A
questão dos feriados a suprimir, definitiva ou temporariamente, anda na berra.
E talvez não pelas melhores razões. Já sabemos que a crise tem as costas largas
e a “troika” idem. Assim como sabemos que muitas decisões são tomadas a partir
de impressões que, depois, não voltam atrás… Foi o caso com os feriados.
Em
primeiro lugar, é duvidoso que a história dos feriados a suprimir ou a
suspender integre o que seja uma revisão do código laboral. Verdade
lapaliciana é que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa!... Ou
seja: uma coisa é decidir se há folga nos feriados ou não; outra coisa é
decidir que dias podem conter o estatuto de feriados. Creio que isto é nítido…
Assim o não entende a política portuguesa, que mistura tudo para baralhar,
recorrendo às costas largas já mencionadas.
José
Ribeiro e Castro, do CDS, tem-me impressionado pelas posições que toma em
defesa da cultura. Fê-lo enquanto eurodeputado; tem-no feito como deputado. Foi
corajoso o seu acto de se opor à revisão do código de trabalho por causa da
misturada feita, assim como foi corajoso o seu gesto de, em discurso e em
livro, vir encetar uma luta pela identidade, a reposição da verdade do feriado
do 1º de Dezembro.
Quando
a polémica estalou, discutia com amigos a oportunidade do corte da lista dos
feriados do 1º de Dezembro, dizendo um amigo meu, da área da História, que
achava muito bem tal corte, porque era um dos feriados criados pelo regime
fascista, etc., etc., etc. Erro, claro! Foi o primeiro feriado republicano,
criado uma semana depois da implantação da República, logo em Outubro de 1910.
Mais: o respeito por tal data teve o seu primeiro manifesto de defesa em 1861,
assinado por nomes tão insuspeitos como Alexandre Herculano, Anselmo José
Braamcamp, António da Silva Túlio, Inocêncio Francisco da Silva, Luís Augusto
Rebelo da Silva ou Pedro de Brito Aranha, num conjunto de quatro dezenas de
subscritores.
Lê-se
o livro de José Ribeiro e Castro (1 de
Dezembro – Dia de Portugal. Cascais: Principia, 2012) e não podemos ficar
indiferentes. É uma machadada que está a ser dada na identidade portuguesa ao
suprimir-se o feriado de 1 de Dezembro, que pode ser considerada a data
refundadora da independência portuguesa. Sem dúvidas, apesar de, tenuemente, os
políticos virem a dizer que, dentro de não sei quantos anos, esses feriados
podem vir a ser repostos! Ridículo! Apenas ridículo!
Num
regime republicano como o nosso, estranho é que as duas datas ligadas à
independência e à criação do regime republicano caminhem para a supressão de
feriado! Falta de poder de inscrição, falta de memória, falta de saber…
chame-se-lhe o que se quiser.
Por
falta de alternativas? Não, por certo. Porque não transpor outros feriados para
domingos, por exemplo? Porque não abdicar dos feriados municipais e transformá-los
nos dias do município a serem celebrados em fim de semana? Ou, mais corajoso
ainda: porque não impedir as “pontes”, essas sim verdadeiras causas desta fúria
anti-feriado, por vezes construídas com a conivência dos governos e
aproveitadas numa operação meticulosa de cálculo para transformar o tempo de
férias num calendário de mais cinquenta por cento?
Lamento
que a memória portuguesa ande tão por baixo. Lamento que a memória esteja a ser
tratada como se fosse a culpada pela situação para que nos atiraram. É triste
que uma data como o 1º de Dezembro, não dependendo das vontades políticas da
esquerda ou da direita ou de outras forças de pressão, acentuada pela ideia da
independência, seja exactamente aquela que cai! Talvez para provar que não se
pode ser independente… Memória pobre, triste memória!
E,
voltando ao livro de Ribeiro e Castro (que deve ser lido para informação e visto como forma de intervenção e de partilha, recolhendo vários testemunhos e os diversos textos que o autor escreveu sobre esta questão), valeria a pena recomendar a leitura da
sua “introdução”, verdadeira e forte declaração de interesses do que deve ser um
político, do que deve ser a sua função, do que deve ser a aliança entre a sua
consciência e a cultura. O mal é que a maioria dos políticos que temos não passam por
estes crivos, infelizmente, como se tem visto desde há muito!
1 comentário:
Obrigado.
Enviar um comentário