Na
edição da revista Tempo Livre deste mês (Lisboa: Fundação Inatel, nº 238, Junho
de 2012), é publicada entrevista de Mia Couto a Humberto Lopes em que são
abordadas questões da literatura, da lusofonia, de Moçambique, do acordo
ortográfico e da identidade. Aqui registo alguns excertos.
CPLP
– “Qualquer organização que junta países que estão tão distantes tem que
enfrentar [um] processo [que] tem que ser olhado com verdade. O que me faz
aflição é que há quem pense que ela já está criada… E ainda não está, tem que
nascer… Falta nascer no sentido em que essas organizações têm que nascer várias
vezes… e têm que estar no lugar certo. Por exemplo, acontece qualquer coisa na
Guiné ou em qualquer um desses países da comunidade e tem que se perceber como
é que ela é útil e que conquistou um lugar.”
Países
de língua portuguesa – “Esses países têm uma expressão diversa, são países que,
sendo de língua portuguesa, têm outras línguas, têm outras maneiras de respirar
e de pensar que têm de ser consideradas de forma inclusiva, que não se podem
marginalizar. E isso significa pensar de todas as maneiras possíveis,
económica, etc… Como fazer dicionários, como fazer trocas em que estas línguas
falem realmente com o português, dialoguem com o português para que qualquer
cidadão destes países possa saltitar entre as duas línguas, a materna e a
língua portuguesa.”
Acordo
Ortográfico – “O Acordo Ortográfico mexe com uma coisa tão pequenina, mexe com
a ortografia, e a minha reinvenção não se opera exactamente aí… É um acordo que
unifica tão pouco que não me parece que seja motivo para eu me preocupar… Acho
que foi pena, sim, não se ter discutido coisas que eram bem mais importantes,
como aquilo que são os nossos laços culturais e as distâncias das políticas
culturais.”
Escrever
– “As explicações que eu dou sobre as razões por que é que eu escrevo são
sempre inventadas. E eu estou sempre a pensar em coisas novas porque não só uma
explicação, há várias explicações disso que é a apetência de eu escrever, de
criar e de fazer poesia. Mas eu acho que eu sou um escritor do território da
poesia, essa é a minha casa. A prosa é uma viagem que eu faço para voltar, para
sair de casa e voltar a casa.”
Linguagem
– “A linguagem não serve só para descrever o mundo. A linguagem deve ter também
uma função de o criar, uma vez que o mundo é sempre o resultado de um olhar, e
de um olhar que é muito pessoal, que é sempre uma obra de reinvenção.”
Sem comentários:
Enviar um comentário