“Depois de Lisboa é Setúbal a maior povoação da Estremadura, assim como é a de mais importância comercial depois das duas primeiras cidades do reino.” Assim começa o artigo de Vilhena Barbosa sobre Setúbal na obra As Cidades e Vilas da Monarquia Portuguesa que têm Brasão de Armas (Lisboa: Tipografia do Panorama, 1862, vol. 3, pp. 39-53), num registo que parece de engrandecimento, mas que, ao longo do texto, vai mostrar uma cidade de contradições.
Depois de localizar a cidade, arrisca explicação ligeira para a etimologia do nome com base nas corruptelas linguísticas – em memória da cidade de Cetóbriga, “deram à nova povoação o nome de Cetobra, corrupção da primeira. Corrompendo-se ainda este com o tempo, veio a trocar-se em Setobala, e mais tarde em Setúbal”. Segue o autor um percurso pela história desde os tempos mouros, mencionando a conquista por Afonso Henriques, a atribuição de foral no reinado de Sancho I (atribuído na verdade por Paio Peres Correia, da Ordem de Santiago, no reinado de Afonso III), as primeiras muralhas no tempo de Afonso IV, o casamento de D. João II e a vingança que este rei tomou em Setúbal sobre adversários, novas fortificações mandadas por João IV e a elevação a cidade em tempo de Pedro V. Paralelamente, vai seguindo a história de algumas tragédias que assolaram a cidade – terramotos de 1531, de 1755 e de 1858, pestes de 1579 e de 1598, tempestade de 1724 e invasões francesas.
Apesar de todas as contrariedades, considera Vilhena Barbosa que “à sua situação geográfica, à indústria dos seus habitantes e aos valiosos produtos do seu solo deve Setúbal a fortuna de ter ressurgido tantas vezes de entre as suas ruínas e do meio de mortíferas epidemias”, observação que introduz o leitor na caracterização política, administrativa, religiosa e comercial da cidade. Do património edificado, salienta o Convento de Jesus, “o mais notável edifício religioso de Setúbal” e, referindo-se à utilização do designado “mármore da Arrábida” que integra o Convento, considera ser “o único templo que há no país construído com esta bela pedraria”.
O movimento portuário, as salinas, o vinho (com destaque para o moscatel), o peixe e os encantos e curiosidades da paisagem (como a Arrábida, Tróia e a Pedra Furada) são marcas que Barbosa indica para a prosperidade da Setúbal de então, cuja população andava pelas “quinze mil almas”.
Depois de localizar a cidade, arrisca explicação ligeira para a etimologia do nome com base nas corruptelas linguísticas – em memória da cidade de Cetóbriga, “deram à nova povoação o nome de Cetobra, corrupção da primeira. Corrompendo-se ainda este com o tempo, veio a trocar-se em Setobala, e mais tarde em Setúbal”. Segue o autor um percurso pela história desde os tempos mouros, mencionando a conquista por Afonso Henriques, a atribuição de foral no reinado de Sancho I (atribuído na verdade por Paio Peres Correia, da Ordem de Santiago, no reinado de Afonso III), as primeiras muralhas no tempo de Afonso IV, o casamento de D. João II e a vingança que este rei tomou em Setúbal sobre adversários, novas fortificações mandadas por João IV e a elevação a cidade em tempo de Pedro V. Paralelamente, vai seguindo a história de algumas tragédias que assolaram a cidade – terramotos de 1531, de 1755 e de 1858, pestes de 1579 e de 1598, tempestade de 1724 e invasões francesas.
Apesar de todas as contrariedades, considera Vilhena Barbosa que “à sua situação geográfica, à indústria dos seus habitantes e aos valiosos produtos do seu solo deve Setúbal a fortuna de ter ressurgido tantas vezes de entre as suas ruínas e do meio de mortíferas epidemias”, observação que introduz o leitor na caracterização política, administrativa, religiosa e comercial da cidade. Do património edificado, salienta o Convento de Jesus, “o mais notável edifício religioso de Setúbal” e, referindo-se à utilização do designado “mármore da Arrábida” que integra o Convento, considera ser “o único templo que há no país construído com esta bela pedraria”.
O movimento portuário, as salinas, o vinho (com destaque para o moscatel), o peixe e os encantos e curiosidades da paisagem (como a Arrábida, Tróia e a Pedra Furada) são marcas que Barbosa indica para a prosperidade da Setúbal de então, cuja população andava pelas “quinze mil almas”.
Brasão de Setúbal apresentado na obra de Vilhena Barbosa
O retrato traçado refere também alguns aspectos menos positivos, como, no plano cultural, a falta de investimento nas escavações em Tróia (recorde-se que o trabalho de investigação feito pela Sociedade Arqueológica Lusitana em meados do século XIX teve de parar por falta de apoios financeiros) e o aspecto de alguns arruamentos – “as ruas da cidade são pela maior parte estreitas, tortuosas e imundas ou pouco limpas”. Entre as personalidades oriundas de Setúbal, são referidos o jurisconsulto Manuel de Cabedo e o poeta Vasco Mouzinho de Quebedo, havendo silêncio quanto aos nomes de Bocage ou de Luísa Todi.
O retrato traçado por Vilhena Barbosa é vasto e multifacetado e pretende abordar todos os aspectos que relacionam a cidade com o seu passado e com o seu presente, através de uma exposição mais ou menos informada e actualizada, sendo nítida a marca da possibilidade de Setúbal ser uma terra próspera.
Inácio de Vilhena Barbosa (1811-1890), natural de Lisboa, estudou Teologia no Convento de São Bento de Xabregas, abandonando a vida religiosa aquando da extinção das ordens religiosas (1834). Ficou conhecido sobretudo pelo seu papel de publicista, tendo redigido Universo Pitoresco (1839-1844) e colaborado em Arquivo Pitoresco e Panorama, entre outros periódicos. Com vasta informação histórica, integrou a Academia Real das Ciências de Lisboa e foi autor de As Cidades e Vilas da Monarquia Portuguesa que têm brasão de armas (1860-1862, 3 vols.) e de Monumentos de Portugal Históricos, Artísticos e Arqueológicos (1886), entre outros títulos.
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