A entrevista da Ministra da Educação ao semanário Expresso (edição de 31 de Julho) ficou marcada pela questão dos “chumbos” e da vontade que Isabel Alçada mostrou de acabar com eles. Relativamente a este assunto, que o jornal puxou para título na primeira página, a entrevista é um tanto inócua, pois limita-se a dizer que poderá haver outras alternativas ao “chumbo”, que a questão vai ser apresentada aos parceiros, que “os chumbos quase nunca são benéficos”.
Começando pelo último ponto… é verdade. Todos sabemos do curto bem que pode advir de uma reprovação. Aliás, já em pequenos éramos brindados com máximas dos pais, dizendo que “chumbar” era um atraso na vida, quer pelo tempo, quer pelo dinheiro gastos; o remédio era… trabalhar, que o mesmo era dizer: estudar. Assim se valorizava o trabalho na escola e a escola ela mesma, assim se valorizava o percurso do estudante e o trabalho docente. Será que os argumentos devem ser diferentes?
Sobre a questão da audição dos parceiros… e porque não ter começado por aí? Valeria a pena, de resto, os parceiros estudarem e perceberem qual é o retrato do aluno que “chumba” em Portugal. A partir daí, talvez pudessem ser criadas as tais “alternativas”…
E, por falar em alternativas, aquelas de que Isabel Alçada fala são: “outras formas de apoio, que devem ser potenciadas para ajudar os que têm um ritmo diferenciado”, fazendo notar que em Portugal já existem muitas dessas medidas, tais como “aulas de apoio ao aluno, estudo acompanhado, projectos especiais com mais professores e técnicos”. Essas medidas já existem, de facto, mas o problema subsiste; donde, não sei se constituirão uma forte “alternativa”…
Percebe-se o apetitoso que este assunto dos “chumbos” é para os políticos – seja para os quererem eliminar, seja para os acentuarem, seja para esgrimirem pontos de vista ideológicos que se afastam, muitas vezes, da causa que é a educação. Percebe-se o apetitoso que este mesmo assunto é para os pais e para os alunos, seja por revelar preocupação de afirmação, seja por interferir com níveis de exigência, seja por poder passar pela alteração das regras de avaliação, seja por criar uma noção de facilitismo. O que não se percebe é sobre quem se está a pôr a pressão: sobre os estudantes, sobre as famílias, sobre a sociedade, sobre o sistema educativo, sobre as escolas, sobre os professores?
A política pode ditar muitas medidas. Até pode transformar em falso o que ontem era absolutamente verdadeiro. Sempre em nome da evolução (que nem sempre sabemos muito bem o que é!). Até pode acabar com as famigeradas “negativas” e o aluno transitar ou ser aprovado para o nível seguinte desde que tenha notas em todas as disciplinas, independentemente do quanto tem. As questões de fundo, no entanto, subsistirão: como deve o trabalho ser valorizado a partir da escola, como deve haver co-responsabilização nos apoios, deve haver diferenciação entre os alunos quanto aos diferentes estádios em que se encontrem num mesmo nível de ensino, o que valem as notas? Em conclusão: que sistema queremos?
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