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domingo, 25 de setembro de 2011

Face da terra (4)

No trajeto entre Campo do Gerês e Gerês

domingo, 4 de setembro de 2011

José Leon Machado, "Fluviais"

Se há justificação para um título como Fluviais, que reúne 37 narrativas, ela só pode ter relação com o que é a suposta vida de cada personagem, um corredor que, desde o nascimento à foz, é povoado por intrigas e problemas. Fluviais (Porto: Campo das Letras, 2001), de José Leon Machado, congrega, assim, quase quatro dezenas de caudais, uns mais tempestuosos do que outros – camilianos alguns deles –, mas todos no encalço de personagens mais ou menos misteriosas e detentoras de um segredo que a escrita vai desvendando.
Os contos estão divididos por dois grupos – “À sombra sob as parras”, com 21 histórias, e “Ao sol sobre as fragas”, com 16. O que separa uma e outra é a geografia em que as personagens se movem – no Minho, a primeira, em Trás-os-Montes, a segunda, ambas as regiões metonimicamente apresentadas por cenários como as “parras” ou as “fragas”, que as identificam; na primeira, girando as vidas na proximidade de Braga; na segunda, circulando entre Valpaços e a raia, com entradas na Galiza.
Por estes contos passam figuras que são os heróis das suas próprias vidas, por vezes com finais infelizes, num ambiente rural, em que a tasca é, frequentemente, centro – a do Canhoto, na primeira parte, a do Riqueto, na segunda – e em que convivem as infidelidades, as vinganças, as experiências de vida difíceis, a embriaguez, os amores contrariados, o contrabando, a emigração, as relações de vizinhança, a solidão.
Há personagens que se aproximam dos mitos – “De pé à ré, o pau como remo, em gestos lentos de quem está senhor do rio e do barco, parecia um deus”, referindo o tio Né, barqueiro, no conto “A Máscara da Ninfa” – e outras que vão construindo os seus próprios ditados, formulados à medida das suas necessidades e vícios – “Sem vinho não há alegria e antes alegria que tristeza; (…) tristeza bastava a que carregamos no lombo desde o berço”, pensava o Farra, no conto a que dá nome. Há personagens que se confrontam com questões intensas, como a descoberta da morte, no conto “O Armador” e há crítica de práticas habituais – “O que mais o espantava é que as pessoas, à frente de uma imagem por pintar, dificilmente se ajoelhariam e pronunciariam uma prece. Mas perante uma imagem pintada, imaginavam-se perante uma encarnação do santo”, reflecte Mestre Paulo em “Lascas de Cal”. E há o amor, curiosamente a determinar a abertura e o fecho do livro – idealizado, no início, em “A Máscara da Ninfa”, sugerindo a descoberta de uma ilha dos amores, e instintivo e realizado, no último conto, “A Professora Nova”, com o apelo do corpo a determinar a relação.
Contos breves são estes de Fluviais, que nos apresentam um modo de viver e de pensar longe de toda a globalização e constroem uma quase arqueologia do sentir humano, em que o instinto e a reacção a quente vencem, muitas vezes deixando o leitor desarmado perante finais inesperados ou rumos das histórias subitamente alterados.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Amorosa: um lugar com 100 anos

O livro Lugar da Amorosa (1911-1952-2008) – Ontem e hoje, de Maria Alberta dos Prazeres Gomes (Póvoa de Varzim: ed. Autor, 2009), é uma incursão na história das pessoas da Amorosa (freguesia de Chafé), sobretudo no seu núcleo autóctone, responsável pela manutenção e povoamento do lugar desde que, em 1911, o casal castelense Francisco Arezes Novo e Maria da Silva Vieira, vivendo da agricultura e da pesca, ali deitaram raízes.

Este estudo é, fundamentalmente, um repositório de memórias e de referências, por onde passa também a história da ligação (e dos afectos) da autora e da sua família ao próprio local. De facto, não é por acaso que o livro surge; é sobretudo por um acto de amor – ao lugar e às pessoas, é certo; mas também a José Teiga Mano (1917-2005), marido da autora, que teve responsabilidades na edificação urbana do lugar a partir da década de 50.

Assim, este livro aparece ao leitor como uma prova de dedicação a um local de adopção, com uma história construída graças aos testemunhos da população local, à experiência e vivência da autora e às poucas fontes que ainda podem constituir o acervo documental da Amorosa.

Pelos olhos do leitor passa ainda uma viagem no tempo, que assiste à evolução do núcleo populacional, desde sítio quase incógnito até ser dormitório de Viana do Castelo, ali a meia dúzia de quilómetros, passando naturalmente pela categoria de local de segundas residências ou de férias.

É por isso que este livro é também uma reflexão da autora sobre a identidade do local e sobre as alterações (ou sobre as eventuais ameaças) a essa mesma identidade. Simultaneamente, fica um desafio aos leitores, que pode ser partilhado por quem já viveu a Amorosa ou por quem lá queira rumar: “Quem admira hoje a Amorosa? Todos os que a viram. Todos os que nela viveram, pelo menos uma manhã, uma tarde ou uma noite.”

A mim, leitor que experimentei a Amorosa na infância, que lhe acariciei as águas e em cuja areia sonhei, que respirei o cheiro do seu sargaço e me deixei envolver pela cantilena do mar e pela companhia das rochas… este livro devolveu-me também um pouco da minha história. E um melhor entendimento da razão que me leva a visitar a Amorosa de cada vez que rumo a norte, independentemente da época do ano!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Rostos (137)

Pelourinho, no Soajo (Arcos de Valdevez)

segunda-feira, 1 de junho de 2009

1000º postal, com céu do Norte

Amorosa (Viana do Castelo), Abril de 2007

sábado, 2 de agosto de 2008

Minho em ponto cruz por Nuno Neves



Ao olhar a capa deste Minho de Nuno Neves (Algés: Publicações Serrote, 2008), três recordações me assaltaram: os lenços de namorados e o seu genuíno e emotivo bordado num loquaz ponto cruz; o verde, tom dominante na paisagem minhota; uma citação de Miguel Torga no seu Portugal (1950) a propósito do recanto minhoto classificando-o como “bovino”.

Três motivações para se desenhar o Minho, pelo menos o Minho que o seu autor viu e guardou. Nuno Neves fez desta apresentação do Minho um trabalho original – os dizeres que traz ao visitante do seu livro são desenhos de temática minhota feitos em ponto cruz, por si construídos informaticamente. Ele próprio o diz em curta nota introdutória: “Depois de ter visto uma colecção de Lenços de Namorados de Vila Verde e ter feito algumas viagens pelo Minho, resolvi fazer estas ilustrações. Apliquei a técnica do ponto cruz num formato digital, desenhando pixel a pixel todas as páginas deste livro.” Está o leitor perante um trabalho artesanal, também, se escândalo não é misturar o artesanato com as modernas tecnologias...
Pelas páginas deste livro de ilustrações passam algumas das imagens que associamos à terra minhota: lenços de namorados, as bandas de músicos em barro e o galo de Barcelos, a “coca” monçanense, os “zés pereiras”, os “cabeçudos”, as juntas de bois, os espigueiros do Soajo, os trajos de pastor de Laboreiro (chancas e croça), a música popular, o sarrabulho, o vinho verde, a gastronomia, os recantos (farol de Montedor, por exemplo), a apanha do Sargaço (da Apúlia), o guerreiro das Terras de Basto, a filigrana, os cestos da Festa das Rosas de Vila Franca do Lima, as procissões em tempos de festa, as devoções (ex-votos de cera), a festa (na pirotecnia, por exemplo). É uma maneira bonita de se ver o Minho, original, ainda que talvez pudesse ter ido um pouco mais além dos estereótipos que uma certa visão turística tem propagandeado.
[fotos: capa do livro e desenho das mordomas que transportam os cestos de flores na Festa das Rosas,

em Vila Franca, na margem esquerda do Lima]





quinta-feira, 22 de maio de 2008

Rostos (53)

Monumento aos pescadores, em Vila Praia de Âncora

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Um retrato escrito do Vale do Neiva

Memórias do nosso povo – Para uma etnografia do Vale do Neiva (Barroselas: Junta de Freguesia, 2007) é obra de Manuel Delfim Pereira (1944-2002), natural de Barroselas, que reúne textos publicados em vida do autor no jornal regional que ele próprio fundou, O Vale do Neiva. Em forma de apresentação, escreve Rogério Barreto (Presidente da Junta de Freguesia de Barroselas, responsável pela edição) que não se está perante “um trabalho de investigação sobre a etnologia do Vale do Neiva”, mas em vista de “um registo de informações, conhecimentos e vivências de uma comunidade”, eivado de “uma linguagem simples, literariamente menos aparada e circunscrita ao essencial”.
Por este livro é dada ao leitor a oportunidade de ser viajante no tempo, recuando a histórias, práticas e costumes entranhados e vividos desde um tempo de que ninguém se lembra até ao tempo que corre, numa permanente visita à memória. O apego à região em que cresci e o cruzamento com relatos de que guardo retratos na memória determinaram a minha adesão a este itinerário em que o Vale do Neiva surge autêntico.
Alguns textos configuram mais a prática do conjunto de apontamentos; muitos outros vivem sobre as memórias de entrevistados, com o seu vocabulário próprio, com as marcas de linguagem regional (por vezes, local). Há notícias sobre o quotidiano, sobre as vidas – da actividade económica à vida familiar, da linguagem à religião, da festa à alimentação, da matança do porco à consoada, das brincadeiras infantis à alternativa da medicina popular, do cancioneiro às memórias, das rezas ao folclore e às crenças.
Um exemplo (entre muitos possíveis) em que a língua respira vivacidade e originalidade é no testemunho prestado por Beatriz da Silva (com 74 anos em 1984, ano do depoimento), ao descrever como era feita a “fornada”, misto de técnica, de crença, de necessidade, de saber, de arte e de engenho: “Primeiro peneira-se a farinha para dentro da masseira, deita-se nela água morna, sal e o fermento, que ficou da última fornada. Imberbe-se tudo com a rapadeira, com as mãos apezunha-se, dá-se-lhe três voltas, alivia-se a seguir a massa, para ficar estufadinha. A seguir, junta-se a massa, onde se faz uma cruz com o dedo, a um canto da masseira, é tapada com um pano e aí fica a levedar. Estando levedada a massa e o forno bem quente, limpa-se o forno com uma férrea, tiram-se as brasas com um varredoiro, limpa-se de todas as brasas e borralha. À porta do forno deixam-se ficar algumas brasas para evitar que o forno arrefeça. Estando limpo o forno, põem-se primeiro os bolos – pão baixo, que é geralmente recheado de sardinhas, chouriço ou toucinho – que se comem na primeira refeição. Para cozer os bolos não se tapa a boca do forno. Retirados os bolos cozidos, segue o pão de broa. Com a ajuda da gamela apadeja-se e sobre a pá coloca-se a broa, introduzindo-a no forno. Cada broa pesa 4 a 5 quilos. Geralmente o forno leva cerca de seis broas. Estando cheio, antes de pôr a tampa, faz-se com a pá uma cruz à boca do forno e diz-se ‘Deus te acrescente, dentro do forno e fora do forno e que deias pão para os pobres todos, ámen Jesus’. Põe-se a porta de madeira e tapa-se as frestas para que o calor não se perca (utilizava-se bosta de gado, que secava com o calor, ou, nos tempos mais recentes, massa de farinha, quando deixou de ser uso andar a apanhar a bosta para cozer a broa). A fornada leva cerca de duas horas a cozer. Depois, retira-se a porta e com o cabo da vassoira dá-se um toque em cada broa, que é para acordar o pão.” Depois, havia pão para duas semanas…
Felizmente, sobre a região do Vale do Neiva tem havido divulgação bibliográfica – por as ter à mão, refiro obras como a organizada por Cândido Maciel (Vale do Neiva – Subsídios monográficos. Durrães: 1982) e a de Manuel Moreira do Rego (Crenças, tradições e a sua evolução no Vale do Neiva. Neves: Centro Recreativo e Cultural das Neves, 2005) – a que vem agora juntar-se este livro, que, de acordo com as palavras do editor, é o primeiro volume de “um projecto de publicação de trabalhos de cariz cultural”.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Dia Mundial da Poesia - é hoje!

Na 30ª sessão da Conferência Geral da UNESCO, em 15 de Novembro de 1999, foi decidido criar o Dia Mundial da Poesia, a ter lugar em 21 de Março, com início de celebração no ano de 2000.
Honra aos Poetas, pois! Escolho António Manuel Couto Viana para os representar. Razões? Porque tem lindos poemas; porque tem levado a vida a poetar (já com dezenas de livros publicados); porque é considerado um dos mais importantes poetas portugueses do século XX; porque sou seu amigo; porque tem vários poemas alusivos à quadra festiva que agora passa. Assim, ligando este Dia com as celebrações que marcam este tempo, apresento, de António Manuel Couto Viana, o poema

Páscoa
É tempo de Páscoa no Minho florido.
Já se ouvem os trinos dos sinos festeiros
Na igreja vestida de branco vestido,
Entre o verde manso dos altos pinheiros.

Caminhos de aldeia, que o funcho recobre,
Esperam, cheirosos, que passe o “compasso”
À casa do rico, cabana do pobre...
Já voam foguetes e pombas no espaço.

Lá vêm dois meninos, com opas vermelhas,
Tocando a sineta. Logo atrás, o abade
Já trôpego e lento. (As pernas são velhas?
Mas no seu sorriso tudo é mocidade.)

Com que unção o moço sacristão, nos braços,
Traz a cruz de prata que Jesus cativa,
Para ser beijada! Enfeitam-na laços
De fitas de seda e uma rosa viva.

Um outro, ajoujado ao peso das prendas
(Não há quem não tenha seu pouco pra dar...)
Traz, num largo cesto de nevadas rendas,
Os ovos, o açúcar e os pães do folar.

Mais um outro, ainda, de hissope e caldeira
Cheia de água benta, abre um guarda-sol.
Seguem-nos, e alegram céus e terra inteira,
Estrondos de bombos e gaitas de fol’.

Haverá visita mais honrosa e bela?
Famílias ajoelham. A cruz é beijada.
(Pratos de arroz-doce, com flores de canela,
Aguardam gulosos na mesa enfeitada.)

Santa Aleluia! Oh, festa maior!
Haverá mais bela e honrosa visita?
É tempo de Páscoa. O Minho está em flor.
Em cada alma pura, Jesus ressuscita!
António Manuel Couto Viana. Postais de Viana.
Viana do Castelo: Câmara Municipal de Viana do Castelo, 1986, pp. 12-14.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Rostos (39)

Cristo, na igreja paroquial de Castelo de Neiva

sábado, 15 de março de 2008

Rostos (37)

Bustos do Cónego Manuel Martins Cepa e de Monsenhor António Fernandes Gonçalves, em Alvarães

sábado, 13 de outubro de 2007

Face da terra (2)



Alvarães, rio Neiva (imagens de Maio de 2006)