Quem foi Juan Alvarez de Colmenar é retrato de dificuldade. Para uns, foi escritor espanhol do século XVIII; para outros, terá sido um escritor francês da mesma época; há ainda quem admita que o nome corresponda a um pseudónimo com autoria desconhecida. Certo é que, em 1707, em Leyde, apareceu uma obra em cinco volumes, com a sua assinatura, em francês, intitulada Les délices de l’Espagne et du Portugal, e que, em 1741, em Amesterdão, também sob sua assinatura e em francês, foi publicada, em quatro volumes, a obra Annales d’Espagne et de Portugal, cujo primeiro volume relatava a história dos dois reinos, ficando para os outros três volumes o subtítulo da obra de 1707. Sabemos, pois, que foi viajante que legou relato da sua experiência, não esquecendo observações destinadas aos visitantes da península no último volume, sobretudo por aquilo que estes dois reinos continham de especificidade ou de diferença em relação aos outros, aí relatando costumes particulares.
No terceiro tomo da obra de 1741, com o longo título de Annales d’Espagne et de Portugal contenant tout ce qui s’est passé de plus important dans ces deux Royaumes et dans les autres parties de l’Europe, de même que dans les Indes Orientales et Occidentales depuis l’établissement de ces deux Monarchies jusqu’à présent, avec la Description de tout ce qu’il y a de plus remarquable en Espagne et en Portugal, leur état présent, leurs intérêts, la forme du Gouvernement, l’étendue de leur commerce, etc. (Amsterdam: François L’Honoré & Fils, 1741), a descrição de Portugal inicia-se na página 223. Depois de localizar o país, o autor apresenta as duas possíveis etimologias de “Portugal” – a partir de “Portus Gallorum”, designação de região do Porto onde terá atracado uma frota gálica, ou por “Portus Cale”, cidade antiga na foz do Douro, inclinando-se Colmenar para a maior verosimilhança da segunda hipótese.
Referida a organização eclesiástica, Portugal é apresentado como “um belo país, rico, fértil e com abundância de tudo o que se pode desejar para as necessidades e para os prazeres da vida”. Quanto a produções conhecidas no estrangeiro, são apontadas “o sal, que sai em grande quantidade de Setúbal, ou S. Ubes, para os países do norte da Europa, o azeite e alguns vinhos”. Depois de uma curta descrição sobre as relações de Portugal com as regiões que faziam parte do seu domínio (na América, na África e na Ásia), há uma apresentação dos principais rios, não esquecendo o Sado, “a que os antigos chamavam Callipus, nascido no sul do Reino, fecundo em vários géneros de peixes que não se encontram facilmente noutros sítios, como a tainha, o salmonete, a enguia e outros”, chamando ainda a atenção para a presença, junto à foz, de caranguejos e de bivalves.
A descrição do país segue, depois, as várias províncias, viajando de norte para sul. Quando, três dezenas de páginas à frente, escreve sobre a Estremadura a sul do Tejo (e insere a referida carta de Setúbal), volta a referir o Sado e a sua característica de correr de sul para norte. As localidades mencionadas são Almada (com um castelo “face a face” com Lisboa), Coina, Montijo (com o nome de Aldeia Galega, onde passa “a estrada daqueles que vão de Sevilha para Lisboa” e em cuja região há um sal que se prepara da mesma forma que o francês de La Rochelle), Sesimbra, Palmela e Setúbal, “uma vila nova, construída sobre as ruínas de uma mais antiga denominada Cetóbriga, que cresceu graças à comodidade do seu porto, à fertilidade do seu território, à riqueza da sua pesca e à fecundidade das suas salinas”. Colmenar repara ainda na boa muralha sadina e na Arrábida, onde se colhe a grã e onde existe um muito belo “jaspe, branco, verde, encarnado e de diversas outras cores, de que se fazem colunas que, depois de um polimento, reflectem as imagens como espelhos”.
O capítulo sobre a Estremadura não termina sem uma declaração de favor e de agrado relativamente à paisagem e à vida: “os frutos e os vinhos de toda a província são admiráveis; é ali que existem as laranjas doces que vão em grande quantidade para os países estrangeiros, com os vinhos e outras frutas. A terra está sempre coberta de flores, as abelhas produzem uma maravilhosa quantidade de mel, as oliveiras dão azeitona de que se faz um azeite excelente, os rios fornecem bom peixe, as montanhas têm várias pedras preciosas, enfim o ar é ali tão doce e bom que parece existir uma perpétua Primavera. Não se podem desejar mais encantos num País”.
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