terça-feira, 31 de julho de 2007

No "Correio de Setúbal" de hoje

DIÁRIO DA AUTO-ESTIMA – 64
Manuel Alegre I – O artigo que o diário “Público” recentemente divulgou, assinado por Manuel Alegre, “Contra o medo, a liberdade”, agitou águas e demonstrou como são envernizadas as relações entre políticos, muitas vezes do mesmo partido. Alegre manifestou-se contra uma forma de estar na política e no poder que tem permitido o funcionamento da chamada “lógica de aparelho”, em nome da qual tudo vale, ela mesma erigida em ideologia. A oportunidade deste escrito resulta das situações apontadas como sendo “a delação e a confusão entre lealdade e subserviência”. Toda a gente sabe a que acontecimentos se refere Manuel Alegre e também não se pode ignorar que, não tendo que haver heróis, não ficaram bem os processos pelos quais os decisores tomaram as decisões relativamente aos casos de que se tem falado.
Manuel Alegre II – Poder-se-á dizer que o conteúdo desta mensagem não é novo nas intervenções do deputado-escritor. Mas o que não se poderá ignorar é a intervenção que Alegre tem tido sempre em prol da liberdade de expressão, seja nos seus poemas (que foram voz de muito “amordaçado”, que entusiasmaram por certo muitos dos políticos estabelecidos de agora), seja na sua prática de deputado, seja na sua visão de cidadania, haja em vista as vezes em que agiu por sua conta e risco, à margem do partido a que pertence.
Manuel Alegre III – Quando, após a divulgação do texto no “Público”, o histórico Almeida Santos falou numa emissora, dizendo que este texto era “humilhante”, não foi para se pôr ao lado de Alegre ou para criticar o partido, mas para, de alguma forma, minimizar os efeitos que a opinião do deputado poderia desencadear. Depois, houve comentadores que acentuaram a falta de novidade no discurso, como se todos os discursos tivessem que ter uma novidade, como se não fosse necessário falar muitas vezes do que é óbvio, porque sabemos que as evidências, de tão evidentes que são, se transformam muitas vezes em coisas esquecidas (como, por exemplo, a liberdade ou as restrições que lhe tentem impor). O ponto alto chegou com o Primeiro-Ministro a ir a reboque dos comentadores, considerando na televisão que esta opinião de Alegre faz parte do figurino, dizendo: “É um clássico. Alegre escreve de três em três anos um artigo a dizer que há medo. O PS é um partido de liberdade.”
Manuel Alegre IV – O que nenhum destes comentários conseguiu esconder foi uma certa dose de altivez, porque uma boa forma de levar ao esquecimento é ignorar ou fingir que se ignora o que se passa. Alegre foi mais bem-educado no seu texto. E conseguiu criticar, coisa que muitas opiniões geradas a partir dele não foram capazes de fazer, nem sequer de assumir como uma auto-crítica ou como um aviso. Não, em Portugal, tudo vai bem e a liberdade está garantida! Será mesmo assim?

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