A Ermida da Memória e Hildebrando
Hildebrando não é nome habitual nas latitudes latinas. Consta no título de um poema heróico germânico do século VIII, chegou, em tempos remotos, à Arrábida e fez lenda. De vez em quando, a sua história tem sido invocada e recriada conforme as épocas, alterando-se mesmo a caracterização da personagem que ora é um rico mercador, ora é apresentado como um frade. De comum entre os dois, existe o facto de ser originário do norte da Europa, chegado à Arrábida em virtude de uma tempestade que atirou o barco para esta região, devoto de uma imagem de Nossa Senhora e salvo de um naufrágio graças a essa mesma devoção.
O mais antigo documento conhecido respeitante a Hildebrando e à sua ligação à Arrábida data do século XIII e apresenta Hildebrando como fundador de um templo atribuído à ordem agostiniana.
O mais antigo documento conhecido respeitante a Hildebrando e à sua ligação à Arrábida data do século XIII e apresenta Hildebrando como fundador de um templo atribuído à ordem agostiniana.
Em 1638, Frei António da Purificação relatou a história desta personagem, dando a conhecer o mais antigo documento que se lhe refere: tendo a embarcação de um mercador inglês que vinha para Lisboa sido acometida por tempestade, entre a tripulação "vinha um religioso da nossa Ordem Eremítica chamado Haildebran, que devia vir por capelão da nau ou de um fidalgo que ali vinha por nome D.Bartolomeu. Trazia este religioso consigo uma devota imagem da Mãe de Deus para socorro das suas necessidades". Depois, quando o religioso foi orar junto da imagem, esta tinha desaparecido e o barco orientou-se para porto seguro por uma luz que, no dia seguinte, Hildebrando localizou como originária do sítio onde encontrou a sua imagem e onde, posteriormente, foi erigida uma capela, conhecida como Ermida da Memória, que ainda hoje se pode ver no Convento Velho, na Arrábida.
DOUTROS TEMPOS: "Estando um certo mercador, de nacionalidade inglesa, em perigo, no mar, por causa de uma tempestade que se levantara, e, como não lhe restasse qualquer esperança de salvação, com o navio, em que viajava, a baloiçar entre rochedos e as ondas do mar a encapelarem-se cada vez mais e a cair a noite escura, longe de qualquer auxílio humano e remédio, resolveu, com os restantes marinheiros, em atitude de súplice oração, refugiar-se junto de certa imagem devotíssima da gloriosa Virgem que consigo levava e, não a tendo podido encontrar de forma nenhuma, desiludido na sua esperança, nada mais esperava para além do naufrágio e de uma amarga morte. E eis que, quando menos o pensava, uma certa luz brilhou para si do lado do Monte Arábico. (…) Atribuindo isto à bondade e misericórdia divinas, o próprio mercador, divididas, primeiro, as mercadorias, nesse mesmo lugar onde se fixara a imagem, tratou de construir um eremitério e uma torre contígua a ele, na qual passou o resto de vida que teve sob o hábito de anacoreta, em extrema pobreza, perpétua oração e santidade."(Francisco Gonzaga, De Origine Seraphicae Religionis Franciscanae, 1587)
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