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sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Sublinhados - José Rodrigues Miguéis, "O Espelho Poliédrico"



O Espelho Poliédrico, de José Rodrigues Miguéis (Lisboa: Estúdios Cor, 1972), é um conjunto de textos em que o cronista se assume como “simples narrador de histórias reais e experiências inventadas” (como refere no intitulado “O galo, o estudante e o professor”), embora algumas vezes povoando esses mesmos textos com uma dose de memorialismo, mesmo que tenha registado algo como: “Não escrevo memórias, talvez nunca as escreva: a não ser transpostas em ficção, ou quando um flash de lembrança, como agora, me ilumina.” (em “O Corcundinha”). No final da obra, lá vem a “nota do autor” a explicar que as crónicas são um conjunto vasto e diversificado de “memórias, comentários e ficções” e a indicar a origem - publicadas no Diário de Lisboa, na sua maioria, entre 1968 e 1971, algumas inéditas e outras surgidas em várias publicações periódicas.

Sublinhados
Automóvel - “O automóvel é também um prolongamento mórbido da personalidade e da sensibilidade: ao mais leve contacto, risco ou amolgadela no verniz da carroçaria ou nos niquelados, pior que insultos ou facadas; se alguém se me atravessa no caminho, me obriga a desacelerar a marcha, me ultrapassa ou me rouba o precioso parking - eu pulo fora do carro, espumante e de punhos em riste, pronto a insultar, a agredir, a matar até, como é frequente, o transgressor dos meus sacratíssimos ‘direitos’. O carro fez dos homens autênticos artrópodes metalomecânicos, lavagantes desmiolados, impessoais, isolados entre si pela carapaça de duas toneladas de aço-lata com motor e quatro rodas, capaz de esmigalhar ossos, carnes e nervos, na qual andam metidos e conduzem (ou são conduzidos) sem verem os seus semelhantes: com a mesma anarquia de sentimentos, a mesma fúria, indiferença ou hostilidade com que andariam entre inimigos ou em terra conquistada.” (“Sua Majestade o Automóvel”)
Eternidade - “A Eternidade não é feita da soma dos dias, dos instantes, mas do aprofundamento de cada instante, de cada átomo, de cada ser, em que a própria matéria se dissolve.” (“Enterro de um Poeta”)
Homem - “É nas mínimas circunstâncias do quotidiano que os homens, por vezes, melhor revelam a sua têmpera.” (“O galo, o estudante e o professor”)
Juventude - “O tempo da mocidade é curto, mas denso de afectos e actividades.”  (“Levanta-te e Caminha”)
Mudança - “As coisas, quando mudam, é: a) para melhor; b) para pior; c) para ficarem na mesma. Esta saída é mais frequente do que se imagina.” (“Aforismos e Venenos de Aparício - III”)
Ódio - “Os ódios e rancores não se calam nem à beira do túmulo.” (“Requiem para Junqueiro”)
Palavra - “Vale mais um pensamento lúcido, embora sem palavras, do que a verborreia a mascarar o vácuo ou pobreza das ideias.” (“Aforismos e Venenos de Aparício - III”)
Política - “O a-politismo é quase sempre uma política de sinal contrário (ou resulta nela).” (“Levanta-te e Caminha”)
Vida - “A vida é feita de tanta coisa! E nem toda a sabedoria se aprende nos livros.” (“A garrafa de conhaque”)

sábado, 21 de dezembro de 2013

Máximas em mínimas - Almada Negreiros

Depois de reler Almada Negreiros, em Nome de guerra (escrito em 1925 e só publicado em 1938)...

Amar – “Quando se gosta de alguém, gostar, gostar a valer, a gente não sabe mais nada neste mundo senão que gosta dessa pessoa. (…) Vão os dois para toda a parte, com ou sem dinheiro, andam juntos. Gostar é gostar.”
Autobiografia – “O trabalho para a autobiografia não é mais do que evitar aquilo a que outros nos quiseram forçar.”
Família – “Temos todos as nossas árvores genealógicas do mesmo tamanho. Lá no tamanho das árvores somos todos iguais. Mas é precisamente nas árvores que está a nossa diferença. Vê-se perfeitamente que a cada um aconteceu qualquer coisa que não se passou com mais ninguém. E aconteceu-nos antes ainda de nós termos nascido. É a árvore genealógica. Esse segredo do nosso segredo. Esse mistério do nosso mistério. Nós somos hoje o último fruto dessa árvore secular, secularmente secular!”
Lealdade – “Quando os inimigos se igualam, e igualadas as forças dos adversários, já não há outras esperanças senão as que ficam fora do terreno da lealdade.”
Mulher – “A mulher sabe perfeitamente melhor o efeito que produz nos homens do que o homem nas mulheres.”
Palavra – “O número de palavras não é infinito, mas é infinito o número de efeitos, conforme a disposição das palavras. Com vinte e seis letras do alfabeto escrevem-se todos os idiomas e não ficam escritas todas as palavras nem definitivos os dicionários.”
Realidade – “Não há mestre mais categórico do que a realidade a seco.”
Separação – “Quando duas pessoas separam as suas coisas que estiveram juntas, o que é de cada um é tão pouco que ainda é menos do que antes de conhecer aquele de quem se separa.”
Sinceridade – “Ninguém no mundo se pode queixar de ter sido vítima da sua sinceridade. O que pode é cada um ficar surpreendido com o facto de a sua sinceridade o ter levado mais longe do que lho permite a sociedade.”
Solidão – “O horror de estar só no mundo apenas o podem sentir aqueles que já perderam o melhor que tinham e não conseguem a certeza de nada.”
Verdade – “Aqueles que pretendem ver a verdade e não tiram os olhos de cima dela acabam por esquecer-se que a querem ver e ficam só a olhar para ela; mas os que fazem por esquecê-la, quanto mais se esforçam por distrair-se mais a verdade os agarra pelos pulsos e lhes fala cara a cara.”
Verdade – “Quem pensa sozinho não quer senão a verdade, as justificações são por causa dos outros.”
Vida – “Há vidas que é preciso encher com qualquer coisa de vez em quando.”
Vida – “São tão diferentes as idades da vida de cada um que quem não vai por essa diferença é porque parou numa delas. As idades da vida não se passam por alto; ou se vivem ou ficam por viver.”

sábado, 4 de maio de 2013

Máximas em mínimas (97) - João Tordo


Depois de ler O bom inverno (Dom Quixote, 2010), de João Tordo, um lote de máximas, organizadas por ordem alfabética e não pela ordem em que aparecem no livro.

Cronologia – “Existem, na verdade, razões para explicar como as coisas [acontecem] e, se existem razões, é possível ordená-las numa cronologia. Porém, tal como no funcionamento do universo, o todo raramente corresponde à soma das partes.”
Desgraça – “Talvez, no fundo, toda a gente leve a desgraça no rosto. (…) Alguns de nós andam por aí com as marcas da sua finitude à mostra e outros, embora pareçam não as ter, estão tão condenados como os primeiros.”
Destino – “Pergunto-me muitas vezes como é possível que o destino nos pareça um conceito plausível quando este mundo é uma panóplia de erros que conduzem aos piores horrores. Usamos o destino como álibi, crendo, ingénuos, que as coisas acontecem de certa maneira porque não poderiam acontecer de outra; essa crença, tão válida como a crença em Deus ou na imortalidade da alma, tem consequências terríveis para o espírito que, mais cedo ou mais tarde, se vê corrompido pela dúvida que tem origem na impossibilidade de sabermos, com qualquer grau de certeza, se as nossas decisões nos trarão paz ou, pelo contrário, irão acordar as bestas do Inferno; se, doravante, teremos de caminhar pelo mundo com a cabeça voltada ao contrário como um contrapasso de Dante.”
Dor – “Mesmo imaginada, uma dor continua a ser uma dor; está lá quando nos deitamos à noite, está lá antes do pequeno-almoço.”
Existir – “Se não estivermos muito preocupados com a existência, tendemos a ser mais racionais. Ou menos sujeitos aos nossos impulsos. A vida torna-se menos dolorosa.”
Imundície – “Há sempre quem compre coisas imundas, embora não haja sempre quem compre coisas belas.”
Inveja – “Não existe pior mistura de sentimentos neste mundo do que o ciúme, a inveja e a admiração; é uma trindade tão perigosa que pode levar um homem a ascender ao Céu ou a lançar-se de um penhasco até ao mais profundo dos Infernos.”
Medo – “O medo transforma-nos, faz de nós presas fáceis, mergulha-nos num torpor pesado e ruminante.”
Palavra – “As palavras têm o seu poder sobre as pessoas. Se forem as palavras certas, podem mover montanhas. Ou transformar a água em vinho.”
Saber – “Não é possível saber tudo. Existem certos momentos que, se não os vivermos, são impossíveis de resgatar através de outros.”
Sarilhos – “Há um limite para a quantidade de sarilhos em que uma pessoa se pode meter.”
Solidão – “A ausência, a solidão e o esquecimento [são] coisas terríveis, tão terríveis como a mutilação ou a morte de um filho, tão terríveis como um velho amigo ao qual nunca mais ouviremos a voz nem conheceremos o cheiro nem saberemos a cor dos olhos, tão terríveis que, mesmo nos livros, até nos romances mais pessimistas, não devemos chamar por elas, não devemos enaltecê-las ou tentar transformá-las em beleza.”
Surpresa – “A última coisa que uma besta espera é que a presa se meta no seu covil.”

Verdade – “A verdade é uma miragem tragicamente limitada pela condição humana. Ainda assim, a verdade é tentada vezes sem conta.”

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Sobre o poder das palavras



Já não é recente, eu sei. Mas é eloquente!


quinta-feira, 19 de julho de 2012

Maria Barroso: "Cartas a Mário Soares" e uma biografia



Aos 87 anos, Maria Barroso resolveu partilhar a narrativa da sua vida com os leitores através da publicação das suas memórias e da correspondência mantida com o marido, Mário Soares, entre 1961 e 1974, num projecto co-editado pelo semanário Sol e pela Fundação Pro-Dignitate. É um conjunto de 18 volumes, publicados a ritmo semanal, em que a epistolografia ocupará 8 deles (Cartas a Mário Soares 1961-1974) e a biografia os restantes (Álbum de memórias). O trabalho foi coordenado pelo jornalista Vladimiro Nunes, que anotou as cartas e redigiu os volumes de cunho biográfico. Até ao momento, foram publicados cinco volumes deste projecto [o próximo sai amanhã, com o jornal Sol], sendo quatro deles da correspondência.
O primeiro volume da biografia ocupa-se sobretudo da história da ascendência de Maria Barroso, incidindo bastante sobre a actividade do pai, militar e republicano, alvo de perseguições e de prisões graças aos compromissos assumidos. O final do volume encontra Maria Barroso na sua infância em Setúbal, aos dezasseis meses (em Setembro de 1927).
Preocupação de Vladimiro Nunes é de contextualizar a narrativa no Portugal da época, com referências adequadas à vida política, cultural e social do país, com indicações cronológicas sobre acontecimentos e sobre outras personalidades que viriam a ser referências para o século XX português e que viriam a cruzar-se também com o percurso de Maria Barroso e de Mário Soares em muitos casos. Para a elaboração deste trajecto biográfico, Vladimiro Nunes teve como fontes a própria Maria Barroso, um vasto leque de amigos e de familiares da biografada e o arquivo de família, assim se justificando o título, que alia a capacidade da memória e a característica antológica dos eventos, das histórias e das personagens que fazem uma vida.
Quanto aos quatro volumes de correspondência já publicados, o leitor entra nos tempos de ausência de Mário Soares relativamente à família, fosse por estadias longas no estrangeiro, fosse pelos tempos de cárcere ou de desterro. As cartas de Maria Barroso para o marido são um ritual diário nesses tempos de ausência, muito próximas da escrita diarística, relatando o acontecido naquele dia, com considerações a propósito, por onde passam os registos da vida do Colégio Moderno (sobre os professores, sobre a gestão e organização, sobre as inscrições, sobre as obras, sobre as colónias de férias), o acompanhamento dos filhos João e Isabel (nos estudos, nas relações sociais, na educação), o cuidado prestado a familiares (sobretudo ao sogro, João Soares, na vigilância da sua saúde, no acompanhamento, na gestão das relações familiares), a gestão do património familiar (acompanhamento das obras na casa de Nafarros, da actividade no escritório de advocacia de Mário Soares e manutenção da casa de Cortes), as relações sociais (manutenção das amizades e presenças em eventos, muitas vezes em representação do casal ou do marido), a preocupação em minimizar os efeitos do afastamento (fazendo chegar à prisão livros, refeições por si confeccionadas, marcando presença nos escassos tempos de visita), as emoções (provas de afecto, considerações sobre a vida do casal, incentivo contra a solidão e a humilhação do estatuto de preso), a vida cultural em que estava envolvida (leituras, filmagens, sessões de poesia e de teatro).
Percebe o leitor que a intenção de Maria Barroso era a de tornar o mundo familiar presente a Mário Soares, assim impedindo que as interrupções da vida em comum equivalessem a descontinuidades e possibilitando que os projectos em que estavam envolvidos pudessem continuar a ser gizados a dois.
As cartas de Maria Barroso assumem também essa perspectiva de luta contra a solidão, passeando pelos relatos do quotidiano, mas demonstrando ainda as angústias e as dúvidas de quem não quer vacilar, de quem quer ser presente e vencer a distância, muitas vezes confessando o exercício de aprendizagem que aqueles afastamentos lhe proporcionam à medida que cresce a admiração pela forma como o marido enfrenta a adversidade da perseguição política.
No fundo, estas cartas são o retrato, a fixação do tempo comum possível naquelas circunstâncias, uma prova de cumplicidade efectiva na forma de fazer a vida com sentido, sempre com horizontes de esperança, muitas vezes matizados com as cores das plantas do jardim ou com os tons do dia, a evocarem momentos passados ou recortados por alusões a versos e à memória. São cartas que apaziguam quem as escreve e que pretendem idêntico efeito no destinatário, que se alicerçam na partilha e na comunhão para que o sofrimento das lonjuras seja, pelo menos, esbatido. Um belo documento humano e cultural, um bom testemunho de sinceridade e do que pode ser a vida de pessoas que caminham na mesma direcção!

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Homem (e mulher) – “Chego a pensar se de facto os homens merecem tanta ternura, tanta dedicação como aquela que algumas mulheres sabem dar. Afinal de nada serve a amizade, a dedicação, a profunda ternura de anos e anos lado a lado. A mulher chega a certa altura e está velha, gasta e já não serve – há que substituí-la por outra mais jovem, mais válida. Esta confusão, esta inversão de valores ou nos conduzem a uma atitude cínica e egoísta ou nos levam ao desespero. Sinto-me verdadeiramente atordoada com tudo isto!” [Cartas a Mário Soares 1961-1974 (vol. 2) – a propósito do divórcio previsto de um casal amigo, em carta de 19-08-1966]
Esperança – “A esperança é a mais linda flor que eu conheço mas a terra dela é o coração dos homens.” [Cartas a Mário Soares 1961-1974 (vol. 3) – em carta de 29-02-1968]
Olhar em frente – “O voltarmo-nos excessivamente para dentro de nós próprios é que nos conduz muitas vezes a situações de angústia e de nervosismo. Se olharmos para a frente, para o que é jovem e espontâneo, por muito duro que seja o que nos rodeia, por muito violenta e injusta que seja a realidade que tenta esmagar-nos, há sempre maneira de encontrarmos dentro de nós a força e a coragem de seguirmos o nosso caminho, que é o caminho da dignidade e da compreensão humana.” [Cartas a Mário Soares 1961-1974 (vol. 4) – em carta de 11-06-1968]
Palavra – “Duas pequenas palavras, repassadas de ternura e saudade, bastam, por vezes, para animar um coração desolado, para reanimar uma pessoa fatigada.” [Cartas a Mário Soares 1961-1974 (vol. 4) – em carta de 08-07-1968]

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Máximas em mínimas (83) - Alice Vieira


Sonho – “Os sonhos são recados dos deuses.”
Bondade – “Quem tem um coração de oiro nunca envelhece, mesmo que viva até aos cem anos.”
Infinito – “O que não tem fim não se pode medir.”
Palavra – “Às vezes, há palavras que matam muito mais depressa do que uma valente espadeirada.”
Chegada – “Estamos sempre a chegar e sempre a partir.”
Adulação – “Às vezes, os reis só têm ouvidos para as palavras da lisonja e da mentira.”
Amar – “Quem ama não deve pedir nada em troca desse amor.”
Alice Vieira. Leandro, rei da Helíria, 1991.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

António Oliveira e Castro: "Tambwe" ou o mundo pelos olhos de Eugénio

O mais recente romance de António Oliveira e Castro, Tambwe – A unha do leão (Lisboa: Gradiva, 2011), com ilustrações de Nuno David, é uma história que prende o leitor ao trajecto de uma personagem como Eugénio, figura que, ora procura a morte, ora assume o seu trajecto sozinho, ora peregrina até às raízes. A história é intensa e o leitor é convidado a passar por paisagens diversas, europeias (Portugal, França) ou africanas (Angola), por corredores diversificados de uma sociedade que nem sempre se rege pelos melhores princípios, convivendo com figuras da baixa política, com revolucionários, com mercenários, e tendo momentos de paragem, também fortes, em pensares de tempos de solidão ou em reflexão com figuras que constroem e se alojam na identidade.
É uma história dramática, em que o narrador dialoga com o leitor, tentando convencê-lo da verosimilhança das situações e levando-o a pensar a actualidade, o papel da política, o encaminhamento do mundo, o ser cidadão. É uma história dolorosa, com desvios e demandas, mortes e utopias, caos e ordem, poesia e horror, em que a liberdade e a prisão coexistem e a fragilidade do mundo e dos sistemas é posta à prova. É a história de uma solidão sempre e sempre testada, numa fuga ao tormento.
Sublinhados
Palavras – “As palavras, por maior que seja o seu conteúdo, não têm peso, sustentam-se de aparentes levezas, da aragem dos êxtases.”
Mistério – “Nem sempre o universo do homem se pode resumir ao encontro com a razão, na equação entram outras incógnitas, indecifráveis e misteriosas.” 
Faltas – “O que mais há na terra é paisagem e o que mais falta é o amor.”
Escrever – “Nenhum escritor escreve sobre acontecimentos insignificantes, procura sempre o lado sombrio, sujo, sanguinolento, colérico e escondido do Homem; descreve os campos de batalha onde se fuzilam os inocentes e assinam acordos de paz com os generais; o artífice da palavra relata, com a emoção de que é capaz, a loucura dos heróis, o medo dos cobardes; leva-nos até aos que jazem, na agonia da morte, debruçados sobre a terra que lhes escuta o lamento; faz-nos tropeçar nos corpos dilacerados que se espalham sobre os degraus dos edifícios em ruínas.”
Amor – “O amor é um fenómeno muito mais complexo que a morte; enquanto um regenera, o outro remete para o esquecimento.”
Vida – “Mesmo a vida mais verdadeira não passa do resultado do acaso, a que só a fé dos homens confere normalidade.”
Gerações – “O mundo acaba apenas para velhos que já não são capazes de se transformar, continua para os jovens generosos e sonhadores, que precisam de mudança.”
Futuro – “Nada, nada mesmo, obedece à lógica; apenas a aventura, o perigo, o risco, o sucesso imprevisto comandam o futuro.”
Castigo – “Os castigos são sempre subjectivos. Dependem de quem está no poder. Herói se vencer, traidor se for derrotado.”
História – “A história despreza os seus actores, reescreve-lhes o drama a seu bel-prazer; a qualquer instante pode matar num jogo de contradições, de paradoxos, de ironias, de injustiças; oportunista, caminha sobre uma estrada de cadáveres.”
Guerra – “A guerra não distingue os homens; tanto se lhe dá que sejam honestos ou assassinos, jovens ou velhos, pouco lhe importa que se encontrem exaustos ou frescos. Aliás, a violência tem especial predilecção pelos mais incautos, pelos mais fracos.”
Actor – “Apenas quando encarnam personagens que um qualquer dramaturgo inventou, os actores são belos, sedutores, insuspeitos, assim que abandonam o palco e a ribalta regressam à miserável condição humana que os agasalha.” 
Pátria – “Para que precisamos de nações? Os cidadãos precisam é de paz!”
Povo – “A história dos povos tem as suas regras, o seu tempo lento, mas as mudanças são muito mais definitivas quando a violência da guerra se torna conselheira da razão e das emoções.”
Trincheira – “Nas trincheiras, sempre morreram os jovens crédulos, cadáveres  condecorados com a crueldade do martírio. Indiferentes à hecatombe, os proprietários da pátria, latifúndio com milhares de hectares, que fazem crer ser também nossa, oferecem-nos o privilégio de lhes amanharmos o solo, de lhes produzirmos a riqueza.”
Horizonte – “A dimensão dos homens vê-se para onde olham, se para o umbigo, se para a montanha.”
Ambição – “Os homens, quando guiados apenas pela ambição, perdem a noção da realidade, escutam o umbigo quando tudo à volta se desmorona.”

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Words, words, words...

Há palavras que se vão desgastando, não por se tornarem arcaicas no que designam, mas por perderem sentido, de tanto que se insiste no seu uso, banalizando aquilo que referem. Termos como "confiança", "responsabilidade", "convicção" e outros têm enchido discursos com mensagens que em tudo têm sido contrárias ao que acontece, ao que vivemos. É por isso que, simultaneamente, acorda a palavra "descrença", afinal algo que se vai tornando... uma convicção!

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Humildade: mais uma moda para o dicionário do politiquês

«Sem tempo para mudar de políticas, o primeiro-ministro quer ser em quatro meses o contrário do que foi em quatro anos.
As eleições europeias, com o resultado que tiveram, ocorreram num calendário ingrato para o Governo. Os escassos quatro meses que as separam das legislativas tornam ineficazes as fórmulas clássicas utilizadas pelos governos quando recebem um cartão amarelo do eleitorado: a remodelação do governo e a desistência ou alteração radical das políticas mais impopulares - como aconteceu na Saúde, por exemplo.
Sem estas opções disponíveis, resta a José Sócrates a tentativa da mudança daquilo que é mais difícil: o seu estilo.
Ontem, no debate parlamentar de uma moção de censura sem história, Sócrates apontou a manutenção do rumo - naturalmente, se já não há tempo para corrigir as políticas, então os resultados da sua aplicação durante quatro anos de governação também não podem enjeitados e resta assumi--los. Mas isso vai ser feito "ouvindo as pessoas" e "explicando melhor as políticas". O mesmo, mas servido de outra forma, com outro embrulho.
Mais significativa é a chegada da palavra "humildade" ao vocabulário corrente do primeiro-ministro. "Compreendo, com humildade democrática, os sinais de insatisfação e dúvida. Procuro interpretá-los e corresponder-lhes", disse ontem no Parlamento.
Já antes, na noite de segunda-feira, tinha por duas vezes dito a palavra "humildade" aos microfones dos jornalistas. Os relatos sobre o que se passou dentro da sala onde se reuniu a comissão política do PS falam de uma noite de diálogo como há anos não se via por ali e muito longe dos ralhetes que o secretário-geral dava a quem ousava criticar medidas do Governo.
E, certamente de forma mais genuína, Sócrates prometeu que ia "fazer um esforço para ser mais humilde", mas alertou que não lhe pedissem para ser quem não é.
Esta é a questão essencial. Conseguirá o primeiro-ministro ser quem não é? Até que ponto irá esta tardia versão de um Sócrates que é humilde, dialogante, distendida, paciente, disponível para ouvir, convencer os eleitores que não é postiça, que não é mais uma fabricação da máquina de comunicação partidária, que não é mais do que um artifício para garantir uma vitória eleitoral que de repente ficou em risco?
Durante quatro anos Sócrates foi para os eleitores o oposto daquilo que agora pretende ser em quatro meses. Foi um "animal feroz", como o próprio se autodefiniu numa entrevista antes das eleições de 2005 e a sua popularidade e aceitação beneficiaram muito com isso na primeira metade do mandato. Parecem tempos já muito distantes, mas este Governo teve, de forma generalizada, boa imprensa e boa opinião muito para além do tradicional período de estado de graça. O esforço reformista, o combate a grupos de interesse e classes profissionais tidas como privilegiadas, o esforço de consolidação orçamental, a tentativa de mudar o funcionamento da função pública foram genericamente aplaudidos. Até a subida de impostos contra a promessa eleitoral foi aceite como uma medida corajosa, tomada por um governo que não tem medo de tomar medidas impopulares. Determinação, firmeza, autoridade, empenho foram, durante muito tempo, características atribuídas de forma positiva ao primeiro-ministro e ao seu estilo de governação.
Agora, em vez de determinação e firmeza fala-se em arrogância, a autoridade passou a ser autoritarismo e o empenho passou a ser teimosia.
A forma como se perdeu aquele capital político, ao ponto de se chegar a um divórcio com uma parte do eleitorado, como indicia a votação das europeias, é um dos temas de análise mais interessantes destes tempos.
Para o PS, é fácil substituir Vitalino Canas, claramente uma parte do problema da arrogância, por João Tiago Silveira. Também não será difícil pedir a Augusto Santos Silva, outro problema, para aparecer pouco, ou mesmo nada, nos próximos tempos.
Mas não se muda de líder assim. Resta então que seja o líder a mudar. Se conseguir.»
Paulo Ferreira. "Sócrates e a dificuldade da humildade". Público: 18.06.2009.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Intervalo (15) - Última actualização do dicionário de Língua Portuguesa

Ignoro a autoria da criação. Foi-me enviado sem esses dados, que julgo não serem conhecidos. Tem a sua graça e merece ser partilhado. Brincadeira com o léxico, por certo. Com piada...
Abismado: Sujeito que caiu de um abismo.
Aspirado: Carta de baralho completamente maluca.
Assaltante: Um 'A' que salta.
Barracão: Proíbe a entrada de caninos.
Biscoito: Fazer sexo duas vezes.
Cleptomaníaco: Mania por Eric Clapton.
Coitado: Pessoa vítima de coito.
Contribuir: Ir para algum lugar com vários índios.
Conversão: Conversa prolongada.
Coordenada: Que não tem cor.
Democracia: Sistema de governo do inferno.
Destilado: do lado contrário.
Detergente: Acto de prender seres humanos.
Determine: Prender a namorada do Mickey Mouse.
Eficiência: Estudo das propriedades da letra F.
Estouro: Boi que sofreu operação de mudança de sexo.
Expedidor: Mendigo que mudou de classe social.
Halogéneo: Forma de cumprimentar pessoas muito inteligentes.
Homossexual: Sabão em pó para lavar as partes íntimas.
Luz solar: Sapato que emite luz por baixo.
Ministério: Aparelho de som de dimensões muito reduzidas.
Ortográfico: Horta feita com letras.
Padrão: Padre muito alto.
Pornográfico: O mesmo que colocar no desenho.
Presidiário: Aquele que é preso diariamente.
Pressupor: Colocar preço em alguma coisa.
Ratificar: Tornar-se um rato.
Testículo: Texto pequeno.
Tripulante: Especialista em salto tripl.
Violentamente: Viu com lentidão.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Hoje, no "Correio de Setúbal"

Diário da Auto-Estima – 98
Perdidos – Na recepção de um parque de diversões destinado a famílias, surge uma inscrição sobre fundo metálico a dizer: “Pais perdidos, perguntem aqui pelas vossas crianças.” Assim, de repente, parece que o mundo se inverte: pais perdidos? Exactamente. A frase envia os leitores em várias direcções: num tal parque, todos os utilizadores se confrontam com a criança que há dentro de si e vão atrás dos apelos da fantasia; a infância define a sua orientação no parque; aquele que não se envolver com uma dose de infância qb sentir-se-á perdido; os pais devem andar atentos aos filhos e por isso ser responsabilizados. Assim, não serão as crianças que se perdem, mas os progenitores. Pelo menos, do ponto de vista emocional e da responsabilização. O mundo, numa tal situação, ficará, de facto, ao contrário. Mais vale não experimentar!
Estacionamento – Em Setúbal, no troço da Avenida Luísa Todi entre o mercado e o quartel do 11, em ambos os sentidos, o automóvel perdeu lugares de estacionamento, seja pela configuração atribuída ao novo estacionamento e ao arruamento, seja pela quantidade de lugares privados atribuídos. Neste tipo de decisões, se era pretendido que lá não houvesse carros, que se assumisse isso, transformando a Avenida em lugar de passagem apenas. Ir à “baixa” da cidade e frequentar o seu comércio tornou-se mais complicado. Não admira, pois, que a movimentação das pessoas se faça noutras direcções…
Dicionário – O leitor já imaginou as implicações sociais e culturais de um dicionário? Já pensou que o próprio conceito de definição sofre os efeitos dos tempos? O que diria de um dicionário que lhe definisse “acordar” como “tornar a cogitar acabando o sono”, “bigode” como “duas torcidas da barba”, “bilha” como “vaso que faz o som bil bil no vasar”, “cabra” como “animal de pêlo”, “carneiro” como “ovelha macha”, “cuecas” como “panos do cu”, “gaiola” como “vaso furado para ter pássaros”, “macaco” como “animal de trejeitos delirantes”, “vértebra” como “dobradiças das costelas” ou “vertigens” como “rodadura do cérebro”? Pois esse dicionário existe. Deixo a sua história para a próxima crónica, porque espaço é coisa que não sobra por estes lados…

domingo, 7 de dezembro de 2008

Memória: António Alçada Baptista (1927-2008)

Fantasia - "A gente sempre pode fazer mais, mas, muitas vezes, aqueles que fazem muito são piores para o mundo do que os que fazem pouco, porque as pessoas também têm as suas obrigações com a sua fantasia, com muitas coisas que chamam e distraem."
Livros - "Os livros são bons porque, sempre que nos sentimos sós e não temos coisas para dizer a nós mesmos, podemos falar com eles. (...) Com os livros, a gente sempre faz viagens, conhece pessoas, aprende a interrogar-se e tem oportunidade de viver e de sentir coisas que a vida lhe não deu. Outras vezes, (...) os livros entretêm a nossa fome de viver e se calhar disfarçam e adiam a obrigação que temos de procurar a vida."
Corpo - "O corpo fala tanto como as palavras, mas as pessoas, como deixaram de respeitar as palavras, também não respeitam o corpo. É por isso que o desejo é tão bruto porque só uma força muito grande e mujito cega tem poder para atravessar as barreiras que levantámos à volta do nosso corpo. (...) Um dia, as pessoas ainda vão descobrir o que podem fazer com o corpo porque os sentimentoas, quando estiverem purificados, vão ajudar-nos muito."
Solidão, palavras - "O mais importante são as palavras. Quando se vive a solidão, sabe-se que, por causa de uma palavra verdadeira, caem muitas vezes as muralhas que levantámos à volta das nossas almas. Uma palavra verdadeira pode ser um milagre: é a solidão derrotada."
António Alçada Baptista. Tia Suzana, meu amor. Col. "Aura" (12). Lisboa: Editorial Presença, 1989.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Máximas em mínimas (36)

Para a construção de metáforas
"Os nomes não têm nada a ver com a simplicidade ou complicação das coisas. Segundo a tua teoria, uma coisa pequena que voa não ter um nome tão comprido como mariposa. Pensa que elefante tem o mesmo número de letras que mariposa e é muito maior e não voa." (diz Pablo Neruda ao carteiro Mario)
Antonio Skarmeta, O carteiro de Pablo Neruda (1985)

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

João Ubaldo Ribeiro em 13 sublinhados de “A casa dos budas ditosos”

Americanos – “Americano consegue ser chato e cagar regra até em suruba, são muito piores do que os alemães, que, quando botam coisa no juízo, ficam completamente despirocados e não respeitam regra nenhuma. Nos Estados Unidos há um manual e um curso para tudo e sem dúvida lá muito se trepa de acordo com os manuais.”
Escrever – “Chega ao ponto de muitos débeis mentais se orgulharem de falar como se escreve, como se a grafia não fosse uma tentativa muito defeituosa de engessar as palavras em símbolos metidos a fonéticos, como se se pudesse pedir a um chinês para falar como se escreve, como se a escrita tivesse precedido a fala.”
Feminino – “Viver numa sociedade em que a honra feminina é portada entre as pernas, que coisa mais besta, meu Deus do céu. Mas, não é, não é? Às vezes me dá vontade de fazer um comício. Quantas vidas se perderam, quantos destinos se estragaram, quantas tragédias não houve, quantos conventos não foram abarrotados desumanamente, por causa da honra de tantas e tantas infelizes?”
França – “O que se fala e escreve de merda engalanada na França é inacreditável, eu mesma nunca engoli nada dessa empulhação que confunde ininteligibilidade e chatice com profundidade, nem Lacan, nem Godard, nem Robbe-Grillet, nada dessas merdas, tudo chute e chato, e quem gosta é porque foi chantageado a gostar e, no fundo, se sente burro.”
Ler – “As pessoas lêem romances, biografias, confissões e memórias porque querem saber se as outras pessoas são como elas. Não somente por isso, mas muito por isso. Querem saber se aquilo de vergonhoso que sentem é também sentido por outros, querem olhar mesmo pelo buraco da fechadura e, quanto mais olham, mais precisam olhar, nunca estarão saciadas. Faz bem, é reconfortante.”
Memória – “A gente pensa que lembra como eram as coisas, mas não lembra, há sempre filtros, filtros da memória, filtros das neuroses, filtros do voluntarismo, tudo quanto é tipo de filtro.”
Mistério – “É bom que haja mistérios insondáveis em nossas biografias.”
Palavrão – “É mais fácil dizer palavrão do que escrever palavrão, há exigência de passaporte para as palavras passarem do falado ao escrito, algumas não conseguem nunca, a humanidade é muito estranha.”
Pecado – “Quem peca é aquele que não faz o que foi criado para fazer.”
Religião – “Os católicos são politeístas, botaram os santos no lugar dos deuses especializados. Os gregos e os romanos tinham um deus menor para cada coisa, regras atrasadas, artistas falidos, transações impossíveis, dívidas alimentares, casamentos, músicos bêbedos, agricultores, criadores de cabra, tudo, tudo, tudo. Os católicos substituíram os deuses pelos santos. Os músicos? Santa Cecília. Os ruins da vista? Santa Luzia. As solteironas? Santo António. E por aí, como você sabe. Até lugares. São José de Não Sei Onde? Diana de Éfeso, a mesmíssima coisa. Os deuses não foram derrotados ou eliminados, continuam imortais como sempre foram e somente mudaram de nome, se adaptaram às mudanças.”
Terceira Idade – “Eu abomino a expressão terceira idade, hipocrisia de americano, entre as muitas que já importámos, americano é o rei do eufemismo.”
Verdade – “A verdade dói, a verdade machuca, a verdade contunde, a verdade fere, a verdade maltrata, a verdade mata.”
Vida – “A vida devia ser duas; uma para ensaiar, outra para viver a sério. Quando se aprende alguma coisa, está na hora de ir.”
João Ubaldo Ribeiro. A casa dos budas ditosos. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1999.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

As palavras de Maio lidas por Jean-Philippe Legois em "Les slogans de 68"

“No princípio era o verbo…” A frase é bíblica, mas relaciona-se com o livrinho Les slogans de 68, de Jean-Philippe Legois (Paris: First Éditions, 2008, verdadeira edição de bolso no formato 12 cm x 8,5 cm) e com a leitura que é feita dos slogans que animaram o Maio de 68, há 40 anos, em que a palavra gritada nas paredes teve, muitas vezes, a força da imaginação e da opinião e a visibilidade generalizada, além de, frequentemente, ser o uso da máxima, fosse ela de uma corrente de pensamento ou de um poema. Alguns slogans dessa altura tornaram-se célebres e correram mundo, mas nem todos tiveram essa sorte e, recorrendo aos arquivos, o investigador Legois relembra muitos deles e categoriza-os, se se pode chamar categorização ao estabelecimento de uma ordem temática, na tentativa de visitar o que foi o “esprit de Mai” e de fazer uma viagem “au cœur des mots de 68”.
E por onde passa essa viagem, que o mesmo é perguntar quais são os temas que Legois encontra, eles também definidores de um “espírito” e de um tempo? Pela ordem que são apresentados, tendo-se seleccionado um exemplo para cada um deles: ter opinião (“Interdit d’interdire!”); acção (“La barricade ferme la rue, mais ouvre la voie”); revolução (“Cours, camarade, le vieux monde est derrière toi”); utopia (“Oublier tout de que vous avez appris, commencer par rêver”); liberdade (“Tout pouvoir abuse, le pouvoir absolu abuse absolument”); educação (“Grâce à l’examen et aux professeurs, l’arrivisme commence à six ans”) ; trabalho (“En faisant la grève illimitée, les travailleurs ont fait la part des choses. Le bien-être: Oui. L’esclavage: Non.”); sexualidade (“Désirer la réalité c’est bien! Réaliser ses désirs, c’est mieux.”); herança cultural e ideológica (“Notre espoir ne peut venir que des sans-espoir”, frase de Walter Benjamin); auto-crítica (“Prenons la Révolution au sérieux, mais ne nous prenons pas au sérieux”).
No final, há ainda pistas para uma bibliografia sobre as “expressões efémeras” desse Maio – nomeadamente, a obra Paroles de Mai, de Michel Piquemal (Paris: Albin Michel, 1998) – e sobre interpretações do tempo em que este movimento ocorreu. Nas palavras finais de Legois, este livrinho não pretendeu ser mais do que uma “dégustation”…