segunda-feira, 30 de março de 2020

Fotografias para viajar no passado - Setúbal na série "Memória de Portugal"



O fascínio das fotografias a preto e branco advém de, imediatamente, sermos transportados ao passado, numa viagem pelo tempo que suscita a comparação das épocas, das paisagens, das vidas, das pessoas. “Memória de Portugal - Dois séculos de fotografia” (Atlântico Press, 2020) é colecção de trinta títulos que tem como parceiros a Torre do Tombo, o Centro Português de Fotografia e a Visapress e acompanha as publicações Correio da Manhã e Sábado. Organizada tematicamente, é caucionada pelos trabalhos dos mais conhecidos fotógrafos portugueses, como Américo Ribeiro (1906-1992), António Passaporte (1901-1983), Artur Pastor (1922-1999), Augusto Cabrita (1923-1993), Aurélio Paz dos Reis (1862-1931), Emílio Biel (1838-1915), Joshua Benoliel (1873-1932), entre outros, ou marcas como a Fotografia Alvão ou Estúdio Horácio Novais, por exemplo. As fotografias apresentadas nos vários volumes vivem pelo que mostram, sendo acompanhadas de legenda que tem como função principal completar a informação prestada no corpo de texto do livro.
Publicados os primeiros dez volumes, Setúbal surge em quatro deles. No título inaugurador, Grandes Tradições, com texto de Helena Viegas, a mostra incide sobre festas religiosas ou cíclicas, costumes ou rituais, havendo lugar para uma fotografia da colecção de Américo Ribeiro sobre a procissão do “Enterro do Senhor”, em Sexta-Feira Santa, em Setúbal. 
No volume Praias e Turismo, de Filipe Garcia, há referência às praias da Arrábida e de Tróia, que tiveram crescimento, respectivamente, a partir das décadas de 1930 (pela criação de uma estalagem no forte, devida ao pai do poeta Sebastião da Gama) e de 1950 (pela facilidade crescente na travessia do Sado e pela influência do complexo turístico instalado em Tróia a partir de final dos anos 60). A Costa da Caparica merece também alusão como alternativa de praia para os lisboetas, sobretudo a partir de 1925, quando foi considerada estância turística. Do mesmo autor é o título Vida familiar, que apresenta a evolução das casas e dos bairros familiares no país, mostrando que, em 1911, Setúbal e mais sete distritos do litoral concentravam já 53% da população portuguesa e que, a partir de 1930, o programa de Casas Económicas foi alargado a várias cidades “onde a indústria conserveira era mais expressiva”, como, por exemplo, Setúbal. Neste volume, há ainda uma fotografia do depósito setubalense da CUF, “ao estilo das chamadas drogarias”, devida ao Estúdio Horácio Novais.
Desporto, assinado por Francisco Pinheiro, relata uma história da prática desportiva em Portugal. O crescimento da popularidade das várias modalidades permite também ver que, durante décadas, o desporto foi dominado pela figura masculina, registando-se como uma das excepções o caso da setubalense Oceana Zarco (1911-2008), “famosa desportista” e “pioneira do ciclismo feminino em Portugal”.
É evidente que quase todos os outros volumes poderiam ter referências a Setúbal. No entanto, tendo em vista os propósitos da colecção - evidenciar o testemunho fotográfico -, mesmo nos títulos em que a região está ausente cabe ao leitor ver que relações temos com os outros ou que marcas existem por cá daquilo que é mostrado. O retrato final é bom, pelo contributo para a arte fotográfica, pelas marcas de identidade que revelam muito daquilo que temos sido. Ficamos a conhecer-nos um pouco melhor!

Na rubrica "500 Palavras", em O Setubalense, hoje

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