"Lisboa - 5.1.92 - Com o tempo, as viagens, a sedução do entardecer, o gosto do chá, a linha de luz na Place des Vosges, o silêncio dos barcos deslizando na água, a minha relação com aquilo a que se chama literatura transformou-se. Poderia talvez dizer que se des-criticizou, que se des-teorizou. E, de certo modo, tornei-me inapto para o ensino. Ou talvez seja exactamente o contrário. Isto é, talvez a minha capacidade para falar daquilo de que gosto se tenha apurado nesta mistura desordenada de leituras, experiências, deambulações, vagabundagens, nomadismos. Perdi pouco a pouco o fervor das teorizações austeras. Desinteressei-me da erudição sistemática. Tornei-me um marginal da história e da teoria literária - o que sempre tinha sido, mas dissimuladamente. Numa palavra, hoje sou incapaz de me interessar por aquilo que me não interessa (...)." (Eduardo Prado Coelho. Tudo o que não escrevi (Diário I). Porto: Edições ASA, 1992, pp. 250-251)

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