sexta-feira, 27 de junho de 2014

Dia da Língua Portuguesa, hoje


 
«En’o nome de Deus. Eu rei don Afonso pela gracia de Deus rei de Portugal, seendo sano e saluo, temẽte o dia de mia morte, a saude de mia alma e a proe de mia molier raina dona Orraca e de me(us) filios e de me(us) uassalos e de toido meu reino fiz mia mãda p(er) q(eu) depos mia morte mia molier e me(us) filios e meu reino e me(us) uassalos e todas aq(ue)las cousa q(eu) De(us) mi deu en poder sten en paz e en folgãcia. P(ri)meiram(en)te mãdo q(eu) meu filio infante don Sancho q(eu) ei da raina dona Orraca agia meu reino enteg(ra)m(en)te e en paz.»

Esta é a transcrição, da autoria do padre Avelino de Jesus Costa, do início daquele que é considerado o mais antigo documento oficial em língua portuguesa, assinado por D. Afonso II há 800 anos, em 27 de Junho de 1214. A transcrição integral pode ser lida aqui.
A ideia de transformar esta data no Dia da Língua Portuguesa partiu do investigador brasileiro Roberto Moreno e mereceu acolhimentos vários, bem como reprovações diversas, porque nestas coisas de se estabelecer uma data para ser considerada símbolo fundacional as opiniões atropelam-se segundo especializações, caprichos e gostos. Todos sabemos que a língua portuguesa já era falada antes da existência de tal documento, argumento que linguistas usam para manifestar discordância em relação à data. Só que, se a língua portuguesa se restringisse à oralidade, provavelmente já teria desaparecido…
A data pode ser discutível, mas, à falta de outra melhor ou irrefutável, que seja esta uma possibilidade de festa em torno da língua portuguesa que nos identifica, em torno de uma língua que é plural e diversificada, em torno de uma língua que não tem de estar presa a um Acordo Ortográfico que atrofia e descaracteriza. Como refere José Ribeiro e Castro no Público de hoje (“Língua portuguesa, recurso fabuloso”), “esta festa dos 800 anos também é a festa da vitalidade, imorredoira e crescente, da nossa língua comum de todos os falantes de Português: o Português, língua da Europa; o Português, língua das Américas; o Português, língua de África; o Português, língua do Oriente; o Português, língua do mundo.”
 

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