quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Prémio Nacional de Professores - "um novo relacionamento"?

Da entrega do Prémio Nacional de Professores, ocorrido na terça-feira, não vi nem ouvi mais do que aquilo que os media passaram. Fiquei curioso e quis procurar os discursos da sessão. Consegui o da Ministra da Educação no “Portal do Governo” e uma coisa foi dita com acerto: quando a memória colectiva refere nomes de alguns professores que se tornaram conhecidos, há sempre a condicionante de esses nomes terem sido primeiramente conhecidos por outra acção que não a professoral, citando a Ministra os casos de Vergílio Ferreira, Lídia Jorge e Rómulo de Carvalho, entre outros. Bem podia ter citado o de Sebastião da Gama também, porque começou por ser conhecido como poeta, mas ficou também conhecido pelo facto de ter sido professor, haja em vista a experiência relatada no seu Diário e alguns (poucos) estudos que ao seu percurso de pedagogo se têm dedicado. Finalizou o discurso da Ministra com a apresentação de Daniel Sampaio, dizendo que iria ser uma intervenção sobre “as funções do professor na escola de hoje”. Procurei o discurso de Daniel Sampaio, mas não o consegui encontrar. Limito-me, por isso, àquilo que ouvi nos media e que li nos jornais (incluindo algumas versões on line).
Parece que foi logo no início da sua intervenção que o conhecido médico, que presidiu ao júri deste prémio, disse: "Gostaria que a atribuição deste Prémio marcasse um novo relacionamento entre o Governo e os professores". Estava então dado o mote para o “professor na escola de hoje”. O discurso terá sido crítico, a avaliar pelos excertos que passaram para o grande público. Um outro aspecto apresentado por Sampaio relacionou-se com a autonomia das escolas, perguntando: “Se o Ministério quer autonomia, então por que razão legisla tanto?” E, como consequência: “Os professores perdem tempo de mais a estudar despachos e portarias, o que seria mais bem gasto se fosse a pensar a sua actividade."
Ora acontece que estas duas linhas – a da excessiva legislação, não deixando à escola espaço nem tempo para se pensar e para se afirmar, e a da burocratização da profissão do professor, cada vez mais metido nos corredores dos papéis, dos impressos e das grelhas – são questões que já há muito têm encontrado eco nas críticas dos professores e das escolas. Apenas as estruturas não têm dado valor a estas observações. Mas, pelos vistos, também não pretendem passar a dar, a avaliar pelas reacções dos governantes – o único que comentou foi o Secretário de Estado Valter Lemos, dizendo: "Ficou claro que o professor Daniel Sampaio se referia a um mal-estar do ponto de vista geral e não a um mal-estar destes ou daqueles docentes. É um mal-estar docente internacional que também existe em Portugal." Não percebo onde está esta clareza, a acreditar no que a imprensa noticiou. Será que o voto de um “novo relacionamento entre o Governo e os professores” (como alvitrou Sampaio) encontra raízes num “mal-estar docente internacional que também existe em Portugal” (como quis sustentar o Secretário de Estado)? Chego a ter dúvidas sobre a relação do comentário com o discurso comentado… Na verdade, a margem que fica para os agentes da educação reflectirem sobre as suas práticas e para as melhorarem ou corrigirem é tendencialmente nula, fenómeno talvez (mal) explicado pela sereia da globalização ou por outro qualquer mito destes com que nos confrontamos nos tempos que correm.

1 comentário:

Anónimo disse...

Do Sebastião da Gama não se fala porque não interessa ao eduquês...