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sábado, 19 de janeiro de 2013

Marçal Grilo e Oliveira Martins: o pacto da educação

A propósito de bons resultados obtidos pelos alunos portugueses em estudos internacionais, nas áreas da ciência e da leitura, Eduardo Marçal Grilo e Guilherme d’Oliveira Martins (que já foram ministros da educação) assinam no Expresso de hoje pequeno texto (“A qualidade é notícia”, pg. 30) que contém princípios que deveriam ser orientadores para a educação em Portugal. 

Reproduzo três excertos, a todos valorizando por igual, porque acredito nos princípios neles consignados e porque exigem uma responsabilidade partilhada e vasta e uma coerência e coesão que vão muito para lá dos mandatos parlamentares, dos governos ou do silêncio e dos medos para que vamos sendo remetidos.


Conhecimentos e atitudes – “(.…) No mundo tão complexo em que vivemos, o que importa é que os jovens portugueses sejam preparados numa perspectiva integrada em que os conhecimentos são muito relevantes, mas em que as atitudes e os comportamentos de cada um no tocante ao pensamento autónomo, responsabilidade, liderança e espírito de iniciativa são tão relevantes quanto os saberes e conhecimentos científicos. (…)”

Valores – “(…) Portugal precisa de políticas claras, estáveis e de longo prazo em matéria de educação. A crise e as dificuldades financeiras não devem retirar-nos a capacidade para enfrentar os problemas da educação além dos aspectos meramente quantitativos que resultam dos cortes orçamentais. Famílias, pais, professores, directores das escolas, estudantes precisam de estímulos e de acreditar que só através do estudo, do trabalho e do esforço seremos capazes de vencer a crise e sair da angústia em que o país vive mergulhado. (…)”

Outros rumos – “(…) Portugal sairá da crise, recusando a mediocridade e dando à educação, à cultura e à ciência a prioridade que exigem. O país está cansado dos discursos sem consistência que nos debilitam e nos tiram a esperança. Ninguém pode viver sem esperança e sem ânimo para o dia de amanhã.”

sábado, 4 de setembro de 2010

Seis revisitações da escola (e outras tantas dicas)

A revista “Única”, que integra o Expresso, teve como tema da edição de hoje “Voltar”, entrando também na área da educação, em que seis personalidades portuguesas foram convidadas a um regresso à escola onde estudaram para falarem desse tempo, o que as levou a, inevitavelmente, considerações sobre o presente. Aqui deixo alguns excertos, que tocam em algumas das questões que estão (ou deviam estar) em discussão no presente.
Rita Ferro, escritora, estudante no Colégio das Escravas do Sagrado Coração de Jesus: “Considero os programas actuais autistas relativamente ao perfil do aluno do terceiro milénio, mais sensorial e imediatista, mais áudio-visual do que leitor, menos estimulado em casa. Exauridos e falidos, os pais só querem que os filhos passem de ano. (…) Tolerância zero à indisciplina, com penalizações inflexíveis a incidir sobre as notas, as propinas, a própria frequência. Tolerância zero à interferência histérica e abusiva dos pais na sobreprotecção dos meninos. E maior crivo na contratação dos professores. Um povo deseducado e culturalmente desfavorecido sem segurança para interferir na política, é uma crucifixão cartológica.”
Medina Carreira, advogado e ex-ministro, estudante nos Pupilos do Exército: “Não há melhor avaliação do que quando um estudante está pressionado como se estivesse na vida. Negar estas exigências da vida é de gente tola.”
Nuno Crato, professor universitário, estudante no Liceu Pedro Nunes: “Havia os maus e os bons [professores]. Mas em todos transparecia respeito pelo conhecimento e pela cultura. Talvez o que mais me tenha marcado foi esse espírito geral de gosto pelo conhecimento e gosto pela racionalidade. (…) É necessário instituir seriedade na avaliação dos estudantes (…) e é preciso maior seriedade na formação científica dos futuros professores.”
António Câmara, professor universitário, estudante no Liceu Pedro Nunes: “Tanto no secundário como na universidade, ainda não se percebeu a importância da criatividade. O ensino em Portugal é convergente e raramente divergente. (…) A internet mudou e baralhou tudo. E começa a ter consequências no ensino. A linguagem vídeo, por exemplo, é absolutamente crucial e ainda não chegou devidamente ao sistema de ensino. Os professores precisam de adaptar-se. Tem de haver disciplinas e cadeiras muito mais abertas. A nossa taxa de insucesso escolar é em primeiro lugar o insucesso do sistema de ensino.”
Eduardo Marçal Grilo, administrador e ex-ministro, estudante no Liceu Nun’Álvares: “As escolas precisam de lideranças fortes. Não impondo modelos, mas no sentido organizativo e de objectivos de cada escola. Faz sentido que haja um condutor da escola. (…) Importante é saber quem são os alunos, de cada escola, de cada região. Só desta forma se combate o insucesso escolar: aluno a aluno. (…) Têm de ser definidas metas, patamares de conhecimento. Esses patamares têm de integrar a escola e a família, que hoje em dia se demite da educação dos filhos.”
Irene Fulsner Pimentel, historiadora, estudante no Charles LePierre: “O problema não está na reprovação, está no insucesso escolar. E a discussão deve centrar-se aqui. (…) Eu sou de esquerda, toda a gente sabe. Mas a esquerda teve algumas culpas no nosso sistema educativo. Houve uma altura em que se passou a achar que a educação devia ser uma coisa lúdica. Sou muito a favor da avaliação. Dos professores e dos alunos. A escolha criteriosa dos professores seria um bom começo.”

domingo, 12 de outubro de 2008

Marçal Grilo e algumas amarguras na educação

A propósito da Futurália (Feira da Juventude, Qualificação e Emprego), que vai ter lugar em Lisboa entre 10 e 13 de Dezembro, Marçal Grilo, que preside à Comissão Consultiva do evento, teve entrevista publicada no Expresso de ontem, no suplemento “Emprego”.
Respondendo à questão sobre as áreas que lhe causam maior preocupação no panorama educativo, disse: “Preocupam-me alguns currículos nos cursos de formação de professores. Devíamos ter uma componente, designadamente para os professores dos primeiros anos de escolaridade, com maior incidência na componente científica. Além disso, verifica-se também um grande afastamento em áreas como a Matemática, as Ciências e as Tecnologias. E esta é uma matéria muito sensível porque temos alguns desencontros estruturais a este nível. Precisamos de mais gente nas áreas de tecnologia, ciências e engenharia. Preocupa-me também a atitude que muitos compatriotas têm em relação à escola. Eles não olham para a escola como algo que possa ser relevante para o futuro dos seus filhos, como um instrumento de aprendizagem, mas mais no sentido de a ultrapassar. Preocupam-se sobretudo que os miúdos passem e não tanto com o que eles sabem. Confesso que me inquieta também uma certa deterioração das relações entre os vários parceiros. Já o disse publicamente e faço votos para que este clima não regresse, pois isso reflecte-se no ambiente vivido nas escolas e quem sai prejudicado são as crianças e os jovens.”
Mais adiante, falando sobre o sucesso, essa palavra mágica que parece resolver todos os problemas do universo e que parece ser o único objectivo a atingir pela sociedade, considerou o ex-Ministro da Educação: “É preciso também perceber o que se pretende com o sucesso nas escolas. Para mim, o sucesso traduz-se nos alunos saberem mais, terem maior consciência das suas capacidades e uma atitude diferente perante o mundo e a sociedade.” O facto de 60% da população portuguesa ter o máximo de seis anos de escolaridade mereceu-lhe o seguinte comentário: “Isso é uma falha terrível que não fomos capazes de equacionar depois do 25 de Abril. A minha geração vai ficar aqui com um peso na consciência por não ter sido capaz de motivar os jovens para a educação. Houve muita euforia mas faltou isto. Não é admissível que tenhamos estas taxas de insucesso e de abandono escolar.”