quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Bocage em grafitti



"Bocage 1805-2014" é grafitti que evoca o tempo da memória do poeta sadino. Prestes que estamos a entrar no seu mês - o de Setembro -, aqui fica o retrato que nos surpreende na Rua Augusto Cardoso, em Setúbal, apoiado numa das caixas da EDP.
[Fotos: Cunha Bento e JRR]




terça-feira, 26 de agosto de 2014

Prémio literário Bocage 2014 já tem vencedores



A XVI edição do Prémio Literário Manuel Maria Barbosa du Bocage, promovida pela LASA (Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão) com o apoio de vários parceiros, teve no final da noite de ontem a decisão do júri nas várias modalidades: em poesia, o trabalho Pequeno livro de elegias, de Daniel da Silva Gonçalves (apresentado sob o pseudónimo de Rui Curado), residente em Santa Maria (Açores); no conto, o texto Eu e tu nesta cama, de Virgínia Sofia Antunes (apresentado sob o pseudónimo de Mariana Algarvia), farense a residir em Inglaterra; em revelação, um conjunto de poemas sem título, de Manuel Eurico Vaz Marques (sob o pseudónimo de Mosguy), residente em Joane (Famalicão).
Os prémios serão entregues em cerimónia a realizar em 15 de Setembro, feriado de Setúbal, e, além de um valor monetário, os textos merecerão a edição (a cargo da entidade promotora). A este concurso foram apresentados 509 trabalhos, apreciados por um júri constituído por José António Chocolate, João Reis Ribeiro e António Chitas.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Viana do Castelo e a Grande Guerra


Em ano de centenário da Grande Guerra, a bibliografia a propósito é interessante. Relativamente a Viana do Castelo, depois que José Manuel Alves dos Santos publicou o artigo "Viana do Castelo - Para um roteiro português evocativo do centenário da Grande Guerra (Jornal do Exército. Lisboa: Estado Maior do Exército, nº 633, Dezembro.2013, pp. 36-43), foi agora a vez da publicação anual alusiva às Festas da Senhora da Agonia A Falar de Viana (Viana do Castelo: VianaFestas, série II, vol. 3, 2014) publicar mais alguns textos sobre o assunto. A saber: "As Festas no despertar da Grande Guerra", de Rui A. Faria Viana (pp. 11-19); "José Gomes da Cunha (1891-1976): Um vianense na I Guerra Mundial", de Porfírio Pereira da Silva (pp. 219-223); "Vianenses mortos na Primeira Guerra Mundial - Perfis dos herdeiros de pensões", de Henrique Rodrigues (pp. 225-235). Material a ler com atenção...

sábado, 23 de agosto de 2014

Máximas em mínimas - Manuel Jorge Marmelo numa história da Grande Guerra



Depois de ler A guerra nunca acaba, de Manuel Jorge Marmelo (Lisboa: Glaciar, 2014), na colecção “100 anos da Grande Guerra” (nº 3), que está a ser publicada semanalmente pela revista Sábado:
Certeza – “As certezas da vida são a coisa mais efémera que existe.” (pg. 39)
Felicidade – “A felicidade e o seu reverso são como duas faces da moeda que é a vida.” (pg. 41)
Guerra – “As guerras são quase sempre motivadas pela cobiça desmedida de um grupo muito pequeno de homens, os quais sacrificam os restantes à sua ambição e ao objectivo de subjugar povos e países que consideram inferiores; os impérios são edificados sobre um número incontável de cadáveres, sem que se perceba muito bem para que serve um império; os impérios não duram para sempre e, por isso, constituem de algum modo uma espécie de frivolidade.” (pg. 30)
Guerra – “As guerras nunca acabam. É impossível ganhá-las. Cada guerra e cada um dos seus mortos carregam a semente da guerra seguinte. (…) Desde o primeiro homem que matou o seu semelhante por soberba ou cobiça que estamos a repetir continuamente o mesmo círculo de ódio e vingança.” (pg. 89)
Homem – “O homem é o mais cruel de todos os animais, excepto quando é o mais bondoso dos seres vivos.” (pg. 53)
Morte / Memória – “A morte mais absoluta é esquecer e ser esquecido.” (pg. 38)
Morte (em guerra) – “Numa guerra, qualquer sítio é bom para morrer. Pode-se morrer a lutar, a fugir ou encolhido num buraco como um rato do campo.” (pg. 8)
Perda – “Nada é mais perigoso do que um homem que perdeu alguma coisa que lhe faz falta.” (pg. 83)
Vontade – “Os impulsos e as angústias individuais são uma força tremenda, tão poderosa em certas circunstâncias como a vontade de mil homens. (…) Um único desaire é suficiente para mudar para sempre o destino de alguém e até, se calhar, o rumo da História.” (pg. 33)

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Máximas em mínimas - Luísa Beltrão



Depois de ler Moscas nos olhos – Filippa na Grande Guerra, de Luísa Beltrão (Lisboa: Glaciar, 2014), na colecção “100 anos da Grande Guerra” (nº 2), que está a ser publicada semanalmente pela revista Sábado:
Esperança – “A esperança é o único penhor humano na consciência trágica da nossa imperfeição, é a esperança que nos salva do desespero.” (pg. 75)
Guerra – "A violência da guerra é impossível descrevê-la.” (pg. 36)
Guerra – “Na guerra, tudo se dilui na luta básica pela sobrevivência, mas quando ela acaba, as guerras internas tomam de novo conta de nós, ambíguas, enredadas.” (pg. 91)
Loucura – “Não é fácil manter o estatuto de louco mesmo num mundo enlouquecido.” (pg. 46)
Solidão – “Somos seres isolados, perdidos no espaço, não somos deuses do Olimpo, e até os deuses do Olimpo brigam, embora possam reinventar-se porque são imortais.” (pg. 75)

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

O mês de Bocage


Bocage volta a ser protagonista neste Setembro, em que passam 249 anos sobre o seu nascimento, uma acção acentuada pelo facto de o feriado de Setúbal se fundar sobre o dia em que Bocage viu a luz e por, a propósito da data e da efeméride, o nome de Bocage ser condimento indispensável para uma série de actividades.
Setúbal tem o condão de fazer coincidir o seu feriado municipal com uma data ligada a um poeta, tal como acontece, de resto, com o país, ao celebrar o seu dia numa data ligada a outro poeta. Destino ou mera coincidência, o facto é que Camões e Bocage se tornam inesquecíveis mesmo por essa coisa tão simples que é a de terem uma data sua no calendário dos eventos deste mundo, ainda que isso só por si não seja garantia de glória, uma vez que as obras dos poetas são para ser lidas, num gesto de construção da memória e numa atitude de contemplação da arte e de conhecimento.
Bocage é um monumento da cultura portuguesa e, comemorações à parte, bem merecia ser mais lido, mais falado, mais citado, mais conhecido. Obviamente, há textos difíceis na produção bocagiana; mas nem todos o são. E, depois, há um pormenor de graça: é que, recorrendo mesmo às traduções que o ajudaram a viver (e que ultrapassam em muito o “mero” acto de traduzir, pois que Bocage lhes associou criação), também encontramos poemas que podem ter público de todas as idades. Assim, lógico seria que pelas escolas, pelas colectividades, pelas instituições, se invocasse a obra de Bocage não só em Setembro. Creio que a elaboração de uma antologia acessível, equilibrada em termos de prazer da leitura, diversificada quanto a modalidades poéticas que Bocage deixou, deveria ser um objectivo de Setúbal, com divulgação dessa obra pelos setubalenses e pelos seus convidados ou visitantes, distribuição a começar a ser feita logo entre os alunos do primeiro ciclo (que até podiam ilustrar poemas de Bocage, acredito). A tarefa não seria complicada, assim houvesse vontade das instituições (autarquias, Centro de Estudos Bocageanos, LASA, associações e outros parceiros) em colaborarem conjuntamente num projecto destes.
Mas, porque Bocage é mesmo um monumento da cultura portuguesa, ele poderia ser também a motivação e a designação de um roteiro sadino, que passasse pelas coisas interessantes que fizeram a Setúbal do século XVIII, quer em termos de personagens, quer em termos de obra e de história. E, já agora, esse poderia ser um bom pretexto para a recolocação da lápide no exterior da Escola de Hotelaria, onde funcionou o designado “Quartel do 11”, que foi o Regimento de Infantaria de Setúbal, em que Bocage ingressou quando tinha 16 anos, como consta no “Registo do Regimento de Infantaria de Setúbal – livro 3º”, sob o número de matrícula 84, associando ao nome do poeta o castanho do cabelo e os olhos “pardos”. Ora, a lápide foi retirada aquando das obras que o edifício teve e, a partir daí, deixou de estar visível a inscrição que dava notícia da passagem de Bocage por aquele sítio. Não sei a causa da omissão; apenas sinto que este gesto é um lapso contra a memória – não só de quem é evocado, mas também de quem teve a ideia de ali registar o feito para memória futura. A única consideração que faço a este propósito é a de que é um dever dos responsáveis reimplantarem ali a lápide que inscrevia a passagem de Bocage num momento da história do edifício, da organização, da cidade.
E, para voltar a Setembro, recordo o teor da conferência sobre Bocage, pronunciada em 15 de Setembro de há 64 anos, dessa vez tendo sido convidado outro poeta para falar de Bocage: Sebastião da Gama, que escolheu o título “Lugar de Bocage na nossa poesia de amor” para dissertar sobre o poeta e sobre o amor, num percurso absolutamente simples e transparente em que enalteceu a “originalidade de Bocage”. Deixo algumas citações: “O que dá nome e novidade à poesia amorosa de Bocage é o desejo que a percorre toda, sequioso mas terno. (…) Alegre como o campo, claro como a manhã, o amor de Bocage. (…) Era a paixão em carne viva; nenhum romântico foi com tanta violência empós o coração, nenhum romântico foi tão romântico. (…) Poesia feita de impulsos, de momentos, de estados de alma. Não há pose na poesia de Bocage: aquilo que ali está é aquilo que foi; aquilo que não fora, se Bocage tem sido o poeta burguês que certos críticos desejariam.” O texto está disponível na colectânea O segredo é amar, um dos mais belos livros do poeta azeitonense, e, já agora que estamos a falar dos dois poetas maiores da nossa região, esse bem deveria ser outro texto a ter ampla divulgação, pois que é uma óptima iniciação à arte de Bocage!
Enfim: pretextos para que se prepare o ano de 2015, em que passarão os 250 anos sobre o nascimento de Bocage, idade que merece ser assinalada de acordo com o que o número representa…

Duas marcas da prática política no nosso país


1) «Em matéria de reformas sou licenciada já assisti a reformas do ensino da linguagem da administração do vocabulário dos costumes e sei lá que mais e só uma coisa é certa essa coisa é que “atrás de reforma vem reforma” tão certo como dois e dois serem quatro e que para reformar não há como os portugueses que reformam rerreformam e rerrerreformam e está tudo sempre a pedir reforma enfim como já percebi que a reforma é a vocação natural da Pátria (…) sento-me na minha cadeira e deixo-as passar porque as reformas são como o vento passam sempre até vir outra mais tarde ou mais cedo embora para dizer a verdade venham quase sempre mais cedo.»

2) «Está tudo na mesma e estar tudo na mesma quer dizer que os partidos não se entendem e os partidos não se entenderem é estarem a ter conversas uns com os outros para depois mandarem comunicados a dizer que não se entendem eu cá por mim acho que eles podiam poupar as línguas eliminando as conversas e mandando logo os comunicados sempre se poupava papel nos jornais e sempre se poupava a nossa paciência que está a rebentar.»

Os leitores mais atentos reconhecerão o estilo: as redacções da Guidinha, essa personagem criada pelo Luís de Sttau Monteiro (1926-1993), que compunha crónicas humorísticas e apimentadas sobre os hábitos sociais, lidas avidamente no Diário de Lisboa ou em O jornal. Os dois excertos que apresento mantêm-se oportunos, apesar de terem data: ambos foram publicados em O jornal, o primeiro em 22 de Junho de 1979 e o segundo em 8 de Setembro de 1978. Isto é: 35 anos não alteraram algumas práticas políticas do nosso país!
Algumas crónicas da Guidinha podem ser lidas em Redacções da Guidinha (Lisboa: Areal Editores, 2003), que recolhe uma selecção de algumas saídas no Diário de Lisboa entre 1969 e 1970, e em A Guidinha antes e depois (Lisboa: "O Independente", 2004), compilação de vários textos surgidos entre 1972 e 1979 em ambos os jornais.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Máximas em mínimas - Tempo


Tempo – “Na literatura, o tempo suspende-se e deixa marcas; nas fotografias, o tempo passa e deixa rugas.” [Francisco José Viegas. Um gosto pela imperfeição. Col. “100 anos da Grande Guerra” (1). Lisboa: Glaciar, 2014, pg. 12]

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Bocage também ajuda a que se beba...



Bocage, entre outras não menos conhecidas figuras, como Camões e Garrett, por exemplo, a consumir a bebida que nunca lhe terá sido associada... não fosse a ideia da publicidade ao leite "Vigor" num mural de "street art", em Lisboa, na Rua José Gomes Ferreira, ali bem perto das Amoreiras. Original! E literário...

Máximas em mínimas - Moralista



Moralista – “Um moralista é alguém que acha que a sua moral é melhor do que a tua.” [Francisco José Viegas. Um gosto pela imperfeição. Col. “100 anos da Grande Guerra” (1). Lisboa: Glaciar, 2014, pg. 89]