“Na última canastra o capataz dizia: vai lá buscar a bandeira. Iam as pessoas que a tinham feito e lá vinha a bandeira. No último cesto de uvas a subir para o carro era apresentada a bandeira e rebentados os morteiros. E toda a minha gente nesta zona sabia que se tinha acabado a vindima do sr. Álvaro Cardoso.” Quem assim relembra é Marina Roque, feitora no Monte do Lau, uma das quatro herdades que integravam a Casa Agrícola palmelense de Humberto Cardoso (os outros montes eram os da Agualva, da Fonte Barreira e de Pegões, totalizando os quatro uma área de cerca de 650 hectares).
O testemunho da feitora é um dos vários que surge recolhido na exposição “Adiafa – A Festa das Vindimas”, patente na Biblioteca Municipal de Palmela até meados de Outubro. Tal como os outros testemunhos, este evoca um tempo que era o do final das vindimas porque final de um ciclo. Aí por meados de Outubro, acontecia o dia diferente, com a festa, havendo almoço (antigamente, resultando da partilha do contributo de cada trabalhador e, mais recentemente, oferecido pelos patrões) e baile, em que participavam todos os trabalhadores da vindima e os patrões.
Gesto simbólico mas de muito empenho era o da oferta da bandeira da adiafa aos patrões – uma bandeira em tecido sedoso, enfeitada com desenhos bordados, com flores e até fixando postais ilustrados emoldurados em bordado a propósito. Mais tarde, seriam os patrões a fornecer os materiais e a pagar o tempo de trabalho para a confecção da bandeira, coisa não pouca se pensarmos que três semanas era o tempo necessário para duas pessoas congeminarem a bandeira, período que começava a contar quando faltava esse prazo para o final da colheita.
A festa da adiafa era a alegria do fim de um ciclo, pois. E em muitas bandeiras havia registos de quadras simples, numa métrica por vezes irregular, associadas a desenhos naïfs, a assinalarem a alegria do fim da colheita, em que todos eram louvados, como se pode ler na bandeira do Monte de Fonte Barreira de 1984: “Acabamos a Vindima / Tudo fez o que foi capaz / Vivam os tractoristas / E o nosso capataz.”
Depois, havia ainda a adiafa das adegas, mais lá para o fim do mesmo Outubro, quando o tratamento das uvas era dado como concluído pelo adegueiro, festa mais reservada aos homens, com uma caldeirada e a exposição das bandeiras consideradas mais bonitas na adega.
As pessoas falam da adiafa já com saudade, como se pode verificar nos testemunhos que a exposição colecciona. Outros tempos, elevados custos, diferentes viveres. Fica a lembrança trazida para esta exposição, com bandeiras de adiafa da Casa Agrícola Humberto Cardoso, actual Carpal, feitas entre 1978 e 2004. A adiafa (palavra de origem árabe, com entrada bem antiga na língua portuguesa, a sugerir banquete) celebrava o fim do ciclo, mas, na verdade, não era mais do que um intervalo. É que, à porta, estava já a preparação do vinho, as podas e… um novo ciclo para a uva e para a vida agrícola.
O testemunho da feitora é um dos vários que surge recolhido na exposição “Adiafa – A Festa das Vindimas”, patente na Biblioteca Municipal de Palmela até meados de Outubro. Tal como os outros testemunhos, este evoca um tempo que era o do final das vindimas porque final de um ciclo. Aí por meados de Outubro, acontecia o dia diferente, com a festa, havendo almoço (antigamente, resultando da partilha do contributo de cada trabalhador e, mais recentemente, oferecido pelos patrões) e baile, em que participavam todos os trabalhadores da vindima e os patrões.
Gesto simbólico mas de muito empenho era o da oferta da bandeira da adiafa aos patrões – uma bandeira em tecido sedoso, enfeitada com desenhos bordados, com flores e até fixando postais ilustrados emoldurados em bordado a propósito. Mais tarde, seriam os patrões a fornecer os materiais e a pagar o tempo de trabalho para a confecção da bandeira, coisa não pouca se pensarmos que três semanas era o tempo necessário para duas pessoas congeminarem a bandeira, período que começava a contar quando faltava esse prazo para o final da colheita.
A festa da adiafa era a alegria do fim de um ciclo, pois. E em muitas bandeiras havia registos de quadras simples, numa métrica por vezes irregular, associadas a desenhos naïfs, a assinalarem a alegria do fim da colheita, em que todos eram louvados, como se pode ler na bandeira do Monte de Fonte Barreira de 1984: “Acabamos a Vindima / Tudo fez o que foi capaz / Vivam os tractoristas / E o nosso capataz.”
Depois, havia ainda a adiafa das adegas, mais lá para o fim do mesmo Outubro, quando o tratamento das uvas era dado como concluído pelo adegueiro, festa mais reservada aos homens, com uma caldeirada e a exposição das bandeiras consideradas mais bonitas na adega.
As pessoas falam da adiafa já com saudade, como se pode verificar nos testemunhos que a exposição colecciona. Outros tempos, elevados custos, diferentes viveres. Fica a lembrança trazida para esta exposição, com bandeiras de adiafa da Casa Agrícola Humberto Cardoso, actual Carpal, feitas entre 1978 e 2004. A adiafa (palavra de origem árabe, com entrada bem antiga na língua portuguesa, a sugerir banquete) celebrava o fim do ciclo, mas, na verdade, não era mais do que um intervalo. É que, à porta, estava já a preparação do vinho, as podas e… um novo ciclo para a uva e para a vida agrícola.
2 comentários:
Caro, sempre professor, João Ribeiro. Visitante assídua do seu diário, "nesta hora" sempre apressada ou roubada por tantos afazeres, aprendo e reflicto sobre o que escreve. Hoje, não resisto a agradecer-lhe a referência à Adiafa. Sem grandes recursos, foi concebida com a partilha dos afectos e das memórias.
Receba o meu abraço de amizade.
Cristina Prata
Muito interessante, João! Um abraço!
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