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quinta-feira, 25 de julho de 2013

"Eça agora" - nos 125 anos de "Os Maias"



A passagem dos 125 anos sobre a publicação de Os Maias, de Eça de Queirós (1ª ed., 1888), obra cuja presença no cânone português é indiscutível, constitui o pretexto para as releituras ecianas ou para leituras do país e da nossa contemporaneidade, na peugada de Eça.
Exemplo é o projecto do semanário Expresso, designado “Eça agora”, constituído por sete volumes: três deles reproduzindo a obra que se celebra; outros três apresentando ficções que continuarão Os Maias num percurso temporal até 1973 (em textos devidos a José Luís Peixoto, José Eduardo Agualusa, Mário Zambujal, J. Rentes de Carvalho, Clara Ferreira Alves e Gonçalo M. Tavares); o último divulgando esse estudo indispensável sobre a saga da família Maia, intitulado Introdução à leitura d’Os Maias, devido a Carlos Reis (1ª ed., 1978).
Um outro exemplo do destaque dado ao romance maior de Eça é a edição do Jornal de Letras – JL, de ontem (nº 1117, 24.Julho.2013), que revisita Os Maias, através de Carlos Reis (dando a sua experiência de leitor da obra, num texto de marcas pessoais, que o leva a considerar a sua releitura como “uma aventura sem fim”); de Kyldes Batista Vicente (universitária brasileira que reflecte sobre a recepção da mini-série que a TV Globo produziu a partir de várias obras de Eça); de Maria do Rosário Cunha (investigadora ligada à edição crítica d’Os Maias, que ajuiza sobre esse trabalho); de José-Augusto França (revelando o fascínio pela construção de uma personagem como Maria Eduarda); de Filomena Oliveira (analisando a versão dramatúrgica da obra, de que foi co-autora, com Miguel Real); de Carolina Freitas (no resultado de uma conversa com o realizador João Botelho, que vai rodar nova película sobre esta obra); de um painel constituído por Manuel Jorge Marmelo, Miguel Real, Nuno Camarneiro, Fernando Venâncio, Teolinda Gersão, Mário de Carvalho e Mário Cláudio, que se aventuram no gizar do que seria o plano ou o capítulo inicial da obra Memórias de um átomo, jamais escrita mas sempre prometida por João da Ega; de cinco dos seis continuadores d’Os Maias (não participa Gonçalo M. Tavares) do projecto do Expresso, que respondem a inquérito a propósito do trabalho em que se envolveram – destaco o testemunho de Clara Ferreira Alves, assumida como “queirosiana confessa, inabalável”, que revela a sua surpresa de cada vez que relê Eça e considera as personagens queirosianas como integrando a sua “família espiritual”.
No entanto, o título dado a este projecto, “Eça agora”, existe já desde 2007, ano em que foi publicado o romance Eça agora – Os herdeiros d’Os Maias (Lisboa: Oficina do Livro), obra colectiva devida a sete autores: Alice Vieira, José Jorge Letria, José Fanha, Luísa Beltrão, Mário Zambujal, Rosa de Lobato Faria e João Aguiar.
Obra forte, que conquista o humor eciano e critica fortemente os hábitos sociais do século XXI, nela, “herdeiros” são os autores, que seguem a via queirosiana, seja pelos reflexos evidentes dos incidentes com as personagens, seja pelo papel que essas mesmas personagens vão desempenhar na obra, seja pelo ambiente em que a trama vai acontecendo; “herdeiros” são as personagens, elas mesmas, intensamente marcadas pelos nomes, determinadas por um Afonso e um Carlos da Maia, decalcados do original, figuras que surgem rodeadas por outras que, pelas atitudes e pelas aproximações fonéticas aos nomes queirosianos, nos dão a aguarela em que assenta esta narrativa – João da Régua, Dodô Varinho, Damásio Malcede, Palma Cavalito, Além Mar, Maria Moncorvo, Maria Hermengarda, entre outras – nomes que se cruzam com a Lisboa e o Portugal contemporâneos, matizados nos partidos políticos, no Gambrinus, na Quinta da Marinha, nos concertos, em organizações como a Populus Dei, no periódico 48 horas, nos clubes desportivos, numa capital efervescente de socialite; “herdeiros” ainda pelas intenções, já que é evidente a crítica social e política sobre o momento em que a obra foi produzida, eivada de nomes que fazem lembrar os do “Contra-Informação”, como são exemplos Aristides Platão, “primeiro-ministro”, ou Procónio Guterros, Morcão Lamoso, Sanlopes Tana, Marcos Arquimendes, Luís Filipe Menelau ou o Dr. Saulo Cortas, ou mesmo o Presidente Vassilva Caco…
No final, como “delicada alusão”, Carlos da Maia e João da Régua vão apanhar o metropolitano e, enquanto se lamentam pelo facto de tudo continuar na mesma e verificam que “nada vale a pena”, decidem correr na gare rumo ao comboio que estava para partir. “Corre, que ainda o apanhamos!”, aconselhava João da Régua. E “saltaram degraus a quatro e quatro, entraram de roldão na carruagem de trás. O comboio pôs-se em movimento e desapareceu no túnel.”
Os sete autores, que foram construindo os seus capítulos na sequência do legado pelo autor anterior, em duas voltas (catorze capítulos, sem que nenhum tivesse sido autor de dois capítulos seguidos), juntam-se no fecho do romance (ou da telenovela), o “epílogo”, assumindo o estatuto de personagens que, numa reunião clandestina, têm um encontro com “um rosto humano, um rosto humano que eles conheciam de fotos antigas, de quadros e estátuas, um rosto afilado, com um monóculo entalado num dos olhos trocistas…”, Eça, ele mesmo. Eça, agora. Sinal de que se estava perante uma reunião de “herdeiros” de Eça. E a obra podia terminar.
No 125º aniversário de Os Maias, estas adaptações caucionam a actualidade de Eça de Queirós, indo muito além da citação em diferentes contextos e provando que a única alteração e actualização decorre dos cenários, originários da alteração da paisagem citadina ou social, porque o interior das personagens… ou, como o narrador de Os Maias acentuava no derradeiro capítulo, quando Carlos regressou do seu afastamento de uma década da capital, tudo permanece na mesma. Dê-se-lhe a voz: “Foram descendo o Chiado. Do outro lado, os toldos das lojas estendiam no chão uma sombra forte e dentada. E Carlos reconhecia, encostados às mesmas portas, sujeitos que lá deixara havia dez anos, já assim encostados, já assim melancólicos. Tinham rugas, tinham brancas. Mas lá estacionavam ainda, apagados e murchos, rente das mesmas ombreiras, com colarinhos à moda.” Ainda por lá andam, 125 anos depois…

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Máximas em mínimas (96) - amar (no Dia dos Namorados)


“A excentricidade nos afectos mais tarde ou mais cedo sai cara.” (Adília Lopes. “Uma espécie de conto de Natal”. Resumo – A poesia em 2009. Lisboa: Assírio & Alvim / FNAC, 2010, pg. 14)

“Amar é sentirmos o desejo de nos esquartejarmos para nos darmos aos pedaços um ao outro.” (Urbano Tavares Rodrigues, Filipa Nesse Dia, Mem Martins, Publicações Europa-América, 1988)

“Amo-te tanto que te não sei amar, amo tanto o teu corpo e o que em ti não é o teu corpo que não compreendo porque nos perdemos se a cada passo te encontro, se sempre ao beijar-te beijei mais do que a carne de que és feita.” (António Lobo Antunes, Memória de Elefante, Lisboa, Editorial Vega, 1981)

“Nós somos pré-históricos na forma de saber amar; há em nós uma aprendizagem que está perfeitamente no início e nós só temos experiências fugazes da absoluta felicidade.” [Lídia Jorge, entrevista, in Tempo (supl. Tempo-Mulher), nº 508, 01.Fev.1985]

“O amor é tão necessário à vida dos mancebos como o chá de marcelas às afecções do estômago.” (J. Mascarenhas. Tragédias do Minho – O laivo de sangue. Lisboa: J. G. Sousa Neves, 1877)

“O amor só conhece uma regra: amar sempre.” (Maria Teresa Maia Gonzalez. Sempre do teu lado – Carta de um cão. Lisboa: Verbo, 2008 reimp)

“O que faz com que o amor seja tão perturbador e tão excitante são a suspeita e a dúvida.” (José Leon Machado. Memória das estrelas sem brilho. Braga: Edições Vercial, 2008)

“Quem ama não deve pedir nada em troca desse amor.” (Alice Vieira. Leandro, rei da Helíria. 12ª ed. Alfragide: Editorial Caminho / Leya, 2011)

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Máximas em mínimas (83) - Alice Vieira


Sonho – “Os sonhos são recados dos deuses.”
Bondade – “Quem tem um coração de oiro nunca envelhece, mesmo que viva até aos cem anos.”
Infinito – “O que não tem fim não se pode medir.”
Palavra – “Às vezes, há palavras que matam muito mais depressa do que uma valente espadeirada.”
Chegada – “Estamos sempre a chegar e sempre a partir.”
Adulação – “Às vezes, os reis só têm ouvidos para as palavras da lisonja e da mentira.”
Amar – “Quem ama não deve pedir nada em troca desse amor.”
Alice Vieira. Leandro, rei da Helíria, 1991.

sábado, 20 de setembro de 2008

Alice Vieira - As opiniões dos 13 anos

O que pode levar a que surja um diário de uma adolescente? Esta pergunta não tinha passado pela mente de Inês Tavares, que pensava receber um i-pod como prenda de aniversário, mas a avó trocou-lhe as voltas ao oferecer-lhe um “diário” e justificando: “Isto é para escreveres e guardares os teus segredos”. E Inês começou a escrever um diário, ainda que sem data, mas em 19 capítulos, que abrangeram o período de um ano, entre Janeiro, mês do seu aniversário, e o Natal, época de família, altura em que o volume do “diário” acabou.
É o que se passa em A vida nas palavras de Inês Tavares (Alfragide: Caminho, 2008), obra que tem o subtítulo de “Diário de quem só quer a paz no mundo e o Brad Pitt”, último livro de Alice Vieira. Por lá passa a vida encarada do alto dos 13 anos, com muitas opiniões resultantes da procura e afirmação da identidade, das preocupações juvenis, do ritmo da escola e das vivências com os amigos, da família, da sociedade e das suas convenções, das referências contemporâneas, da alucinação consumista. É uma história próxima no tempo, nossa contemporânea, que vai tendo marcas de acontecimentos recentes, seja pelos concertos, seja pelas opiniões, seja pelos heróis, seja pelos hábitos, seja pelos pequenos eventos que têm sido notícia… A título de exemplo, quase no final, em tempo de Outono e de castanhas, escreve Inês: “E depois há as castanhas. O cheiro das castanhas. O sabor das castanhas. O calor que passa para as nossas mãos quando as agarramos. Mas desde este ano que as castanhas estão diferentes. Por causa de uma lei qualquer, passou a ser proibido embrulhá-las em papel de jornal ou nas folhas das Páginas Amarelas. Agora tem que ser tudo muito limpo, muito sem micróbios, tal como manda a Europa. E, como todos sabemos, a Europa é que manda em nós. Mas ainda me lembro do que eu aprendia num pacote de castanhas.”
Escrita rápida, com humor bastante e um olhar para o mundo de forma descomplexada, o livro cativa pela simplicidade, num oscilar entre o conhecimento do passado e o confronto com o presente cheio de reticências e de desafios, à velocidade de uma forma de ver o mundo e a vida, justificando, aliás, o título. Pelo meio, vai havendo uma ou outra mensagem de apaziguamento e, no final… aquilo que a avó Gi (que foi a ofertante do caderno) nem sonharia: o “diário” acaba também por guardar um segredo que pertenceu ao passado da avó, que explica, por outro lado, o azedume que as duas avós de Inês amorosamente mantinham quando se encontravam.
Frases vivas
1. “Quando o nosso coração está completamente cheio de amor por alguém, nada o pode desviar para outros lugares, por mais próximos de nós que estejam.”
2. “O que a gente faz pela felicidade dos nossos pais não tem explicação.”
3. “O Natal devia ser um tempo tranquilo, um tempo em que devíamos ter mais paciência uns para os outros, um tempo de (…) forrarmos de amor o nosso coração. Pois devia. Mas infelizmente não é. O Natal tornou-se um tempo de correrias desenfreadas, de compras desenfreadas (e às vezes vai-se a ver e compramos tudo trocado) e quando finalmente ele termina estamos todos mais cansados do que se tivéssemos andado horas na montanha russa.”

4. “É a sorrir que nos devemos lembrar daqueles que amamos e que já não estão connosco.”

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Alice Vieira com o seu público

A escritora Alice Vieira esteve hoje na minha Escola. Pretextos: o facto de a Biblioteca da Escola ter editado uma antologia de poemas de alunos, concorrentes a um prémio no Dia Mundial da Poesia no ano lectivo passado; o facto de, recentemente, ter sido publicado o livro O meu primeiro álbum de poesia, selecção de poetas portugueses feita por Alice Vieira e ilustrada por Danuta Wojciechowska (Lisboa: Dom Quixote, 2008).
A escrita de Alice Vieira entusiasma os jovens, seja pelos retratos da adolescência traçados nas histórias, a que os jovens leitores se colam, seja pela busca da identidade que esses adolescentes-personagens sempre demandam, seja pelo quadro de referências relacionais que anima as narrativas, seja pelo humor que por ali transborda. Com facilidade encontramos leitores de Alice Vieira, nem que seja de uma obra apenas, independentemente de género.
Alguns alunos leram poemas por eles mesmos produzidos; outros leram poemas da antologia apresentada. Depois, Alice Vieira falou sobre poesia, contou histórias, riu-se, aproximou-se. E, depois ainda, no contacto com a escritora, brotaram perguntas sobre as obras, revelando curiosidade simples ou demonstrando algum conhecimento dos textos por ela assinados. Saltaram referências a Rosa, minha irmã Rosa (1979), a Graças e desgraças na corte de el-rei Tadinho ou a Viagem à roda do meu nome (ambos de 1984), a Flor de mel (1986), entre outros. Mas os leitores quiseram mais: Porque decidiu optar pelo jornalismo? Qual o livro que lhe deu mais gozo a escrever? Como lhe surgiu o título X…? Onde vai buscar imaginação para todas estas histórias? Porque começou a escrever?...
No final, a sessão de autógrafos. Inevitável. Alguns, leitores já conhecidos, traziam os livros que rebuscaram lá por casa. Outros, em descoberta recente, adquiriam os livros na bancada ali ao lado. Outros ainda, sem possibilidades de chegar aos livros, aproveitavam o desdobrável de apresentação da escritora que a Biblioteca fez para lhe pedirem um autógrafo e uma dedicatória… O contacto com a escritora era merecido. Falou-se e exerceu-se a leitura de uma maneira diferente. E gostaram!
No prefácio da antologia organizada por Alice Vieira, fica a recomendação: “Lembra-te que um bom poema nunca é aborrecido, nunca é banal, nunca te deixa indiferente. Como escreveu um dia um poeta (e grande professor) português chamado Sebastião da Gama: Poesia / para quê buscar-te para além dos astros / se andas tão perto da gente?

domingo, 9 de dezembro de 2007

Sobre violência nas escolas

Data de 22 de Outubro deste ano uma carta que Domingos Cardoso, professor aposentado de Ílhavo, escreveu, dirigida ao Presidente da República e divulgada através de “mail” e da blogosfera (por exemplo, em quarta república), também já aqui referida e a que o Expresso de sábado deu destaque, não tanto ao conteúdo da missiva, mas sobretudo às razões que levaram o signatário a tal atitude. Conta o jornal que o professor de Ílhavo recebeu entretanto muitas mensagens confirmativas do retrato que traçou na carta ao Presidente. E conta ainda o Expresso: “A carta chegou a Belém e está a ser analisada. A Casa Civil garante que será dada uma resposta, como habitualmente acontece às muitas cartas desta natureza que chegam à Presidência. Em caso de necessidade de informações adicionais, Belém pode mesmo solicitar esclarecimentos aos Ministérios envolvidos para tentar resolver os problemas ou obter mais dados, antes de enviar uma resposta ao queixoso.”
Ora, as situações de que se queixa Domingos Cardoso são um somatório de muitas de que há conhecimento na prática das escolas, só que frequentemente silenciadas, seja porque, nos casos mais felizes, os problemas de desrespeito são resolvidos de imediato (ainda bem!), seja porque a maior parte desse tipo de atitudes de falta de respeito não entra no rol da violência que conta para a estatística e muitos docentes nem as relatam. Aliás, o tom de amenização com que, recentemente, foi divulgado que o número de ocorrências de violência diminuiu no interior das escolas parece confirmar o que disse.
Será interessante ver que tipo de resposta vai ser dada a esta carta do professor ilhavense. Veremos se a divulgação vai ser semelhante… Mas, para já, vale a pena perceber-se que muitas das “exigências” que Domingos Cardoso sugeriu estão relacionadas com a violência que, hoje, Alice Vieira, no Jornal de Notícias , considerou como “perigosa porque mais subtil, mais pela calada, mais insidiosa”, em texto que aqui reproduzo. É que essa pode não ser quantificável, mas não pode ser banalizada nem aceite como normal!

Violência nas escolas, por Alice Vieira
Li num jornal que a senhora ministra da Educação está contente. E, quando os nossos governantes estão contentes, é como se um sol raiasse nas nossas vidas.
E está contente porque, segundo afirmou, a violência nas escolas portuguesas, afinal, não existe.
Ao que parece, andamos todos numa de paz e amor, lá fora é que as coisas tomam proporções assustadoras, os nossos brandos costumes continuam a vingar nos corredores de todas as EB, 2/3, ou como é que as escolas se chamam agora. Tenho muita pena de que os nossos governantes só entrem nas escolas quando previamente se fazem anunciar, com todas as televisões atrás, para que o momento fique na História. É claro que, assim, obrigada, também eu, anda ali tudo alinhado que dá gosto ver, porque o respeitinho pelo Poder é coisa que cai sempre bem no coração de quem nos governa, e que as pessoas gostam de ver em qualquer telejornal.
Mas bastaria a senhora ministra entrar incógnita em qualquer escola deste país para ver como a realidade é bem diferente daquela que lhe pintaram ou que os estudos (adorava saber como se fazem alguns dos estudos com que diariamente se enchem as páginas dos jornais) proclamam. É claro que não falo daquela violência bruta e directa, estilo filme americano, com tiros, naifadas e o mais que houver.
Falo de uma violência muito mais perigosa porque mais subtil, mais pela calada, mais insidiosa.
Uma violência mais "normal".
E não há nada pior do que a normalização, do que a banalização da violência.
Violência é não saberem viver em comunidade, é o safanão, o pontapé e a bofetada como resposta habitual, o palavrão (dos pesados…) como linguagem única, a ameaça constante, o nenhum interesse pelo que se passa dentro da sala, a provocação gratuita ("bata-me, vá lá, não me diga que não é capaz de me bater? Ai que medinho que eu tenho de si…", isto ouvi eu de um aluno quando a pobre da professora apenas lhe perguntou por que tinha chegado tarde…)
Violência é a demissão dos pais do seu papel de educadores - e depois queixam-se nas reuniões de que "os professores não ensinam nada".
Porque, evidentemente, a culpa de tudo é sempre dos professores - que não ensinam, que não trabalham, que não sabem nada, que fazem greves, qualquer dia - querem lá ver? - até fumam…
Os seus filhos são todos uns anjos de asas brancas e uns génios incompreendidos.
Cada vez os pais têm menos tempo para os filhos e, por isso, cada vez mais os filhos são educados pelos colegas e pela televisão (pelos jogos, pelos filmes, etc.). Não têm regras, não conhecem limites, simples palavras como "obrigada", "desculpe", "se faz favor" são-lhes mais estranhas do que um discurso em Chinês - e há quem chame a isto liberdade.
Mas a isto chama-se violência. Aquela que não conta para os estudos "científicos", mas aquela da qual um dia, de repente, rompe a violência a sério.
E então em estilo filme americano.Com tiros, naifadas e o mais que houver.