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quinta-feira, 21 de maio de 2009

Memória: Bénard da Costa (1935-2009)

De João Bénard da Costa guardarei na memória a sua intensa ligação ao cinema; a sua escrita de histórias encadeadas, em tom de cavaqueira e de memórias (dos livros, das revistas e das crónicas jornalísticas - no Público, escreveu algumas evocativas histórias da Arrábida, por exemplo); a forte perspectiva cultural que pelos seus textos perpassa. Mas o que mais me fica na memória é o discurso que proferiu a propósito da história, da cultura e das memórias de Setúbal em 10 de Junho de 2007, quando a data era assinalada na cidade do Sado, um texto intenso que passou em retrospectiva a história sadina e que pretendeu chamar a atenção para o papel da cidade, desta cidade, enquanto pólo com identidade acentuada mas frequentemente esquecida. Foi uma excelente mensagem que ficou para os setubalenses, um cru testemunho de um viajante na história, de um frequentador de Setúbal e da Arrábida. Não será um testamento, mas é, pelo menos, um texto que justificaria a evocação de Bénard da Costa neste dia para a comunidade setubalense...
[foto: Bénard da Costa, em Azeitão, na inauguração do monumento a Sebastião da Gama, em 9 de Junho de 2007]

terça-feira, 17 de julho de 2007

No "Correio de Setúbal" de hoje

DIÁRIO DA AUTO-ESTIMA – 63
Bénard da Costa I – O discurso que João Bénard da Costa fez em Setúbal em 10 de Junho calou fundo nas pessoas que à terra estão ligadas. Dois exemplos serão suficientes para o comprovar: o trissemanário O Setubalense, três dias depois, reproduzia a totalidade do discurso e, na primeira página, caracterizava-o, dizendo que “emocionou” Setúbal. Uns dias mais e, na sessão pública de Câmara, o vereador Paulo Valdez propôs que o discurso fosse divulgado nas escolas, tendo a Presidente de Câmara prometido a publicação do texto no Boletim Municipal.
Bénard da Costa II – O que terá emocionado as pessoas terá sido a apologia de Setúbal que Bénard da Costa incutiu à sua mensagem, numa prosa fundamentada na história e na cultura e no lugar que Setúbal ocupa nas duas. Mas esta peça serviu também para advertir o público, quer porque acentua “a atenção que não é costume dedicar” a Setúbal, quer porque, “nesta cidade, que viveu de conservantes, de conservas e de conservações, só a memória se não conservou”.
Bénard da Costa III – Quando são publicados textos sobre a história de Setúbal (falo, declarando interesse, por ser autor de vários textos e livros de história local), a imprensa regional quase sempre se limita a anunciar a sessão de apresentação pública. Depois, aquela que poderia ser a sua função de divulgar as obras fica no esquecimento, por norma. Este “apagamento”, que será involuntário, acontece mesmo no Guia de Eventos (de que já saíram 33 números) promovido pela autarquia, que, em cada edição, apresenta um livro – paradoxal é que só uma vez foi apresentado um livro ligado a Setúbal (primeiro volume da obra de Bocage), antes sendo dada a preferência à vida editorial comercial, princípio que grassa na maioria das agendas culturais das Câmaras, de resto.
Bénard da Costa IV – No discurso, Bénard da Costa referiu não conhecer quem tenha lido o Afonso Africano do setubalense Vasco Mouzinho de Quebedo. Pois bem: em 1999, Manuel dos Santos Rodrigues fez a sua tese de doutoramento sobre essa obra e sobre a biografia de Quebedo. A Câmara Municipal de Setúbal lançou, em 2002, uma subscrição pública para a edição dessa obra de investigação, que ainda não saiu. Compreende-se a dificuldade económica, mas dificilmente se aceita este atraso que ajuda ao esquecimento. Oxalá a mensagem de Bénard da Costa não tenha servido apenas para um momento muito curto, mas para Setúbal se elevar em termos da sua história e da sua identidade!