quinta-feira, 12 de abril de 2012

N'«O Setubalense» de ontem - Professor

Antes de mais, uma declaração de interesses: sou professor. Por gosto, por prazer, por necessidade de aprender cada vez mais. Tenho de muitos dos meus professores gratas recordações, porque com eles aprendi muito, porque me ajudaram a ter do professor a imagem que tenho, positiva. Recordo muitos deles, sejam da escola primária (era assim que se chamava), do ensino secundário ou do ensino superior. Recordo-os com boas lembranças e, quando os encontro, faço também questão de lhes mostrar essa ligação. De alguns fiquei amigo, de convívio frequente; de outros, sei deles pela memória.
De igual forma, tenho tido alunos que me têm lembrado a importância de nos termos encontrado. Como haverá outros que nem se lembram ou que quiseram esquecer rapidamente. Leis da vida e das conjunturas, pois educar e ensinar não é simples, embora seja uma área sobre a qual é fácil dar palpites, talvez porque todos temos algo a ensinar ou a aprender. Sebastião da Gama dizia isso mesmo aos seus alunos, conforme o recorda no Diário: «Não sou, junto de vós, mais do que um camarada um bocadinho mais velho. Sei coisas que vocês não sabem, do mesmo modo que vocês sabem coisas que eu não sei ou já esqueci. Estou aqui para ensinar umas e aprender outras.» Revolucionário para a época, em Janeiro de 1949? Não, apenas natural, como continua a ser natural hoje, mas com sabor a aprendizagem e a ensinamento.
Vem tudo a propósito de um texto que vi escrito num saco. É verdade: num saco. Começou o período da apresentação de manuais escolares e, há dias, numa sessão promovida pela Porto Editora, por facilidade de arrumação, os vários componentes dos respectivos projectos eram entregues dentro de um saco, em cujo corpo se podia ler o seguinte texto, dirigido aos professores: “Pela sua paixão, pela sua dedicação e pela sua coragem. Por nos mostrar o mundo. Por nos abrir os olhos. Por nos fazer pensar, imaginar e sonhar. Por cada aula. Pelas letras e pelos números. Pelos pensadores, pelos construtores e pelos inventores. Por nos mostrar o caminho e por caminhar ao nosso lado. Por ensinar as nossas crianças. Por abrir horizontes a Portugal. Obrigado.”
Poder-se-á dizer que a mensagem corresponde à dimensão poética do que pode conter o texto publicitário; poder-se-á dizer que é a boa promoção de uma marca. Certo. Mas não é menos certo que, depois do que tem sido, nos últimos anos, a forma de tratar este grupo profissional, sabe bem ler isto. Todos nós, professores, nos sentimos perto do que esta mensagem diz, às vezes; noutros momentos, sentimos a distância porque não conseguimos chegar ali. Contingências de sermos humanos…
De ser professor gostaria de ter uma recordação como aquela que George Steiner enunciou uma vez, quando lhe perguntaram qual a recompensa possível para um professor: «A recompensa suprema é a de encontrar um aluno muito mais dotado que nós mesmos, que vai avançar mais do que nós, que vai criar a obra que um futuro professor vai ensinar.»

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei de ler. Identifiquei-me com o que é dito.
Também eu tenho gratas recordações de muitos professores, muito provavelmente os «causadores» da minha opção por ser professora.
Eles marcaram parte da minha vida, assim como acho que marquei parte da vida de muitos alunos.
Ensinei e aprendi ... Foi uma troca de saberes maravilhosa.
Sebastião tem toda a razão!
MCT