domingo, 31 de maio de 2009
Sobre as reacções à manifestação de professores de ontem, num tempo em que os discursos não deviam recorrer à demagogia
A "roubalheira" de que falou Vital Moreira como cúmulo da demagogia num tempo em que os discursos deviam ser mais inteligentes
sábado, 30 de maio de 2009
Uma sessão sobre Sebastião da Gama

Foi uma hora e tal de passeio pela vida, pelo tempo e pela obra de Sebastião da Gama, numa tarde quente, com as atenções presas, embaladas no interesse de mais contactar com o poeta. Antes, a visita ao pequeno núcleo sobre Sebastião da Gama fora guiada por Joana Luísa, a viúva do poeta, e por Nicolau da Claudina, um dos seus alunos de Setúbal.
Depois desta navegação, notei o prazer das pessoas em mais saberem sobre o poeta e o pedagogo, sensação que não me é nova, pois a tenho experimentado em várias outras sessões a propósito do poeta.
Que fascínio podem as pessoas encontrar numa visita a Sebastião

E, depois, vêm os testemunhos. Há sempre alguém que se cruzou com Sebastião da Gama. Num poema, numa citação, numa lembrança. Na tarde de quinta, havia a característica comum de quase todo o público ser sadino, com interesse pela poesia e com empenho cultural assinalável, trazido pela animação de uma oficina de poesia orientada por Alexandrina Pereira e por Fernando Paulino, ambos poetas, com obra publicada e prémios obtidos. E houve ainda a presença de Julieta Ferreira, que foi professora, que é escritora, leitora e em

Foi uma das coisas boas na tarde de quinta, só agora escrita, mas desde logo inscrita.
sexta-feira, 29 de maio de 2009
Uma colectiva de fotografias em livro

Registo os nomes e as justificações dos que estão relacionados com a região de Setúbal: Álvaro Manuel Mendes Cordeiro, empresário, de Grândola, para quem “a fotografia é uma forma de terapia, pois alimenta-o, dá-lhe forças e permite-lhe registar momentos inesquecíveis”; Cristina Mestre, alentejana ligada a Setúbal, que encara a fotografia como “um encantamento, um vício, uma paixão”; José Rasquinho, de Montemor-o-Novo e a viver em Setúbal, que “gosta de fotografar a vida e tem na Natureza e na fotografia documental os seus temas preferidos”; Tiago Figueiroa, arquitecto do Montijo, assumido “fotógrafo de momentos arquitectónicos”.
Por 170 páginas perpassam os mais variados temas e ângulos – figura humana, estatuária, gestos, natureza, património, animais, inovações, pormenores, recantos, momentos e afectos; passa o p/b e a cor; oscila o longe e o perto. São momentos de paz e de encantamento, porque, como regista Cristina Mestre, “melhor do que falar de mim é falar do que sinto”!
Dois pormenores sobre este livro, ainda: o primeiro, sobre o texto introdutório, um poema de Alberto Caeiro, para quem “ser real quer dizer não estar dentro de mim”; o segundo, a informar que os direitos de autor revertem a favor da associação “Ajuda de Berço”.
quinta-feira, 28 de maio de 2009
terça-feira, 26 de maio de 2009
A partir de "A porta", de José Fanha

2. “Uma pessoa só se perde se não souber para onde quer ir.”
3. “Não há que ter vergonha por chorar. Às vezes até é bom. Faz falta quando sentimos saudades de alguém, ou ouvimos uma música especial, ou estamos simplesmente tristes. Toda a gente chora ou já chorou. Mesmo os mais fortes, os mais valentes.”
4. “Há tantas coisas que nós fazemos porque sim ou porque não. Bem… Lá no fundo temos sempre uma razão, mesmo quando não sabemos qual é.”
5. “É bom que as paredes dos castelos sejam, por vezes, bem reais e sólidas, metade de pedra, metade de sonho.”
domingo, 24 de maio de 2009
Barack Obama em dez discursos
O que entusiasma nestes discursos é a capacidade de envolvimento do público num projecto comum, quase como uma espécie de convite ao sonho, que é um desafio para a participação no trabalho de construção de uma outra América. O protagonista é sempre um colectivo “nós”, numa tentativ

E dali não surge apenas literatura ou retórica. Há objectivos, há ideias, há linhas mestras. Talvez tudo a explicar a adesão que Obama conseguiu, quer por parte dos americanos, quer dos outros povos. Talvez tudo a explicar uma forma de fazer política, pelo menos nas intenções, diferente, participada, a retornar à ideia da causa e do bem comum. Por lá perpassam as ideias sobre a escola, a política, a guerra e o terrorismo, a democracia, a Europa, o trabalho, o ambiente, o mundo, a América, a história… Por lá passam as ideias que arrebataram e que levaram este filho de negro queniano e de branca americana à cadeira da presidência dos Estados Unidos.
2. “Esta campanha não poder ser apenas sobre mim. Tem de ser sobre nós: tem de ser sobre o que podemos fazer juntos. Esta campanha tem de ser a oportunidade, o veículo das vossas esperanças e dos vossos sonhos. O vosso tempo, a vossa energia e os vossos conselhos vão ser necessários para nos empurrar para a frente quando estivermos no bom caminho e para nos avisar quando nos desviarmos. Esta campanha tem de servir para recuperarmos o sentido da cidadania, para restaurarmos o sentido de um desígnio comum e percebermos que há poucos obstáculos que possam suster a força de milhões de vozes que clamam por mudança.” (Springfield, 10.Fev.2007)
3. “A esperança é a rocha sobre a qual esta nação foi edificada, a crença de que o nosso destino não será escrito para nós, mas por nós, por todos aqueles homens e mulheres que não se contentam com o mundo tal como está, mas que têm a coragem de transformar o mundo naquilo que devia ser.” (Des Moines, 3.Jan.2008)
4. “Não iremos aproveitar nunca o 11 de Setembro para conquistar votos pelo medo, porque não é uma táctica aceitável para ganhar eleições; é um desafio que devia servir para unir a América e o mundo contra as ameaças do século XXI: o terrorismo e as armas nucleares; as alterações climáticas e a pobreza; o genocídio e a doença.” (Nashua, 8.Jan.2008)
5. “Precisamos de nos unir para resolvermos um conjunto de problemas monumentais: duas guerras, uma ameaça terrorista, uma economia em queda, uma crise crónica nos cuidados de saúde e alterações climáticas potencialmente devastadoras; problemas que não são negros nem brancos, latinos ou asiáticos, mas antes problemas que nos ameaçam a todos. (…) Exprimi já uma convicção firme – uma convicção enraizada na minha fé em Deus e no povo americano: se trabalharmos juntos, podemos ultrapassar algumas das nossas velhas feridas raciais; e, na verdade, não temos outra alternativa, se quisermos continuar na senda de uma união mais perfeita.” (Filadélfia, 18.Mar.2008)
6. “Implica assumirmos plena responsabilidade pelas nossas vidas – exigindo mais dos nossos pais e passando mais tempo com os nossos filhos, lendo-lhes e ensinando-lhes que, apesar de poderem ter de enfrentar desafios e discriminações ao longo da vida, não devem sucumbir nunca ao desespero e ao cinismo; devem acreditar sempre que podem escrever o seu próprio destino.” (Filadélfia, 18.Mar.2008)
7. “A maioria dos americanos já percebeu que a discordância não faz de ninguém um anti-patriota e que não há nada de especialmente inteligente ou sofisticado no desrespeito cínico pelas tradições e instituições da América. (…) Será possível chegarmos a uma definição de patriotismo que, por mais tosca e imperfeita que seja, consiga captar o melhor do espírito comum da América. Como seria essa definição? Para mim, como para a maioria dos americanos, o patriotismo começa por ser um instinto visceral, uma lealdade e um amor pelo país enraizados nas minhas primeiras memórias. (…) Importa recordar, contudo, que o verdadeiro patriotismo não pode ser forçado, nem imposto por lei como um simples conjunto de programas governamentais. Em vez disso, terá de habitar nos corações do nosso povo, terá de ser cultivado no coração da nossa cultura e educado nos corações dos nossos filhos. (…) A perda de uma educação cívica de qualidade em tantas das nossas salas de aula deixou demasiados jovens americanos sem o mais elementar conhecimento de quem são os nossos antepassados, do que fizeram e do significado dos documentos fundadores onde constam os seus nomes. (…) Cabe-nos ensinar aos nossos filhos uma lição que nós, os que estamos na política, esquecemos com demasiada frequência: que o patriotismo não implica apenas defender este país contra ameaças externas, mas consiste também no trabalho constante para fazer da América um lugar melhor para as gerações vindouras. ” (Independence, 30.Jun.2008)
8. “Neste novo mundo, as correntes perigosas tornaram-se mais fortes do que os nossos esforços para contê-las. É por isso que não podemos dar-nos ao luxo de nos mantermos divididos. Nenhuma nação, por grande ou poderosa que seja, pode enfrentar sozinha esses desafios. (…) Os muros entre velhos aliados de ambos os lados do Atlântico não podem continuar de pé. Os muros entre países com mais e países com menos não podem continuar de pé. Os muros entre raças e tribos, nativos e imigrantes, cristãos, muçulmanos e judeus não podem continuar de pé. São estes os muros que agora temos de derrubar. (…) Este é o momento em que temos de nos unir para salvarmos este planeta. Assumamos o propósito de não deixarmos aos nossos filhos um mundo no qual os oceanos subam, a fome alastre e as nossas terras sejam devastadas por tempestades terríveis. Que todas as nações – incluindo a minha – assumam o propósito de agir com a mesma seriedade de intenções com que a vossa tem agido, e de reduzir as emissões de carbono que enviamos para a atmosfera. Chegou a hora de devolvermos o futuro aos nossos filhos. Este é o momento de o mundo falar a uma só voz.” (Berlim, 24.Jul.2008)
9. “Muitos não concordarão com todas as decisões que vou tomar e com todas as políticas que vou traçar como presidente, e todos sabemos que o Governo não consegue resolver todos os problemas. Mas serei sempre honesto convosco a respeito dos desafios que iremos enfrentar. Escutar-vos-ei, principalmente quando discordarmos. E, acima de tudo, irei pedir-vos que vos junteis à tarefa de reconstrução desta nação da forma que sempre se fez na América ao longo de duzentos e vinte e um anos: quarteirão a quarteirão, tijolo a tijolo, mão calejada a mão calejada.” (Chicago, 4.Nov.2008)
10. “A nossa herança de diversidade é uma força, não uma fraqueza. Somos uma nação de cristãos e muçulmanos, de judeus e hindus – e de não crentes. Somos modelados por todas as línguas e culturas, oriundas de todos os cantos desta Terra; e, porque provámos o fel da guerra civil e da segregação e emergimos desse capítulo sombrio mais fortes e mais unidos, não podemos deixar de acreditar que os velhos ódios hão-de acabar um dia; que as divisões tribais se hão-de em breve dissolver; que, à medida que o mundo se vai tornando mais pequeno, a nossa humanidade comum se há-de revelar, e que a América tem de desempenhar o seu papel no advento de uma nova era de paz.” (Washington, 20.Jan.2009)
António Barreto faz o balanço de um ano lectivo da escola
Alguns exemplos denotam a qualidade deste manual: "Não procure decorar as instruções ou interpretá-las, mas antes lê-las exactamente como lhe são apresentadas ao longo deste manual." "Continue a leitura em voz alta: Passo agora a ler os cuidados a terem ao longo da prova. (...) Estou a ser claro(a)? Querem fazer alguma pergunta?" "Leia em voz alta: Agora vou distribuir as provas. Deixem as provas com as capas para baixo, até que eu diga que as voltem." "Leia em voz alta: A primeira parte da prova termina quando encontrarem uma página a dizer PÁRA AQUI! Quando chegarem a esta página, não podem voltar a folha; durante a segunda parte, não podem responder a perguntas a que não responderam na primeira parte. Querem perguntar alguma coisa? Fui claro(a)?" Além destas preciosas recomendações, há dezenas de observações repetidas sobre os apara-lápis, as canetas, o papel de rascunho, as janelas e as portas da sala. Tal como um GPS ("Saia na saída"), o manual do aplicador não se esquece de recomendar ao professor que leia em voz alta: "Escrevam o vosso nome no espaço dedicado ao nome." Finalmente: "Mande sair os alunos, lendo em voz alta: Podem sair. Obrigado(a) pela vossa colaboração"!
A leitura destes manuais não deixa espaço para muitas conclusões. Talvez só duas. A primeira: os professores são atrasados mentais e incompetentes. Por isso deve o esclarecido ministério prever todos os passos, escrever o guião do que se diz, reduzir a zero quaisquer iniciativas dos professores, normalizar os procedimentos e evitar que profissionais tão incapazes tenham ideias. A segunda: a linha geral do ministério, a sua política e a sua estratégia estão inteiras e explícitas nestes manuais. Trata os professores como se fossem imaturos e aldrabões. Pretende reduzi-los a agentes automáticos. Não admite a autonomia. Abomina a iniciativa e a responsabilidade. Cria um clima de suspeição. Obriga os professores a comportarem-se como robôs.
A ser verdadeira a primeira hipótese, não se percebe por que razão aquelas pessoas são professores. Deveriam exercer outras profissões. Mesmo com cinco, dez ou 20 anos de experiência, estes professores são pessoas de baixa moral, de reduzidas capacidades intelectuais e de nula aptidão profissional. O ministério, que os contratou, é responsável por uma selecção desastrada. Não tem desculpa.
Se a segunda for verdade, o ministério revela a sua real natureza. Tem uma concepção centralizadora e dirigista da educação e da sociedade. Entende sem hesitação gerir directamente milhares de escolas. Considera os professores imbecis e simulados. Pretende que os professores sejam funcionários obedientes e destituídos de personalidade. Está disposto a tudo para estabelecer uma norma burocrática, mais ou menos "taylorista", mais ou menos militarizada, que dite os comportamentos dos docentes.
O ano lectivo chega ao fim. Ouvem-se gritos e suspiros. Do lado, do ministério, festeja-se a "vitória". Parece que, segundo Walter Lemos, 75 por cento dos professores cumpriram as directivas sobre a avaliação. Outras fontes oficiais dizem que foram 57. Ainda pelas bandas da 5 de Outubro, comemora-se o grande "êxito": as notas em Matemática e Português nunca foram tão boas. Do lado dos professores, celebra-se também a "vitória". Nunca se viram manifestações tão grandes. Nunca a mobilização dos professores foi tão impressionante como este ano. Cá fora, na vida e na sociedade, perguntamo-nos: "vitória" de quem? Sobre quê? Contra quem? Esta ideia de que a educação está em guerra e há lugar para vitórias entristece e desmoraliza. Chegou-se a um ponto em que já quase não interessa saber quem tem razão. Todos têm uma parte e todos têm falta de alguma. A situação criada é a de um desastre ecológico. Serão precisos anos ou décadas para reparar os estragos. Só uma nova geração poderá sentir-se em paz consigo, com os outros e com as escolas.
sábado, 23 de maio de 2009
Miguel de Castro: Testemunho da Memória

Quem passou pela vida em branca nuvem
E mais um retrato de escola, ainda hoje
Pedi-lhe autorização para aqui transcrever alguns passos, por me parecer que, também aqui, além de um retrato de professor (que pouco ou nada tem a ver com os estereótipos que a sociedade e a política mais recentes têm vindo a fazer), há um outro retrato de escola, que deve ser um espaço feliz, sem demagogias e sem ser campo de batalha (como, infelizmente, tem vindo a suceder!). Reproduzo, pois, alguns excertos. De uma mensagem que tem o saber e o fazer de 30 anos de escola…
«(…) Foram mais de 30 anos. Tanto e tão pouco! Desde as tardes que passava a brincar às professoras com as minhas bonecas, ainda não sabia bem o que era a escola, até ao último dia de Abril de 2008, passou a maior parte da minha vida … um instante … e eu não dei por isso?! Mas, como?!
Talvez porque a nossa seja a mais bela profissão!
Digo-o, não porque esteja a pensar nos tantos e magistrais saberes e competências que é suposto possuirmos. Digo-o, porque estou sinceramente convencida de que, no acto de ensinar, se processa algo de único entre aquele que ensina e aquele que aprende, sendo que o que se aprende não é só o que se ensina, outras aprendizagens vão no “quando” e no “como” de o fazer.
(…) Digo-o, logo, porque acho que viverei para além dos meus dias em tudo o que deixei junto daqueles com quem trabalhei e convivi e em tudo o que estes a outros deixem.
Sei que falo numa altura em que estas reflexões foram adiadas porque o dia-a-dia das escolas perturba a dedicação ao saber, às competências, à cultura, à partilha.
Mas, por muito que isto custe a alguns, outros dias virão. As travessias dos desertos, esta nossa feita de desrespeitos e de ignorâncias, chegam sempre ao seu fim. A razão vence sempre, só que não vence logo. O momento virá em que, reduzidos ao quanto, alguém perguntará pelo como.
Como Philippe Meirieu ainda há pouco tempo dizia numa conferência em Lisboa, a pedagogia não é um dom, nem uma ciência, nem uma arte. Será antes uma «arte de fazer», arte de bricolage entre dois pólos antagónicos: o princípio da educabilidade (todos podem aprender e crescer) e o princípio da liberdade (ninguém pode obrigar ninguém a aprender e a crescer). Charneira entre estes dois pólos, o professor pode, pelo acto de transmissão de cultura, transformá-los em pólos de atracção. E cumprir-se!
Este tempo da minha vida passou depressa porque acreditei nisto que vos digo. Digo-o não para vos “consolar”, mas para vos incentivar … à resistência pela razão que nos assiste, pela dignidade de que nunca poderemos prescindir.
Confesso que fui feliz com o meu trabalho porque fiz dele um desafio para a vida. Sinto-me como que tenha aplicado o pensamento com que me deparei, há pouco tempo, e cuja autoria não era referida: «todos querem o cimo da montanha, mas a felicidade está durante a subida». Eu … apreciei cada passo da minha subida!
(…) Termino com um voto. Que a nossa razão vença porque feita de saber, de dignidade e de respeito pelo outro.
(…) Será sonho? Sim, e porque não? Já um poeta que muito admiro dizia que pelo sonho é que vamos e dele nos sustentaremos! (…)»
Outro retrato de escola, hoje
Um retrato da escola, hoje
quinta-feira, 21 de maio de 2009
Memória: Bénard da Costa (1935-2009)

quarta-feira, 20 de maio de 2009
Intervalo (15) - Última actualização do dicionário de Língua Portuguesa
terça-feira, 19 de maio de 2009
segunda-feira, 18 de maio de 2009
Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama – notas do fim-de-semana
Gostaria de deixar três notas a propósito: a primeira, de congratulação com o espectáculo que o grupo “ArsLuce” proporcionou, apresentando danças renascentistas, cheias de subtileza e de poesia, com guarda-roupa simpático a ajudar nesse transporte para tempos bem distantes; a segunda, de igual congratulação pelo concerto que a Banda da Sociedade Perpétua Azeitonense ofereceu, sob a batuta do maestro Carlos Medinas, bem capaz de arrancar muitos aplausos, cheio de criatividade e dedicação; a terceira, a propósito do contemplado com o prémio, José Carlos Barros, e da sua simplicidade para o acto de falar de poesia, bem expressos nos exemplos para justificar o orgulho e vaidade que sentia por o seu texto ter agradado – o de seu pai, alfaiate de ofício, e o do agricultor Linhares, um e outro sempre vaidosos do trabalho que conseguiam: o fato, num caso, e a perfeição do acto de podar, no outro.
Na minha intervenção, enquanto responsável da Associação Cultural Sebastião da Gama, saudei este evento, partilhando outras três razões: a primeira, porque naquele mesmo dia, tinha partido um poeta, Miguel de Castro, descoberto para a poesia por Sebastião da Gama, compositor na senda do lirismo como fora o próprio Sebastião da Gama, partida que o terá levado, provavelmente, a um encontro com o mestre para falarem de poesia, francesa quase de certeza, que era também a poesia francesa que os ajudava; a segunda, porque neste ano ocorrem os 60 anos do início da escrita do Diário, obra máxima na pedagogia de Sebastião da Gama, a necessitar de ser concretizada, texto também poético que bem merece ser meditado e considerado fonte de inspiração, que poderia levar os educadores (pais ou professores), os políticos e a sociedade a encarar a educação de outra maneira, talvez a encontrar soluções para vários problemas que se põem hoje no acto educativo, sobretudo no que se prende com a relação pedagógica, com os laços, com os afectos (e a falta de tudo isto); finalmente, a terceira, com a oportunidade justificada pelo facto de este Prémio, ao longo das doze edições, além de prolongar a memória do seu patrono, ter aberto caminho a poetas e ter consagrado outros, mencionando os casos de Maria do Rosário Pedreira (a primeira vencedora, em 1988, sob o pseudónimo de Maria Helena Salgado), Maria Graciete Besse, Amadeu Baptista e José Carlos Barros, “repetente” nestas andanças, uma vez que já ganhara este Prémio em 1990.
Agora, resta aos leitores uma espera no sentido de que o texto de José Carlos Barros seja publicado. E, a avaliar pelo testemunho deixado pelo poeta Ruy Ventura, em nome dos membros do júri, boas razões (literárias) haverá para se esperar a publicação, assim o poeta lhe dê corpo, tal como fez com o texto que, em 1990, lhe trouxe o galardão (Uma abstracção inútil. Évora: Declives, 1991)!
sábado, 16 de maio de 2009
Memória: Miguel de Castro, aliás, Jasmim Rodrigues da Silva (1925-2009)
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Dos bordados de Viana do Castelo
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Intervalo (14)
Valáver, o q é q intereça a um bacano se o quelima de trásosmontes é munto Montanhoso? Ou se a ecuação é exdruxula ou alcalina? Ou cuantas estrofes tem um cuadrado? Ou se um angulo é paleolitico ou espongiforme? Hã?
E ópois os setores ainda xutam preguntas parvas tipo cuantos cantos tem 'os Lesiades''s, q é u m livro xato e q n foi escrevido c/ palavras normais mas q no aspequeto é como outro qq e só pode ter 4 cantos comós outros, daaaah.
Ás veses o pipol ainda tenta tar cos abanos em on, mas os bitaites dos profes até dam gomitos e a Malta re-sentesse, outro dia um arrotou q os jovens n tem abitos de leitura e q a Malta n sabemos ler nem escrever e a sorte do gimbras foi q ele h-xoce bué da rapido e só o 'garra de lin-chao' é q conceguiu assertar lhe com um sapato. Atão agora aviamos de ler tudo qt é livro desde o Camóes até á idade média e por aí fora, qués ver???
O pipol tem é q aprender cenas q intressam como na minha escola q á um curço de otelaria e a Malta aprendemos a faser lã pereias e ovos mois e piças de xicolate q são assim tipo as pecialidades da rejião e ópois pudemos ganhar
sexta-feira, 15 de maio de 2009
Hoje, no "Correio de Setúbal"

Gomes Sanches II – José dos Reis Gomes Sanches nasceu em Aldeia Velha, no Sabugal, em Janeiro de 1936. Na juventude, estudou em Vila Nova de Gaia. Cursou Direito, tendo estudado em Coimbra mas concluindo a licenciatura em Lisboa. Vivia em Setúbal desde 1977. Deixou publicadas as obras Percurso de circunstâncias (Setúbal: 2002) e Espaço de memórias (Setúbal: 2006), ambas em edição de autor.
Censura – Continuo sem perceber o que pode levar uma cadeia de supermercados a recusar vender um livro de João Ubaldo Ribeiro, que foi Prémio Camões. Já não bastava a ditadura dos gostos no consumo, ainda faltava a censura literária! Deve o sapateiro…?
Setúbal – Não tenho compromisso para as eleições autárquicas com ninguém. Espero ver as propostas que os candidatos vão apresentar, mas já há coisas estranhas: o que pode trazer de útil uma candidatura que se anunciou com o objectivo de contestar a actual Presidente de Câmara, não tendo esse anúncio uma palavra que fosse para Setúbal, antes denotando uma guerra pessoal? Na verdade, o concelho de Setúbal não merecia tão pouco ou tão nada...
Um outro olhar sobre a Bela Vista (Setúbal)
Vénus de muitos milénios
quarta-feira, 13 de maio de 2009
Prémio Literário Bocage deixa cair o ensaio
Esta modalidade de ensaio manteve-se até 2008, tendo sido ganha por autores brasileiros e portugueses, que revelaram Bocage em vários pormenores biográficos, haja em vista o ensaio de Jorge Morais, em 2006, intitulado Um maçon chamado Bocage, que, posteriormente, chegou a ter edição comercial.
Obviamente, a modalidade ensaística não é a mais fácil. Exige estudo, muito trabalho e muita reflexão. A quantidade de provas aparecidas para essa modalidade era escassa e, em 2003 e 2007, o prémio de ensaio nem sequer foi atribuído.
O Setubalense noticia hoje que a Direcção da LASA, ao anunciar a 11ª edição (para 2009), informou também sobre o fim da modalidade Ensaio, com os argumentos de que “a participação é escassa” e de que “é muito difícil para os autores arquitectarem histórias sobre Bocage e fazerem um trabalho de ensaio”.
Estes argumentos valem o que valem, mas não deveriam constituir razão para acabar a modalidade, antes deveria este prémio incentivar os estudos sobre a cultura e a identidade de Setúbal. Por outro lado, nada obrigaria a que essa modalidade existisse todos os anos, bem podendo ter realização bienal, por exemplo… mesmo porque o estudo e a reflexão não funcionam com pressão de tempo!
Obviamente, a Direcção da LASA, enquanto promotora da ideia, tem autonomia para tomar as decisões que quiser neste capítulo. Mas é pena que esta decisão deixe de valorizar os estudos locais também, sobretudo que deixe de valorizar o estudo e a investigação.
É útil que faça a minha declaração de ligação a este prémio: integrei o júri nas edições de 2002 a 2006, colaborei na preparação de algumas das edições das obras premiadas (2002 a 2007) e, por razões pessoais e profissionais, deixei a colaboração a partir dessas datas; nunca fui concorrente a nenhuma das modalidades.
O Setubalense: 13.Maio.2009
segunda-feira, 11 de maio de 2009
domingo, 10 de maio de 2009
A Bela Vista (Setúbal) lida por Vasco Pulido Valente
O "Bispo Vermelho", ou seja, o bispo emérito de Setúbal, D. Manuel Martins, concorda. Numa declaração solene, avisou que um "incidente" desta natureza pode com facilidade "encontrar" uma "fogueira", "preparada para incendiar o país". D. Manuel não pensava, evidentemente, numa conspiração. Pensava na fome. "Sem pão", disse ele, "ou mato ou me mato". Não custa a imaginar que se comece por matar. O bispo emérito não é o primeiro a profetizar uma explosão brutal e generalizada, sem qualquer objectivo político e fora de qualquer partido. Sucedeu em França e sucedeu na Grécia; e Mário Soares não pára de prevenir que nada impede - e muita coisa indica - que venha a suceder aqui. Se o sistema de representação legal - o Parlamento, o Governo, o Presidente - deixa de facto de representar o povo ou parte dele (e não uso aqui a palavra demagogicamente), o que fica é, como de costume, a acção directa.»
sábado, 9 de maio de 2009
O livro de Ubaldo Ribeiro, a censura de um supermercado e a opinião de Pedro Mexia
sexta-feira, 8 de maio de 2009
quinta-feira, 7 de maio de 2009
A farinha agradece...

quarta-feira, 6 de maio de 2009
Política caseira (11) - Pedro Namora "monarquiza-se" para a Câmara de Setúbal
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terça-feira, 5 de maio de 2009
Contenham-se, caramba!
domingo, 3 de maio de 2009
Já tínhamos percebido que havia gostos duvidosos na escolha de livros para venda em alguns locais
"Não há razão nenhuma para essa censura", diz Ubaldo Ribeiro. "Imagino que eles também não vendam Henry Miller ou outros autores desse tipo". Pedindo ao editor que "não se incomode nem se aborreça", o escritor declara-se "chateado" com "este acto censório", que qualifica como "irónico" e quase "suspeito": "Parece uma jogada sua de marketing para poder aumentar as vendas do livro, coisa que sucedeu da primeira vez".
Dia da Mãe
Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.
Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais…
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.
Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.
As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém…
Pra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe…
Sebastião da Gama, 07-03-1945
sábado, 2 de maio de 2009
Memória: José Gomes Sanches (1936-2009)

Hoje, pela manhã, a Fátima telefonou-me, ia eu a caminho de uns livros. “Sabe que morreu o Dr. Sanches?” Logo ali me atacou a saudade e me inundou a memória. E, ao chegar a casa, tive que espreitar alguns dos seus poemas. Reproduzo o soneto "Fuga", que abre o seu último livro:

José dos Reis Gomes Sanches nasceu em Aldeia Velha, no Sabugal, em Janeiro de 1936. Na juventude, estudou em Vila Nova de Gaia. Cursou Direito, tendo estudado em Coimbra mas concluindo a licenciatura em Lisboa. Vivia em Setúbal desde 1977. Deixou publicadas as obras Percurso de circunstâncias (Setúbal: 2002) e Espaço de memórias (Setúbal: 2006), ambas em edição de autor. No prefácio para o seu primeiro livro, notou Resendes Ventura: “Maravilha-me e espanta-me sempre a vibração poética em que permanentemente o vejo. A respeito de tudo, em todas as circunstâncias, é o lado estético que o apanha! Vivendo assim, era inevitável que (…) ficasse com os bolsos cheios de versos (…). É assim, efectivamente, que todos os dias o encontramos e é assim mesmo que gostamos de o encontrar: sempre carregado de versos! Seus e dos seus mestres!”
Às 23h10: A Fátima fez-me chegar uma foto de Gomes Sanches tirada há cinco anos, na sessão sobre o 30º aniversário do 25 de Abril que houve na Culsete. Aqui a deixo. E também um poema de adeus, assinado por Resendes Ventura (Manuel Medeiros), escrito no dia de hoje.
MEU POETA E MEU IRMÃO
In Memoriam para o poeta Gomes Sanches
José meu poeta e meu irmão
quantas vezes me pedias
para te ensinar a ti
o que para mim não sabia
e contigo é que aprendia
agora que me morreste
e à mãe terra vi descer
o corpo que te traía
tão sujeito que me sinto
à mesma dor sem remédio
do tanto que não sabia
como é que vou aprender
o que contigo aprendia
meu poeta e meu irmão
sem ti estou mais sozinho
neste resto de caminho
que me resta percorrer
fique a última lição
que me deixaste ao morrer
em pobreza de saber
e que em pobreza retive
por não sabê-la aprender
“EM MISTÉRIO É QUE SE VIVE”
R. V.
Setúbal, Dia do enterro do poeta Gomes Sanches
2.Maio.2009