o papel que gastam. Só dizem parvoíces.”
Ditadura – “Quando um poder ditador perde a sua carga
intrínseca de perpétua proibição, quando faz cedências em circunstâncias que
lhe são desfavoráveis, quando, de dador altivo de esmolas, solicita pactos e
entreabre portas, está irreversivelmente fodido.”
Olhar – “O pior da vida é não nos apercebermos das coisas
muito boas ou muito más que nos acontecem. É olharmos o mundo em redor e não o
vermos.”
Fome – “A fome, a fominha, é sempre uma coisa distante
para o conforto tépido das casas e consciências onde ela nunca entrou.”
Indiferença – “A indiferença é uma coisa que custa muito a quem
não é indiferente.”
Miséria – “A miséria interioriza-se. É possível deixar de ser
miserável. A recordação da miséria é, no entanto, feroz. Deixa-se de ser
miserável mas a miséria fica sempre à espreita, edificada na memória.”
Novo-riquismo – “O novo-riquismo, aliado ao dinheiro fácil, não
preserva nada.”
Medo – “O medo é assim. Perante a iminência do perigo fica
grande e reboludo. Parece um repolho que a pessoa traz na lapela. Depois, à
medida que o tempo vai passando sem que o perigo se transforme em coisa
concreta, o repolho começa a murchar. Fica sempre a sombra.”
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sábado, 14 de julho de 2012
terça-feira, 10 de julho de 2012
Para a agenda: Alice Brito e "As mulheres da Fonte Nova"
Helena Vasconcelos e Fernando Dacosta vão falar dos seus olhares sobre o romance de estreia de Alice Brito, que olhou as mulheres da Fonte Nova. Na quinta, 12, pelas 21h30, na Casa da Baía, em Setúbal. Para a agenda... mesmo porque se trata de um livro forte, bem escrito e indispensável para quem gosta de Setúbal!
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Para a agenda: A Arrábida, por Rui Gaspar
Uma proposta para conhecer mais um pouco da Arrábida. Através de Rui Canas Gaspar. A 14, sábado, pelas 20h30, na Casa da Baía, em Setúbal. Para a agenda!
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Rui Canas Gaspar
terça-feira, 3 de julho de 2012
Memória: Jorge Figueira de Sousa (1931-2012)
Não conheci Jorge Figueira de Sousa pessoalmente.
Conheci a obra dele, no âmbito do que é ser livreiro, através de pessoas amigas.
Participei na “Carta de Gentes do Livro”, em Novembro passado, quando o blogue
Encontro Livreiro promoveu uma homenagem ao livreiro madeirense, por dever de
leitor, assinando a homenagem e levando outros a que o fizessem também.
Esperava tê-lo visto homenageado neste 10 de Junho,
mesmo porque a carta assinada em Novembro apelava a instâncias e a figuras como
o Presidente da República e o Primeiro-Ministro. Essa distinção no Dia de
Portugal não aconteceu. Agora, o livreiro partiu. Qualquer homenagem póstuma
será oportuna, mas podia ter tido mais oportunidade há uns tempos atrás. De
resto, a revista Ler (Lisboa:
Fundação Círculo de Leitores), no seu último número, de Julho (nº 115), que não
sei se ainda chegou ao conhecimento de Figueira de Sousa, lamentava a falta
cometida no seu barómetro “Sobe & Desce” – “Homenagem – Apesar do
abaixo-assinado, o livreiro da Esperança não foi distinguido no 10 de Junho.
Devia.”
Umas páginas adiante, na mesma edição, Sara Figueiredo
Costa faz reportagem sobre o livreiro do Funchal em pouco mais de duas páginas
sob o título “O negócio dos Figueira de Sousa”, chamando a atenção para a “maior
livraria de Portugal”, na rua dos Ferreiros, fundada em 1886, que redescobriu a
originalidade de expor os livros mostrando-lhes a capa, não só das novidades,
mas também das existências nos fundos bibliográficos, o que permite aos
leitores (re)descobertas importantes.
Conheço várias pessoas que por esta livraria
passa(ra)m, que ali começaram a formar as suas bibliotecas, que ali acorrem
sempre que se deslocam ao Funchal. Todas me falam desse poder mágico, dessa
energia que brota dos livros e que arrebata e faz leitores. Um sucesso devido
também a Jorge Figueira de Sousa.
segunda-feira, 2 de julho de 2012
Para a agenda - Curtas Sadinas
Nove propostas em uma. "Curtas Sadinas" no programa "Cinema no Pátio". Em 6 de Julho, na Casa de Bocage. 77 minutos de película... em sugestão de roteiro!
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