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quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Minudências (31)

Publicidade a qualquer custo? Não, obrigado.
Ontem, fui a Lisboa. Ao descer para a Praça do Marquês de Pombal, fui surpreendido por uma rotunda pontuada por enormes caixotes em cima dos quais assentam enormes bolas, com publicidade à TMN. Não sendo suficiente, há ainda uma tenda junto à base do monumento ao Marquês, virada para a Avenida da Liberdade. Achei uma aberração este aproveitamento da publicidade por um local identitário de Lisboa, sem qualquer respeito pelo equilíbrio das formas. A primeira (e má) impressão.
Passei também na Praça do Comércio. Idêntica situação. A praça não é o local de passeio, de construção da cidade, de ponto de observação para o Tejo e para a Outra Banda; a praça é o suporte publicitário, tão disparatado como o ter a mesma praça sido um parque de estacionamento. Segunda (e má) impressão.
Com o anoitecer, acendeu-se a iluminação no Cristo-Rei, em Almada. Uma dupla de anjos, sob os tons de azul e branco, chama a atenção. É Natal, pensa-se. Na base da iluminação, a Samsung punha a assinatura. Terceira (e má) impressão.
Nada tenho contra a publicidade. Admiro a sua capacidade engenhosa e a sua veia artística e criativa. Não lhe concedo o direito de se sobrepor a espaços como estes (carregados de simbolismo histórico, religioso ou mesmo urbano) nem o de contribuir, mesmo que a título de provocação ou inovação, para a poluição visual. Detestável.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Minudências (31)

Ovos que não fazem omeletas
«Vaias e ovos arremessados por mais de 200 alunos esperavam ontem, no centro de Fafe, a ministra da Educação, que se viu obrigada a seguir destino, sem sair sequer da viatura oficial. Maria de Lurdes Rodrigues não pôde, assim, estar presente na sessão de entrega de diplomas do programa Novas Oportunidades para a qual fora convidada pelo presidente da câmara local, o socialista José Ribeiro. No meio da confusão, acabou por ser a viatura e o próprio autarca a serem atingidos pelos ovos lançados pelos manifestantes. (…)»
Não vi notícias ontem, apenas ouvi as que a rádio me facultou em viagem; li o Público de hoje. Não é admissível, não é aceitável, não é correcto. Por muito que se discutam as opções da Ministra da Educação ou por muito que se discorde delas, não é justo, não é educado, não é coerente que se chegue com um açafate (ou caixa ou seja lá o que for) de ovos (ou de tomate ou de qualquer outro produto) para atirar seja a quem for. A razão não precisa de iniquidades; o direito à indignação não se justifica com actos primitivos ou de falta de educação. Lamentável, absolutamente lamentável!

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Minudências (29)

Ser plural
Ouvi nas notícias da noite, na televisão, um deputado socialista que dizia ter sido decidida a disciplina de voto na bancada do seu partido quanto ao casamento entre indivíduos do mesmo sexo, tema que vai ser discutido na Assembleia. Até aqui, nada de novo, que a gente já sabe como é que as votações se fazem - é mais a disciplina partidária, mandada por alguém, do que a disciplina de consciência individual. No entanto, fiquei incrédulo com o resto da argumentação do deputado: é que também foi decidido que apenas um deputado socialista, que já presidiu à organização da respectiva juventude partidária, tinha liberdade de voto, em virtude de já ter sido o rosto desta questão. E concluiu o deputado, dizendo que esta abertura provava que havia pluralismo no partido! Nunca tinha pensado no pluralismo como um fenómeno de excepção, mas a gente está sempre a tempo de aprender...

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Minudências (28)

NOUTROS TEMPOS, A FRANÇA
Por mais que alguns espíritos orgulhosamente independentes o pretendam negar, a verdade é que, hoje, nós, os povos latinos, e muito especialmente o povo português, recebemos da França, inteiramente fabricadas por ela, as opiniões às quais sujeitamos o nosso modo de ver social, político e literário. É a França que nos fornece a literatura e a moda, a cozinha e a arte, as inovações democráticas e as mobílias, a devoção e o teatro, os cretones de que forramos as nossas salas e as ideias de que forramos os nossos cérebros. A pouco e pouco – impotência invencível ou criminoso desleixo? –, deixámos de ter o mínimo vislumbre de iniciativa nacional em qualquer destas importantes questões.
Maria Amália Vaz de Carvalho. “A propósito dos liceus femininos”. Cartas a Luísa.
Porto: Barros & Filha Editores, 1886, pg. 33.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Minudências (27)

Dia Mundial... de quê?
Desconhecia que havia um Dia Mundial do Orgasmo. Soube-o a propósito da data de hoje na wikipedia. É uma data como qualquer outra, neste tempo em que se está de haver um dia especial para tudo. Pesquisei e encontrei um artigo na edição online de Isto é – Gente, datado de Agosto de 2003, assinado por Carmita Abdo. A ideia terá surgido em Inglaterra em 1999 a partir de redes de sex-shops, que terão concluído que “80% das mulheres inglesas não atingem o clímax em suas relações”. O artigo de Abdo, psiquiatra e professora da Universidade de São Paulo, abre, dizendo que esta data “tem o objectivo de manter acesa a discussão sobre a libido e as disfunções sexuais que afectam pessoas em todo o mundo”. Podem ser invocadas mil razões, mas… não será este um “dia” publicitário?
Descobri depois que há “sítios” que indicam uma data de Dezembro, bem próxima do Natal, para Dia Mundial do Orgasmo. E, num blogue brasileiro, era dito, em Maio de 2005, que “uma pesquisa com 80 mulheres entre 14 e 51 anos na cidade de Esperantina, no Piauí revelou que 71,25% das esperantinenses nunca atingiram o orgasmo. Considerando a gravidade da situação, os vereadores instituíram o dia 09 de Maio, o Dia do Orgasmo, tornando-se assim, a única cidade do mundo a celebrar esse evento.” Bom, a verdade é que, afinal, não há dia certo e combinado para o orgasmo. Mas isso já a gente sabia…

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Minudências (26)

E depois das massagens?
«Marinha proíbe massagens nas praias algarvias pois 'todos sabem como começam mas ninguém sabe como acabam'». A notícia é do Público de hoje, que continua: «Qualquer gesto que possa ser interpretado como uma "situação mais íntima" nas praias algarvias está proibido, por ordem do Comando Marítimo do Sul (CMS). Pedir ajuda para espalhar protector solar nas costas, ainda vá que não vá, mas se o movimento deslizar para uma prática que possa ser interpretada como massagem, a Polícia Marítima avança para aplicar uma coima, não vá algum turista queixar-se de atentado ao pudor.» Tudo terá a ver com a massagem enquanto prestação de serviços…. Mas não deixa de ser preocupante. Como é que num país com febre regulamentadora as massagens tinham ficado de lado? Ainda bem que há uns puristas dos costumes que olham para esta coisas com olhos de poder!!! Não sei se percebi, mas... o problema não é com as massagens, é com o que pode vir depois, não é? Ah, o depois...
Daqui a 50 anos alguém terá que explicar estes pruridos. Ocorre-me agora uma citação do Mário Zambujal no seu último romance - Já não se escrevem cartas de amor (Lisboa: A Esfera dos Livros, 2008): a história passa-se na Lisboa dos anos 50 do século passado e o narrador relembra o prazer dos chás dançantes de final de tarde, logo acrescentando (para os leitores mais novos, evidentemente) que "quem não viveu essa época, ignora que apalpar a namorada na rua ou dar beijos glutões na boquinha dela era caso de polícia, por atentado ao pudor e à moralidade pública". Daqui a meio século, alguém terá de escrever coisa semelhante sobre o verão de 2008 nas praias do Algarve...

Minudências (25)

Notas & notas (II)
«A média da segunda fase do exame nacional de Matemática A do 12º ano não atingiu os nove valores, registando um resultado pior que o do ano passado (9,3) e contrariando, assim, a tendência positiva da primeira época em que a média foi de 12,5 valores – a melhor dos últimos anos.» O texto é do Público, mas a notícia já começou a ser divulgada ontem. Questiono-me quanto à validade dos argumentos usados pela tutela do Ministério da Educação para explicar a subida dos resultados em Matemática na 1ª fase, quando dizia que esses bons resultados se deviam ao "efeito combinado de três factores": "mais tempo de trabalho e estudo por parte dos alunos acompanhado pelos professores no âmbito do Plano de Acção para a Matemática", "provas de exame correctamente elaboradas, sem erros e com mais tempo de realização" e um "maior alinhamento entre o exame, o programa e o trabalho desenvolvido pelos professores". Aqui temos como as notas dos exames do Ensino Secundário podem ser transformadas num hino de propaganda. Aqui temos como é utópico, por exemplo, avaliar um professor tomando como uma referência o desvio entre as notas que o professor atribuiu e as que os seus alunos obtiveram no exame nacional. Quem garante que as provas de exame são melhores referências do que as provas feitas ao longo de um ano lectivo? Quem garante que os alunos que vão à 1ª fase são melhores do que os que vão à 2ª fase? A análise dos resultados dos alunos não pode resultar de uma precipitação de conveniência temporal, tem que ser estudada e pensada. Só assim terá interesse para melhorar processos e resultados. O resto…

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Minudências (24)

Notas & Notas
Os resultados dos exames do Ensino Secundário e do Ensino Básico, sobretudo os da disciplina de Matemática (mas também outros), têm alimentado uma discussão um tanto pacóvia e bem à portuguesa. Se os resultados tivessem sido maus (de preferência pior do que os do ano anterior), seria feito o gosto aos catastrofistas, que desancariam a escola, as condições, o Governo e mais mil e uma coisas; como os resultados foram melhores em termos globais, os catastrofistas alimentam a própria catástrofe, duvidando dos resultados, e o Governo explica que o êxito se deveu ao trabalho dos professores e dos alunos e a programas implementados.
Reconheço que o grau de dificuldade de algumas provas foi mais baixo do que em anos anteriores; os próprios alunos o notaram. Reconheço que este quase louvor ao trabalho dos professores é algo estranho, sobretudo depois de toda a ideia que o poder ajudou a criar sobre o trabalho dos professores até há uns meses atrás (pessoalmente, não me agrada este trajecto entre a desconfiança e a confiança tão subitamente implementado). Mas também reconheço que partir dos resultados deste ano para atirar foguetes ou para exagerar nas tintas do facilitismo... não passa de exageros e daquele opinar da mesma maneira sobre tudo e especialmente sobre educação, em que alguns teimam que está tudo cada vez pior.
É fácil fazer demagogia com a educação, seja ela a favor do poder ou contra o poder. É fácil, reconheço. Temo-lo visto. O futuro dirá se houve acasos ou propósitos. Mas também seria necessário que os que se assumem como duvidosos e os que se apresentam como certos e defensores dos métodos se situassem um pouco mais próximos da virtude...

quinta-feira, 20 de março de 2008

Minudências (23)

E que tal um "choque anímico"?
Quando, na última edição de "Quadratura do Círculo", Jorge Coelho considerou o comício do Partido Socialista no Porto como um "suplemento de alma" para os militantes que lá acorreram, ficou a certeza de que a festa partidária é uma manifestação de uma outra religião, com regras e sermonário a preceito, circulando entre uma espiritualidade de facções. A dita "alma" tem, assim, cor. E tem partido. Desenganem-se os que pensavam que a alma era algo mais elevado, que fazia mover a vida e o mundo... Afinal, ela está ali, na esquina das nossas passagens; o que é preciso é um "suplemento" de quando em vez, assim como quem dá uma dose vitamínica para mais uns tempos, talvez um "choque de alma" (um "choque anímico"), porque a tecnologia ainda não encontrou espaço para a dita... Ah, o poder das metáforas!

sábado, 8 de março de 2008

Minudências (22)

Uns... e os outros (ou desfocagens)
Lusa, 11h12 - «Ontem à noite, em Chaves, Augusto Santos Silva acusa professores manifestantes de não distinguirem "entre Salazar e os democratas" - O ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva acusou, ontem à noite, em Chaves, à entrada para uma reunião sobre os três anos de Governo, os manifestantes de estarem a levar a cabo uma intimidação anti-democrática e atribuiu o combate pela liberdade apenas a "históricos" do PS. O ministro acusou ainda os manifestantes de "nem sequer saberem distinguir entre Salazar e os democratas" e de nem terem "lutado contra o fascismo"."A liberdade é algo que o País deve a Mário Soares, a Salgado Zenha, a Manuel Alegre... Não deve a Álvaro Cunhal nem a Mário Nogueira" (...).»

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Minudências (21)

O espectáculo
O ano a acabar e a polémica em torno da futura presidência de um banco a atingir as raias do insustentável! Tudo o que se tem passado à volta da “crise” BCP parece ter marcas de telenovela associadas. Agora, foram os partidos e o curioso é que tanto o PS como o PSD, que dizem que o outro está a querer ocupar politicamente o banco, não conseguem conter-se num olhar guloso para esta intriga (oiçam-se as declarações de parte a parte e veja-se o artifício de argumentos e o esforçado “politicamente correcto” para uma boa imagem própria…). E, depois, Berardo, que não teve pejo em atirar o rótulo de “reformados” para cima de uns candidatos ao lugar, como se ser “reformado” fosse ser “inválido” ou fosse castigo ou fosse crime (tanto mais grave quanto o Comendador tem a mesma idade da figura que ele quis como alvo, Miguel Cadilhe)! De facto, ou a imprensa dá importância demasiada a isto (e não quero culpá-la) ou tudo isto é argumento telenoveleiro do pior, pondo um país no nível do caricato. A acabar, em caricatura, um ano que também proporcionou essa arte! O espectáculo tem que continuar, pois.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Minudências (20)

Os "habitués"
A crónica de opinião de Vasco Pulido Valente que saiu no Público de hoje é um bom, caricato e sintético retrato dos (gastos) políticos que nos representam, logo a começar pelo título – “Homens do ano e de anteontem”. A gente lê e não pode deixar de concordar com os flashes, ainda que lamentando que a situação seja esta:
José Sócrates – “Nunca ninguém como ele acumulou, em democracia, tanto poder: no partido, no Estado, no país”;
Marques Mendes – “Perdeu o partido, por causa de uma intriga menor”;
Filipe Menezes – “Desorientado, aflito, extravagante, avança, recua, guina para a esquerda ou para a direita, ou simplesmente para uma ideia de momento, absurda e supérflua”;
Santana Lopes – “mete medo ao português mais morno”;
Paulo Portas – “juntou nele toda a perversidade indígena”;
Francisco Louçã – “Sem ideologia, sem doutrina, sem causas”;
Jerónimo de Sousa – “O PC continua, como sempre, a ser o PC. Jerónimo também”;
António Costa – “saiu limpamente da alçada de Sócrates. A Câmara de Lisboa é um bom lugar para um exílio provisório”.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Minudências (19)

Natal em rosa
Não ouvi a mensagem de Natal do Primeiro-Ministro pela televisão; limitei-me a lê-la na versão disponível no Portal do Governo. O discurso começou com um apelo ao sentimento familiar. É óbvio que o que jogou foi a colagem à quadra para associar a ideia vertiginosamente rápida que logo se grudou à da família: todos conseguiram fazer “do ano de 2007 um ano de recuperação e um ano de resultados positivos para o País”. E, assim, estava escancarada a porta para o trabalho que a governação levou a cabo: contas públicas “finalmente controladas”, economia “consistente” e “bem preparada” para o global, fim do “alto risco na segurança social”, ultrapassagem do problema do “défice das qualificações”, reforçado prestígio internacional (para que foram gastos dois parágrafos de loas à presidência europeia de Portugal, equivalendo a quase 20% do texto da mensagem), a “nova geração de políticas sociais” (apoio aos idosos, aos jovens casais, à natalidade). Para o futuro ficou anunciada a competitividade e uma dose de solidariedade, assim como ficou em aberto o problema do desemprego, “problema social que mais preocupa” o Primeiro-Ministro, cuja taxa não se reduziu mas que se conteve.
O Primeiro-Ministro já fez discursos de campanha melhores. Este foi pobre, talhado para cumprir o hábito, com as ideias que foram repetidas ao longo do ano, um ano que foi difícil para todos, ao mesmo tempo que a festa europeia brilhava. E, sobretudo, pintou o País e a vida dos portugueses com os tons róseos da maioria que governa, um pouco em jeito de quem quer ver no espelho a imagem que quer talhar. No entanto, a vida não foi assim tão cor-de-rosa ao longo deste ano, como se sabe! É que vemos, ouvimos e lemos… conhecemos e sentimos!

sábado, 15 de dezembro de 2007

Minudências (18)

Gerir a Escola
No Diário de Notícias de hoje, João Miranda escreve sobre a “autogestão escolar”, num arrazoado que se baseia nestas ideias:
1) “As escolas secundárias recebem dinheiro dos impostos para prestar um serviço ao público em geral.” – É a pura das verdades. Isto acontece com as escolas públicas como com milhentos outros serviços públicos, como se sabe.
2) “Um contribuinte que queira influenciar directamente uma escola, por exemplo, aquela que o seu filho frequenta, não tem meios para o fazer.” – Alguma luz parece fazer-se: a questão é “influenciar”.
3) “Em vez de serem os contribuintes a dizer como é que o serviço deve ser prestado, são os professores que através dos sindicatos conseguem influenciar as políticas do ministério e que através das eleições internas decidem quem deve mandar nas escolas.” – Uma falácia, porque os professores não conseguem influenciar (imagino que nem querem fazê-lo) as políticas do Ministério, como se sabe.
4) “Os contribuintes não estarão representados.” – De facto, os contribuintes não estão representados nas escolas.
Se o primeiro e o quarto pontos são pacíficos, já os outros o não são. Porque os cidadãos, a sociedade, os pais devem estar com a escola, ajudar a que ela seja e não a tentar influenciá-la. A escola não pode ser uma questão de poderes; tem que ser um espaço de aprendizagens, de educação, de saber, de formação, universo para que todos devemos contribuir e onde podemos estar, assim o queiramos sem ser a troco de poder.
Os contribuintes (serão os que pagam impostos?) não vão dizer a todos os outros serviços públicos o que ou como devem fazer. Provavelmente sugerem. Falar assim em nome dos contribuintes é uma forma de demagogia, porque quem trabalha nas escolas também é contribuinte e, como se sabe, não há contribuintes de primeira ou de segunda. Por outro lado, quantos pais há que não são contribuintes (pagadores de impostos) porque não têm rendimentos para tal? Imagina-se que estes não poderiam ter uma palavra a dizer…
Não sei se devem ser professores ou outros a ter o cargo de dirigir a escola pública. Sei que a gestão de uma escola passa também pela parte pedagógica, nisso se diferenciando de outras gestões. Sei também que as questões do compromisso e da responsabilidade deveriam ser tónicas na gestão e não são.
Quanto às participações na escola, de repente, parece já não serem as estruturas onde os pais e a sociedade estão representados que interessam; é o mandar na escola, “influenciá-la”, assim se fazendo tábua rasa de todas as Associações de Pais, dos Conselhos Municipais de Educação e de outras estruturas que com a escola trabalham.
Continua-se, pois, a discutir o domínio das influências, não se elas devem ou não existir, mas quem é que deve influenciar. É gestão isto?

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Minudências (17)

Semáforos ambulantes
Subitamente, descobre-se que é necessário marcar os condutores que transitam ao nosso lado, numa paranóia de evidenciar, publicamente e à ganância, os estatutos dos outros. Assim, há quem proponha ao Ministério da Administração Interna (veio nos jornais de hoje) as tradicionais cores do verde-amarelo-vermelho para assinalar condutores quanto à periculosidade que eles representam, numa escala de risco baixo-médio-máximo, respectivamente. Sabemos que nem todos somos iguais; sabemos que a nosssa forma de conduzir depende de variadíssimas circunstâncias, mesmo pessoais; sabemos que nos cruzamos com muitos outros que só nos interessam na medida em que são pessoas, mas cujas vidas e personalidades pouco ou nada nos dizem; sabemos imensas coisas que, muitas vezes, praticamos de forma contrária, por insuficiência momentânea, por lapso, por reacções inesperadas por parte dos outros. Mas sabemos também que há a condução preventiva que nos aconselha o cuidado. E, apesar de sabermos tudo, por falha nossa, por falha mecânica ou por outras adversas condições, podemos estar sujeitos a ser causadores de acidente.
O que tem tudo isto a ver com esta necessidade pelintra de olhar para os lados para sabermos de que condutores estamos rodeados? Não será isto um pouco da paranóia de termos que classificar tudo e todos, nos mais pequenos gestos, numa linha de condenação ou juízo antecipado, sabendo mesmo que as garantias são mínimas porque um acidente pode acontecer aqui, ali, ao virar a esquina? Vamos fazer da condução um concurso ou um campeonato ao disticozinho verde? E, já agora, porque não há mais originalidade e é sugerida a aplicação de outras cores mais divertidas e menos monótonas? Se esta medida for para a frente, será interessante ver os automobilistas à procura da cor do dístico dos seus comparsas (que divertido e original para a condução!) e mais um tema de conversa ganharão os portugueses - "qual dístico te atribuíram?", "a mim, tramaram-me por causa de uma coisa sem importância", "vou fazer-me ao verde, bolas!" e outras coisas assim. E, nos agregados em que haja dois carros, pode ainda haver o sorteio (vamos no teu dístico ou no meu?") ou, no caso de diferentes tomadores de seguros e de diferentes dísticos, poder-se-á ainda combinar a cor com o tempo ou com o humor de quem vai conduzir... De facto, em Portugal, sempre tem havido a tentação do rótulo por tudo e por nada e para todos e o automóvel, então, tem sido o bombo na festa - eram as famosas matrículas com a letra K (lembram-se?) para assinalar que o carro viera da estranja, são os dísticos bem visíveis do GPL como combustível alternativo, é a exposição da seguradora a que estamos ligados, é a indicação do stand que vendeu ou que repara a viatura, foi o "ovo estrelado" dos 90 para os recém-encartados (recordam-se?)... Tanta curiosidade e tanta exposição pública não serão excessos? E qual é a relação entre a denúncia pública do risco e a prevenção dos acidentes? Desatamos todos a fugir quando virmos um dístico vermelho ao nosso lado? [foto a partir de Vivat Academia, Universidad de Alcalá, nº 40, Nov.2002]

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Minudências (16)

São faltas, senhores!
No Público de hoje: «Estatuto do aluno: PS recua e passa a admitir reprovação por excesso de faltas - O PS decidiu reabrir ontem a discussão em torno de um dos pontos mais polémicos do novo Estatuto do Aluno do Ensino Básico e Secundário, propondo "medidas correctivas" para os alunos que faltam, que podem passar pela retenção (na escolaridade obrigatória) e exclusão da frequência de disciplinas (para os casos do ensino secundário). Com o argumento de que estava a haver uma cortina de fumo para confundir a opinião pública, os socialistas, num inesperado volte-face, apresentaram, ontem, a meio da reunião da Comissão Parlamentar de Educação, a proposta de alteração à redacção do polémico artigo 22º, que estabelecia a realização de uma prova de recuperação para os alunos que excedessem o limite de faltas, independentemente de serem justificadas ou não. Sem quaisquer outras consequências.» O que há poucos dias era uma grande revolução passou a não ser. Que fazer aos argumentos que defendiam o contrário disto, apresentados nos mesmos sítios da política? Travesti-los para servirem para agora? Demonstram estes ziguezagues que há coerência, reflexão e prevenção?

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Minudências (15)

Rankings para que vos quero...
No Público de hoje: «A ministra da Educação afirmou que os rankings não são da responsabilidade do seu ministério, mas sim dos órgãos de comunicação social que consideram que esse trabalho é útil. "O ranking não é a forma correcta de avaliar as escolas, que são realidades muito mais complexas e exigentes do que a média das disciplinas", considerou. Segundo a ministra, os rankings são feitos a partir do Programa de Avaliação Externa das Escolas, que é um documento público. "A nossa responsabilidade no ranking é nenhuma", frisou.»
De facto, a “rankinguização” tem sido um processo em tudo semelhante àquelas febres noticiosas com data marcada, numa busca de repetidos acontecimentos, de análises iterativas e de luta que inferioriza a escola pública. Alguns peregrinos têm insistentemente dado a cara por essa onda do ranking, só eles sabendo o que os move… e pretendendo fazer passar a ideia de que o ranking que surge nesta altura do ano deveria ser factor a considerar na escolha da escola para os jovens. O que está aqui em jogo?
Fez bem a Ministra da Educação em explicar esta questão do ranking. Mas a verdade é que, nos anos anteriores, o Ministério não se tem pronunciado nestes termos, descolando-se dos rankings. E podia tê-lo feito. Mesmo para bem do ambiente nas escolas!...

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Minudências (14)

Visitas de estudo na Escola são novidade?
Há dias, uma colega professora andava na Sala de Professores a abordar outros colegas no sentido de obter alguns interessados em acompanhar várias turmas numa saída para visita a uma exposição, com objectivos enquadrados na leccionação. Com algum custo, lá conseguiu o número de docentes necessários para acompanhar as turmas envolvidas. Ao presenciar esta tarefa de “recrutamento”, ainda que através de convite ou de pedido, de professores para acompanhar uma visita de estudo, lembrei-me do que outro colega me dissera há uns tempos: “Eu promover uma visita de estudo?! Não, senhor. A propósito das matérias, digo aos alunos o que há para ver aqui ou ali e recomendo-lhes que convençam os pais a partirem nessa descoberta. Agora, eu… ir acompanhar os alunos no exterior, preparar essa saída, ter de deixar planos de aula para os meus alunos de outras turmas que cá ficam e, nalguns casos, ter de compensar as aulas… Não!”
As duas situações brevemente apresentadas são reais e poderão ter lugar em muitas escolas. Foi o que se arranjou depois de ter sido passada a ideia de que os professores eram seres para estarem dentro das escolas, com normativos e ditos a preceito.
Sempre organizei e participei em visitas de estudo, mas as condições que têm sido impostas desmotivam a sua organização. Tenho experiências interessantes nas visitas, mesmo porque já me confrontei várias vezes com alunos que, a não serem aquelas saídas, só conheciam o caminho de casa para a escola e vice-versa, nem conhecendo a cidade que fica a pouco mais de 30 quilómetros. Tem-se procurado assim levar os alunos aos museus, à paisagem, ao mundo que se estuda. Mas as dificuldades mostram-se, não por parte de cada escola, mas por parte das normas que superiormente vão chegando. Daí que compreenda muito bem o que subjaz a cada uma das posições que comecei por relatar.
Mas… parece que tudo vai ficar resolvido. No início da tarde, a edição na net do Público, anunciava que o “Governo quer estimular visitas de estudo a espaços culturais próximos das escolas”, tal como defendeu a Ministra da Educação na abertura da Conferência Nacional de Educação Artística. Segundo a Ministra, as visitas de estudo a museus e espaços culturais próximos "é uma prática que muitas escolas já adoptaram” e que “importa generalizar". E continua a notícia: «A ministra da Educação entende que essa é uma prática que depende sobretudo da organização da escola. "O Governo pode apontar esse objectivo ou essa meta e dar as condições para que se atinjam, mas temos de respeitar a autonomia das escolas na organização das suas actividades pedagógicas é isso que faremos, ou seja, estimularemos as escolas para que cumpram esse objectivo", frisou.»
Mas… haverá aqui alguma novidade? Por vezes, fico surpreendido com algumas declarações de responsáveis por darem a entender que o mundo só começa a sua rota quando esses responsáveis chegam aos lugares. Há já literatura qb sobre as visitas de estudo, há muita prática de visitas de estudo nas escolas, há roteiros e propostas para visitas de estudo, há trabalho dos professores envolvido na organização das visitas de estudo… Então qual a novidade agora apresentada? Ou a notícia não diz ou não é nenhuma…

sábado, 27 de outubro de 2007

Minudências (13)

Europa
Conta o Público, na edição on line: «O primeiro-ministro, José Sócrates, afirmou hoje que as duas formas de ratificação do novo tratado da União Europeia (UE), pelo Parlamento ou por referendo, são legítimas, acrescentando que ambas estão em cima da mesa. "A ratificação pelo Parlamento é tão válida quanto a ratificação por referendo", afirmou José Sócrates aos jornalistas, no final do Fórum Novas Fronteiras, no Centro Cultural de Belém."Como não dissemos como vamos fazer, naturalmente as duas possibilidades estão em cima da mesa", disse também o primeiro-ministro, reiterando que, "depois de assinado o tratado, no dia 13 de Dezembro, o Governo tornará pública a sua opção, a sua vontade".»
Obviamente, o Primeiro-Ministro pode dizer o que pensa. Mas a questão não é a da legitimidade do Parlamento ou do referendo; a questão é a necessidade de os Portugueses, tal como os outros europeus, saberem que linhas cosem o Tratado, conhecimento que não deve ser limitado aos deputados. E, já agora, que consequências - boas ou más - podem advir da aceitação do mesmo texto normativo. E ainda e por outro lado: nem sempre a representatividade parlamentar pensa como os cidadãos, antes age como os partidos querem. E mais: interessará aos políticos europeus que os povos se aproximem desta ideia de Europa que tem andado a ser trabalhada? É também por tudo isto que o referendo faz sentido. Como deverá fazer sentido os políticos trabalharem o Tratado para dele darem o conhecimento necessário (e democrático) aos cidadãos que pagam e suportam esse mesmo Tratado.

Minudências (12)

O futuro das faltas
Pensando bem, esta celeuma das faltas dos alunos na Escola, ao perderem a sua diferenciação entre "justificadas" e "injustificadas" e ao ganharem um efeito "inclusivo" - alguém disse, já não sei quem, a propósito desta medida, que a Escola provava assim que estava de portas abertas para receber os alunos... talvez numa alusão à parábola do filho pródigo -, pode ser o prognóstico de outros tempos. Não sei bem quando, mas talvez o pessoal que trabalha venha a ter consagrado no "Código de Trabalho" ou no "Estatuto" próprio que pode faltar sem consequências de maior, porque qualquer dia compensará (nem que seja na reforma), uma vez que a Empresa ou o Serviço pretenderão implementar uma cultura de "braços abertos" e de "inclusão" do funcionário ou do trabalhador no seio da organização.
Sou professor, mas também sou pai e encarregado de educação. Lamento que esta neutralização do não cumprimento da assiduidade - que pode descambar no laxismo e na desresponsabilização crescente do aluno relativamente à Escola - possa fazer corrente. Desgostar-me-ia que os meus alunos (e também os meus filhos) viessem (ou venham) a acreditar que esta medida reflecte a realidade do mundo.