quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Para a agenda: "Tudo se desmorona - Impactos culturais da Grande Guerra em Portugal"


Elemento central do tríptico "Tropa de África", de José Joaquim Ramos

“Tudo se desmorona - Impactos Culturais da Grande Guerra em Portugal” é o título de uma exposição patente na Fundação Calouste Gulbenkian desde 30 de Junho, com curadoria de Pedro Aires de Oliveira, Carlos Silveira e Ana Vasconcelos, que pode ainda ser visitada até 4 de Setembro, segunda-feira.
A exposição, inaugurada no segundo dia do colóquio internacional “Ninguém Sabe que Coisa Quer - A Grande Guerra e a Crise dos Cânones Culturais Portugueses” que teve lugar na Fundação entre 28 e 30 de Junho, pode ser acompanhada pelo jornal-catálogo intitulado O Mundo Derrubado, que integra os textos-roteiro da exposição (pena que não inclua a cronologia que vai sendo mostrada ao longo da exposição) e os estudos “Semear ventos, colher tempestades: a República e a Grande Guerra” (de Pedro Aires de Oliveira), “A Guerra nas letras” (de Luís Augusto Costa Dias) e “Memória da I Guerra Mundial: um projecto republicano” (de Sílvia Correia).
Muito mais do que pretender mostrar o que foi a Guerra, esta exposição debruça-se sobre as repercussões dessa mesma Guerra na vida portuguesa em diversos sectores: na arte, nas relações e nas tensões sociais, na política, na imagem dos militares, nos hábitos de consumo. E possibilita ver algumas peças raras e outras que nunca terão sido expostas ao público (como o tríptico “Tropa de África”, de José Joaquim Ramos).
O visitante pode cruzar-se com fotografias da época, com primeiras edições de obras de relatos da Guerra, com páginas jornalísticas do tempo, com alguns objectos, sons, músicas e filmes que retratam o momento. Pode ainda encontrar-se com a memória e não é em vão que a última secção aborda a memória construída sobre esse período, seja assinalando o papel da Liga dos Combatentes e as campanhas de apoio aos regressados da Guerra, seja com os desenhos e maquetas de monumentos que ficaram para a perpetuação da memória da participação portuguesa.
A não perder!

Para a agenda: Manuel Bola vai ser homenageado em arte pública


"Homenagem a Manel Bola", na Feira de Santiago 2017, em Setúbal

Se Manuel Bola, nome por que ficou conhecido o actor que tinha o nome real de Carlos Rodrigues, estivesse entre nós, faria 73 anos no domingo, 3 de Setembro.
Não está, as nossas saudades trazidas pelo tempo em que com ele estivemos, falámos, rimos e colaborámos são muitas. E a nossa memória vai-se encarregando de o trazer até nós naquilo que ele teve de melhor, que foi o culto da humanidade, da amizade, aliados a um saber e a uma disponibilidade impressionantes.
Manuel Bola passou pelo teatro (vários grupos), pela televisão, pelo cinema, animou sessões públicas culturais, divulgou forma de fazer teatro e cultura e deixou três livros - dois de poemas, Sem Amor (Setúbal: Estuário, 2005) e Poemas a Soar a Manhã (Setúbal: Muito Cá de Casa, 2013), e um de contos, Histórias do Pincel da Barba (Setúbal: Muito Cá de Casa, 2015).
Essa mesma memória vai ser assinalada no dia dos seus 73 anos, quando, pelas 11 horas, frente ao Fórum Municipal Luísa Todi, for inaugurado monumento evocativo com o gesto de saudação que lhe era conhecido, obra de arte com a assinatura de Jorge Pé-Curto.
A sessão vai ainda ter a presença do Teatro Animação de Setúbal, grupo em que ele militou, e da recém-criada Associação Cultural TOMA (Teatro Oficina Manel Bola).

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Raul Reis - Fotografia, cartas e a memória de um universo



“Envia-me cartas” é a exposição de fotografia de Raul Reis que está em mostra na Casa da Cultura, em Setúbal, até 5 de Setembro. Poucos dias até ao final, pois. E, se o leitor ainda por lá não passou, aproveite os dias que restam. Vai confrontar-se com umas dezenas de fotografias de caixas de entrada de correio, centradas naquela pala bem conhecida que servia como gps dos carteiros, indicando “cartas”.
Sabemos que as caixas de correio de hoje são sobretudo virtuais e que aquelas que têm existência física nas portas das casas ou dos prédios jazem silenciosas e abandonadas por muito tempo (condizendo com o abandono de muitas edificações) ou servem para receber apenas as notas fiscais e as facturas de serviços... Já não são alimentadas de emoções e de histórias, já não adquirem marcas de aproximação entre humanos. Como escreve o setubalense Raul Reis na nota introdutória ao livro que acompanha a exposição (objecto belo e recomendado), essas caixas de correio com a palavra “cartas” empurram-nos “para as reminiscências de um tempo passado - aquele em que os sentimentos eram deixados no papel”. Quase como se de narrativas se tratasse...
Mas Raul Reis alargou o âmbito da sua exposição ao público, tendo criado sítio adequado na net, em que cada visitante podia escolher a fotografia de uma das caixas de correio e escrever-lhe uma carta. E assim surgem disponíveis para o público visitante 32 cartas com destinatários múltiplos - amigos, familiares (avó, pai, filhos), amores, locais, etc. E, no final da exposição, o visitante pode escolher entre 32 postais que numa face exibem a respectiva porta e caixa de correio e na outra a carta que lhe foi dirigida. Pode escolher e pode trazer. Uma, duas, três ou todas as portas e todas as cartas, que ali estão para oferta.
E, nos escritos que ali surgem reproduzidos, há para todos os gostos e tipologias, como se imagina. Desde o mais elaborado ao mais simples, do mais loquaz ao mais reservado, do mais metafórico ao mais imaginativo, do mais pessoal ao mais colado a um momento histórico. Refiro alguns exemplos, entre vários que poderia escolher: escreveu Filipe Lourenço que “as cartas são pessoas com selos na ponta da língua”, bela imagem que carrega todo um historial ligado ao gesto de escrever e enviar uma carta; Marco Dias aproveitou o momento histórico e enviou missiva a Donald Trump, em tom sarcástico e de medição de forças em nome da humanidade, contendo uma praga rogada; Susana Albuquerque escolheu Lisboa como destinatária, escrevendo desde Madrid e concluindo a sua mensagem com uma declaração de amor - “querida Lisboa, se eu pudesse, vivia em todas as boas cidades do mundo só para descobrir tudo o de que eu gosto mais em ti”; Tiago Gonçalves optou por uma carta aos filhos, que fecha a declarar-lhes que “devia poder mandar fazer uma gaiola para guardar os vossos sonhos”.
Há, contudo, uma carta que se me apresentou como preferida. Com autoria de NQ, estabelece uma relação entre Lino Nossa, 2º Sargento do CEP (Corpo Expedicionário Português) na Flandres em 9 de Abril de 1918, e Celeste, que ficara em Portugal, a quem o combatente promete casamento se regressar ao seu país. É uma carta apócrifa que bem poderia ser verdadeira e que dá a noção do sofrimento e da dor nas trincheiras na Grande Guerra - mesmo neste contexto o valor da metáfora é extraordinário ao referir que a guerra é “um purgatório em vida”.
Ao leitor caberá descobrir outras mensagens, outros segredos, outras sublimes frases em cartas que não entrarão em caixas de correio mas que estão ao dispor nesta exposição, que é quádrupla: a dimensão das fotografias de Raul Reis, a dimensão das cartas de 31 autores (há dois textos de uma autora), a associação das cartas às fotografias nos postais, o mundo das caixas de correio em livro (Envia-me Cartas / Send Me Letters. No Frame Publishing, 2017). Vale a pena!
Refira-se ainda que “Envia-me cartas” é a primeira fase de um projecto em trilogia designado “A Cidade está Deserta”. E como, em nota final, Raul Reis revela, “Envia-me Cartas” é a parte em que “se explora a nostalgia dos objectos que perderam o seu significado original”. Uma reflexão sobre a cidade, sobre a vida, sobre a actualidade. A ver!

Carta de autoria de NQ, emprestando o momento a um combatente do CEP em 1918

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Para a agenda: Mário Vitória em exposição



A partir de 2 de Setembro, a Galeria Municipal do Quartel do 11, em Setúbal, vai receber a exposição de Mário Vitória. Até 7 de Outubro. Para a agenda.

Para a agenda: Jorge Calheiros em duetos de homenagem a Sinatra



"Duets George & Friends - Tribute to Sinatra", assim é o título do cd que vai merecer concerto de apresentação em 26 de Agosto, pelas 21h30, na Associação de Moradores de Aldeia Grande (entre Setúbal e Azeitão).
Jorge Calheiros, nome ligado à música e a outras artes, desafiou vários amigos para o acompanharem em duetos que pretenderam homenagear um nome maior da música, Frank Sinatra. O desafio foi aceite e o cd aí está. Parceiros nas interpretações são Sérgio Rossi, Lay Pereira, Nita Rocio, Toy, Piedade Fernandes, Pedro Beato, Ricardo Vieira, Ricardo Mira e Marco António. Muitos deles vão estar no concerto de apresentação do cd.
A não perder. Para a agenda!

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Para a agenda: A Festa do Teatro começa hoje em Setúbal



A XIX Festa do Teatro - Festival Internacional de Teatro de Setúbal inicia-se hoje e vai decorrer durante dez dias, até 27 de Agosto, com programa muito diversificado e disperso por vários pontos da cidade. A programação pode ser consultada aqui. 

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Nuno Gil - Quando a doçaria se mistura com a identidade



Ele quer mostrar marcas da identidade através da doçaria, arte em que mistura sabores e aromas, ginja e moscatel, laranja e mel, queijo e feijão. Doçuras, claro, mas que carregam símbolos e outras artes! Ele mistura aos doces o saber das histórias locais e a poesia. E tudo conflui numa sensação de prazer em que o gostar se faz a partir do degustar... Ele é Nuno Gil, pasteleiro em Palmela, na Confeitaria S. Julião, autor de gulodices como os bolos “D. Filipe”, “Santiago”, “Pastel de Laranja de Setúbal”, “Pastel de Ginja”, “Queijada do Anjo”, “Caramelos”, “Brisas do Sado” e, agora, o “Bombom de Moscatel de Setúbal”. Tudo à venda por aí: no “Retiro Azul” e na Casa Mãe da Rota dos Vinhos, em Palmela, e na Casa da Baía, em Setúbal, por exemplo.
Para dar a conhecer a obra e as motivações, vale a pena ler a entrevista feita por Jorge Andrade, publicada aqui em 14 de Agosto. Depois, se ainda não o fez, vale mesmo a pena ir provar e apreciar!...

sábado, 5 de agosto de 2017

Pelo sonho é que vamos... - poema entre um marcador e muitas outras histórias


A Biblioteca Pública Municipal de Setúbal procedeu à edição de um marcador de livros sóbrio e discreto que reproduz na face um aspecto do edifício onde a mesma se localiza e, no verso, divulga o poema “O Sonho”, de Sebastião da Gama, sobre fundo verde, que é a cor da parede exterior desta casa dos livros.
É sempre bom ver este poema a circular, quer porque se tornou num dos textos icónicos do poeta azeitonense, quer porque a sua mensagem é vasta como a vida. Sobre este texto, sabia que...
... o poema “O sonho” (mais conhecido pelo seu primeiro verso - “Pelo sonho é que vamos”) teve a sua primeira publicação no jornal O Distrito de Setúbal, em 17 de Setembro de 1951 (nº 3, pg. 8)?
... deste mesmo poema há duas interpretações musicais - a primeira, do grupo “Moby Dick” (constituído por João Gil, Artur Costa e Alexandre Cortez) no álbum Moby Dick, publicado em 1991, e a segunda devida a Salvador Peres, do grupo setubalense “e-Vox”, editada no álbum Pelo Sonho é que Vamos em 2012?
... este poema mereceu, pelo menos, três interpretações em cd que incluíram poemas de Sebastião da Gama - por Victor de Sousa, no álbum “Pelo Sonho é que Vamos” (Ruquisom, 2000); por Afonso Dias, na colectânea “Poesia de Cabo Verde e Sete Poemas de Sebastião da Gama” (Media XXI, 2007); pela setubalense Clementina Pereira, na antologia “Meu Caminho é por mim fora” (Associação Cultural Sebastião da Gama, 2009)?
... este poema aparece em inúmeras antologias de poesia portuguesa, em variadíssimos manuais escolares, e que o seu primeiro verso foi adaptado para títulos de livros como Pela Prática é que Vamos (manual de Português de 7º e de 8º anos, Edições ASA, 1987 e 1988) ou como Pelo Sonho não vamos lá mas o povo fá-lo-á quando tomar o poder (de Martinho Marques, publicado em 1976), além de ter sido o título dado ao primeiro livro póstumo de Sebastião da Gama, publicado em 1953?
... o primeiro verso deste poema tem servido para justificar decisões e opiniões nas mais diversas áreas, por vezes ligeiramente alterado, como podemos ver nos títulos dos artigos de José Eduardo Lemos (director da Escola Secundária Eça de Queirós à época) sobre autonomia escolar “Pela autonomia é que vamos” (Expresso, 2014-11-22)  e de Pedro Dominguinhos (Presidente do Instituto Politécnico de Setúbal à data) sobre desenvolvimento regional “Pela cooperação é que vamos” (Sem Mais – suplemento “500 maiores empresas do distrito de Setúbal”. Setúbal: 2014-12-06, pg 14), além de recentemente ter sido inspiração para a Juventude Comunista Portuguesa nos murais em que anunciou o seu 11º congresso (que aconteceu em 1 e 2 de Abril) com o lema “Conquistar o Presente, Construir o Futuro - É pela Luta que Lá Vamos”?
... “Pelo Sonho é que Vamos” é também o título de uma tela pintada por Eduardo Carqueijeiro e Nuno David, durante um concerto em 15 de Outubro de 2011, que os autores ofereceram à Associação Cultural Sebastião da Gama?
... este poema está gravado em suporte acrílico no espaço exterior da Escola Secundária Antero de Quental, nos Açores, e que a pastelaria S. Julião o insere na embalagem do seu apreciado bolo “D. Filipe”?
... Sebastião da Gama escreveu este poema em 1 de Setembro de 1951 e o dedicou “à memória de Francisco Bugalho”?