quinta-feira, 5 de julho de 2007

Pagelas Setubalenses - 1

A Enfermaria de Frei Agostinho
No prédio com o nº 14 da Praça Teófilo Braga, em Setúbal, uma lápide diz: "Era aqui a enfermaria dos frades arrábidos onde, em 14 de Março de 1619, adormeceu no Senhor o mavioso poeta místico Frei Agostinho da Cruz / No ano do quarto centenário do seu nascimento a Câmara Municipal de Setúbal consagrou esta lápide à sua memória - 14.III.1940".
Nascido em Ponte da Barca, em 1540, Frei Agostinho da Cruz foi um dos dez irmãos de Diogo Bernardes, também poeta. Com vida promissora na corte, tornou-se franciscano e foi para o Convento de Santa Cruz de Sintra, onde viveu 45 anos sem querer títulos. Em 1605, retirou-se para a Arrábida, onde viveu até 1619, ano do falecimento na dita enfermaria. Conforme desejou num poema, foi sepultado na Arrábida: "Agora, que de todo despedido / Nesta serra d'Arrábida me vejo / De tudo, quanto mal tinha entendido. // Com mais quietação, livre desejo, / Nela quero cavar a sepultura, / Que não junto do Lima, nem do Tejo. // Aqui com mais suave compostura / Menos contradição, mais clara vista / Verei o Criador na criatura". Em vida, Frei Agostinho viu pouca obra editada: em 1596, um seu poema abria O Lima, de Diogo Bernardes, seu irmão; em 1597, nas Rimas Várias de Diogo Bernardes, foi também publicada uma elegia de Frei Agostinho sobre a morte do irmão; em 1618, no Tratado dos Passos, Frei Rodrigo de Deus inseriu dois sonetos e um epigrama do frade arrábido.
DOUTROS TEMPOS: “A Câmara Municipal da nossa cidade, atendendo às altas virtudes que ornavam o carácter de Frei Agostinho da Cruz, o frade cantor da Arrábida e que deu a sua alma a Deus na cidade de Setúbal, resolveu que à Rua da Cruz fosse dado o nome de Frei Agostinho da Cruz, perpetuando assim as suas excelsas virtudes. Por tal deliberação vê-se que o ilustre Presidente da Câmara tomou em consideração a ‘Carta Aberta’, que Oscar Paxeco nas colunas d’’O Setubalense’ endereçou há tempos a S. Exª, pelo que nos consideramos gratos em virtude de tão nobre proceder, acompanhando-o nesse gesto a ilustre vereação. Setúbal dá a Frei Agostinho da Cruz o mesmo que Pádua concedeu a Santo António: honras especiais a quem delas era merecedor. A Municipalidade setubalense honra-se por isso e a Cidade inteira aprovará por certo tão importante quanto justa deliberação. Frei Agostinho da Cruz, natural do Minho e que para Setúbal se transferiu muito novo e aqui morreu, dedicava à Arrábida, segundo lindíssimos sonetos que então escreveu em louvor da formosa serra, muito do seu amor de eremita.” (in O Setubalense, 4 de Março de 1940)

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