terça-feira, 4 de setembro de 2007

Um jardim à beira-mar plantado

A expressão que titula este postal é sobejamente conhecida. Mais: é vastamente utilizada, sobretudo quando alguém se quer referir a Portugal com uma certa ponta de desagrado, de ironia ou de maledicência. Uma amiga, num mail de hoje, quis saber desde quando existe a frase. Seja-me então permitido dedicar esta informação à Mg. Partilho a busca feita, porque a história pode apresentar interesse para mais leitores.
“Jardim da Europa à beira-mar plantado” é verso da autoria de Tomás Ribeiro (1831-1901), incluído no poema “A Portugal”, que abre o seu livro D. Jaime (1862, com 2ª edição no ano seguinte). Este poema, constituído por 15 oitavas, dá, de resto, o mote do livro no seu acentuado pendor nacionalista. Dele se transcrevem as três primeiras e a última estrofes, respeitando a pontuação da 2ª edição (a partir da qual foi publicada edição facsimilada, com prefácio de Vítor Wladimiro Ferreira, em 1989 – Lisboa: Europress):

A PORTUGAL
Meu Portugal, meu berço de inocente,
lisa estrada que andei débil infante,
variado jardim do adolescente,
meu laranjal em flor sempre odorante,
minha tarde de amor, meu dia ardente,
minha noite de estrelas rutilante,
meu vergado pomar d’um rico outono,
sê meu berço final no último sono!

Costumei-me a saber os teus segredos
desde que soube amar; e amei-os tanto!...
Sonhava as noites de teus dias ledos
afogado de enlevo, em riso e em pranto.
Quis dar-te hinos d’amor, débeis os dedos
não sabiam soltar da lira o canto,
mas amar-te o esplendor de imenso brilho…
eu tinha um coração, e era teu filho!

Jardim da Europa à beira-mar plantado
de loiros e de acácias olorosas;

de fontes e de arroios serpeado,
rasgado por torrentes alterosas,
onde num cerro erguido e requeimado
se casam em festões jasmins e rosas;
balsa virente de eternal magia
onde as aves gorgeiam noite e dia.

(…)

Por ti canto, meu berço de inocente,
lisa estrada que andei débil infante;

meu viçoso jardim de adolescente,
meu laranjal em flor sempre odorante,
minha tarde de amor, meu dia ardente,
minha noite de estrelas rutilante.
Tu… dá-me ao cerrar noite o meu inverno,
um leito funeral ao sono eterno.

Tomás Ribeiro nasceu em Parada de Gonta (Tondela), obteve a formação em Direito em Coimbra e fez carreira na política (foi Presidente de Câmara, Deputado e Ministro, tendo ocupado as pastas da Marinha, do Ultramar, da Justiça, do Reino, da Indústria e das Obras Públicas, em diversos governos, entre 1878 e 1891). Foi ainda autor de A mãe do enjeitado (1864), A Delfina do mal e Sons que passam (1868), Jornadas (1873), Vésperas (1880), História da legislação liberal portuguesa (1891-1892) e O mensageiro de Fez (1900).

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