Contar uma história e o prazer de ouvi-la. Os rituais dos contadores de histórias. As histórias da literatura oral e tradicional e os seus ensinamentos ou o seu papel na memória e na identidade. Estes poderão ser temas para conversa na próxima sessão de "Sextas - Arte e Ciência", promovida em Setúbal pelo Synapsis, na sexta-feira, 13 de Outubro, no Museu de Arqueologia e Etnografia de Setúbal, em que Sara Loureiro apresentará, Joaquina Soares intervirá e contadores de histórias participarão. O título é sugestivo: "... entre contos e lendas, uma viagem pela memória e pela literatura oral tradicional". Para a agenda!
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quarta-feira, 11 de outubro de 2017
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Gabriel García de Oro: "Storytelling", o saber que as histórias desvendam

Terão as histórias efeito mágico? Poderão elas integrar uma rede responsável pelo reforço relacional, um poço de saberes úteis para a vida e para os sistemas a que pertencemos?
Lê-se Storytelling, de Gabriel García de Oro (Lisboa: Gestãoplus Edições, 2011), e regressa-se ao tempo em que as fábulas e as pequenas histórias povoavam o nosso imaginário. Com uma diferença: na infância pretendia-se criar um mundo mágico, universo infantil povoado por seres extraordinários, com algumas moralidades que eram entendidas de imediato mas cujo alcance ficava para um futuro; agora, as conclusões constituem o mais importante nicho que rodeia as histórias, anedotas umas, episódios verdadeiros ou verosímeis outros, narrativas da antiguidade e de livros sagrados ainda outras, quadros banais e quotidianos alguns. O subtítulo do livro, “A Magia das Palavras”, valoriza a força do verbo; o balão promocional que se lhe segue apresenta o género – “fábulas, anedotas e histórias dos melhores MBAs”.
São quase cinquenta histórias, que dão outros tantos capítulos, acompanhadas por comentários e moralidades, vocacionados para a orientação das relações no mundo do trabalho, da empresa, ou apenas para orientação na vida.
No final, um guia temático, metaforicamente chamado “Caixa de primeiros socorros da empresa”, serve como roteiro que alia cada uma das histórias a uma das áreas de intervenção abordadas – informação, segurança em si mesmo, preconceitos, ganhos, estratégia, sucesso, gestão de equipas, pensamento lateral / criatividade, gestão do tempo, gestão do poder, crises, atitude, planificação, males da empresa e negociação.
O livro é de leitura fácil, dada a curta extensão de cada capítulo e o facto de os comentários irem ao essencial. Torna-se eficaz e directo, surpreendendo o leitor pela pertinência das reflexões a partir de histórias por vezes banais ou que poderiam não ir além da anedota.
Um exemplo?
Quando ele e ela estavam a tomar banho, a campainha tocou. Acedendo ao pedido dele, foi ela quem se enrolou na toalha e se dirigiu à porta. Abriu, porque era pessoa conhecida, vizinho. Ao vê-la, disse-lhe que lhe daria mil euros se deixasse cair a toalha, oferta que fez a mulher pensar. A insistência foi até ao ponto de o vizinho exibir as duas notas de 500 euros. A tentação dominou-a e a toalha caiu. Ele contemplou a mulher, remirou-a, deu-lhe o valor prometido e despediu-se. Quando chegou à casa de banho, explicou ao marido quem tinha vindo bater à porta. “Ainda bem… Devolveu-te os mil euros que lhe emprestei?”, perguntou ele.
Todos somos levados a pensar, e com razão, que ela passou por uma situação ridícula. Mas só chegamos aí depois de conhecermos a pergunta final, isto é, apercebemo-nos do ridículo quando a mulher o sente também.
Que comentários suscita esta história ao autor? Todos vão no sentido da partilha da informação e da necessidade de se estar informado. E a conclusão de García de Oro é: “Partilhar e estar na posse de toda a informação necessária evita que nos exponhamos ao ridículo e que nos vejamos em situações de clara desvantagem.” Na tal caixa de primeiros socorros, esta história tem entrada em dois grupos – o da informação e o dos males da empresa.
A vantagem deste livro advém da força das curtas narrativas, que valem mais, muito mais, do que as largas considerações sobre as melhores formas de se agir.
terça-feira, 9 de agosto de 2011
Antonio Tabucchi, «Mulher de Porto Pim»

Mulher de Porto Pim é um livro de Antonio Tabucchi (Lisboa: Difel, 1986) que tem como motivo os Açores, escrita que surge como resultado de uma estadia no arquipélago, ainda que não se trate de um diário de viagem (“género que pressupõe tempestividade de escrita ou uma memória impermeável à imaginação que a memória produz”).
Aqui se fala de naufrágios, dos baleeiros, da caça à baleia (valendo a pena comparar a narração de Tabucchi com a que Brandão também nos legou em As Ilhas Desconhecidas, da década de 1920), de conversas ouvidas, de histórias contadas e de Antero, essa figura que “sofria de infinito”.
Há história e impressões, há experiência de viajante e de curioso. E há anúncios que passam pela história das baleias e dos açorianos – a baleia como arquétipo e a premonição do fim dos baleeiros (no final do episódio da caça, quando o velho Carlos Eugénio quer saber o motivo de o visitante ter querido participar na saga, há a hesitação e o desabafo: “talvez porque ambos estão em extinção, digo-lhe por fim em voz baixa, vocês e as baleias, penso que foi por isso.”) E há uma narrativa, confiada pelo narrador Lucas Eduíno, que toma para título o homónimo do livro – “Mulher de Porto Pim”, história de Yeborath, cume de beleza, morta com um arpão, narrativa a que não falta a intriga amorosa, a prisão, a morte, o sentimento da traição, o triângulo amoroso, numa acção algo ao gosto camiliano. E há, no final, como “post scriptum”, a personificação num texto como “A baleia que vê os homens”, algo irónico, que deixa o cetáceo a pensar sobre os homens: “percebe-se que são tristes”.
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Histórias - «Todas as histórias são banais, o importante é o ponto de vista.»
Curiosidade - «A curiosidade é sempre um óptimo guia.»Vida - «Por vezes, os passos da nossa vida podem ser guiados pela combinação de poucas palavras.»
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Mulher - «Uma casa sem uma mulher não é uma verdadeira casa.»
Traição - «A traição verdadeira é quando sentes vergonha e desejarias ser outro.»
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domingo, 26 de dezembro de 2010
Gonçalo M. Tavares, “Uma Viagem à Índia”, canto VI
* “Para conheceres as melhores mentiras de um país ou de um homem terás que te sentar longamente ao pé dele. Ninguém mente aos gritos, de longe.” (est. 2)
* “Não se aprende a ser sábio como se aprende a resolver uma equação. Nas duas aprendizagens exige-se atenção total, é certo, mas há no caminho para a sabedoria mais obstáculos, como se algures, deuses de voz rouca tivessem assumido o compromisso de não deixar a filosofia sensata ocupar por completo os homens. E talvez a causa seja puramente egoísta, pois se todos fossem sábios quem precisaria de templos?” (est. 7)
* “O mar não é como o fogo em que uma pequena parcela dá ideia do conjunto: o mar não existe em caixas, não se mantém intacto quando passa para um aquário. O mar não é apenas água salgada, é a sua grandeza que lhe dá o nome.” (est. 18)
* “A coerência de uma coisa, de um objecto ou de uma pessoa, dispensa a inteligência dos outros, dispensa ainda a investigação. (A excitação depende mais daquilo que está escondido do que do visível, toda a gente o sabe.)” (est 22)
* “A Natureza é mais ágil no ataque do que na defesa: constroem-se cidades em cima de florestas, mas debaixo das estradas e dos estabelecimentos comerciais há uma vida animal que persiste e faz ruído.” (est. 24)
* “De entre os vários reinos e géneros animalescos, os mamíferos são de longe os que melhor põem a funcionar a amizade; mas mesmo assim, nessa amizade, surgem avarias constantes.” (est. 31)
* “Se a ligação entre os homens fosse perfeita não teria existido a necessidade de inventar a linguagem. Falar é a maneira mais civilizada de marcar uma distância de segurança; os animais rosnam entre si, os homens elaboram sobre o clima e citam autores clássicos. Mas ambas as acções têm o mesmo efeito.” (est. 32)
* “Há no escutar, que parece acto passivo e pacífico, uma estranha parte activa, que são os olhos. Escuta bem quem tem olhos atentos.” (est. 39)
* “A timidez não é um valor benéfico no campo de batalha. Ou se avança ou se foge muito rápido, hesitações demoradas transformam-se habitualmente na última acção de um soldado.” (est. 46)
* “Cada homem tem, de modo telegráfico, as duas faces: tem medo e mete medo. Um homem unilateralmente corajoso não existe, a não ser que seja unilateralmente pouco inteligente.” (est. 53)
* “O que é contar uma história senão esticar a distância entre a primeira palavra e a última?” (est. 69)
* “O sítio essencial de um corpo é o sítio por onde se começa a morrer ou por onde a doença é inaugurada. Cada morte diz qual o bocado do corpo que afinal deverias ter defendido.” (est. 70)
* “Perigos nunca fizeram adormecer, nem cansadas ficam as pernas que fogem ou perseguem.” (est. 95)
* “No mundo, o sofrimento ensina mais do que cem professores bem-intencionados. (…) Os sofrimentos não são todos da mesma espécie animal: de uns, sais aperfeiçoado, de outros, canino e obediente.” (est. 97)
Gonçalo M. Tavares. Uma Viagem à Índia. Alfragide: Leya / Caminho, 2010.
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
António Fontinha contou histórias na Escola
“Vocês conhecem histórias tradicionais?” E foi a medo que um dos alunos respondeu: “Capuchinho Vermelho”. “Muito bem! E sabes quem é o seu autor?” Que não, disse o jovem. “E quem ta contou?” Já não sabia. “Eu também não sei quem é o seu autor ou quem ma contou.”
Quem assim conversava com os alunos era António Fontinha, contador de histórias tradicionais portuguesas, que ontem esteve na Escola a animar duas sessões com alunos do 7º ano. Receosos a princípio, apesar de saberem ao que iam (alguns até tinham lido a reportagem da revista “Única” do Expresso sobre contadores de histórias, saída na semana passada), os alunos foram, pouco a pouco, deixando que o envolvimento do fantástico tomasse conta deles. Ouviam “A lavadeira e o cágado”, seres dialogantes, história que desconheciam. “Vocês sabem que os contos tradicionais portugueses são muito pouco conhecidos?” E a história continuou até ao momento em que o pai da lavadeira a surpreendeu, pensativa, no quarto, na manhã seguinte. “Mas os contos tradicionais portugueses são muito curiosos e têm despertado muito interesse.” E a história acabava com agrado, depois de uma narração com trejeitos de diversas personagens, variações de voz (dando vozes), marcas de espanto e de surpresa, numa pluralidade sobre o palco a partir de um actor apenas, aquele mesmo, António Fontinha.
Depois, foram as adivinhas. Da mais simples à mais complexa. “As adivinhas são sempre exactas.” E Fontinha demonstrava, explicando e fazendo concordar os passos da adivinha com as características da solução. E alguns, usando a lógica que sabiam, aventavam soluções. E algum até acertou.
Foi uma sessão em cheio. “Só foi pena ser tão pequena”, diziam-me. Pois. Três quartos de hora cheios de magia e de passeio no reino da fantasia tinham voado. De António Fontinha ficou uma boa recordação e a vontade de verem, lendo ou ouvindo, algumas das histórias que constam no livro que a Câmara Municipal de Palmela editou há uns anos, recolhidas pelo próprio Fontinha no concelho (Contos populares portugueses ouvidos e contados no concelho de Palmela, 1997). Iremos ler algumas, claro, que o apetite ficou aberto!
Quem assim conversava com os alunos era António Fontinha, contador de histórias tradicionais portuguesas, que ontem esteve na Escola a animar duas sessões com alunos do 7º ano. Receosos a princípio, apesar de saberem ao que iam (alguns até tinham lido a reportagem da revista “Única” do Expresso sobre contadores de histórias, saída na semana passada), os alunos foram, pouco a pouco, deixando que o envolvimento do fantástico tomasse conta deles. Ouviam “A lavadeira e o cágado”, seres dialogantes, história que desconheciam. “Vocês sabem que os contos tradicionais portugueses são muito pouco conhecidos?” E a história continuou até ao momento em que o pai da lavadeira a surpreendeu, pensativa, no quarto, na manhã seguinte. “Mas os contos tradicionais portugueses são muito curiosos e têm despertado muito interesse.” E a história acabava com agrado, depois de uma narração com trejeitos de diversas personagens, variações de voz (dando vozes), marcas de espanto e de surpresa, numa pluralidade sobre o palco a partir de um actor apenas, aquele mesmo, António Fontinha.
Depois, foram as adivinhas. Da mais simples à mais complexa. “As adivinhas são sempre exactas.” E Fontinha demonstrava, explicando e fazendo concordar os passos da adivinha com as características da solução. E alguns, usando a lógica que sabiam, aventavam soluções. E algum até acertou.
Foi uma sessão em cheio. “Só foi pena ser tão pequena”, diziam-me. Pois. Três quartos de hora cheios de magia e de passeio no reino da fantasia tinham voado. De António Fontinha ficou uma boa recordação e a vontade de verem, lendo ou ouvindo, algumas das histórias que constam no livro que a Câmara Municipal de Palmela editou há uns anos, recolhidas pelo próprio Fontinha no concelho (Contos populares portugueses ouvidos e contados no concelho de Palmela, 1997). Iremos ler algumas, claro, que o apetite ficou aberto!
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