quarta-feira, 18 de julho de 2012

"Por este rio acima...", no Lima




Os rios são um factor de aproximação e de união entre populações por onde transitam contactos e identidades. Provam-no os alunos e professores do Agrupamento Vertical de Escolas de Darque (Viana do Castelo), que, contemplando as calmas águas do Lima, nele descobriram a motivação para projectos multidisciplinares de descoberta das identidades das populações ribeirinhas que constituem a comunidade do Agrupamento.
O resultado desta atenção sobre o rio levou à edição da obra Por este rio acima… (Darque: Agrupamento Vertical de Escolas de Darque, 2012), reunindo os trabalhos produzidos nas várias escolas do Agrupamento (EB 2,3 Carteado Mena e as EB 1 / JI Senhora da Oliveira, Cabedelo, Subportela, Vila Franca e da Areia), por onde passam descobertas e memórias, num encontro inter-geracional, em que os jovens se documentaram em suportes bibliográficos, é certo, mas sobretudo nos testemunhos dos mais idosos e também na observação e vivência de algumas experiências, com o acompanhamento dos respectivos docentes.
Os relatos recolhidos, documentados fotograficamente, constroem a ponte entre o presente e tempos de que já poucos se recordam ou mesmo com épocas de que já ninguém se lembra porque também há, entre os entrevistados, quem reproduza exemplos e histórias que já lhes foram contados.
Assim, viaja o leitor no rio e nos tempos e costumes, saltando chispas que vão realçando laços comunitários como se luz fossem sobre as malhas que tecem a rede de uma sociedade. É o encontro com profissões (não só ligadas ao rio, mas também ao mar – a seca do bacalhau é um exemplo – e ao campo), com as tradições (festas do calendário e tempos de encontro das famílias, lendas), com a natureza (as marcas do rio, mas também as do monte Galeão, a ombrear com o de Santa Luzia sobre a outra margem), com a história (as memórias da escola de outros tempos), com a arte (como são os casos de poetas ou de artistas locais, que revelam aos jovens a sua forma de trabalhar e de ver o mundo), com a partilha das experiências (cozer a broa, ofícios ligados ao rio), das formas de vida (da comunidade cigana, por exemplo) e dos saberes. É ainda o encontro com uma outra memória: a da educadora Zaida Garcez, darquense, ligada à gestão do Agrupamento e uma das responsáveis pelo projecto que deu corpo a este livro que já não foi visto por ela.
O rio Lima tem sido um bom pretexto para estudos monográficos e para artistas (da escrita ou da cor). Por este rio acima… é também uma boa motivação para o encontro com a memória, com usos, costumes e características que têm cimentado uma identidade. Permitir o contacto dos alunos jovens com essas marcas é um acto educativo e de cidadania. Por este rio acima… vale bem essa atenção do leitor, não só pelas chamadas de atenção que pode conter, mas também pelo que permitiu à comunidade que o fez de introspecção e de conhecimento. E, para os alunos que neste projecto participaram, haverá, um dia, boas memórias para contar…

1 comentário:

Rolando disse...

Meu caro amigo, em nome da equipa responsável pelo projeto, dos nossos alunos em particular e da comunidade educativa em geral, agradeço a sua nota de leitura que muito nos honra.

Um abraço.