domingo, 10 de janeiro de 2010

Na sequência do dia "histórico" para o acordo entre o Ministério da Educação e os sindicatos de docentes

Na edição online do Público de hoje, pode ler-se a peça “O futuro do sistema educativo português na ressaca do conflito com os professores”, que inicia com um leque de perguntas, nenhuma delas a mais, todas elas preocupantes pelas respostas desconhecidas que podem surgir e porque revelam aqueles que são alguns dos problemas (destaco: alguns) que se vivem na escola, causados por um tempo de polarização e de teimosia: “A tranquilidade vai voltar às escolas? As perdas de qualidade do ensino, por via do prolongado conflito agora encerrado, são irreparáveis? Ou, pelo contrário, existem agora mais e melhores condições para inverter o caminho?”
Das várias respostas – o jornal recolheu depoimentos de Joaquim Azevedo, Ana Maria Bettencourt, Maria do Rosário Gama, Marçal Grilo, Paulo Guinote e Lídia Jorge –, gostaria de destacar a que foi apresentada por Lídia Jorge, ao justificar o porquê de o acordo obtido entre Ministério da Educação e sindicatos de professores ser “histórico”: “Este acordo é histórico porque ele permite salvar da humilhação alguns milhares de professores e restabelecer um clima de paz num momento em que a escola pública portuguesa precisa de proceder a uma revolução nos métodos de trabalho. Ele permite salvar a escola dum inferno burocrático incompatível com uma boa convivência entre colegas e um ensino livre e feliz. Além disso, regressar a uma carreira única, mas em que se progrida por mérito, era indispensável e esse princípio manteve-se. Mas é preciso ter em conta - e nem sempre a população está bem informada - que os professores e os médicos são as classes mais directamente escrutinadas da sociedade. Cada dia, em cada hora, o professor passa pelo escrutínio cerrado de dezenas de crianças e adolescentes. Basta imaginar uma sala de aula. Não é pouca coisa. É por isso que este acordo histórico ainda não terminou. Ele só ficará selado quando Isabel Alçada verificar a que professores, durante estes dois anos, foram atribuídas as notas de excelente, e tirar daí as suas conclusões. Talvez resolva anular os seus efeitos. É que os professores duma escola constituem uma família. Experimentem criar um escalão de avaliação entre os membros duma mesma família que se autovigia.
Quem não quiser perceber estas observações de Lídia Jorge não quer entender uma parte dos problemas que agitam as escolas. E seria bom que houvesse a coragem para aceitar os desafios apontados neste depoimento, mesmo porque, se o modelo não serviu pelas razões conhecidas, então também não deveria ser permitido que o seu produto tivesse efeitos.

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