
domingo, 25 de setembro de 2011
domingo, 4 de setembro de 2011
José Leon Machado, "Fluviais"

sexta-feira, 2 de abril de 2010
Amorosa: um lugar com 100 anos
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O livro Lugar da Amorosa (1911-1952-2008) – Ontem e hoje, de Maria Alberta dos Prazeres Gomes (Póvoa de Varzim: ed. Autor, 2009), é uma incursão na história das pessoas da Amorosa (freguesia de Chafé), sobretudo no seu núcleo autóctone, responsável pela manutenção e povoamento do lugar desde que, em 1911, o casal castelense Francisco Arezes Novo e Maria da Silva Vieira, vivendo da agricultura e da pesca, ali deitaram raízes.
Este estudo é, fundamentalmente, um repositório de memórias e de referências, por onde passa também a história da ligação (e dos afectos) da autora e da sua família ao próprio local. De facto, não é por acaso que o livro surge; é sobretudo por um acto de amor – ao lugar e às pessoas, é certo; mas também a José Teiga Mano (1917-2005), marido da autora, que teve responsabilidades na edificação urbana do lugar a partir da década de 50.
Assim, este livro aparece ao leitor como uma prova de dedicação a um local de adopção, com uma história construída graças aos testemunhos da população local, à experiência e vivência da autora e às poucas fontes que ainda podem constituir o acervo documental da Amorosa.
Pelos olhos do leitor passa ainda uma viagem no tempo, que assiste à evolução do núcleo populacional, desde sítio quase incógnito até ser dormitório de Viana do Castelo, ali a meia dúzia de quilómetros, passando naturalmente pela categoria de local de segundas residências ou de férias.
É por isso que este livro é também uma reflexão da autora sobre a identidade do local e sobre as alterações (ou sobre as eventuais ameaças) a essa mesma identidade. Simultaneamente, fica um desafio aos leitores, que pode ser partilhado por quem já viveu a Amorosa ou por quem lá queira rumar: “Quem admira hoje a Amorosa? Todos os que a viram. Todos os que nela viveram, pelo menos uma manhã, uma tarde ou uma noite.”
A mim, leitor que experimentei a Amorosa na infância, que lhe acariciei as águas e em cuja areia sonhei, que respirei o cheiro do seu sargaço e me deixei envolver pela cantilena do mar e pela companhia das rochas… este livro devolveu-me também um pouco da minha história. E um melhor entendimento da razão que me leva a visitar a Amorosa de cada vez que rumo a norte, independentemente da época do ano!
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
segunda-feira, 1 de junho de 2009
sábado, 2 de agosto de 2008
Minho em ponto cruz por Nuno Neves
Ao olhar a capa deste Minho de Nuno Neves (Algés: Publicações Serrote, 2008), três recordações me assaltaram: os lenços de namorados e o seu genuíno e emotivo bordado num loquaz ponto cruz; o verde, tom dominante na paisagem minhota; uma citação de Miguel Torga no seu Portugal (1950) a propósito do recanto minhoto classificando-o como “bovino”.

Pelas páginas deste livro de ilustrações passam algumas das imagens que associamos à terra minhota: lenços de namorados, as bandas de músicos em barro e o galo de Barcelos, a “coca” monçanense, os “zés pereiras”, os “cabeçudos”, as juntas de bois, os espigueiros do Soajo, os trajos de pastor de Laboreiro (chancas e croça), a música popular, o sarrabulho, o vinho verde, a gastronomia, os recantos (farol de Montedor, por exemplo), a apanha do Sargaço (da Apúlia), o guerreiro das Terras de Basto, a filigrana, os cestos da Festa das Rosas de Vila Franca do Lima, as procissões em tempos de festa, as devoções (ex-votos de cera), a festa (na pirotecnia, por exemplo). É uma maneira bonita de se ver o Minho, original, ainda que talvez pudesse ter ido um pouco mais além dos estereótipos que uma certa visão turística tem propagandeado.
quinta-feira, 22 de maio de 2008
quarta-feira, 21 de maio de 2008
Um retrato escrito do Vale do Neiva
Por este livro é dada ao leitor a oportunidade de ser viajante no tempo, recuando a histórias, práticas e costumes entranhados e vividos desde um tempo de que ninguém se lembra at

Alguns textos configuram mais a prática do conjunto de apontamentos; muitos outros vivem sobre as memórias de entrevistados, com o seu vocabulário próprio, com as marcas de linguagem regional (por vezes, local). Há notícias sobre o quotidiano, sobre as vidas – da actividade económica à vida familiar, da linguagem à religião, da festa à alimentação, da matança do porco à consoada, das brincadeiras infantis à alternativa da medicina popular, do cancioneiro às memórias, das rezas ao folclore e às crenças.
Um exemplo (entre muitos possíveis) em que a língua respira vivacidade e originalidade é no testemunho prestado por Beatriz da Silva (com 74 anos em 1984, ano do depoimento), ao descrever como era feita a “fornada”, misto de técnica, de crença, de necessidade, de saber, de arte e de engenho: “Primeiro peneira-se a farinha para dentro da masseira, deita-se nela água morna, sal e o fermento, que ficou da última fornada. Imberbe-se tudo com a rapadeira, com as mãos apezunha-se, dá-se-lhe três voltas, alivia-se a seguir a massa, para ficar estufadinha. A seguir, junta-se a massa, onde se faz uma cruz com o dedo, a um canto da masseira, é tapada com um pano e aí fica a levedar. Estando levedada a massa e o forno bem quente, limpa-se o forno com uma férrea, tiram-se as brasas com um varredoiro, limpa-se de todas as brasas e borralha. À porta do forno deixam-se ficar algumas brasas para evitar que o forno arrefeça. Estando limpo o forno, põem-se primeiro os bolos – pão baixo, que é geralmente recheado de sardinhas, chouriço ou toucinho – que se comem na primeira refeição. Para cozer os bolos não se tapa a boca do forno. Retirados os bolos cozidos, segue o pão de broa. Com a ajuda da gamela apadeja-se e sobre a pá coloca-se a broa, introduzindo-a no forno. Cada broa pesa 4 a 5 quilos. Geralmente o forno leva cerca de seis broas. Estando cheio, antes de pôr a tampa, faz-se com a pá uma cruz à boca do forno e diz-se ‘Deus te acrescente, dentro do forno e fora do forno e que deias pão para os pobres todos, ámen Jesus’. Põe-se a porta de madeira e tapa-se as frestas para que o calor não se perca (utilizava-se bosta de gado, que secava com o calor, ou, nos tempos mais recentes, massa de farinha, quando deixou de ser uso andar a apanhar a bosta para cozer a broa). A fornada leva cerca de duas horas a cozer. Depois, retira-se a porta e com o cabo da vassoira dá-se um toque em cada broa, que é para acordar o pão.” Depois, havia pão para duas semanas…
Felizmente, sobre a região do Vale do Neiva tem havido divulgação bibliográfica – por as ter à mão, refiro obras como a organizada por Cândido Maciel (Vale do Neiva – Subsídios monográficos. Durrães: 1982) e a de Manuel Moreira do Rego (Crenças, tradições e a sua evolução no Vale do Neiva. Neves: Centro Recreativo e Cultural das Neves, 2005) – a que vem agora juntar-se este livro, que, de acordo com as palavras do editor, é o primeiro volume de “um projecto de publicação de trabalhos de cariz cultural”.
sexta-feira, 21 de março de 2008
Dia Mundial da Poesia - é hoje!
Honra aos Poetas, pois! Escolho António Manuel Couto Viana para os representar. Razões? Porque tem lindos poemas; porque tem levado a vida a poetar (já com dezenas de livros publicados); porque é considerado um dos mais importantes poetas portugueses do século XX; porque sou seu amigo; porque tem vários poemas alusivos à quadra festiva que agora passa. Assim, ligando este Dia com as celebrações que marcam este tempo, apresento, de António Manuel Couto Viana, o poema
PáscoaÉ tempo de Páscoa no Minho florido.
Já se ouvem os trinos dos sinos festeiros
Na igreja vestida de branco vestido,
Entre o verde manso dos altos pinheiros.
Caminhos de aldeia, que o funcho recobre,
Esperam, cheirosos, que passe o “compasso”
À casa do rico, cabana do pobre...
Já voam foguetes e pombas no espaço.
Lá vêm dois meninos, com opas vermelhas,
Tocando a sineta. Logo atrás, o abade
Já trôpego e lento. (As pernas são velhas?
Mas no seu sorriso tudo é mocidade.)
Com que unção o moço sacristão, nos braços,
Traz a cruz de prata que Jesus cativa,
Para ser beijada! Enfeitam-na laços
De fitas de seda e uma rosa viva.
Um outro, ajoujado ao peso das prendas
(Não há quem não tenha seu pouco pra dar...)
Traz, num largo cesto de nevadas rendas,
Os ovos, o açúcar e os pães do folar.
Mais um outro, ainda, de hissope e caldeira
Cheia de água benta, abre um guarda-sol.
Seguem-nos, e alegram céus e terra inteira,
Estrondos de bombos e gaitas de fol’.
Haverá visita mais honrosa e bela?
Famílias ajoelham. A cruz é beijada.
(Pratos de arroz-doce, com flores de canela,
Aguardam gulosos na mesa enfeitada.)
Santa Aleluia! Oh, festa maior!
Haverá mais bela e honrosa visita?
É tempo de Páscoa. O Minho está em flor.
Em cada alma pura, Jesus ressuscita!