Maria Keil morreu. Assim entra na memória uma das ilustradoras
de referência da literatura dedicada à infância e juventude. Creio que um dos
seus últimos trabalhos foi a ilustração do livro Florinda & o Pai Natal, publicação póstuma de Matilde Rosa Araújo
(Lisboa: Calendário, 2010), área a que se dedicou depois de, na década de 1960,
ter ilustrado a obra Páscoa feliz, de José Rodrigues Miguéis.
Em 2004, a Biblioteca Nacional organizou uma mostra
bibliográfica sobre Maria Keil, com exposição de cerca de 160 referências. No
catálogo, um texto de Matilde Rosa Araújo contava uma história que começava
assim: “Maria fica sempre fora de todos os discursos. Há algo de imponderável,
de não tocável ou que possa ser descrito na pessoa física, na personalidade tão
rara de Maria Keil.” A história-testemunho avançava. E concluía desta maneira: “Maria,
obrigada de todo o coração. Encontrar seu voo em livros meus foi, para mim, um
raro presente da vida que a sua generosidade nunca me recusou. (…) Maria sábia
em sua varanda.”
Provavelmente, muitos outros autores poderiam dizer o mesmo.
Os desenhos de Maria Keil ficaram a enriquecer ainda obras de nomes como Alexandre
Honrado, Alice Vieira, Álvaro Magalhães, Aquilino Ribeiro, Esther de Lemos, Graça
Vilhena, Irene Lisboa, Maria Cecília Correia, Maria Isabel César Anjo, Maria
Lúcia Namorado, Sophia de Mello Breyner e Teresa Balté, entre outros.
Fica-nos a alegria desses desenhos (bem como as outras
múltiplas obras em que se desdobrou, designadamente a azulejaria). E a
consciência do que é desenhar para crianças: “Não se deve entreter as
criancinhas com as nossas fantasias, pois o trabalho é para elas. Não se deve
minimizar, nem fazer coisas que os miúdos não possam entender. Eles percebem
tudo, não é preciso estar a deformar uma figura…”, dizia Maria Keil numa
entrevista a João Paulo Cotrim, publicada no Expresso em 2004 (“Maria Keil – A linha e o traço”. Expresso – supl. “Actual”:
28.Agosto.2004, pp. 18-19).
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