Professor titular desde há dias. O nome parece pomposo, porque passa a haver os “titulares” e os que o não são, isto é, os que podem (e têm que) assumir determinados cargos de coordenação nas escolas e os outros. O “titular” apareceu no novo “Estatuto da Carreira Docente” e a tutela do Ministério da Educação justificou a criação deste grupo com a necessidade de “dotar as escolas de um corpo de docentes com mais experiência, mais formação e mais autoridade, que assegurarão em permanência as funções de enquadramento, coordenação e supervisão”, como aparecia escrito na edição on-line do Público de há dias, como o próprio Ministério tem divulgado.
A ideia dos “titulares” não entrou bem nas escolas e os ambientes que foram criados no meio dos professores, numas quantas que conheço, ajudaram muito aos receios e às dúvidas de alguns sobre se deviam ou não candidatar-se à “titularidade”. Acho que a ideia dos “titulares”, independentemente de concordar ou não com ela, foi mal explicada e mal justificada por quem o devia fazer, aí incluindo os vários parceiros que estiveram na negociação.
Olho para o lado e vejo que ficaram fora do título pessoas que já têm muita experiência, muita formação e muita autoridade, quer pedagógica, quer profissional, que, em qualquer país do mundo, seriam capazes de ser uma boa parte para um todo ainda melhor. Já desempenhei várias funções na escola e aprendi que aqui, como noutro lado qualquer, há a lapaliciana verdade que afirma existirem bons e maus profissionais – tenho trabalhado com pessoas que não hesitaria em chamar para uma equipa que tivesse que constituir, de tal forma são firmes os seus créditos, propósitos e capacidades; mas também tenho encontrado outras que dispensaria no imediato, exactamente pelas razões opostas. Tudo isto soa a verdades comuns, eu sei. Mas têm que ser ditas. E os critérios para a obtenção do estatuto de “titular” tiveram apenas em conta o imediatamente visível na escola (os cargos e um tempo reduzido de 7 anos) e não o trabalho pedagógico, o interesse e o envolvimento na (vida da) escola, talvez mais dificilmente quantificável mas que faz com que as escolas sejam, em boa parte, aquilo que são.
Sou, então, um dos 16501 que, nos 8º e 9º escalões, ficaram como “titulares”. A minha expectativa é de dúvida quanto ao que vai ser “pedido” aos “titulares”, quer por parte da tutela, quer por parte dos outros professores. Não sei o que possa mudar na prática. Quem está nesta profissão por gosto continuará a gostar dela, pelo menos enquanto isso lhe for permitido; quem para esta profissão veio por razões que não a de ser professor continuará a acreditar muito mais nessas razões. Uma das bandeiras que me entusiasmou para a entrada no ensino foi o Diário de Sebastião da Gama, obra que, defendo-o, deveria ser de leitura obrigatória para os professores (lamentavelmente, ainda há poucos meses, em conversa com uma professora com estágio já feito, a leccionar, ligada à área das línguas, na casa dos 40, verifiquei que nunca ela tinha ouvido falar de Sebastião da Gama, muito menos do seu Diário!...). Depois deste, vários outros diários e livros de crónicas vieram às mãos sobre a profissão do professor, uns felizes, outros menos felizes, alguns com o recurso à ficção para evitar nomes ou para dar mais a noção das situações – recordo, assim de repente e por os ter aqui, 2000 horas de um professor, de Fernando Gutiérrez (Lisboa: Livraria Didáctica Editora, s/d), Chamada escrita, de Orlando Ferreira Debarros (Lisboa: Livros Horizonte, 1988), Diário de uma professora, de Maria Amélia Jorge (Porto: ASA, 2001), e O diário da stôra Lili, de Fátima Bica (Lisboa: Edições Colibri, 2005). Confesso esta minha preferência pelos relatos de experiências e reflexões na primeira pessoa, mesmo que ficcionados, em vez de teoréticas escritas de uma linguagem que “esquece” os alunos e que marginaliza as pessoas.
“O que eu quero principalmente é que vivam felizes” escrevia Sebastião da Gama no primeiro dia do seu Diário (11 de Janeiro de 1949), referindo-se aos alunos. O que é que para isto vai, então, “ser pedido” aos professores titulares?
A ideia dos “titulares” não entrou bem nas escolas e os ambientes que foram criados no meio dos professores, numas quantas que conheço, ajudaram muito aos receios e às dúvidas de alguns sobre se deviam ou não candidatar-se à “titularidade”. Acho que a ideia dos “titulares”, independentemente de concordar ou não com ela, foi mal explicada e mal justificada por quem o devia fazer, aí incluindo os vários parceiros que estiveram na negociação.
Olho para o lado e vejo que ficaram fora do título pessoas que já têm muita experiência, muita formação e muita autoridade, quer pedagógica, quer profissional, que, em qualquer país do mundo, seriam capazes de ser uma boa parte para um todo ainda melhor. Já desempenhei várias funções na escola e aprendi que aqui, como noutro lado qualquer, há a lapaliciana verdade que afirma existirem bons e maus profissionais – tenho trabalhado com pessoas que não hesitaria em chamar para uma equipa que tivesse que constituir, de tal forma são firmes os seus créditos, propósitos e capacidades; mas também tenho encontrado outras que dispensaria no imediato, exactamente pelas razões opostas. Tudo isto soa a verdades comuns, eu sei. Mas têm que ser ditas. E os critérios para a obtenção do estatuto de “titular” tiveram apenas em conta o imediatamente visível na escola (os cargos e um tempo reduzido de 7 anos) e não o trabalho pedagógico, o interesse e o envolvimento na (vida da) escola, talvez mais dificilmente quantificável mas que faz com que as escolas sejam, em boa parte, aquilo que são.
Sou, então, um dos 16501 que, nos 8º e 9º escalões, ficaram como “titulares”. A minha expectativa é de dúvida quanto ao que vai ser “pedido” aos “titulares”, quer por parte da tutela, quer por parte dos outros professores. Não sei o que possa mudar na prática. Quem está nesta profissão por gosto continuará a gostar dela, pelo menos enquanto isso lhe for permitido; quem para esta profissão veio por razões que não a de ser professor continuará a acreditar muito mais nessas razões. Uma das bandeiras que me entusiasmou para a entrada no ensino foi o Diário de Sebastião da Gama, obra que, defendo-o, deveria ser de leitura obrigatória para os professores (lamentavelmente, ainda há poucos meses, em conversa com uma professora com estágio já feito, a leccionar, ligada à área das línguas, na casa dos 40, verifiquei que nunca ela tinha ouvido falar de Sebastião da Gama, muito menos do seu Diário!...). Depois deste, vários outros diários e livros de crónicas vieram às mãos sobre a profissão do professor, uns felizes, outros menos felizes, alguns com o recurso à ficção para evitar nomes ou para dar mais a noção das situações – recordo, assim de repente e por os ter aqui, 2000 horas de um professor, de Fernando Gutiérrez (Lisboa: Livraria Didáctica Editora, s/d), Chamada escrita, de Orlando Ferreira Debarros (Lisboa: Livros Horizonte, 1988), Diário de uma professora, de Maria Amélia Jorge (Porto: ASA, 2001), e O diário da stôra Lili, de Fátima Bica (Lisboa: Edições Colibri, 2005). Confesso esta minha preferência pelos relatos de experiências e reflexões na primeira pessoa, mesmo que ficcionados, em vez de teoréticas escritas de uma linguagem que “esquece” os alunos e que marginaliza as pessoas.
“O que eu quero principalmente é que vivam felizes” escrevia Sebastião da Gama no primeiro dia do seu Diário (11 de Janeiro de 1949), referindo-se aos alunos. O que é que para isto vai, então, “ser pedido” aos professores titulares?
[A gravura representa Platão, em "A escola de Atenas" (Vaticano, 1511), de Rafael]
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