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sábado, 9 de abril de 2011

Sobre o 9 de Abril [de 1918], em La Lys, na I Grande Guerra

«França, 11 de Abril de 1918
Minha muito querida Helena
(...) Quando receberes esta carta já saberás decerto que os boches fizeram um grande ataque à frente da nossa divisão da linha e de mais duas divisões inglesas. Executaram-no com 5 divisões sobre 3 divisões aliadas. A nossa estava no meio. Iniciaram-no com um bombardeamento brutal. A nossa gente aguentou-se lindamente, mas os ingleses cederam nos flancos, de um e de outro lado das nossas forças, e a nossa não se podendo aguentar mais teve de retirar. A luta foi épica; os homens portaram-se como leões. O terreno disputado palmo a palmo, a baioneta em luta corpo a corpo. As peças de artilharia disputadas a tiro de espingarda. (...)
Perante a superioridade esmagadora do número, as nossas tropas retiraram e estão agora concentrando-se cá muito à retaguarda. Outras divisões inglesas e escocesas de reserva é que estão agora lá disputando o terreno aos alemães.
As nossas tropas estavam para sair nesse mesmo dia das trincheiras e virem todos descansar à retaguarda. Foi pena que não tivessem saído um dia antes ou o ataque não tivesse sido um dia mais tarde. Todos os nossos batalhões tinham efectivos reduzidíssimos, pois de Portugal não vêm reforços desde o fim de Novembro. Se tivessem vindo, estou certo que não recuaríamos nem um passo e teríamos repelido os alemães. Mas, para protegerem meia dúzia de meninos que não querem vir como é seu dever, sacrificam-se todos os que cá estão. O não mandarem reforços é o maior crime que essa gente tem cometido. (...)»

Quem assim escrevia a partir da Flandres era o então major Manuel Maia Magalhães, em carta dirigida à esposa. No dia seguinte, em nova carta para Helena Bravo Torres, corrigia os números, escrevendo: «Disse-te que eles atacaram com 5 divisões contra uma nossa e duas inglesas, mas não foi: atacaram com 8, isto é, com 80 000 homens de infantaria além de muita artilharia as 3 de cá.»
Estas cartas, bem como as restantes enviadas a sua mulher, tiveram publicação recente, em edição organizada por Vitorino Magalhães Godinho - Manuel Maia Magalhães. Correspondência da Grande Guerra. Col. "Biblioteca de Autores Portugueses". Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2010.

Só um aparte: vi alguns jornais de hoje; nem uma palavra sobre a efeméride. A memória tem destas coisas!...