sábado, 13 de outubro de 2007

A Esquerda, segundo Mário Soares

Ser de Esquerda hoje, a meu ver, para um europeu, não é só ter um passado coerente, antifascista, anticolonialista, a favor dos Direitos Humanos e da igualdade entre homens e mulheres; é ser a favor de uma democracia económica e social (e não de uma ‘democracia liberal’); é lutar contra as desigualdades sociais; ser a favor de uma Europa Política e Social, capaz de ser solidária com todas as outras Regiões do Mundo onde se sofre; e a favor das grandes causas da defesa do Ambiente, dos Direitos Humanos e da igualdade de todos os seres humanos, independentemente do sexo, opção sexual, raça, religião ou condição social; é ser pelo primado da política sobre a economia, da ética, contra a mistura explosiva do negocismo e da política; é ser tolerante e aceitar o outro, como diferente de nós, partidário do multiculturalismo e da laicidade, ou seja, a favor da separação do Estado e das Igrejas; a favor de um sistema capaz de corrigir as desigualdades, de um Estado de Direito, interveniente, mormente no campo da saúde, da justiça, do ensino, do conhecimento e do aproveitamento dos melhores.
As afirmações transcritas constam no último número da revista Visão (nº 762, 11.Outubro.2007, p. 34) e constituem o pensamento de Mário Soares no respeitante à questão lançada recentemente pelo Le Nouvel Observateur “Como ser ainda de Esquerda?”. Então, “ser de Esquerda” na Europa exige um percurso com muitos predicados de um tempo histórico já passado e carece, por outro lado, de um conjunto de pensamentos ligados à nossa contemporaneidade. E temos que ser de Esquerda ou de Direita para comungar daqueles princípios (que o são apenas, porque o mundo é mais complexo do que os princípios)? O civismo e a cidadania (áreas em que assentam todos os princípios que Mário Soares invocou para a sua qualificação de Esquerda) são uma questão de Esquerda ou de Direita? A Esquerda pode ser reinventada, mas é difícil convencermo-nos de que aquilo que diz respeito aos valores humanistas, ocidentais e do nosso tempo tenha que ser o que a define, separando-a dos outros quadrantes… a não ser que se queira chamar a atenção para a necessidade de a Esquerda se actualizar (e, já agora, os outros quadrantes também)!

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