segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Bom 2013? Bom 2013!




Votos de boa entrada em 2013!
Quanto ao decorrer do ano, cá estaremos todos, lado a lado, para o sofrer ou para o gozar, para nos entristecermos com ele ou para nos alegrarmos. Como sempre, além de tudo!
Sem querer ser excessivo, que 2013 seja favorável às nossas vidas!

domingo, 30 de dezembro de 2012

Setúbal entre luzes e sombras


Uma "curta" bonita de se ver, devida a Carlos Silveira, sobre Setúbal. "Luzes e sombras", como título. Para cinco minutos e pouco de filme, muitas horas de trabalho e de sensibilidade. Despertar sobre o Sado...

Jorge Fonseca - Setúbal entre o rio e o mar nos séculos XVI-XVII



Dividido em quatro capítulos, este Setúbal – O porto e a comunidade fluvial e marítima (1550-1650), de Jorge Fonseca (Lisboa: Edições Colibri, 2012), constitui um excelente olhar sobre o quotidiano da população setubalense, sobretudo aquela que mantinha estreita relação com o rio e com o mar, nas mais diversas funções, no período abrangido. Muito embora o título delimite uma fatia cronológica (opção que o autor justificou com o facto de existirem “abundantes fontes notariais, indispensáveis à abordagem da vertente social” que pretendia destacar), certo é que são feitas referências a muitos antecedentes, deixando este estudo em aberto um retrato das condições que iriam de alguma maneira formatar a história de Setúbal no futuro.
São cerca de 140 páginas com abundante informação, partindo do que terão sido os primórdios desta região e seu consequente desenvolvimento, partes necessárias de contextualização para uma chegada ao período em estudo. A partir daí, o leitor vai convivendo com cidadãos comuns da urbe sadina, nas suas diversas tarefas e até na sua forma de viver, perscrutando-lhes maneiras de trabalhar, relações sociais, caminhos de negócios, ambiente familiar, num quase passeio pelo quotidiano que animava a faixa ligada ao rio e ao mar.
A pesca e a repercussão que o pescado de Setúbal teve no reino e no estrangeiro (de tal forma a sardinha de Setúbal tinha procura que, desde cedo, “para que não viesse a faltar sardinha para abastecimento da população local, os pescadores eram obrigados a reservar para os moradores parte da que capturassem”), o sal sadino e o horizonte geográfico a que se estendeu a sua comercialização (tendo havido uma época de apogeu, já designada por “idade do ouro branco”, e uma consequente decadência, a partir dos fins do século XVII, por motivos concorrenciais desde o estrangeiro), o valor e diversidade das transacções comerciais por via flúvio-marítima (aí entrando as madeiras, o vinho, as pedras de mó, o açúcar, o tráfico negreiro), a possibilidade que o mar e o rio ofereciam como forma de circulação (de tropas, de degredados, de comerciantes) ou actividades como a moagem e a construção naval constituíram razões fortes para intensas permutas, grandes viagens e para que o porto de Setúbal fosse “um dos mais activos e rentáveis do reino”, de tal forma que, em 1527, “o seu Almoxarifado era o segundo do país, abrigando uma das maiores comunidades humanas dedicadas às actividades marítimas”.
Tão intensa actividade não era feita sem o elemento humano, que merece assinalável destaque nesta pesquisa de Jorge Fonseca, seja do ponto de vista das relações sociais, não esquecendo as trocas culturais e as chegadas e partidas nos caminhos das migrações, seja da perspectiva das formas de viver, aí se incluindo informações como as das características das habitações, as relações familiares, a estrutura social, a vida espiritual, o associativismo, a propriedade e marcas demonstrativas da existência de uma sociedade “interessada na sua coesão, mas também na reprodução do modelo hierárquico”, responsável também pela “expansão e estruturação do próprio aglomerado urbano”.
É um livro útil, interessante e rico, com intenso recurso a fontes até aqui por explorar, num ritmo em que a análise das situações e os casos que fizeram o quotidiano da terra e das gentes se harmonizam de maneira a que o leitor assista ao filme de uma comunidade, a da margem do Sado frente a Tróia, que se constituiu “num dos exemplos mais paradigmáticos de uma sociedade fluvial e marítima no Portugal da época Moderna”. Setúbal – O porto e a comunidade fluvial e marítima (1550-1650) é um elemento indispensável para se estudar a identidade sadina, um título a não esquecer em qualquer pesquisa que relacione Setúbal com o Sado, com o mar e com a História.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Rostos (191)

Farmácia monástica, no painel sobre a biografia de S. Bento, de Querubim Lapa,
em São Bento da Porta Aberta (Rio Caldo, Gerês)

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A biografia de Domingos Garcia Peres




O nome de Domingos Garcia Peres não é desconhecido na cidade de Setúbal, seja pela inserção do seu nome na toponímia (um beco, um largo e uma rua), seja pela existência de um fundo bibliotecário com o seu nome, doado em 1964 para integrar o Museu da Cidade. No entanto, a sua biografia, baseada em fontes e estabelecida com rigor, teve de esperar até aos finais de 2012, em que foi assinalado o bicentenário do seu nascimento, a acompanhar uma exposição, uma e outra actividades devidas a António Cunha Bento, Carlos Mouro e Horácio Pena.
A biografia, intitulada Domingos Garcia Peres (1812-1902) – Um setubalense pelo coração (Setúbal: Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão, 2012), é justificada pelo acto comemorativo, pela admiração que esta personalidade despertou em vida, pela sua intervenção cívica e cultural assente em Setúbal mas fazendo a ponte com outros meios (foi clínico e deputado e manteve colaboração e amizade com o bibliógrafo Inocêncio da Silva e com o espanhol Menéndez y Pelayo, eruditos de renome na área da cultura).
Thomaz de Mello Breyner, médico e amigo de Garcia Peres, no elogio fúnebre do amigo, caracterizou-o como “homem que nunca fez falar de si, por ter sido dotado de uma modéstia tão grande como era o seu coração, a sua inteligência e o seu saber”. Estas qualidades determinaram a admiração, mas não podem ser responsáveis por um desconhecimento sobre a sua personalidade que levou tanto tempo a ser suprido, mesmo em Setúbal, terra onde esteve ligado a eventos e criações importantes como o exercício da medicina, a eleição como deputado, a intervenção no Asilo da Infância Desvalida, a participação na Sociedade de Recreio Familiar, a fundação da Sociedade Arqueológica Lusitana ou a autoria de uma obra importante para a bibliografia como o Catalogo razonado biográfico e bibliografico de los autores portugueses que escribieron en castellano (obra de uma vida, publicada em Madrid em 1890).
Fruto das suas viagens a Espanha, Garcia Peres teve ainda possibilidade de, resultado do acaso, ter conhecido Hans Christian Andersen e com ele ter viajado entre Madrid e Lisboa, em Maio de 1866, época em que o escritor dinamarquês visitou Portugal a convite dos seus amigos O’Neill (tendo permanecido cerca de um mês em Setúbal).
A biografia que Cunha Bento, Carlos Mouro e Horácio Pena assinam passa por todos esses aspectos e momentos da vida deste alentejano nascido em Moura, que, aos 34 anos, chegou a Setúbal (depois de quatro anos em Alcácer do Sal) e que pelas margens do Sado se deixou ficar, numa ligação intensa à terra. Lidaram os três autores com variadas fontes, sobretudo do Arquivo Distrital de Setúbal, da imprensa sadina da época e da correspondência entre Peres e Pelayo, o que permitiu corrigir informações que têm sido divulgadas sobre o biografado, assim se revendo os seus aspectos biográficos.
Num texto preocupado com o rigor e com informação exigente, bem anotado, esta viagem pela vida de Garcia Peres não esquece mesmo a recolha de testemunhos sobre a personalidade e o quotidiano do médico alentejano, resultante de uma leitura que permite inclusivo que o biografado se autorretrate, como se pode verificar em duas passagens bem reveladoras do seu sentido de humor e de disponibilidade – ao escrever sobre a sua prática em Alcácer do Sal, referirá: “ali desfalquei a humanidade até 1844”; em correspondência com Menéndez y Pelayo, dirá: “de há muito que seus são todos os meus livros”, numa prova de permuta incondicional que girava em torno das bibliografias entre os dois autores, levada ao extremo, quando numa outra carta o desafia para lhe renovar a assinatura de uma revista espanhola e redigirá numa outra carta um pacto de troca em termos humorísticos – “a respeito de contas creio-as saldadas; saqueemo-nos mutuamente, segundo possamos; eu, pela minha parte, não deixarei de tentá-lo; faça Você o mesmo e veremos depois quem leva a melhor.”
Figura grada no seu tempo, que suscitou admiração e esteve envolvido em marcos importantes para a história sadina, Garcia Peres tem agora o ensaio biográfico que merecia, enriquecido ainda com alguma documentação fotográfica e com uma tábua cronológica. Um documento cheio de interesse e, sobretudo, credível.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

D. Manuel Martins, os governantes e a mensagem de Natal



D. Manuel Martins no tipo de discurso a que sempre nos habituou, directo, incisivo, contundente. Sempre admirei a frontalidade de D. Manuel e a sua voz, que se tem erguido nos momentos mais críticos, é a da razão. Podemos acrescentar às suas palavras que, antes das eleições, os potenciais candidatos a primeiro ministro deveriam ser obrigados a dizer com quem se coligariam, em que circunstâncias e que pessoas chamariam para formar governo.
É pedir muito, eu sei. Mas, depois do que temos visto e do oportunismo que tem rodeado muitas caras que passam pelos governos, seria o mínimo sinal de respeito pelos eleitores. Penso que, a saber-se isso, muitas das pessoas que têm passado pelos governos fariam alterar os resultados eleitorais e, por outro lado, haveria mais cuidado na formação das equipas de governantes. Serão todos muito boas pessoas, mas os sinais de incompetência, de impreparação e de pouca consideração pelos governados têm sido constantes. No tempo pré-eleições somos todos uns tipos porreiros e cumprimentados em demasia; depois, viramos uns cábulas, que não trabalhamos, responsabilizados pelo caos a que se chegou, mal habituados…
Na televisão, ao darem a notícia destas considerações de D. Manuel Martins, disseram que ele não deixou mensagem de Natal porque seria falta de cortesia estar a apontar caminhos de esperança no contexto em que se está… Uma pessoa ouve isto com um sorriso de compreensão e de concordância. Haverá mesmo esperança quando se deseja um 2013 “dentro do possível” ou que o novo ano “vá correndo”? Por isso, dispensam-se as mensagens governativas de Natal. Depois de tudo quanto foi dito pelos governantes sobre os portugueses e dos “ralhetes” sucessivamente cheios de sugestões, já se percebeu onde fica a esperança!

domingo, 23 de dezembro de 2012

Feliz Natal (com um poema)


Natal doutros tempos

Eu sou do tempo em que se cantava ao Menino.
Em que não havia Pai Natal
e o Menino descia p’la chaminé
à meia noite em ponto.
Onde o sapatinho nos saía do pé
e a um canto se acomodava, pronto
a receber a prenda habitual.
Bombons em prata colorida
tal qual nossos olhos como estrelas brilhando
na negrura da noite, esperançando a vida.

Sou do tempo em que se prendava
filhós e azevias e rosetas
polvilhadas de açúcar e canela.
Em que se rufava a ronca
entoando louvores ao excelso e ao infinito céu.
Onde a família galhofava reinadia,
à lareira por dentro a noite fria.

Sou do tempo em que a nossa aldeia
tinha a dimensão do mundo
e o mundo se fazia de todos nós.
Em que o presépio se construía
com musgo catado pelas nossas mãos
e uma searinha feita em caco de barro
se oferecia a Jesus.

Desse tempo em que gente devota
na Missa do Galo cantava, louvando
o Menino que nasceu, símbolo do ano inteiro.

Do tempo em que só um dia era Natal.
Setúbal, Natal de 2012
José-António Chocolate


sábado, 22 de dezembro de 2012

Fragmentos 02 - Incertezas


Estou a pagar no posto de abastecimento e o indivíduo aproxima-se de mim. “Bem me parecia que conheci esta voz”, diz-me, no prazer do reencontro depois de muitos anos de desencontro.
Era PC, meu aluno de há vinte e tal anos, outros tantos de tempo sem nos vermos. “Que fazes?” E desfiou-me o rol dos seus projectos, que sempre fora um rapaz de aventura, dinâmico, imparável. Negócios, projectos empresariais, alguma sorte na vida, negócios de família. “Tenho um amigo suíço que desafiei para meu sócio. Quer saber a resposta?” Perante o meu ar de curioso, acabou a história: “Ó pá, entrar na constituição de uma empresa em Portugal? Então a gente nunca sabe o que vai ser isto!... Os impostos são uma coisa de manhã, outra à tarde e outra no dia seguinte… Quem se governa assim? Há empresa que se sustente?”
Ainda conversámos mais. Mas a tónica da conversa estava na contrariedade que se oferece aos projectos empresariais. “Sabe, professor? Dou um ano para isto… Caso não haja resultados, vou-me embora. Já estive de malas feitas para Moçambique e resisti, mas não sei por quanto tempo mais!...”

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Fragmentos 01 - A vida



O homem terminou a sua conversa ao balcão com a frase “Pois, a vida é um problema…”, sem que os outros presentes tivessem percebido a que se referia o sujeito. Ao virar costas, ainda desejou “boas festas”, assim como quem cumpre um ritual, que a época propicia. E veio dizendo “é um problema” e mais “a vida é um problema” e ainda “um grande problema”. Aproximou-se de um que estava à espera de ser atendido, sorriu-lhe e perguntou “não acha que a vida é um grande problema?” O ouvinte, surpreendido, embasbacou e sorriu. O falador prosseguiu caminho rumo à porta de saída enquanto repetia “a vida é um problema, um grande problema…”
Saiu e foi ter com a vida… ou com um grande problema!

domingo, 16 de dezembro de 2012

Para a agenda: Juan Soutullo e figurinos de teatro na Meadela



Figurinos de teatro criados por Juan Soutullo vão estar em mostra na Meadela a partir de 19 de Dezembro, um percurso de criação e de imaginação, a que surge associada a apresentação do livro de Ricardo de Saavedra sobre o artista - Juan Soutullo - Criador de Universos. A ver (e a ler).

Mario Vargas Llosa: a literatura, a cultura, a democracia, a política e a contemporaneidade


No suplemento “Ípsilon” que acompanhou o Público de 14 de Dezembro, Mario Vargas Llosa é entrevistado (páginas 14-16) a propósito do seu mais recente livro traduzido para português – A civilização do espectáculo. Por essa conversa do Nobel da Literatura peruano (2010) com António Rodrigues perpassam ideias que nos deviam abalar, abordando temas tão importantes como a cultura e a política, a democracia e a crise que nos cerca. E andam todos ligados… Deixo alguns excertos.
Literatura e civilização – «(…) A literatura cumpriu uma função nevrálgica na evolução da humanidade. É difícil prová-lo, porque a literatura opera de forma muito subjectiva na intimidade das pessoas, mas eu acho que a fantasia, a sensibilidade, o espírito crítico desenvolveram-se extraordinariamente graças às fábulas, às lendas, aos mitos e, logo, aos continuadores desses géneros que são a poesia, o romance. O mundo é mais livre, mais crítico devido ao desassossego em relação ao mundo real, atiçado por esse olhar crítico perante o mundo que é a literatura. A cultura, em geral, e a literatura, em particular, estão sempre a expor-nos às ideias da perfeição, da beleza, da coerência, de uma ordem que não existe no mundo real; nesse sentido, têm servido como o motor do progresso da civilização. Pode ser uma ideia romântica, mas não acho que seja desmerecida pela realidade. (…)»
Banalização da cultura – «(…) O valor das coisas é fixado por certos padrões culturais, estéticos, e é isso que hoje está muito ameaçado pela banalização da cultura. Há um factor que tem a ver com a educação, no sentido mais amplo da palavra – não só com o professor e a escola, também com a família, com a imprensa, com a informação que chega aos cidadãos, tudo isso marca uma certa orientação na maneira como se formam os cidadãos. E é a formação que hoje está muito estragada pela decadência de uma cultura que procura apenas entreter, divertir, muito mais do que preocupar, formar. Uma cultura que responde pela existência hoje de uma prática de avestruz: não ver, não entender. (…)»
Tempo das crises – «(…) São as ideias que fazem funcionar uma sociedade e que estão por trás das instituições, incluindo as instituições económicas. Acho que esta crise terrível, cívica, moral, por trás da grande crise financeira e económica que vive o Ocidente deriva, em parte, da crise da cultura. (…)»
Cultura e democracia – «(…) Por que razão a democracia se deteriorou tanto? Porque não há fé, não há confiança nas instituições democráticas; há um grande desprezo pela política, por se acreditar que é corrupta, medíocre. Ora, isso não é um problema social, é um problema cultural. A cultura não é só a arte, a literatura, a cultura é a vida inteira de uma sociedade – não está apenas na espuma, mas nas raízes da problemática social. (…)»

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Paulo Castilho, o património, a língua portuguesa, o inglês e o francês

O JL de hoje (Jornal de Letras, Artes e Ideias, nº 1101, 12.Dez.2012) , na sua habitual rubrica "Diário", deixa que Paulo Castilho, escritor e diplomata, nos revele alguns dos fragmentos dos seus dias, em registos ocorridos entre 20 de Outubro e 28 de Novembro. Desse diário se retiram as observações que seguem, retrato sentido e verdadeiro da cultura que vamos perdendo e da cultura que nos vai colonizando... Ou a questão linguístico-cultural no centro da discussão, no mesmo momento em que outros dizem que a língua portuguesa significa quase 20 por cento do PIB! Sinais dos tempos, em que tudo se substitui por valores, mais-valias, investimentos, economias, rendimentos... Eis, então, uma mostra das reflexões de Paulo Castilho:

«O património cultural do nosso país, que nasceu há quase 900 anos, está em grande medida votado ao esquecimento e ao desinteresse generalizado, sobretudo quando se trata de literatura. (...) Namora, alguém o lê? Tirando o Eça, alguém lê os escritores do passado? E o Pessoa está transformado em 'celebrity', uma espécie de Paris Hilton das letras lusas, famoso, festejado, mas pouco lido. Quanto à língua,, vivemos na regra do desleixo e do vale tudo - incluindo o acordo ortográfico, que entre muitas outras calamidades, faz tábua rasa da origem latina da nossa língua. Mais um fenómeno de aculturação. É irónico que tenhamos agora de ir a outras línguas, como por exemplo o inglês, que é essencialmente germânico, para encontrar muitas das raízes latinas que deitámos fora nas nossas palavras. (...)
É uma pena que actualmente em Portugal se despreze o francês e já quase ninguém o fale ou leia. Foi e é a língua de uma grande cultura, ainda hoje com um movimento editorial de um enorme vigor, em muitas áreas superior ao inglês. Agora corremos atrás da língua inglesa e de tudo o que tenha um ar de Inglaterra ou de América sem nos darmos conta de quanto nos encontramos longe da mente anglo-saxónica. Não os compreendemos plenamente e eles não nos compreendem a nós e, na verdade, tendem a tratar-nos com alguma condescendência. (...)»

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Ainda sobre o feriado do 1º de Dezembro

Ontem, não pude aceder ao blogue. O feriado do 1º de Dezembro, o último feriado do 1º de Dezembro (quem sabe?) passou sob o signo das incertezas. Repito o que escrevi aquando do feriado do 5 de Outubro deste ano:
«Um poder que omite, suprime ou suspende o feriado que assinala a fundação do seu regime político (quando poderia ter optado por outros feriados) ou um poder que omite, suprime ou suspende o feriado que assinala a início da independência do país e do povo que governa (quando poderia ter optado por outros feriados) respeita os fundamentos histórico-culturais do país que dirige?»
Acabar, suprimir, omitir (ou o que quer que seja nesta luta pelo esquecimento) o mais antigo feriado português, símbolo da nossa independência e do que nos garantiu como país, só pode ser um acto de ignorância e de falta de respeito pela nossa identidade, mesmo que ela se construa agora com pins na lapela a mostrar a bandeira de Portugal, mesmo que dela se fale a propósito da necessidade de austeridade para garantia da independência! A independência também já entrou na era da globalização, tão (outrora) desejada e apregoada por alguns políticos no seu fascínio de serem grandes e conhecidos... Tristeza, grande tristeza!, a propósito destes pontapés que vão sendo dados em marcos que contribuíram - esses sim! - para a "fundação" ou "refundação" do que somos como país!

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Sobre "O concerto interior", de António Osório


O último texto de O concerto interior – Evocações de um poeta (Lisboa: Assírio & Alvim, 2012), de António Osório, conclui com uma invocação: “Espero que me ajude a Nossa Senhora da Saudade, que nos acompanha até ao fim da vida”. O quadro em que surge esta quase prece é emoldurado pela lembrança de Maria Emília, sua mulher, digna forma de fechar um livro de recordações, selado com um retrato de alguém com quem foram partilhadas quase seis décadas de uma vida.
Abriga-se, pois, António Osório junto de uma Nossa Senhora da Saudade e pensará o leitor numa definição desta saudade que alimenta as páginas de um livro feito de memórias. Vou buscar-lhe explicação, gravada na nota introdutória de um outro livro de memórias que publicou há quatro anos, Vozes íntimas (Lisboa: Assírio & Alvim, 2008), onde registou que as tais “vozes íntimas” outra coisa não eram senão a “forma de termos a nosso lado a sua companhia e de sermos fiéis a essa invisível presença”.
Aqui residirá a chave para entrarmos nos textos memorialísticos de António Osório, habitualmente conhecido como poeta, ainda que com começo de publicação tardio, por 1972, quando se inaugurou em edição de autor com A raiz afectuosa, já próximo dos 40 anos (de idade de António Osório, na altura do aparecimento dessa obra, e, agora, em 2012, de obra literária). É ainda nessa introdução de há quatro anos que as coordenadas da memória são traçadas, uma vez que os textos então publicados são apresentados como “excertos de lembranças” e justificados porque “a memória dos outros acaba por seguir a própria – dispersos acontecimentos da juventude e da iniciação literária, alguns encontros decisivos, o devido agradecimento”. Uma fidelidade, diríamos, aos outros e à vida.
Nesse outro livro de 2008, António Osório mostrava-se, com os amigos e com os momentos que a eles deveu, eternizando o lume da amizade, a tal “luz fraterna”, expressão que traria, no ano seguinte, para essa compilação magna da sua poesia. De um ponto de vista estrutural, o livro que agora aparece, O concerto interior, edifica-se da mesma forma – em treze textos de memórias, que vão sendo outras tantas peças de um “puzzle” duplamente entendido: como reconstrução escrita da família e como gratidão ou homenagem ao que foi ou é a sua família, ainda que, por vezes, vista no sentido lato que a estende até à profissão, cadinho também feito de aprendizagens, de encaminhamentos, de protecções e de amizades, que, de alguma forma, prolongam esse universo de afectos e de proximidade.
Ao longo dos vários textos, António Osório vai tornando presentes aqueles que já estão ausentes, respeitando a fidelidade, e vai contando a história que o fez. O pormenor dessa fidelidade vai mesmo até ao ponto de a prolongar na disposição dos objectos que fazem a memória, como se pode ver em três de vários exemplos: o primeiro, ao evocar a mãe e o curso que ela fizera de puericultura, quando regista “tenho ali o diploma”, forma de provar não apenas o título ou a formação atribuídas a Giuseppina mas também a guarda, a protecção e a proximidade do documento, que implicam a fidelidade; o segundo, no texto que evoca Maria Valupi, ao referir que a pedra pisa-papéis que ela usava “ficou sempre na minha mesa, à direita”, mas “agora está no lugar próprio – por cima da sua Antologia poética”, uma quase justificação para a escolha de um mais adequado espaço, assim não sendo ferida a tal fidelidade, antes a reforçando; o terceiro, ao situar um quadro de Miguel Ângelo Lupi que fora resguardado por Maria Valupi, insistindo numa perspectiva muito próxima – “O quadro passou a fazer-me companhia. No escritório da casa da Aldeia, ficou à minha direita; virado de frente. Durante quarenta anos, assistiu praticamente a tudo o que escrevi.” Fidelidades aos sítios, aos gestos, às recordações, para garantia de uma fidelidade da memória!
Quanto à história de que se fez, o memorialista revela vários momentos: ao tentar definir as suas raízes culturais, aponta as coordenadas que o levam à cultura italiana, através da mãe, ou à portuguesa e francesa, através do pai; ao relembrar a sua juventude, assinala “os dois tormentos” que a mãe teve de enfrentar – a doença de “gânglios” do filho e o sofrimento dos familiares próximos italianos devido à 2ª Guerra Mundial; ao cartografar o que seria uma sua geografia, destaca a importância de Setúbal, de Palmela, de Azeitão, das quintas, mas também a de Lisboa e de espaços como o escritório ou a sede da Ordem dos Advogados, e ainda as visitas ao estrangeiro, fosse por razões da advocacia ou por motivos culturais e familiares, constituindo todas estas coordenadas outros tantos pontos de partida para amizades; o estágio de advogado, a sua carreira e o seu papel enquanto bastonário da Ordem dos Advogados (percurso que não surge isolado de vários comentários que estabelecem a ponte entre o passado e o presente, em tom crítico, como quando refere que, no tempo em que iniciou a profissão, “os julgamentos não se atrasavam como hoje”, ou quando diz que, no seu estágio, ficara a conhecer a “máquina da justiça”, expressão logo acrescida da nota “aliás muito melhor do que a de hoje”, ou ainda quando comenta ser “cada vez mais lamentável o distanciamento entre os membros da família judiciária, como antigamente se dizia”).
O concerto interior revela também a chave que dá acesso à poesia de António Osório, não escondendo do leitor a forma como surgiram alguns dos seus poemas. Numas situações, revela o pretexto desses poemas, que tanto pode ser um marco importante ocorrido na sua vida (como os filhos ou o desaparecimento dos pais ou o de Maria Emília, por exemplo) ou o legado de certas pessoas com quem se cruzou (a senhora Conceição, que cozinhava o pão, o carroceiro José da Vaca, a senhora Rita, que ajudava nas tarefas da casa, o senhor João, caseiro, ou o senhor Teotónio da Malta Jotta, funcionário da biblioteca da Ordem dos Advogados, ou o poeta e amigo brasileiro Carlos Nejar) ou ainda o fascínio perante uma obra de arte (como o poema que edifica em torno da escultura de David, em Florença, ou a propósito de uma tela de El Greco, em Toledo); noutros casos, os textos iluminam o que são os seus elementos poéticos fortes (os animais, o “espanto pela natureza”, o tempo).
A questão poética acaba por dominar ainda este livro, uma vez que o texto que o encerra não é de cunho memorialístico, antes assumindo um lugar de “apêndice”, aí se fazendo sentir a voz do escritor, do poeta, num quase manifesto intitulado “O desprezo pela poesia”, mensagem que correu a propósito do Dia Mundial da Poesia de 2010, divulgada pela Sociedade Portuguesa de Autores. O texto é sobretudo de tomada de posição quanto à vida editorial, quanto à educação literária, quanto à sensibilidade que deve animar qualquer cultura, por ele perpassando nomes fortes, de um amplo friso cronológico, que constituíram alicerces de gerações de poetas, como Platão, Ángel Crespo, Benedetto Croce ou Rainer Maria Rilke. E não será por acaso que o manifesto encerra com Rilke, artista maior para a geração de António Osório e com vasta leitura e reflexão em Portugal, quando escreveu: “ser artista é amanhecer como as árvores, que não duvidam da própria seiva e que enfrentam tranquilas as tempestades da Primavera, sem recear que o Verão não chegue”. A questão das estações serve de modelo à vida e, para um poeta, não há melhor seiva do que a poesia, geradora de palavra e de fraternidade, afinal termos caros a António Osório e que povoam a sua escrita.
Propositadamente, deixei para o final a questão do título, algo que, em si mesmo, nos transporta para uma situação de absoluto equilíbrio com o mundo, com a escrita e com o “eu” que se nos mostra – a ideia do “concerto” remete-nos para a totalidade e para a plena conjugação, para a obra perfeita, e o qualificativo “interior” alimenta o tom confessional, de exposição e de refúgio em simultâneo; uma e outra palavras revelam o apaziguamento com o mundo, uma e outra palavras reflectem-se no subtítulo “evocações de um poeta”, acentuando essa dominante da memória, dos fragmentos da vida, por selecção ou por imposição. A imagem que de imediato nos surge é a da serenidade, um concerto de tal forma intenso que nos permite lidar com o tempo de uma maneira pacífica, porque, como notou Philippe Besson, “o tempo cura tudo e deixa apenas à superfície as imagens que queremos conservar” (Em tempos de guerra. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2008, pg. 45). Ao longo do folhear dos diversos trechos, pode o leitor confrontar-se com vários registos da palavra “gratidão”, sentimento mostrado perante gestos humildes ou grandiosos que contaram para a formação e para o caminhar de quem se escreve. A intenção de António Osório foi também autobiográfica, tal como acentua logo no título do curto texto de abertura, significativamente intitulado “Uma vida”, abrindo espaço para o horizonte cronológico, mas logo demonstrando a existência desse paradoxo que é o da impossibilidade de uma vida se escrever na sua totalidade, como indicia ainda na primeira frase ao emendar a mão para a possibilidade de este conjunto ser apenas uma “breve autobiografia”. A perspectiva autobiográfica mantém-se em todos os textos, alicerçada sobretudo na tónica da memória, ainda que, por vezes, atinja também o estatuto de relato de obra feita, como sucede no capítulo intitulado “O advogado e o escritor”, em que há evocações, relatos e também um balanço de qual tenha sido o seu contributo enquanto bastonário da Ordem dos Advogados.
Mas este “concerto” teve ainda uma outra descoberta: nesse mesmo texto que inicia a obra, António Osório revela o encanto e o prémio do prazer da escrita – “tudo isto trouxe de volta fundas alegrias, que tentam afastar a velhice funesta”. Este “concerto” é, pois, não só o desenho dos caminhos que em muitas situações conduziram à poesia ou a digna atitude de gratidão, mas também a prova de que a escrita autobiográfica possibilita um encontro de quem se escreve consigo mesmo, num passeio orientado pelo labirinto que cada um de nós alimenta, constrói e vence. Como há uns anos dizia Eduardo Lourenço numa entrevista a Carlos Vaz Marques, “o que me interessa é o auto-retrato que cada um de nós está escrevendo. (…) Nós não precisamos de psicanalista para nada. A gente dá-se. (…) A escrita é realmente a escrita do nosso inconsciente. Uma pessoa não pode trair-se a si própria.” (Ler. Lisboa: Fundação Círculo de Leitores, nº 72, Setembro de 2008, pp. 30-40). Ora, como acto de permanente risco e exposição, a escrita é também essa ponte que, ao permitir o fluxo entre mim e os outros, nos torna vivos, nos justifica, nos ajuda à reconstrução. Se, como diz António Osório, “os músicos são mais felizes que nós, poetas”, porque “o entusiasmo rodeia-os, e até recebem o aplauso com ramos de flores”, a nós, seus leitores, outra coisa não restará senão o enveredar por este percurso de memórias, partilhando e agradecendo a dádiva e essa luz fraterna da poesia e da vida, sempre rumo a um também… concerto interior!

[Na apresentação da obra, no Forum Municipal Luísa Todi, em Setúbal, ontem]

sábado, 17 de novembro de 2012

Para a agenda - António Osório em Setúbal


António Osório acaba de publicar mais um livro de memórias, O concerto interior, com abundantes referências às suas vivências e ligações a Setúbal, obra que já mereceu críticas muito favoráveis - de António Carlos Cortez (JL - Jornal de Letras, nº 1095, 19.Set.2012, pg. 10) e de José Mário Silva (Expresso - Atual, 3.Nov.2012, pg. 32), por exemplo.
A organização deste evento foi iniciativa da Associação Cultural Sebastião da Gama, em parceria com a Delegação de Setúbal da Ordem dos Advogados. A sessão tem a colaboração da livraria Culsete e vai ter a participação do actor José Nobre, do TAS.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Rostos (190) - Rodin, 172 anos (6)

Camille Claudel, "Busto de Rodin" (Museu Rodin, Paris)

Rostos (189) - Rodin, 172 anos (5)

Rodin, "Busto de Vítor Hugo" (Museu Rodin, Paris)

Rostos (188) - Rodin, 172 anos (4)

Rodin, "Jovem Mãe" (Museu Rodin, Paris)

Rostos (187) - Rodin, 172 anos (3)

Rodin, "O grito" (Museu Rodin, Paris)

Rostos (186) - Rodin, 172 anos (2)

Rodin, "A mão de Deus ou a Criação" (Museu Rodin, Paris)

Rostos (185) - Rodin, 172 anos (1)

Rodin, "O pintor" (Paris, Museu Rodin - jardins)

Rodin, 172 anos, e as palavras de Manuel Mendes


Passa hoje o 172º aniversário do nascimento de Rodin (12 de Novembro de 1840) e o motor Google lembrou aos seus utilizadores tal efeméride. O mês de Novembro seria, aliás, o mesmo que levou Rodin da vida, pois que, a 17 desse mês de 1917, pelas quatro da manhã, morreu em Meudon.
Um dos biógrafos de Rodin foi o escritor Manuel Mendes, que, em 1947 (quando passava o 30º aniversário da morte do escultor), publicou o estudo Rodin (Lisboa: Ars Editorial).  Dessa obra se transcreve o início, logo provando o fascínio do artista escultor sobre o artista escritor:
"Raros artistas haverá que se tenham mostrado em tamanha e tão sincera nudez de intenções, com tanta singeleza e verdade nos seus actos e nas suas obras, como este grande escultor. Homem de sentimentos simples e de hábitos duros de trabalho, só tarde e ao entrar na velhice, conheceu a glória, depois de uma existência gasta em silêncio, mas ganha a sonhar e a sofrer com a obra que a si mesmo se impôs realizar. (...) Artista de uma viveza pronta e firme de reacções, veemente de sinceridade e de carácter, ao mesmo passo que simples e natural no seu comportamento, foi o homem para quem a arte se tornou o combate longo e duro de todas as horas, uma luta em que ocupou a existência, em que empenhou a vida (...). Realizou uma obra grandiosa, vasta - a maior de escultura moderna - que dia a dia lhe foi crescendo das mãos incansáveis e que como uma floresta se estende a perder de vista, com as suas árvores enormes, frondosas, que erguem para o céu os ramos fortes, espalhando em volta a sombra acolhedora e propícia das grandes e belas coisas."
Por este elogio feito por Manuel Mendes se compreende a força e a expressividade que ressaltam de obras como "O pensador", a "Porta do Inferno", "Burgueses de Calais", "O beijo" e muitas outras. Obras clássicas, que serão belas em todos os tempos!

Para a agenda - Eugénio Lisboa em Setúbal



Eugénio Lisboa é personalidade incontornável na cultura portuguesa da actualidade. Engenheiro de formação, o seu nome está também ligado à literatura portuguesa, sobretudo no domínio do ensaísmo, e a algumas intervenções cívicas importantes.
No dia 16, estará em Setúbal para nos falar de Sebastião da Gama. É um convite!

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Barack Obama, de novo

Sudarshan Patnaik, indiano, felicita Obama na praia de Puri (Odisha)
[fonte: Expresso]

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Para a agenda - Domingos Garcia Peres, no 2º centenário do seu nascimento


A APPACDM de Setúbal entre a poesia, o teatro e a dança


Já lá vão 17 edições do concurso de poesia que a APPACDM de Setúbal organiza anualmente, desde há sete anos coincidindo também com a modalidade destinada à comunidade escolar. Assim, há quase duas décadas que o início de Novembro vê acontecer em Setúbal a respectiva entrega de prémios numa sessão que costuma envolver muitas pessoas e não menos emoção.
No próximo fim de semana, tal evento terá lugar no salão nobre da Câmara Municipal de Setúbal (dia 10, pelas 15h00), a que estará associada também a apresentação da obra antológica O teu sorriso… um poema, que reúne os textos vencedores em ambas as modalidades nos três últimos anos do certame.
Entretanto, a lista dos premiados da edição deste ano foi já divulgada, ainda que sem a indicação das classificações. Assim, entre prémios e menções honrosas, os textos galardoados no XVII Concurso de Poesia (a que se apresentaram 89 candidatos) foram: “Encolho-me nos teus braços esculpidos no vento” (Maria da Conceição Bernardino, do Porto), “Nos rebentos do tempo” e “Canção de Mimar” (Ana Coelho Antunes, do Carregado), “Estilhaços” (Regina dos Anjos Sousa Gouveia, do Porto), “Dança Encantada” (Vânia Isabel Veríssimo, de Setúbal), “Síndrome” (João Vítor Silva, de Mafra), “Moldura” (Manuela Ferreira, de Ponte de Lima) e “As minhas mãos” (Teresa de Jesus Ferreira Teixeira, de Vila Nova de Gaia). Na modalidade da “comunidade escolar”, a VII edição (que teve 44 textos apreciados) distinguiu os seguintes títulos: “O meu amor por ti” (Tiago Luís Roque Severino), “O Que Há Dentro De Mim” (Rui Alberto Santos Caleira, da APPACDM de Setúbal), “És Para Mim Poesia” (Flávio Henrique dos Santos Costa, da APPACDM de Setúbal), “Ser diferente...e igual” (Adélia Maria Mendes, da APPACDM de Soure), “Tão diferente...mas tão igual a mim” (António José Bento de Carvalho, da APPACDM de Soure), “A poesia que há em ti” (Catarina Alexandra Oliveira Cordeiro, da APPACDM de Soure), “A Poesia que há em ti é a mesma que há em mim” (Ana Sofia da Conceição Alves Teixeira, da Escola Secundária de Palmela) e “É apenas paixão” (José Eduardo Nascimento Semedo, da CECD Mira Sintra).
A cerimónia da entrega dos prémios está incluída no programa do Festival EspressArte / XIII Encontro de Teatro e Dança, iniciativa que decorrerá entre 9 de Novembro e 16 de Dezembro em Setúbal, Palmela e Moita e que tem a participação da APPACDM de Setúbal nos seguintes eventos: a) em Setúbal – “Gypsie Company” (9 de Novembro, 21h00, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Setúbal), “Tarde de Folclore” (17 de Novembro, 15h00, no Grupo Desportivo “O Independente”), “Manhã a Dançar” (28 de Novembro, 11h00, no Auditório da Liga dos Amigos da Terceira Idade), “Todos a Dançar” (7 de Dezembro, 14h00, no Auditório Municipal Charlot); b) em Palmela – “Sou Igual a Ti” (5 de Dezembro, 14h30, no Auditório Municipal do Poceirão), “Grupo Momentos de Talento” e “No Outro Lado do Espelho” (6 de Dezembro, 11h00 e 14h30, no Cine-Teatro S. João); c) na Moita – “O Quarto dos Brinquedos” (22 de Novembro, 14h00, na Biblioteca Municipal da Moita).

Para a agenda: Pedro Teixeira da Mota e a tradição pitagórica, em Setúbal



terça-feira, 30 de outubro de 2012

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Memória: Vítor Wladimiro Ferreira (1934-2012)



Quando, há dois dias, o telefone tocou e vi que era uma chamada da Ângela, o filme começou a correr. A conversa confirmava a suspeita. O Vítor Wladimiro, o pai da Ângela, tinha partido. Ao mesmo tempo que a saudade e a tristeza, agarrava-me a alegria de ter conhecido o Vítor e de termos construído uma amizade de 26 anos, com início da história numa tarde de sábado de 1986, graças a uma boleia de Beja para Lisboa, sugerida pelo Miguel, também filho do Vítor e meu companheiro no serviço militar no Regimento de Infantaria local, viagem em que vinha ainda a Ana Maria, esposa do Vítor.
A partir daí, tive o privilégio do convívio com uma pessoa extraordinária: no seu saber e na sua cultura, na sua disponibilidade para os outros, na sua amizade, na sua frontalidade e sinceridade, na sua liberdade. (Recomendo a leitura do postal que o Miguel publicou ontem sobre o pai, uma biografia que em nada exagera o retrato e com um percurso que eu testemunhei em muitas ocasiões.)
Foram muitos os nossos encontros. Alguns tinham como pretexto o trabalho (numa dessas ocasiões, conheci o Nuno, o outro filho), já que o Vítor Vladimiro me convidou para integrar alguns dos projectos que coordenou. Todos tiveram o condimento da amizade.
Bom conversador, de palavras certeiras e análise camiliana, muito aprendi nestes encontros e na correspondência que trocámos. Aproximámos famílias, de tal forma que os meus filhos com frequência me perguntavam pelo amigo Vítor, tão cuidadoso era ele em mandar sempre uma saudação ou um alegre dizer para a rapaziada!
Nunca esquecerei uma viagem que fizemos, em Junho de 2005, até S. Miguel de Seide, à casa de Camilo, itinerário de um dia, a matar saudades do seu parente afastado e eu a ver Camilo por um mais próximo olhar, dia ainda enriquecido por uns rojões que minha mãe nos aprontou, polvilhados por um gosto que o Vítor recordaria várias vezes… (Ironia do destino: o Vítor Wladimiro desapareceu quando se estão a celebrar os 150 anos do camiliano Amor de Perdição!...)
Há cerca de um mês e tal, quando o visitei pela última vez, vim com a tristeza a querer invadir-me, mas também com a ligeira esperança de que ainda iríamos ter mais encontros. Enganei-me, claro! E o telefonema da Ângela provou-o.
Tive sorte por ter conhecido o Vítor Wladimiro Ferreira, de quem era difícil não se gostar. Estou muito contente por essa possibilidade que se me proporcionou. Tenho muita, muita pena por não poder continuar a contar com ele, com a sua presença, com o seu saber e sentir. Presto-lhe a minha homenagem.
[na foto: Vítor Wladimiro Ferreira, em 24 de Junho de 2005, em Seide, na casa de Camilo]

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Evocar Rui Serodio um ano depois... (2)

Quase acabado de chegar da homenagem prestada ao Rui Serodio no final da noite de ontem... em que o auditório da Casa da Cultura, em Setúbal, foi pequeno para tanta gente. Por lá se sentiu o conforto da solidariedade, por lá se sentiu a homenagem colectiva e individual que cada um lhe quis fazer. E, um ano passado, tivemos a sensação de que o Rui nos tinha visitado a relembrar umas histórias de que quase nos esquecêramos.
Bem andou a organização desta actividade! Muito bom foi o filme-documentário que saudou a memória do Rui! Bem andaram aqueles que emprestaram a voz a textos do Rui, cheios de humor - do humor do Rui, fino e certeiro, aristocrático! - e de amor - à simplicidade e à paz da vida! Bem andou o coro "Afina Setúbal", criança a crescer a partir dos primeiros ensaios e ensinamentos do Rui!
Todos ouvimos o Rui e recusámos a despedida, que se transformou num "até sempre". Ficamos agora à espera do que há-de vir: a história, as estórias e as músicas do Rui, tudo envolvido naquele carinho e exactidão em que o Jorge Calheiros sabe transformar as coisas em que se mete. Je suis le pianiste contar-nos-á Rui Serodio. Algures no próximo ano. Com a memória a deixar-se invadir pelas palavras e pelas músicas com que o Rui nos brindou.
Foi boa a homenagem. Singela. Sentida. Forte e intensa. Como acho que o Rui gostaria que fosse...

domingo, 21 de outubro de 2012

Evocar Rui Serodio um ano depois



É já amanhã que passa um ano sobre a partida de Rui Serodio, uma ida “sem aviso”, como refere o Jorge Calheiros na missiva que distribuiu por amigos vários.
A Câmara Municipal de Setúbal decidiu assinalar a data com um pequeno evento que ocorrerá na Casa da Cultura, pelas 21h30, em que colaboram o Núcleo de Poesia de Setúbal e amigos do Rui. É uma oportunidade para relembrar o Rui, a sua música, o seu humor fino e o grande ser humano que sempre foi!
No entanto, a grande homenagem a Rui Serodio acontecerá em 2013, evento sob o patrocínio da autarquia setubalense, em que será apresentada a obra Je suis le pianiste – A vida e a música de Rui Serodio, acompanhada por uma colecção de cinco cd que reúnem as músicas do compositor, ambos os registos organizados por Jorge Calheiros e que merecerão um olhar atento, quer pelo que contam, quer pela descoberta que constituirá a audição das peças de Rui Serodio.

sábado, 20 de outubro de 2012

Memória: Manuel António Pina (1943-2012)


HOMENAGEM A MANUEL ANTÓNIO PINA

Uma nuvem carregada de palavras escuras, negra sombra ao cabeçalho do jornal, 
Um poeta morreu, palavras secas, o negro do céu num amarelo triste como o entardecer, pálido,
Quando um poeta morre secam-se fontes, murcham as flores silvestres, e as outras, calam-se os pássaros,
Carrega-se o céu de chumbo e a alma de tristeza, fogem os anjos, tapam-se as musas de luto de inverno,
Choram as crianças e não sabem porquê, os velhos sentem-se mais sós, vê-se o amor pelo fio líquido caído pelo rosto, 
Está morto, o poeta, e as suas palavras caminham pelas bocas e arrepiam as nucas, percorrem-nos os fios de cabelo, até por onde o pensamento as levou, 
Cegam-nos o interior ilusório e não nos deixam sonhar, porque quando morre um poeta, morrem com ele todos os sonhos dos nossos mundos fingidos,
Órfãs, as palavras do poeta recolhem-se ao cunho eterno do vento soprado pelas bocas com fome das outras palavras que lhe faltaram, ao poeta, escrever,
Baú vazio, repleto de páginas negras, por nelas, o poeta, jamais poder de novo pousar a sua pena, porque morreu, reflectindo a nossa outra pena, a pesarosa, a que com ele repousa, da treva a prosa.
José Nobre

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

No estado a que Portugal chegou, é difícil encontrar melhor...

Concordo com Henrique Monteiro na sua crónica "Vamos falar a sério do próximo governo". Com efeito, já basta de falta de habilidade política, de massacre sobre as consciências dos portugueses, de derivas e desnortes, de incompetência na liderança, de avanços e recuos, de soluções impensáveis porque impraticáveis, de demagogia (seja ela oriunda da política, da finança ou de outra área qualquer). Já fizeram terramotos que chegassem. Já desmotivaram e desmoralizaram qb. Há que optar por outra solução porque a presente já não merece que se acredite.
Das várias encenações inventariadas por Henrique Monteiro, a última parece-me também a menos má. Por isso, a transcrevo:
«Remodelação do Governo atual - É, claramente, a minha opção preferida. Melhor ainda se o Presidente da República conseguir um acordo entre os três partidos subscritores da troika para a reforma do Estado (extinção de autarquias, institutos, observatórios e etc.), a relação com as PPP, revisão constitucional e uma política orçamental estruturada naquilo que foi aprovado (2/3 pelo lado da despesa e 1/3 pelo lado da receita). Para isto, apenas basta que saiam do Governo alguns ministros (como Relvas) que são mais problema do que solução, entrando outros com mais peso político. Seria também necessário que o Presidente usasse a sua influência positivamente, que o primeiro-ministro soubesse governar sem impor e que o líder do PS se sentisse à vontade para entrar neste jogo, controlando a deriva demagógica de alguma esquerda do seu partido. Devido a estas exigências de responsabilidade, é provavelmente a solução mais difícil.»

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Entre os avanços e os recuos... e o respeito que merecemos

Avançar e recuar... Avançar e recuar...
Percebo que, como truque de jogo, possa funcionar para ludibriar o adversário. Não entendo que os governantes o andem a fazer com os governados. É certo que os "erros" se devem corrigir; mas não é menos certo que haver Primeiro-Ministro e Ministros que anunciam coisas publicamente, em hora de grande audiência, com as implicações e os pesos conhecidos, para, no(s) dia(s) seguinte(s), retrocederem... ou é trabalho de casa mal feito ou é imaturidade ou é levar o descrédito ao máximo ou é querer gerar instabilidade social ou é banalizar as comunicações oficiais ou é tudo junto. Os governantes não se podem pôr na pele de comentadores nem conjugar os verbos do "achismo"; exige-se-lhes outra responsabilidade e outra forma de sentir que seja para os governados que lhes pagam e que os mantêm lá.
O pior é que esta crise dos "avanços" e "recuos" tende a alastrar a muitas áreas. Veja-se o que aconteceu, por exemplo, com as matérias dos exames do 12º ano!... Não eram necessários mais grãos de areia na engrenagem, não eram!
Tantas coisas que os governantes têm dito e que, depois, desdizem, ainda que sob a forma de "recuo", de "progressão", de...
Esta mania de tornar o sério banal; esta falta de pensar, de sentir os portugueses, de amadurecer, de decidir contando com o número máximo de variantes... tudo tem feito naufragar a confiança ou que resta (ou podia restar) dela!
Somos um povo que, como os outros povos, merece respeito! Só!
 

sábado, 6 de outubro de 2012

Bandeira nacional ao contrário, um sinal dos tempos?

Há uns meses, em Lisboa, na Praça dos Restauradores, apareceu um sinal informativo com a indicação "Portugal" escrita de pernas para o ar. Fenómeno estranho aquele!... Ontem, foi a bandeira nacional, pela mão de duas personagens importantes no contexto do país, a ser içada ao contrário.
Não me interessa saber o porquê de tal ter acontecido. Interessa-me a simbologia dos tempos, talvez movida pelo acaso: uma imagem de país e uma "vingança" do que fizeram (ou vão fazer) ao feriado do 5 de Outubro (quando podiam ter sido omitidos, suprimidos ou suspensos outros feriados)!
A propósito: ficam indiferentes quando ouvem os responsáveis por esta supressão a falar da ética republicana e da comemoração do 5 de Outubro no futuro? Que ética é essa?