O
Primeiro-Ministro citou ontem Os Lusíadas
numa homenagem a Adriano Moreira, dizendo que há “ventos favoráveis” a soprar
nas velas portuguesas. A metáfora é bonita, mas não sei se haverá muita gente
convencida disso…
É que,
mesmo n’Os Lusíadas, os ventos
favoráveis são atribuídos à ajuda de Vénus, a deusa protectora dos Portugueses.
Questão de literatura, como se sabe, artística, pois! Nem os navegadores
acreditavam em Vénus; pediam, isso sim, a protecção da “divina guarda”; o resto
– o pormenor dos ventos, das calmas, das tempestades – era um assunto da
Natureza.
Talvez o
Primeiro-Ministro tenha lido o Público
de ontem, que iniciou uma série de artigos sobre a relação dos Portugueses com
o mar. E justamente o texto ontem publicado expunha como título “Continuamos esmagados pelos Descobrimentos?” Hoje, estaremos mais esmagados por todo este
cenário de crise sobre crise que nos invade – e não me parece que seja só uma
questão de vento…
No
referido artigo ontem saído no Público,
Vasco Graça Moura, um dos entrevistados sobre o tema, lembrava que “no discurso
político há sempre um macaquear do discurso cultural”, pois fica sempre bem
demonstrar a ligação das orientações políticas à identidade cultural de um
povo. Resta saber se a viagem ajudada pelos ventos vai ser apenas uma aventura…
É que o momento histórico que o Primeiro-Ministro escolheu para citar também
teve muito de aventura e – é sabido! –, mesmo apesar dos “ventos favoráveis”
que nos levaram ao Oriente nessa altura, Portugal não ficou economicamente mais
rico depois dos Descobrimentos (e é de economia ou de dinheiro que se tem
andado a falar)…