A dado passo da narrativa, regista: “Nenhum escritor escreve sobre acontecimentos insignificantes, procura sempre o lado sombrio, sujo, sanguinolento, colérico e escondido do Homem; descreve os campos de batalha onde se fuzilam os inocentes e assinam acordos de paz com os generais; o artífice da palavra relata, com a emoção de que é capaz, a loucura dos heróis, o medo dos cobardes; leva-nos até aos que jazem, na agonia da morte, debruçados sobre a terra que lhes escuta o lamento.”
E, num outro passo, o leitor pergunta qual o sentido da personagem em Paris, vagueando sem ser em passeio, refugiando-se, escondendo-se, procurando-se… numa história intensa, num viajar na personagem até ao âmago, acompanhando, de novo, o narrador, que exige a nossa conivência: “Apenas nós sabemos que Eugénio é um homem imprevisível, contra quem resulta infrutífera qualquer táctica, falível a mais elaborada estratégia; apenas nós sabemos (…) que mesmo a vida mais verdadeira não passa do resultado do acaso, a que só a fé dos homens confere normalidade.”
Personagem de sonhos, de contrastes, de forças e de tempos este Eugénio que surpreende em cada página de Tambwe – A Unha do Leão (Lisboa: Gradiva, 2011), de António Oliveira e Castro!
No sábado, 3 de Dezembro, na Culsete, em Setúbal, o autor e esta obra vão ser apresentados por Fernando Gandra, enquanto o actor José Nobre lerá excertos da narrativa. É um bom pretexto para se sentir convidado!
António Oliveira e Castro (n. 1951), a residir em Setúbal, teve já a sua incursão pela poesia, de que é exemplo o título Houve mesmo um dia de desespero em que se cultivaram campos de cicuta (Col. “Caminho da Poesia”. Lisboa: Editorial Caminho, 1985), mas, nos últimos anos, é a faceta de contador de histórias que o tem atraído, tendo publicado o romance A especiaria (Col. “Tempos Modernos”. Lisboa: Guerra e Paz, 2008) e este que agora vai ser apresentado.
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