Um Eusébio nascido em Setúbal ficou mais conhecido pela sua profissão do que pelo nome de baptismo - falo de António Maria Eusébio (1819-1911), poeta popular, mais conhecido por "Calafate", nascido na Rua dos Marmelinhos, que hoje tem o nome do poeta. Também conhecido como "Cantador de Setúbal", este poeta legou-nos décimas que espelham a cidade, as gentes, os hábitos, o riso do seu tempo, num friso em que não faltam os retratos, a descrição das situações e as máximas proverbiais da vida. Crítico de muitas posturas municipais e das respectivas multas, repórter de verso imediato, deste poeta se transcreve o mote e a primeira décima de um poema sobre a construção de um lavadouro:
"Um tanque p'ra lavadouro
Um coreto e um tribunal
São três memórias que deixa
A nossa Câmara actual.
Os meus fracos pensamentos
A pouco podem chegar
Da minha pátria hei-de dar
Alguns esclarecimentos.
Há certos melhoramentos
Que valem mais que um tesouro.
Pois mais do que prata e ouro
Ou volumosas carteiras
Vale às pobres lavadeiras
Um tanque p'ra lavadouro."
O poema respeita a melhoramentos introduzidos pela Câmara presidida por António José Baptista, no final do séc. XIX, e vem transcrito em Versos do Cantador de Setúbal (Lisboa: Ulmeiro, 1985, vol. II), obra preparada por Rogério Claro.
Esta evocação vem a propósito da actividade que o Centro de Estudos Bocageanos está a promover na sua sede (na Avenida Luísa Todi, mesmo em frente ao "Quartel do 11"), constituída por uma exposição de peças relacionadas com Calafate e o seu tempo, organizada por esse coleccionador, pesquisador e amante de coisas de Setúbal (entre outras) que é Fernando Marcos. Intitulada "Calafate (António Maria Eusébio) - Memória Bibliográfica e Iconográfica - Setúbal e as suas Gentes nas Cantigas do Calafate", a exposição pode ser vista na tarde de hoje, uma vez que a sede do CEB está aberta para visitas nas tardes de quarta-feira. Sugestão que pode servir de convite! [Fotografia de Cília Costa]
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