As coisas andam mal em termos de riso e de opinião. O comentário relativo aos políticos sempre teve uma componente parodística e humorística, independentemente de os seus autores serem "pró" ou "contra" a situação. Nos últimos tempos, dois casos saltaram para a praça pública: um professor denunciado por sms por supostas piadas sobre o Primeiro-Ministro no seu local de trabalho; uma pessoa exonerada do seu cargo em Vieira do Minho por não ter mandado retirar um comentário "jocoso" sobre o Ministro da Saúde. É caso para dizer que a governação anda sem sentido de humor e facilmente se deixa inflamar por servilismos e excessos de zelo de pequenos delatores que querem transformar-se em heróis (vá lá saber-se porquê...). E, a dada altura, todos nós começamos a pensar que podemos estar perante um suposto delator. E depois mais vale andarmos calados. E, calados, ninguém nos ouve, apenas nos imagina. E se não houver opinião, mesmo humorada, melhor para uns tantos, porque não vêem o seu poderzeco (temporário e, portanto, efémero) atingido. Que podem os autores destas diatribes contra os governantes fazer para que continuem em paz com o sistema?
Com curiosidade folheei um Novo Manual Epistolar ou Arte de Escrever todo o género de cartas segundo o gosto actual (Recife: Typ. de Santos & Companhia, 1864) e lá vi um modelo de carta "para escusar-se de uma falta", que reproduzo, esperando que estes "desleais" funcionários ainda vão a tempo de exprimirem as ditas escusas: "Creio, senhor meu, que a minha confiança ofendeu-o. Quando alguma paixão violenta nos cega, não podemos moderar as vozes, que nos escapam; e eis o que eu confesso agora que se me evaporou a cólera. Prezo em muito a amizade de Vm. e não me exporei a perdê-la, dando ouvidos à voz do rubor injusto, que nos obsta, não poucas vezes, emendar os erros cometidos. Nisto cumpro meu dever e confio em que a generosidade de Vm. esquecerá o que entre nós se passou assim que esta acabe de ler. Conceda, pois, chamar-me como antes, seu... etc." O manualzinho contém também o modelo para a resposta a esta carta, não vá ele fazer falta!... Depois da troca das missivas, Portugal e o mundo teriam mais serenidade e ganhariam um sentido de humor mais incaracterístico e menos risível. Mas também pouco haveria para dizer!...