Eduardo Prado Coelho traçou recentemente o retrato de Urbano Tavares Rodrigues (n. 1923) como “o mais generoso, aberto e compreensivo dos comunistas” (“Urbano”, Público, 9.Jul.2007). Hoje, o Diário de Notícias insere nas suas páginas uma entrevista com Urbano, em que vêm à tona afirmações que confirmam os predicativos que lhe lançou Prado Coelho.
Das várias ideias que ressaltam da entrevista, conduzida por Isabel Lucas, algumas há a reter por aquilo que significam como chaves para uma leitura da sua obra.
Em primeiro lugar, valerá a pena falar da sua coerência ideológica e fidelidade ao comunismo (a ideologia perpassa por muitos dos seus escritos), ainda que admitindo a hipótese de um comunismo que “terá de ser qualquer coisa nova”, com “caminhos diversos, consoante os continentes, as condições e a vontade dos próprios povos; consoante as suas experiências”. A segunda pista importante para a sua leitura relaciona-se com o fascínio exercido pela mulher (ela, que é uma constante nos seus romances) – “Mas eu olho e olhei sempre com encantamento para a mulher. A mulher como amiga, como namorada, como amante. A mulher foi sempre, para mim, uma forma de compreender melhor o mundo, de ir às raízes da vida. A experiência da mulher é, para mim, uma experiência erótica ou foi muito uma experiência erótica”.
Relativamente ao futuro, Urbano Tavares Rodrigues está ainda cheio de projectos. Mas, para já, é com embevecimento que fala do romance que sairá brevemente, intitulado Os cadernos secretos do Prior do Crato, uma experiência inovadora na sua escrita, agora em torno de uma personagem histórica – “este é o meu romance de que mais gosto. O prior do Crato é um homem erótico que teve muitas mulheres, dez filhos. É um homem religioso, que mantém sempre um diálogo com Deus, embora aos 16 anos ele tenha recusado as ordens de castidade. É também um intelectual. Fui escrevendo, escrevendo e vi surgir ali a História de Portugal, até a história da Europa, e vendo aparecer esta figura fantástica em todas as dimensões. Ele é o patriota puro, que se opõe à traição e que é ferido por um português traidor. É um homem também religioso no sentido da paixão quase panteística pela terra. Quanto terminei e reli as provas achei que tinha conseguido escrever um grande romance e um romance em que, neste momento em que há novamente uma invasão de Castela, sobretudo económica.”
Finalmente, gostaria de destacar o auto-retrato que Urbano de si apresenta, algo assim entre o possível e a utopia, quadro que, de resto, faz jus às observações de Prado Coelho com que abri este postal – “Tive sempre qualquer coisa de cavaleiro andante, desde a adolescência. Antes de tomar o rumo, de querer transformar o mundo e transformar a vida e pôr a minha acção ao serviço disso, tive quase o amor do risco pelo risco. Era um homem de aventura em todos os sentidos, do acto gratuito, quase quixotesco. Há muita coisa que conduz ao grande perdedor.”
De Urbano Tavares Rodrigues temos uma obra vasta nos domínios da ficção, do ensaísmo, da crónica e de algum memorialismo. Apesar do forte compromisso ideológico que tem marcado muitos dos seus títulos, o conjunto da sua obra será um marco incontornável na criação e na literatura do século XX e da passagem para o século XXI português. [Fotografia de Paulo Spranger, in Diário de Notícias]
Das várias ideias que ressaltam da entrevista, conduzida por Isabel Lucas, algumas há a reter por aquilo que significam como chaves para uma leitura da sua obra.
Em primeiro lugar, valerá a pena falar da sua coerência ideológica e fidelidade ao comunismo (a ideologia perpassa por muitos dos seus escritos), ainda que admitindo a hipótese de um comunismo que “terá de ser qualquer coisa nova”, com “caminhos diversos, consoante os continentes, as condições e a vontade dos próprios povos; consoante as suas experiências”. A segunda pista importante para a sua leitura relaciona-se com o fascínio exercido pela mulher (ela, que é uma constante nos seus romances) – “Mas eu olho e olhei sempre com encantamento para a mulher. A mulher como amiga, como namorada, como amante. A mulher foi sempre, para mim, uma forma de compreender melhor o mundo, de ir às raízes da vida. A experiência da mulher é, para mim, uma experiência erótica ou foi muito uma experiência erótica”.
Relativamente ao futuro, Urbano Tavares Rodrigues está ainda cheio de projectos. Mas, para já, é com embevecimento que fala do romance que sairá brevemente, intitulado Os cadernos secretos do Prior do Crato, uma experiência inovadora na sua escrita, agora em torno de uma personagem histórica – “este é o meu romance de que mais gosto. O prior do Crato é um homem erótico que teve muitas mulheres, dez filhos. É um homem religioso, que mantém sempre um diálogo com Deus, embora aos 16 anos ele tenha recusado as ordens de castidade. É também um intelectual. Fui escrevendo, escrevendo e vi surgir ali a História de Portugal, até a história da Europa, e vendo aparecer esta figura fantástica em todas as dimensões. Ele é o patriota puro, que se opõe à traição e que é ferido por um português traidor. É um homem também religioso no sentido da paixão quase panteística pela terra. Quanto terminei e reli as provas achei que tinha conseguido escrever um grande romance e um romance em que, neste momento em que há novamente uma invasão de Castela, sobretudo económica.”
Finalmente, gostaria de destacar o auto-retrato que Urbano de si apresenta, algo assim entre o possível e a utopia, quadro que, de resto, faz jus às observações de Prado Coelho com que abri este postal – “Tive sempre qualquer coisa de cavaleiro andante, desde a adolescência. Antes de tomar o rumo, de querer transformar o mundo e transformar a vida e pôr a minha acção ao serviço disso, tive quase o amor do risco pelo risco. Era um homem de aventura em todos os sentidos, do acto gratuito, quase quixotesco. Há muita coisa que conduz ao grande perdedor.”
De Urbano Tavares Rodrigues temos uma obra vasta nos domínios da ficção, do ensaísmo, da crónica e de algum memorialismo. Apesar do forte compromisso ideológico que tem marcado muitos dos seus títulos, o conjunto da sua obra será um marco incontornável na criação e na literatura do século XX e da passagem para o século XXI português. [Fotografia de Paulo Spranger, in Diário de Notícias]
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