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domingo, 27 de maio de 2012

Depois do prémio que Horácio deu...


Há poucas horas, a TVI apresentou curta reportagem a propósito do aluno português, António Gil, estudante na Escola Secundária Rodrigues de Freitas, que, em Itália, ganhou o concurso internacional “Certamen Horatianum”, que ocorreu em Venosa, terra natal do poeta Horácio. Interessante a sensibilidade e a humildade do jovem vencedor! Interessante a forma como ele, na reportagem, transformou o latim em língua falada, saudando e apresentando-se aos telespectadores! Jovem a felicitar, sem dúvida, sobretudo num país que se encarregou de abandonar o estudo do latim e de dar ao estudo das humanidades o pouco interesse que neste momento existe.
Justamente por estas razões é que fiquei triste com o desabafo do jovem no final da conversa: já tinha recebido felicitações de muita gente, mas do Ministério da Educação… não! Que dizer? Haverá provavelmente boas razões para que tal (não) tenha acontecido, mas aposto que se o latim se escrevesse com os pezinhos, se desse golos e tivesse gente da que aparece todos os dias a dizer coisas por vezes certas e por vezes duvidosas, se aprender latim fosse um jogo (fosse do que fosse)… não faltariam parabenizações e longas entrevistas e reportagens a propósito. Como terá registado Horácio, o patrono do concurso: “Quem não souber viver com pouco será sempre um escravo”. Ou, melhor ainda: “Nada é feliz sob todos os aspectos.”
Parabéns ao António Gil! E aos seus professores também!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Discurso de abertura do ano lectivo - II

o ouvi ontem à tarde. Não, não vou comentar.

Discurso de abertura do ano lectivo

Na aula, falou-se sobre o discurso de abertura do ano lectivo de Barack Obama, de Setembro de 2009. E saltou a pertinência das análises de um 9º ano: “gostei da ideia das segundas oportunidades”; “fala dos nossos deveres de estudantes perante a sociedade e perante os outros”; “compromete-nos”; "foi interessante ter falado da sua experiência como aluno".
Antes de a aula acabar, um perguntou: “porque é que não temos cá um político que nos fale assim?”

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Entre o copianço e a ética

De vez em quando surgem as notícias sobre o plágio ou sobre o "copianço" e, por vezes, a explicação para tais casos - um texto que estava no computador, a sobreposição com as fontes, etc. Há bem pouco tempo, foi o caso de uma tese de doutoramento que terá sido decalcada a partir de uma outra defendida no estrangeiro; há dias, um investigador debruçava-se sobre o acto de copiar, puxando o assunto para trabalho académico e apresentando resultados avassaladores; há uns anos, foi o caso de uma colunista que, num artigo para uma revista, inseriu, sem indicar a proveniência, parte de um texto de outro autor publicado no estrangeiro... No quotidiano, na escola, vamos assistindo ao confronto entre o copianço e a seriedade, nem sempre saindo a última como vencedora. A net tem dado uma ajudinha nesta tentação, mas também tem servido para pôr a descoberto as quedas... Na última edição do Correio da Educação (da editorial ASA), o seu director, J. Esteves Rei, docente universitário, aborda o assunto de uma forma que merece a nossa atenção. De lá transcrevo.

«(…) É estranho que os alunos cheguem às universidades sem conhecerem claramente a dimensão ética da aprendizagem ou a relação entre o aprendente e aprendizado, tal como entre a fonte e a recepção da informação e do conhecimento.
Olhada a situação do lado do docente, também se estranha que, à primeira falta de clareza dessa relação, o professor não alerte o aluno dessa falha ética, apontando-lhe os riscos que corre perante a lei.
Do lado dos princípios, há que considerar os pressupostos e as grandes linhas de acção. Entre os primeiros, tenhamos presente que não há comportamento humano, individual ou colectivo, sem uma dimensão ética a envolvê-lo. Daqui decorre que cada indivíduo deverá identificar os princípios lógicos ou a razão ética, subjacentes às suas decisões, condutas ou comportamentos.
Na constituição desse conjunto de princípios há quem tome como ideia central o dever, ou o uso da razão, que no momento de agir se transforma em dever moral. As dificuldades na aceitação desta perspectiva nascem da impossibilidade de hierarquizar princípios quando surge o conflito entre dois deveres. Exige-se, então, ao indivíduo que saiba ponderar a importância de optar por um ou pelo outro.
Há, porém, quem escolha os princípios em função da utilidade das acções, em ordem a satisfazer o bem-estar dos agentes envolvidos e da sociedade, hoje ou no futuro. Neste caso, as reservas perante um princípio advêm da dificuldade em quantificar os riscos, danos e prejuízos, ao determinar a sua aceitação ou rejeição.
Como princípios gerais de uma ética aplicável a estudantes e professores, destacam-se os seguintes. A exigência de formação humana, intelectual e profissional deve ser timbre de qualquer escola, confrontando com ela o jovem, de qualquer idade. Por outro lado, não é possível crescer e agir humanamente sem pautar a sua vida por valores, assumidos pelo próprio e reconhecidos pela sociedade.
Num segundo patamar, situa-se a responsabilidade de aprender, pelo aluno e pela escola. Sem ela, não existem, nem esta nem aquele. A escola foi sempre uma zona franca para o espírito, um lugar amigável de encontro e descoberta do saber. Mas para isso exigem-se tolerância, abertura de espírito e respeito perante as dúvidas, as diferentes apreciações, os interesses e os ritmos de aprendizagem do outro, cujos limites se situam no dogmatismo, parcialidade, violência e falso consenso.
Por último, é indispensável a liberdade de opinião, método e pensamento. Tal atitude, a valorizar pedagogicamente, é propiciadora de soluções positivas para a resolução da maior parte dos problemas da sociedade. Todavia, a sua plena actualização tem como verso de medalha a solidariedade perante o outro e as regras aceites e sempre em reavaliação.»
J. Esteves Rei. “Quando copiar é uma fraude - Ética no ensino e na aprendizagem”. Correio da Educação. ASA: 17.Junho.2010.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Exames: Três em cada quatro alunos copiam na universidade

Este texto, que pode ser lido no Diário Digital de hoje, só surpreenderá os incautos ou quem viva num mundo tão virtual que não tenha qualquer semelhança com aquele em que vivemos. E quem diz "copianço" pode ainda dizer outras situações de favor para serem obtidos resultados positivos nos estudos, ainda que ambos comunguem da mesma característica - a fraude.
O que espanta é o ar de que tudo isto é normal. Aliás, na continuação da peça, é dito que os alunos não reconhecem o "copianço" como acto ilícito...
Há dias, tive uma prova disso: quando uma aluna tentava obter uma resposta para o teste, perguntando a solução a uma amiga, chamei-lhe a atenção. No final, veio falar comigo, dizendo: "Ó professor, vou ser sincera consigo. Só copiei a resposta X... Pode perguntar a Y..." Apenas comentei: "Porque queres ser sincera se já mentiste, pondo como tua uma resposta que não te pertence?" Ficou a olhar, embasbacada, porque nunca tinha pensado nisso... e eu fiquei a pensar que a sua prática irá continuar!...

sábado, 10 de outubro de 2009

A República na minha Escola

Alunos da turma D de 12º ano da minha escola, orientados pela professora de História, apresentaram ontem à comunidade uma sessão sobre os 99 anos da República. Foram cerca de 60 minutos de evocação, de saber, de divulgação, de criatividade, de trabalho, de arte. Por ali passou o esforço de investigação sobre personagens ligadas à implantação da República; por ali passou a evocação do primeiro Presidente da República; por ali passou a poesia vinda das palavras de Antero de Quental, de Miguel Torga e de Manuel Alegre; por ali passou a música que interpretou e recriou "A Portuguesa" (que emocionou muitos dos presentes); por ali passou a generosidade de um grupo de alunos que fez encher um auditório para mostrar resultados do seu trabalho. Foi simpático, instrutivo, bonito e útil.
Não podia deixar de registar esta forma de, através do trabalho dos / com os alunos, a nossa contemporaneidade e o nosso passado serem vividos na Escola. Momento alto no (quase) início do ano lectivo, pois!

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Intervalo (16) - O professor está sempre errado

É jovem, não tem experiência.
É velho, está superado.
Não tem automóvel, é um pobre coitado.
Tem automóvel, chora de “barriga cheia".
Fala em voz alta, vive gritando.
Fala em tom normal, ninguém escuta.
Não falta ao colégio, é um "caxias".
Precisa faltar, é um "turista".
Conversa com os outros professores, está "malhando" os alunos.
Não conversa, é um desligado.
Dá muita matéria, não tem dó do aluno.
Dá pouca matéria, não prepara os alunos.
Brinca com a turma, é metido a engraçado.
Não brinca com a turma, é um chato.
Chama a atenção, é um grosso.
Não chama a atenção, não sabe se impor.
A prova é longa, não dá tempo.
A prova é curta, tira as chances do aluno.
Escreve muito, não explica.
Explica muito, o caderno não tem nada.
Fala corretamente, ninguém entende.
Fala a "língua" do aluno, não tem vocabulário.
Exige, é rude.
Elogia, é debochado.
O aluno é reprovado, é perseguição.
O aluno é aprovado, deu "mole".
É, o professor está sempre errado,
mas, se conseguiu ler até aqui, agradeça a ele.
(fonte - Revista do Professor de Matemática, nº 36,1998.)

O texto foi-me enviado hoje por pessoa amiga. Mas ele já circula há muito pela net, seja em blogues ou em sítios. Desconheço a autoria e a versão que recebi indica um número da Revista do Professor de Matemática como fonte da edição.
Achei oportuna a publicação, graças à fase do ano lectivo em que estamos. Num final em que valeria a pena pensar o que de bom aconteceu e teve influência. O que se conseguir descobrir talhará a proporção das coisas boas...

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Tróia através da memória

As turmas A, B, C e D de 9º ano da Escola Secundária D. João II, em Setúbal, fizeram entrevistas para saber como foram vividos pelos setubalenses os verões na Tróia no período entre 1950 e 1974. Dessa procura, feita no âmbito da disciplina de História, resultou o livro agora publicado Quando a Tróia era do Povo (Setúbal: Escola Secundária D. João II, 2009), que tem coordenação de uma equipa de professores constituída por Jaime Pinho, Maria José Simas, Alberto Lopes, Isabel Duarte, Luísa Ramos e Álvaro Arranja.
O título atribuído à colectânea divide o tempo da Tróia em dois segmentos: aquele em que “a Tróia era do povo”, passado, popular, bem evidenciado no título e, pela adesão, comprovado nos testemunhos recolhidos e publicados, e um tempo de agora, não referido mas sugerido, em que, supostamente, a Tróia não será “do povo”. Fica, pois, uma sensação de perda de um espaço e de um tempo, vivo na memória e materializado na escrita.
Ao longo da cerca de uma centena de páginas, passam testemunhos sobre a paisagem (dunas, flora, fauna, casas), sobre os quotidianos (vendedores ambulantes, convívio, vestuário, dormidas, higiene, alimentação), sobre retratos sociais (dos habitantes de Setúbal, Azeitão, Palmela e Pinhal Novo ao primeiro turismo). Pelos testemunhos mostrados passa um rememorar o vivido, encarado de um ponto de vista pessoal, em jeito de lembrança de outros tempos que eram diferentes dos de agora.
Um último capítulo aborda algumas páginas do periódico O Setubalense que noticiaram o veraneio em Tróia na mesma época. Não sendo um texto de análise, pretende, de alguma forma fazer a junção entre o título do livro e os testemunhos que foram recolhidos e não será por acaso que essa recolha na imprensa conclui com o gesto de Américo Tomás, Presidente da República, a intensificar “as suas visitas e o seu apoio aos projectos de urbanização da Tróia”. Esta conclusão liga-se, de resto, à ideia com que Jaime Pinho inicia o seu texto de abertura – “Os verões na Tróia: antes da era do betão”.
É uma recolha interessante pelo que nos traz como trabalho de memória, revelador dessa forte ligação das populações ao rio, ao mar e a Tróia, uma ligação que quase prolonga Setúbal para lá do Sado. É uma recolha interessante pela capacidade de levar as pessoas a testemunharem o vivido e por ter saído de um trabalho organizado pela escola, levando os jovens a mergulhar no passado que é a história de famílias e que marcou a identidade desta região. É uma recolha interessante pelo que pode sugerir de interligação entre a Escola e a comunidade. Provavelmente, a leitura sugerida a partir do título do livro e do texto introdutório são um tanto forçadas, na medida em que, podendo ser verdade o que sugerem, o conteúdo das intervenções e dos testemunhos não o sustenta…

terça-feira, 28 de abril de 2009

"Mágoas da escola", de Daniel Pennac

Mágoas da escola, de Daniel Pennac (Porto: Porto Editora, 2009, com edição original datada de 2007) é relato autobiográfico e memorialístico do aluno que foi, do professor que veio a ser e do escritor que é Pennac. A escola e os professores vistos pela lupa de um aluno cábula ou as reflexões sobre o(s) sentido(s) da escola constituem motivos suficientemente fortes para esta leitura. Mas há mais: lemos e somos levados a assumir o confronto ou a concordância com o aluno que fomos ou com o docente que somos. Não sei se será um livro de leitura indispensável para os professores, mas que é um livro a ser lido por quem na educação tenha interesse (pais, alunos, políticos, jornalistas, professores, entre outros)… disso não tenho dúvidas. Os relatos e as considerações pensam e retratam, quais espelhos, pistas para que se olhe a escola, as pessoas que a habitam, numa prática em que os métodos, os saberes, as atenções, os progressos, as reformas, as atitudes, a pedagogia e os comportamentos ganham... se houver amor. Tão simples (?) quanto isto! E, seja permitida a quase “intromissão”, Sebastião da Gama já o defendia (e praticava) há 60 anos, conforme está registado no seu Diário.
O que fica
1. “Todo o mal que se diz da escola esquece o número de crianças que salvou das taras, dos preconceitos, do desprezo, da ignorância, da estupidez, da cupidez, do imobilismo ou fatalismo das famílias.”
2. “O nascimento da delinquência está no investimento secreto de todas as faculdades da inteligência na astúcia.”
3. “Sempre encorajei os meus amigos e os meus alunos mais espertos a tornarem-se professores. Sempre pensei que a escola é feita, em primeiro lugar, de professores. Quem me salvou na escola, senão três ou quatro professores?”
4. “Ensinar (…) é recomeçar até ao nosso necessário desaparecimento como professores. Se não conseguirmos instalar os nossos alunos no presente do indicativo da nossa aula, se o nosso saber e o gosto de o levar até eles não pegarem nesses rapazes e nessas raparigas, no sentido botânico do verbo, a sua existência descambará para as fendas pantanosas de uma carência indefinida.”
5. “Um ano de escolaridade perdido: é a eternidade numa redoma.”
6. “Na sociedade em que vivemos, um adolescente instalado na convicção da sua nulidade (…) é uma presa fácil.”
7. “A presença dos meus alunos depende intimamente da minha: da minha presença na turma toda e em cada aluno em particular, da minha presença na minha disciplina, também, da minha presença física, intelectual e mental, durante o (…) que dura a aula.”
8. “Seja qual for a matéria ensinada, um professor descobre rapidamente que, para cada pergunta feita, o aluno interrogado dispõe de três respostas possíveis: a certa, a errada e a absurda. (…) Classificar [a resposta absurda] – na correcção de um teste escrito, por exemplo – é aceitar classificar seja o que for e, por conseguinte, cometer um acto pedagogicamente absurdo.”
9. “A nossa época assume deveres em prol da juventude: importa ser jovem, pensar jovem, consumir jovem, envelhecer jovem, a moda é jovem, o futebol é jovem, as rádios são jovens, as revistas são jovens, a publicidade é jovem, a televisão está cheia de jovens, a Internet é jovem, os colunáveis são jovens, os últimos baby boomers vivos souberam manter-se jovens, os nossos políticos acabaram por ter de rejuvenescer. Viva a juventude! Glória à juventude! É preciso ser jovem!”
10. “São as marcas que vos dão cabo do juízo, e não os professores! (…) Dão-vos cabo do juízo, do dinheiro, do vocabulário, e ainda do corpo, como um uniforme, transformam-vos em publicidade viva, como os manequins de plástico das lojas! (…) Se as marcas fossem medalhas, os adolescentes das nossas ruas tilintavam como generais de opereta.”
11. “Apresentar a escola como local criminogénico é, em si mesmo, um crime insensato contra a escola.”
12. “São infames aqueles que fazem da juventude mais desgraçada um objecto fantasmático de terror nacional! São a escória de uma sociedade sem honra que perdeu o próprio sentimento de paternidade.”
13. “Em vez de coleccionar e publicar as pérolas dos cábulas, que tanto divertem as salas de professores, devia escrever-se uma antologia dos bons professores. (…) Se, para além do retrato dos professores célebres, esta antologia apresentasse o retrato do inesquecível professor que quase todos nós encontrámos pelo menos uma vez durante a nossa escolaridade, talvez alguma luz nos iluminasse sobre as qualidades necessárias à prática deste estranho ofício.”
14. “Os professores passam o tempo a refugiar-se nos métodos, quando, no fundo, sabem perfeitamente que o método não basta. Falta-lhe qualquer coisa. (…) Amor.”

sexta-feira, 13 de março de 2009

Máximas em mínimas (45)

Para os cábulas (dos exames de outros tempos)...
"Ficaram no ânimo de muitos papás e de muitas mais mamãs ódios, maledicências contra os professores e o sistema de prestação de provas. Há-de suceder assim todos os anos e o drama há-de repetir-se, não sabemos durante quanto tempo ainda. É que esses papás e mamãs se esquecem de que na maioria dos casos, não é o sistema de exames que está errado, não são os professores os culpados dos fracassos do 'jovem e esperançoso rebento'. Enquanto reinar nas nossas escolas o prestígio da cábula, do copianço, do assopro; enquanto os nossos estudantes não se habituarem a, durante o ano lectivo, estudar para saber, em vez de tentarem fazer acreditar ao mestre que de facto estudaram, não há sistema de exames que contente os pais desses jovens embusteiros.
Não, senhor pai de família: quando o seu filho se gabar de que conseguiu copiar pela cábula as respostas às questões do ponto escrito, castigue-o e faça-lhe ver que isso não é digno dele nem do grupo que sauda a proeza com risos satisfeitos. Eduque-o; não deixe a educação dele ao cargo exclusivo do liceu; e verá que depois não terá motivo de queixa, nem dos mestres, nem dos examinadores do seu filho."
Aqui e Além - Revista de Divulgação Cultural. Dir.: Carlos A. Dias Ferreira. Dafundo: nº 2, Maio-Agosto.1945, pg. 80

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Marcelo Rebelo de Sousa explica aos jovens o conflito na educação

Três jovens, leitores da Forum Estudante em idade de ensino secundário, entrevistaram Marcelo Rebelo de Sousa, trabalho que teve publicação na revista de Fevereiro. A conversa abordou temas como a juventude, o estudo, a política, as Associações de Estudantes, os professores e também facetas do entrevistado. No final, os jovens entrevistadores testemunharam sobre o seu interlocutor nos seus dotes de comunicação, humor e clareza, vertentes que alunos da minha escola puderam testemunhar há cerca de um ano, quando Marcelo Rebelo de Sousa aqui esteve para falar da Europa, numa sessão que acabou por ser também sobre a vida, sobre a política, sobre o futuro, com muita pedagogia, ensinamentos e recomendações para o público. E os jovens estudantes da minha escola, população do ensino secundário, encantaram-se também com o discurso e com as recomendações feitas.
A revista está por aí disponível. A entrevista apela à responsabilidade social que os jovens também têm. E, como não podia deixar de ser, a educação foi também tema, mesmo pela origem dos entrevistadores... Quando Maria da Cunha, estudante do 12º ano do Colégio São João de Brito, perguntou qual a avaliação do papel da Ministra da Educação relativamente aos professores e aos alunos, a resposta de Marcelo Rebelo de Sousa foi: «O caso da Ministra da Educação foi um pouco surpreendente. Era uma pessoa desconhecida, não vinha do universo político, portanto uma pessoa com competência técnica interessada em resolver problemas urgentes do ensino em Portugal. A Ministra prometeu muito, avançou com algumas boas ideias. O pior é que ao lado dessas boas ideias se instalou, desde o início, uma ideia muito errada de tentar conquistar a opinião pública à custa do ataque aos professores, o que é uma coisa muito sedutora, mas muito perigosa. As pessoas aderiram, porque andavam sempre à procura de um bode expiatório e o 'bode expiatório' dos professores foi boa ideia, porque não podiam ser os pais (apesar de, em muitos casos, cada vez menos ligarem aos filhos), nem podiam ser os alunos (apesar de, nalguns casos, eles estudarem cada vez menos). A ideia de serem os professores repetida à saciedade, dramatizada e exagerada com manifesta injustiça teve várias consequências, sendo a primeira delas afastar os professores, colocando-os praticamente desde o início contra a Ministra. Os próprios pais começaram a cair em si e a achar a explicação de que a culpa era dos professores uma explicação muito simplista e que às tantas deixou de justificar tudo o que se faz e o que se deixa de fazer. O que é facto é que os alunos também se sentiram muito desmotivados pelo clima de guerrilha que se instalou nas escolas, porque a partir de certa altura o confronto não foi apenas com os professores, foi com os alunos e com uma parte dos encarregados de educação.»
Estas consequências de que fala Marcelo Rebelo de Sousa não passaram ainda, como se sabe. E teria sido importante, desde sempre, um pensamento como o que, hoje, a propósito de negociações com os enfermeiros e com os médicos, a Ministra da Saúde expressou: é que o ambiente de guerrilha não é bom para o exercício de uma profissão. Nem para o progresso do país, claro.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Alteração de critérios de avaliação em exames nacionais do 12º ano - O que se avalia?

«Exames Biologia e Geologia e Português – Alteração de critérios de correcção de exames nacionais preocupa professsores – A anunciada alteração nos critérios de correcção nas respostas fechadas de "verdadeiro/falso" nos próximos exames nacionais de Biologia e Geologia e de Português está a indignar e a preocupar professores e alunos. Mónica Maia-Mendes, da Ordem dos Biólogos (OB), considera que, a verificar-se, as consequências são "muito graves"; Edviges Ferreira, vice-presidente da Associação de Professores de Português (APP), pensa que será "um escândalo".Para se perceber o que está em causa, basta comparar o que se verificou no ano passado com o que pode acontecer este ano. Por exemplo: na prova de exame de Biologia e Geologia da 2.ª fase de 2008 existiam quatro questões de resposta fechada "verdadeiro/falso". E essas quatro tinham, cada uma, oito afirmações que os alunos deviam assinalar como verdadeiras ou como falsas. Obtinham a classificação máxima, 10 pontos (ou um valor), se acertassem sete, ou seja, ainda que errassem uma. E havia classificações intermédias - sete pontos (para quem tivesse cinco ou seis respostas certas) e três pontos (para três ou quatro). Este ano é diferente no que respeita às provas da disciplina de Biologia e Geologia e da de Português, ambas para o 11.º ou 12.º anos. De acordo com o Gave - Gabinete de Avaliação Educacional (http://www.gave.min-edu.pt/), a cotação total do item só é atribuída "às respostas que identifiquem correctamente todas as afirmações". "São classificadas com zero pontos as respostas em que pelo menos uma das afirmações é identificada de forma incorrecta", "não há lugar a classificações intermédias", pode ler-se. (...)»
O que se pretende avaliar com um exame? O que se pretende avaliar com um teste? O que o aluno sabe ou o que o aluno não sabe? Não é apenas um jogo de palavras; é uma interrogação com que fui confrontado na minha formação e que me preocupa aquando da elaboração de um teste.
Há dias, li a justificação que Sebastião da Gama apresentou para um projecto de ponto de exame em Março de 1950 (publicada na 13ª ed. do Diário). E assim dizia o primeiro considerando: “Quero que o exame seja apenas mais uma aula – e, daí, que seja ameno e agradável; que ensine ainda – em vez de se limitar a averiguar do aprendido; que apareça tão naturalmente, tão fatalmente, como aparece uma aula qualquer: flor que tem a sua raiz, o seu caule, as suas folhas, a sua seiva, em muitas aulas anteriores; inadmissível, sem elas, a sua existência.”
Que distância de princípios! Que diferença de princípios! Para melhor? Por justiça com o saber?

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Da Matemática, com Ron Aharoni

Ron Aharoni é professor universitário ligado à Matemática. O problema do ensino desta disciplina levou-o a optar por leccioná-la a alunos do 1º ciclo a fim de chegar a algumas conclusões. Passou por Portugal a propósito de um colóquio que a Fundação Gulbenkian está a promover sobre o ensino da Matemática. O Público entrevistou-o e na conversa há verdades que deveriam saltar para a vida…
O QUE É A MATEMÁTICA – «(..) Antes de mais, é preciso perceber que a Matemática é sobre coisas concretas e que a abstracção vem depois. Outro segredo importante é que a Matemática deve ser aprendida por etapas e nenhuma deve ser deixada para trás, porque se isso acontecer não vamos conseguir compreender o que se segue. (…)»
MANUAIS ESCOLARES - «(…) O principal caminho para ensinar os professores é através dos bons manuais escolares. Os manuais que existem vão na direcção errada, porque promovem actividades divertidas e a aprendizagem fica perdida. O problema é que os livros saltam etapas ou seguem teorias modernas. O que é preciso é que os manuais reflictam a Matemática, a sua essência, o que é e não teorias. (…)»
DIVERTIR OU COMPREENDER - «(…) as crianças não precisam de estar divertidas, elas precisam de compreender e só se o fizerem é que aprendem a gostar. A Matemática não tem que ser divertida, mas compreendida. (…)»
TABUADA - «(…) Se cada vez que queremos escrever uma carta tivermos que pensar como é que se juntam as letras... Para a Matemática o raciocínio é o mesmo: é preciso ter automatismos e a tabuada é essencial. Os pais podem ajudar os filhos a aprender, por exemplo, a dizê-la de trás para a frente. (…)»
EXACTIDÃO NAS FORMULAÇÕES - «(…) Outra coisa muito importante e que sempre ensinei aos meus três filhos é: ser preciso nas formulações, dizer correcta e claramente o que se quer dizer, nunca deixar os outros adivinharem o que se quer dizer, mas usar as palavras certas. (…)»
CALCULADORAS - «(…) Calculadoras? Atirem-nas para o lixo! Houve revoluções terríveis na escola e essa foi uma delas. Fazer cálculos é muito importante e não é uma coisa estúpida ou inútil, e que, por isso, se deve recorrer à máquina. Fazer cálculos significa compreender o sistema decimal. Usar uma calculadora na aula de Matemática é como pôr os alunos a conduzir automóveis em vez de correrem na aula de Educação Física. Quando pergunto a um aluno quanto é 10+10 e responde, mas precisa da calculadora para saber quanto é 10+11, então, ele não compreendeu qualquer coisa quando aprendeu, que precisa de saber e não é com o recurso à máquina que aprende. (…)»
PROFESSORES E COMPUTADORES - «(…) Sabemos que o cérebro das crianças é completamente diferente e que trabalha muito rapidamente. Se elas podem aprender com o computador? Todas as tentativas feitas até hoje nesse sentido falharam. Não sei se porque as crianças preferem brincar no computador do que trabalhar... Penso que no 1.º ciclo o contacto com o professor é o mais importante. (…)»

sábado, 15 de novembro de 2008

A educação num documento que vale a pena ler

Reunida em Fátima em 13 de Novembro, a Conferência Episcopal Portuguesa produziu Carta Pastoral intitulada “A Escola em Portugal – Educação Integral da Pessoa”. O documento é longo, mas tem leitura justificada – pensa a Escola, pensa os caminhos, pensa as responsabilidades, incentiva as autonomias, humaniza a educação. Registo alguns excertos.
A missão da escola
A educação escolar terá de assentar, consequentemente, num projecto cultural de natureza axiológica, antropologicamente fundamentado, capaz de definir as opções, as propostas e os contornos das políticas educativas que, coerentemente, o levem à prática. “A escola não pode ser apenas um conjunto de actividades; é uma visão da vida, persistente e longamente perseguida e afirmada” . (…)
Os graves problemas do mundo contemporâneo põem-nos perante a necessidade e urgência de recolocar o valor da vida e da dignidade humana no centro da realidade social, política, económica, cultural e educativa. Ultrapassar a crise contemporânea da escola, e da educação em geral, exige, previamente, redescobrir e abraçar decididamente tal finalidade. “Na raiz da crise da educação há, de facto, uma crise de confiança na vida”. (…)
A educação é o percurso da personalização, e não apenas socialização e formação para a cidadania. A educação autêntica é a educação integral da pessoa. Isto exige promoção dos valores espirituais, estruturação hierárquica de saberes e de valores, integração do saber científico-tecnológico num saber cultural mais vasto, mais abrangente e mais englobante. Exige igualmente partilha dos bens culturais e democratização no acesso aos conhecimentos, aos saberes científicos e competências tecnológicas, que são património comum da humanidade. Exige ainda promoção do homem-pessoa em recusa do homem-objecto de mercado, rejeição de todas as formas de alienação do ser humano, defesa do primado da solidariedade e da fraternidade sobre o interesse egoísta e a competição desenfreada. (…)
A escola é um projecto educativo em marcha que, necessariamente, brota de uma convicção que, por sua vez, radica num determinado modelo de homem e de sociedade. A escola é uma concepção de vida em acção, em realização continuada e renovada pela incarnação de ideias, de saberes, de valores, de critérios, de atitudes, de comportamentos. Não há, portanto, educação e ensino alheios a preocupações de ordem filosófica, ideológica, política e religiosa.
Importância social da escola
É precisamente no momento em que a escola portuguesa acolhe todos os cidadãos que revela as maiores fragilidades em criar as condições para que todos e cada um deles possam desenvolver-se e atingir adequados níveis de sucesso escolar. A heterogeneidade social e as desigualdades que persistem na sociedade portuguesa estão hoje presentes na escola e esta manifesta evidentes dificuldades em atender a estas diferenças, criando oportunidades apropriadas de desenvolvimento integral para cada um e para todos. E não só manifesta estas dificuldades como se encontra demasiado isolada no cumprimento deste objectivo social e cultural do maior alcance. (…)
Condicionantes e problemas hodiernos da escola
É sobejamente conhecida a dificuldade e a complexidade de educar nos tempos que correm. A escola acaba por ser muitas vezes reflexo da sociedade e dos seus problemas e sofre por isso, em si mesma, as condicionantes, as influências, as debilidades e as oscilações políticas, ideológicas, económicas, tecnológicas e culturais da sociedade em que está inserida. Corre constantemente o perigo de produzir resultados contrários aos que se propõe, reproduzindo as estruturas e as mesmas características da sociedade, das quais ela própria deveria ser um factor de mudança. (…)
Pela própria duração do processo de escolarização, a escola corre o risco de ser vista por muitas crianças e jovens não como um instrumento de humanização, mas como um longo “túnel”, um constrangimento insuportável a que se encontram condenados antes de passarem à ”vida verdadeira”. (…)
O Estado tem sido, por vezes, em virtude das políticas dos diversos governantes, um obstáculo à melhoria da qualidade da escola portuguesa, e isto por vários motivos:
- as reformas educativas sustentam-se frequentemente em trabalhos técnicos de gabinetes que infundem no sistema, por imposição linear imediata, mudanças que substituem outras mudanças ainda não devidamente implementadas nem avaliadas. Assim se lança ou favorece o caos permanente e a insegurança nos profissionais docentes que trabalham nas escolas;
- as medidas são impostas, sem valorizar a diversidade de escolas e contextos e desprezando a liberdade de actuação dos professores, pais, autarquias e outros agentes locais, com projectos educativos próprios;
- não se respeita o princípio da subsidiariedade e tudo se determina do centro para a periferia, concedendo, a custo e de modo sempre tímido, alguma autonomia e liberdade de actuação às escolas, o que leva os profissionais docentes a desvalorizar e desacreditar a sua capacidade de acção e de melhoria da qualidade da educação;
- este quadro de desresponsabilização e até de descrédito acerca do trabalho dos docentes a todos penaliza e impede uma evolução positiva mais concertada.
Sendo o Estado parte do problema, ele terá de ser também parte da solução, pelo que se exige, neste campo, muito mais ousadia e inovação aos diversos grupos políticos, pois sucessivos governos têm sido incapazes de encontrar um modelo de actuação de um estado regulador, articulado com um sistema onde reine a liberdade, a autonomia e a responsabilidade dos professores e dos actores sociais que com eles cooperam.
A necessária liberdade de aprender e ensinar
Não é legítimo analisar a questão da educação e do ensino, designadamente ao nível básico e secundário, à luz das leis do mercado. A educação e o ensino não são mercadorias para se transaccionarem comercialmente, mas decorrem fundamentalmente de quadros antropológicos de referência e de sistemas de valores. Os seus custos não são custos de produção, mas de formação e crescimento de pessoas a integrar socialmente e que contribuirão com o seu saber, o seu saber fazer e o seu quadro de valores para o desenvolvimento da sociedade. É, portanto, à sociedade no seu conjunto que cabe o ónus da formação dos seus membros. Tal não quer dizer, todavia, que o interesse público em matéria de educação e ensino se confunda com ensino público estatal. (…)
O Estado não tem, porém, o direito de impor currículos exaustivos, programas ideologicamente direccionados e processos educativos exclusivos, contrários à legitima e necessária autonomia das diferentes comunidades e instituições educativas. O critério deve ser o da qualidade, quer dos projectos e processos educativos, quer de cada uma das escolas concretas, comprovada pelo seu agir quotidiano, e não de quaisquer imposições arbitrárias da administração educativa.
Um olhar de esperança no futuro
É com muita esperança que olhamos o futuro da escola e da educação em Portugal. Acreditamos que é possível e urgente credibilizar as instituições educativas escolares, dignificar e conceder mais autonomia e responsabilidade ao trabalho dos profissionais docentes, melhorar os resultados escolares e criar ambientes mais estimuladores de um trabalho contínuo, exigente e de permanente revelação humana de todos e de cada um dos alunos, envolver mais os vários actores sociais de cada comunidade no investimento de uma educação de qualidade para todos e ao longo de toda a vida e com a vida. (…)
É fundamental clarificar, também ao nível escolar, para onde vamos, com quem vamos e por que caminhos, onde e em quê ou quem radicamos as nossas convicções e ancoramos a nossa esperança, que ser humano queremos ajudar a formar. (…)
A todos aqueles que têm responsabilidades na estruturação, organização e regulamentação do sistema educativo português, apelamos a um profundo respeito pela autonomia das instituições escolares, em nome do princípio da subsidiariedade que deve reger as relações entre os vários intervenientes no processo educativo.
Fazemos um especial apelo aos pais para que não descurem nunca e a nenhum pretexto a educação dos seus filhos. Para isso, intervenham construtivamente na escola, participem nas reuniões para que são convocados, dialoguem com os professores e organizem-se em associações de pais que trabalham legalmente e de modo positivo com as escolas onde estudam os seus filhos.
A todos os que, nas diversas instituições educativas, culturais e religiosas, nas diversas associações políticas, nos vários meios de comunicação social assumem responsabilidades cívicas, exortamos a que contribuam para uma reflexão aprofundada sobre as finalidades, os objectivos, os caminhos e os meios da educação escolar no nosso País, não esquecendo a sua inserção em espaços culturais, políticos e económicos mais vastos.
A todos aqueles que estudam, trabalham ou estão, de algum modo, envolvidos nas estruturas e instituições educativas, ou delas beneficiam, queremos deixar uma palavra de incentivo e de esperança no futuro. Com vigilância, prudência, trabalho, amor e dedicação, todos podemos contribuir para que a escola cumpra, efectivamente, a missão a que está destinada – a formação integral e o desenvolvimento harmonioso das nossas crianças e jovens.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Da (não) reprovação

O leitor Santana-Maia Leonardo tem uma carta divulgada no Público de hoje sobre a questão das reprovações no ensino básico. A questão é pertinente, sobretudo depois de se ter passado um período de discussão sobre facilitismos em exames, sobre avaliações para o sucesso ou para a estatística, sobre necessidade ou não de haver alunos que reprovam, sobre o mal-estar que tudo isto junto gera.
As propostas de avaliação feitas por um docente valem a apreciação sobre o andamento do estudante na respectiva disciplina, aí incluindo as atitudes e os saberes que são inerentes à mesma. Um Conselho de Turma aprova as propostas, muitas vezes com discussão e daí sai uma avaliação para o aluno. Se o aluno reprova ou não, essa deveria ser uma questão de política – como o é, de facto, uma vez que não é o Conselho de Turma nem a escola quem define o número de notas positivas necessário para um aluno progredir, assim como não decide o contrário. O princípio de que um aluno reprova com dois níveis abaixo de 3 tem o mesmo valor que aquele que defende que o aluno reprova com quatro níveis inferiores a 3 ou que o aluno não reprova nunca. Questão de números e de imagens forçadas, apenas, sobretudo numa sociedade em que o sucesso se mede na fronteira entre o 2 e o 3, com todos os problemas daí advenientes, como sejam o de ser pouco valorizado o esforço e o trabalho ou o de fazer tudo pelo mínimo!...
Daí que me pareça sensata a proposta do leitor do Público: “se os alunos não reprovassem, as classificações atribuídas pelos professores poderiam reflectir o verdadeiro nível atingido pelo aluno a cada disciplina, permitindo dessa forma a qualquer pessoa (aluno, pai, professor, analista, empregador, ministra, etc.) interpretar os resultados, tomar medidas e extrair daí as consequências. Neste caso, se um aluno quisesse terminar a escolaridade obrigatória com nível três, não lhe bastava ficar sentado no seu lugar à espera que o tempo passasse, teria de trabalhar e de se esforçar para isso, caso contrário terminava com nível um. Além disso, isso valorizava e credibilizava, inevitavelmente, os certificados de habilitações, evitava que os repetentes se amontoassem nas turmas à espera da sua hora de passar sem fazer nada e permitiria à ministra e à escola encaminhar e apoiar os alunos com nível um e dois, com vista à sua recuperação.
Sempre estaríamos num caminho que chamava mais a atenção para o empenhamento de todos (e de cada um), aí incluindo estudantes, famílias, escolas, aí incluindo a sociedade, que, como se sabe, não gosta de ser tabelada por baixo!