Cresci
a ver José Hermano Saraiva na televisão, com o seu poder de comunicação
invejável e a sua abordagem da(s) história(s) de Portugal de maneira inconfundível,
mesmo sabendo que, por vezes, alguma dose de ficção a integrava. Cresci a
admirá-lo, mesmo porque, entre outras capacidades, teve a de tornar a história
e a nossa identidade muito mais próximas de nós.
Tivemos
três encontros. Um, numa Feira do Livro, em Lisboa, quando me autografava um
livro, que, ao abri-lo por acaso, foi parar a uma fotografia de uma torre de
antiga casa senhorial, ali para os lados de Arcos de Valdevez. Disse-lhe que
conhecia, que tinha lá estado havia pouco tempo e logo ele lamentou algo do
género, por causa de algumas das pedras das ameias que lhe faltavam: “Está a
ver esta torre? O que lhe parece?” Hesitei, mas ele atalhou: “Não a acha uma
boca desdentada?” E logo ali entabulámos curta conversa sobre o património que
se degradava.
O
segundo ocorreu uns anos depois, quando o convidei para vir à minha Escola
falar sobre Camões e o sobre o Renascimento. Foi uma tarde intensa de cultura,
com os alunos presos ao discurso e às histórias, ressaltando um Camões de carne
e osso, num trajecto que foi mais o passeio de um humanista sobre as pedras da
história e sobre os recantos da arte. Muito tempo passado, os alunos ainda
recordavam o fulgor daquela lição de saber…
O
terceiro aconteceu há cinco anos, quando foi inaugurado o monumento a Sebastião
da Gama, em Azeitão. Hermano Saraiva cruzara-se com o poeta nos corredores da
Faculdade e conheciam-se. Integrou a Comissão de Honra desse monumento, mas,
por razões de saúde, não pôde estar presente no evento, que ocorreu em 9 de
Junho de 2007. Visitei-o posteriormente na sua casa de Palmela, onde tivemos
uma conversa longa sobre Sebastião da Gama e sobre história. O encontro
terminou com uma narrativa sobre a forma como uma imagem de S. Tiago em pedra
ali fora parar à sua casa, onde cada recanto tinha uma história…
Foram
três bons momentos de aprendizagem, além daqueles que, na televisão,
proporcionou. São boas memórias. Ficam-me ainda os livros – incluindo a sua
autobiografia que o semanário Sol
publicou há uns anos – e as imagens. Fica a memória.
Sem comentários:
Enviar um comentário